DESCARTES ALÉM DA SUA ÉPOCA
Se em pleno século XXI, no auge do avanço tecno-científico, ainda há espaço para superstições e crenças baseadas em costumes e tradições, há que se pensar a proporção e o peso dessas mesmas em 1637, ano em que foi publicada uma das maiores obras de René Descartes, O Discurso do Método.
Descartes estava muito além da visão tradicionalista e alquimista de sua época; ele procurou obter, para sua própria vida, um método livre de quaisquer pré-definições, para assim chegar o mais perto possível da verdade, utilizando-se para isso do princípio da dúvida. Réne valorizou a razão e a utilizou como propulsora do conhecimento real, verdadeiro, rejeitando qualquer definição pré-estabelecida pela sociedade. Até a existência de Deus foi provada racionalmente por Descartes, que afirmava que somente um ser supremo e perfeito poderia ter criado seres racionais, como os seres humanos, e esse arquiteto maior seria Deus.
O Discurso do Método, embora tenha sido escrito há séculos, nos remete à questões e a dúvidas atuais e cotidianas. A ciência avançou tanto e conseguiu explicar tantos fenômenos antes explicados apenas por mitos, e esclareceu tantas perguntas que pareciam sem respostas, mas ainda sim há pessoas que se agarram ao místico, ao sobrenatural, ou por uma questão de crença tradicional ou por desconhecimento técnico. O fato é que, lendo Descartes hoje, sentimos que ele escreveu em nossa época, salvo algumas partes, pelo valor que ele dá à razão e à verdade pura, que é tão grande quanto ao que damos atualmente.
Portanto, podemos dizer que Réne Descartes, ao criticar a metodologia dos filósofos de sua época e se propor a criar a sua própria que julgasse correta, estava não a um, mas a vários passos à frente do seu contexto histórico, e previu como pensariam as gerações futuras, no que diz respeito à valorização do conhecimento.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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sexta-feira, 16 de março de 2012
Século XXI : A atualidade de René Descartes
Vivendo em uma Era na qual a ciência avançada não reserva mais tanto
espaço para as superstições, não há nada mais atual do que o racionalismo de
René Descartes.
Em sua obra, O Discurso do Método, René dá grande importância à dúvida,
por considerá-la o primeiro passo para se alcançar o conhecimento. De fato, o
autor abandona o ensino tradicional devido à descrença no conhecimento
transmitido pelo hábito e na esterilidade da filosofia – que até então apenas
contemplava o objeto de estudo - e foca seu trabalho no mundo mecânico, capaz
de explicar-se por si só, racional e independente de forças sobrenaturais.
Para Descartes, o conhecimento subdivide-se essencialmente para o
alcance da clareza, uma vez que quanto menor for a parte de estudo, maior será
o aprofundamento no assunto e assim parte-se do mais simples (fragmento) até
alcançar o todo complexo, que proporciona o saber científico aprofundado.
Contudo, embora o Cartesianismo defenda a razão como base para a
verdade, ele reafirma a existência de Deus, uma vez que, em sua concepção, o
homem dotado de razão não pode ter surgido sem que houvesse um ser supremo,
capaz de criar a inteligência e gerar as ideias. Para o autor, contextualizado
em uma época em que a influência da Igreja era tradicionalmente forte, a melhor
explicação para tal ser perfeito e supremo recai sobre a figura de Deus, e
assim ele concilia razão e religião, em meio a tantas divergências.
Ainda segundo Descartes, o alcance da razão demanda o "vencer a si
próprio" e sobrepõe a vontade do mundo à vontade pessoal, sempre com o
intuito de cultivar o bom senso e então atingir o conhecimento da verdade.
Assim, o racionalismo ganhou destaque na Idade Moderna e desde então
rege a busca por respostas para o que antes era solucionado pelas crenças e
mitos. René Descartes revelou ser alguém além de seu tempo e a maior prova
disso é o fato de que seu método se torna mais atual a cada dia, à medida que a
Ciência Moderna avança e realiza novas descobertas tecnológicas.
O século XXI, até então, representa o auge do pensamento cartesiano: se
o princípio da dúvida não fosse seguido, ainda que inconscientemente, a
humanidade não teria alcançado tamanho desenvolvimento científico.
Concepções Harmônicas
"Com a definição atual, que a de todos os tempos, a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde outra começa. Para que transpor a cerca?"
Machado de Assis, O Alienista.
René Descartes, em "O discurso do método", instrumentaliza os conceitos sobre razão, pensamento e verdade, a fim de criar e induzir um meio, que se aproxime ao perfeito, para conduzir a pesquisa científica.
Ao decorrer da exposição de suas ideias, Descartes aponta os fatores necessários à pesquisa ( como a razão, a verdade, a clareza) e também aponta aqueles que não lhe são úteis, como o saber popular, mítico e filosófico, pois estes não apresentam bases fortes o bastante para sustentar teorias.
Baseando-se co conceito cartesiano sobre a razão, pode-se considerar que os homens que se voltassem totalmente ao misticismo, ao popular e ao sobrenatural seriam desprovidos de razão, logo, seriam insanos. E então, fazendo uso dos dizeres de Machado de Assis pergunto, por que transpor a cerca entre loucura e razão?
Pois bem, a resposta é simples. O homem é um ser em constantes mudanças e que não se fixa em apenas um ponto de vista. Se pudéssemos organizar seus conhecimentos em um plano cartesiano, teríamos a razão como a reta das abscissas e o conhecimento popular, filosófico e mítico como a reta das ordenadas. Como se pode perceber, as retas são infinitas e distintas, tendo apenas o ponto de origem em comum. É nesse ponto que se encontra o ser humano. Ele é origem dos dois conhecimentos e deve estar em consonância com ambos.
A razão pura é uma utopia e a filosofia pura é um devaneio. Para o homem ser completo se faz necessária a racionalidade cartesiana mas, da mesma forma, se faz necessário o conhecimento popular, mítico e filosófico. O homem necessita de razão para transpor seus objetivos mas, precisa da filosofia e dos outros conhecimentos para distinguir a melhor maneira de atingi-los.
Portanto, os extremos nunca serão capazes de satisfazer todas as necessidades do homem. Logo, o homem só será pleno quando suas concepções forem harmônicas.
Machado de Assis, O Alienista.
René Descartes, em "O discurso do método", instrumentaliza os conceitos sobre razão, pensamento e verdade, a fim de criar e induzir um meio, que se aproxime ao perfeito, para conduzir a pesquisa científica.
Ao decorrer da exposição de suas ideias, Descartes aponta os fatores necessários à pesquisa ( como a razão, a verdade, a clareza) e também aponta aqueles que não lhe são úteis, como o saber popular, mítico e filosófico, pois estes não apresentam bases fortes o bastante para sustentar teorias.
Baseando-se co conceito cartesiano sobre a razão, pode-se considerar que os homens que se voltassem totalmente ao misticismo, ao popular e ao sobrenatural seriam desprovidos de razão, logo, seriam insanos. E então, fazendo uso dos dizeres de Machado de Assis pergunto, por que transpor a cerca entre loucura e razão?
Pois bem, a resposta é simples. O homem é um ser em constantes mudanças e que não se fixa em apenas um ponto de vista. Se pudéssemos organizar seus conhecimentos em um plano cartesiano, teríamos a razão como a reta das abscissas e o conhecimento popular, filosófico e mítico como a reta das ordenadas. Como se pode perceber, as retas são infinitas e distintas, tendo apenas o ponto de origem em comum. É nesse ponto que se encontra o ser humano. Ele é origem dos dois conhecimentos e deve estar em consonância com ambos.
A razão pura é uma utopia e a filosofia pura é um devaneio. Para o homem ser completo se faz necessária a racionalidade cartesiana mas, da mesma forma, se faz necessário o conhecimento popular, mítico e filosófico. O homem necessita de razão para transpor seus objetivos mas, precisa da filosofia e dos outros conhecimentos para distinguir a melhor maneira de atingi-los.
Portanto, os extremos nunca serão capazes de satisfazer todas as necessidades do homem. Logo, o homem só será pleno quando suas concepções forem harmônicas.
Razão e caráter
Na obra “Discurso do Método”, René Descartes afirma que a
razão e o senso existem totalmente em cada indivíduo e aplica seu método
baseado na exploração nas evidências racionais, livrando-se dos hábitos
culturais que lhe haviam sido “inculcados” somente para “ofuscar sua razão e o
tornar menos capaz de ouvi-la”. Assim, o autor conclui que a natureza dos
homens consiste apenas no “pensar”.
Ao
propor que a racionalidade é característica de todos e a diversidade de ideias
é fruto de diferentes abordagens do pensamento, Descartes revela que, para se
tornar bom, o indivíduo deve aplicar suas qualidades de forma prática e apoiar
suas ações no conhecimento e na educação. Ao fazê-lo, o indivíduo pode se
descobrir pessoalmente e livrar-se dos costumes gananciosos ao reconhecer as
virtudes dos outros.
Enfim, o aperfeiçoamento da razão contribui para um
desenvolvimento do caráter, levando o homem a exercer o respeito e a
honestidade, valores esquecidos atualmente. O pensamento cartesiano pode, ao
mesmo tempo, contribuir para a valorização do método científico na vida
profissional, o que garantiria avanço intelectual, e para a vida em sociedade,
resgatando o altruísmo.
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