Primeiramente, para que se possa compreender o papel contribuinte da sociologia no combate ao desestímulo científico no Brasil, é de suma importância evidenciar como título de exemplo a grande ruptura histórica de 2020, originada pela pandemia do coronavírus, sob a qual destacou de maneira nítida o problema do desinteresse e menosprezo quanto a ciência.
Nessa linha de raciocínio, observa-se que o Governo do respectivo ano, comandado por Jair Bolsonaro, trouxe uma série de desinformações quanto a ciência, das quais originaram como consequência um aumento significativo no que concerne a propagação de Fake news e na ascensão constante no tocante ao número de mortes causados pelo Coronavírus. Dentre as desinformação trazidas pelo Governo, salienta-se a difusão, não cientificamente comprovada, da utilização da hidroxicloroquina como fonte segura e eficaz para o combate à doença, o que gerou como consequência o aumento de mortes e o agravo do estado de saúde de diversas pessoas, haja vista que o respectivo medicamento é indicado para o tratamento de Malária, e não faz nenhum efeito sequer quanto ao tratamento da Covid-19.
Ademais, o ex-presidente ainda enfatizou que o uso de tal medicamento para pessoas infectadas pelo Coronavírus era realmente eficaz, pois o mesmo havia contraído a doença e a hidroxicloroquina o havia curado. Entretanto, não existe nenhuma base científica nesse discurso, haja vista que o respectivo medicamento não havia sequer quaisquer indícios científicos quanto a sua eficácia médica. Desse modo, a sociologia aparece como fonte primordial para a compreensão de tal menosprezo científico e suas consequências.
Francis Bacon compreende, em sua obra “Novum Organum”, que todos aqueles que, em algum momento, afirmaram que o conhecimento da natureza já estava completo ou esgotado, trouxeram inúmeros danos a ciência e a filosofia, haja vista que por acreditar terem atingido o ápice do conhecimento, acabavam por fazer valer suas opiniões, originando como consequência a interrupção e extinção das investigações científicas. Sob essa ótica, é possível trazer ao contexto brasileiro os entendimentos do autor, visto que as atitudes tomadas pelo Governante Brasileiro vão totalmente contra tudo aquilo que Bacon designa como ciência, tendo em vista que aquele se utilizou de sua própria opinião como fonte absoluta da verdade ao invés de se utilizar do conhecimento científico e racional, trazendo como consequência danos irreversíveis ao país e à sociedade como um todo.
Já René Descartes, em sua obra “O discurso do método”, afirma que não se deve tomar como fonte absoluta do conhecimento e da verdade apenas a imaginação ou os sentidos, haja vista que estas nada se formulam sem a utilização da razão. Aqui, compreende-se que assim como Bacon, Descartes também evidencia a razão como fonte primordial do conhecimento científico, juntamente com os sentidos. Percebe-se que a sociologia destrincha de maneira aparente e metodológica os diversos procedimentos necessários para que o saber racional seja colocado em prática, de modo a produzir a ciência como fonte para a verdade absoluta.
Sequencialmente, C.Wright Mills traz a ideia da imaginação sociológica, isto é, a capacidade de entender a relação entre a vida individual e as estruturas sociais mais amplas. Mills evidencia tal conceito para explicar que muitas pessoas, ao enfrentarem dificuldades ou tomando decisões, geralmente enxergam esses problemas como questões pessoais, sem perceber que estão imersas em condições sociais e históricas que afetam suas vidas. Assim, o próprio entendimento do contexto histórico e da estrutura social em que vivem podem ser também utilizadas como fontes auxiliares para o embasamento científico como um todo.
Em suma, após a análise dos três autores em questão, conclui-se que o negacionismo científico e a cultura de desestímulo a ciência no cenário brasileiro poderiam ser completamente resolvidos se os critérios sociológicos fossem utilizados, tais como a junção dos sentidos, da experiência, da imaginação sociológica, e , acima de tudo, da razão, para que se possa assim criar o conhecimento científico e a ciência. Entretanto, a grande ruptura histórica de 2020 demonstra que o único método utilizado pelo Chefe do Executivo de tal período foi a sua própria opinião, fonte esta que Francis Bacon abomina veementemente.
Por fim, salienta-se ainda, que a Sociologia se apresenta como um viés não só racional mas também acolhedor, haja vista que no caso do cenário brasileiro, a sociologia poderia ser capaz de contribuir sim para a propagação da utilização da ciência, mas acima de tudo, para a efetivação da dignidade da pessoa humana, já que se tais critérios sociológicos tivessem sido utilizados no contexto da pandemia do coronavírus, por exemplo, não só a ciência teria conquistado êxito, mas também haveria menos mortes registradas, menos propagações de “fake news”, menos desestímulos governamentais quanto às pesquisas científicas e menos desrespeito quanto a dignidade e aos direitos humanos.
RAFAEL MARTINS ARAUJO - 1° ANO - DIREITO (MATUTINO)