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domingo, 16 de março de 2025

A pandemia da Covid-19 pelo olhar da imaginação sociológica


A pandemia da COVID-19 foi um dos períodos de maior conturbação na sociedade nos últimos tempos, acarretando diversas problemáticas na vida de milhões de pessoas. O desemprego, o isolamento e os transtornos emocionais são apenas uma parte dos inúmeros impactos que a pandemia ocasionou. No início, muitos tratavam essas dificuldades como problemas individuais, porém, com o passar do tempo, ficou evidente que essas mazelas são consequências de mudanças sociais e políticas mais amplas.

 Para analisar essa relação entre vida pessoal e questões públicas, o sociólogo C. Wright Mills discute a ideia de "imaginação sociológica", explicando que muitos indivíduos sentem que suas vidas estão limitadas e enfrentam dificuldades que parecem pessoais e sem solução. No entanto, ao compreender que essas dificuldades estão ligadas a mudanças históricas e sociais maiores, a população passa a entender melhor sua realidade e pode visualizar esses obstáculos de forma mais abrangente.

 À luz disso, é importante destacar que, durante a pandemia, houve um aumento significativo nos casos de depressão e ansiedade. A falta de acesso a tratamentos, somada ao colapso dos sistemas de saúde, agravou ainda mais a situação. Contudo, esses não são problemas meramente individuais. De acordo com Mills, é necessário utilizar a imaginação sociológica para compreender essas mazelas, pois, quando milhares de indivíduos enfrentam a mesma realidade, isso indica a presença de questões estruturais que influenciam negativamente o cotidiano da sociedade.

 Portanto, a pandemia da COVID-19 demonstra que devemos desenvolver a imaginação sociológica para compreender os acontecimentos ao nosso redor. Em vez de viver em uma bolha alienada da realidade, é essencial analisar os fatos de forma coletiva, pois isso nos ajuda a encontrar soluções mais eficazes para os desafios que enfrentamos e a reconhecer os fatores sociais que influenciam nossas vidas.

Caroline Maria Duarte -  1º ano Direito ( matutino )

Entre a Imaginação Sociológica e o Racismo

A "Imaginação Sociológica", prática criativa desenvolvida pelo sociólogo norte-americano Wright Mills, fundamenta-se na compreensão, pelo ser, da relação indissociável entre sua individualidade e a sociedade em sua integralidade, bem como as questões sociais enfrentadas ao longo da história. Dessa forma, por meio da internalização de tal perspectiva, cria-se sujeitos conscientes e críticos, conectados aos diferentes problemas sociais, mesmo que esses não os afetem. Nesse viés, discussões acerca de diversos cenários históricos são ampliadas, permitindo refletir sobre temáticas presentes e enraizadas socialmente, como a questão da discriminação racial.

A princípio, é valido ressaltar o racismo como uma forma de opressão estruturada socialmente. Em sua obra "Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano", Grada Kilomba explora a associação entre o conhecimento e o poder social, enfatizando o âmbito acadêmico como um espaço destinado ao privilégio branco e, consequentemente, à subalternização do conhecimento e da identidade negra, a partir de relatos de preconceito sofridos durante o seu ingresso no ambiente universitário alemão. Diante desse cenário, é notária a influência do lugar social ocupado pelo indivíduo e as oportunidades de acesso a diferentes instituições sociais, a exemplo do ensino superior, visto que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do ano de 2024, mostram que cerca de 70% dos pretos e pardos entre 18 a 24 anos não concluíram o ensino superior, evidenciando, dessa maneira, a sub-representação das instituições.

Além disso, é importante destacar a naturalização e a distorção do racismo como uma pauta a qual se estende ao longo da sociedade brasileira. O "mito da democracia racial", termo elaborado pelo sociólogo Florestan Fernandes, trata da propagação popular e midiática de uma falsa ideia de que, no Brasil, tem-se um cenário político-ideológico de harmonia e de igualdade entre as etnias. No entanto, esse discurso contribui diretamente para mascarar as violências fundantes do Brasil e dificultar a criação de uma resistência, uma vez que atribui normalidade a ações violentas contra a população negra. Por conseguinte, a isenção popular e governamental quanto a medidas combativas é agravada pela ideia incorreta e atual de que o racismo não existe e é, portanto, fruto de uma perturbação pessoal, a exemplo do pronunciamento do então vice-presidente Mourão ao descrever o assassinato de João Alberto Freitas, homem negro morto brutal e injustamente por seguranças brancos, alegando não considerar o crime racismo, porque "não há racismo no Brasil".

Logo, é perceptível a perpetuação da desigualdade racial no corpo social brasileiro e contemporâneo. Em face a essa realidade, é necessário, como defendido pelo sociólogo Mills, a ampliação e o reconhecimento do racismo como uma questão pública, a qual deve, com urgência, ser combatida estruturalmente.

Isabella Providello Lencione - 1º Ano Direito (Matutino)


A tentativa de golpe a partir da imaginação sociológica

 

No dia 8 de janeiro de 2023 o Brasil enfrentou uma brusca e repentina tentativa de golpe, também conhecida como Intentona Bolsonarista. Nesta data, indivíduos influenciados pelo movimento iminente da extrema direita se juntaram em Brasília e vandalizaram parte do patrimônio público, como o Palácio do Planalto. Não é surpresa que o Brasil seja um país que flerte com iniciativas e regimes autoritários, logo, não podemos reduzir este acontecimento como um fato isolado ou uma mentalidade bolsonarista.

Segundo Charles Mills, devemos desenvolver uma imaginação sociológica – conceito que defende que é necessário que relacionemos problemas ditos como pessoais de uma perspectiva mais ampla, observando a influência de forças históricas e das estruturas que moldaram nossa sociedade. A partir disso, podemos compreender que essa tentativa de golpe definitivamente não foi algo repentino, mas sim calculado e desenvolvido com a ajuda das redes sociais e de uma mentalidade coletiva.

Durante o período anterior à tentativa de golpe, houve a disseminação em massa de teorias conspiratórias, as quais acarretaram o surgimento de fake news nas redes sociais de que as eleições haviam sido fraudadas. Tais inverdades foram tomadas como realidade por parte dos ditos “cidadãos de bem”, que desenvolveram uma mentalidade de justiceiros e foram atrás da “verdade concreta”. Portanto, julgando que faziam parte de “algo maior”, um movimento coletivo, resolveram vandalizar as sedes do governo nacional como forma de “protesto” para alcançarem a almejada justiça – mudar o resultado das eleições e trazer Jair Bolsonaro de volta ao poder.

Em síntese, é possível concluirmos que o movimento do 8 de janeiro não foi uma ação realizada por movimentos individuais e motivações próprias, mas sim uma trama complexa de interações sociais e políticas, influenciadas diretamente pelas redes socias, disseminação de inverdades e manipulação das emoções pessoais dos indivíduos. Nesse sentido, a imaginação sociológica mostra-se como uma ferramenta imprescindível para a reflexão e criticidade dos cidadãos, assim como para compreender fenômenos que podem soar à primeira vista como ações individuais, mas são movimentos coletivos liderados pelo contexto histórico, tecnológico e político de uma nação.


GEOVANA MARTINS DE MORI - 1º ANO - DIREITO - MATUTINO 

A contribuição da Sociologia na luta contra o desestímulo à ciência no Brasil

Primeiramente, para que se possa compreender o papel contribuinte da sociologia no combate ao desestímulo científico no Brasil, é de suma importância evidenciar como título de exemplo a grande ruptura histórica de 2020, originada pela pandemia do coronavírus, sob a qual destacou de maneira nítida o problema do desinteresse e menosprezo quanto a ciência.

Nessa linha de raciocínio, observa-se que o Governo do respectivo ano, comandado por Jair Bolsonaro, trouxe uma série de desinformações quanto a ciência, das quais originaram como consequência um aumento significativo no que concerne a propagação de Fake news e na ascensão constante no tocante ao número de mortes causados pelo Coronavírus. Dentre as desinformação trazidas pelo Governo, salienta-se a difusão, não cientificamente comprovada, da utilização da hidroxicloroquina como fonte segura e eficaz para o combate à doença, o que gerou como consequência o aumento de mortes e o agravo do estado de saúde de diversas pessoas, haja vista que o respectivo medicamento é indicado para o tratamento de Malária, e não faz nenhum efeito sequer quanto ao tratamento da Covid-19.

Ademais, o ex-presidente ainda enfatizou que o uso de tal medicamento para pessoas infectadas pelo Coronavírus era realmente eficaz, pois o mesmo havia contraído a doença e a hidroxicloroquina o havia curado. Entretanto, não existe nenhuma base científica nesse discurso, haja vista que o respectivo medicamento não havia sequer quaisquer indícios científicos quanto a sua eficácia médica. Desse modo, a sociologia aparece como fonte primordial para a compreensão de tal menosprezo científico e suas consequências.

Francis Bacon compreende, em sua obra “Novum Organum”, que todos aqueles que, em algum momento, afirmaram que o conhecimento da natureza já estava completo ou esgotado, trouxeram inúmeros danos a ciência e a filosofia, haja vista que por acreditar terem atingido o ápice do conhecimento, acabavam por fazer valer suas opiniões, originando como consequência a interrupção e extinção das investigações científicas. Sob essa ótica, é possível trazer ao contexto brasileiro os entendimentos do autor, visto que as atitudes tomadas pelo Governante Brasileiro vão totalmente contra tudo aquilo que Bacon designa como ciência, tendo em vista que aquele se utilizou de sua própria opinião como fonte absoluta da verdade ao invés de se utilizar do conhecimento científico e racional, trazendo como consequência danos irreversíveis ao país e à sociedade como um todo.

Já René Descartes, em sua obra “O discurso do método”, afirma que não se deve tomar como fonte absoluta do conhecimento e da verdade apenas a imaginação ou os sentidos, haja vista que estas nada se formulam sem a utilização da razão. Aqui, compreende-se que assim como Bacon, Descartes também evidencia a razão como fonte primordial do conhecimento científico, juntamente com os sentidos. Percebe-se que a sociologia destrincha de maneira aparente e metodológica os diversos procedimentos necessários para que o saber racional seja colocado em prática, de modo a produzir a ciência como fonte para a verdade absoluta.

Sequencialmente, C.Wright Mills traz a ideia da imaginação sociológica, isto é, a capacidade de entender a relação entre a vida individual e as estruturas sociais mais amplas. Mills evidencia tal conceito para explicar que muitas pessoas, ao enfrentarem dificuldades ou tomando decisões, geralmente enxergam esses problemas como questões pessoais, sem perceber que estão imersas em condições sociais e históricas que afetam suas vidas. Assim, o próprio entendimento do contexto histórico e da estrutura social em que vivem podem ser também utilizadas como fontes auxiliares para o embasamento científico como um todo.

Em suma, após a análise dos três autores em questão, conclui-se que o negacionismo científico e a cultura de desestímulo a ciência no cenário brasileiro poderiam ser completamente resolvidos se os critérios sociológicos fossem utilizados, tais como a junção dos sentidos, da experiência, da imaginação sociológica, e , acima de tudo, da razão, para que se possa assim criar o conhecimento científico e a ciência. Entretanto, a grande ruptura histórica de 2020 demonstra que o único método utilizado pelo Chefe do Executivo de tal período foi a sua própria opinião, fonte esta que Francis Bacon abomina veementemente.

Por fim, salienta-se ainda, que a Sociologia se apresenta como um viés não só racional mas também acolhedor, haja vista que no caso do cenário brasileiro, a sociologia poderia ser capaz de contribuir sim para a propagação da utilização da ciência, mas acima de tudo, para a efetivação da dignidade da pessoa humana, já que se tais critérios sociológicos tivessem sido utilizados no contexto da pandemia do coronavírus, por exemplo, não só a ciência teria conquistado êxito, mas também haveria menos mortes registradas, menos propagações de “fake news”, menos desestímulos governamentais quanto às pesquisas científicas e menos desrespeito quanto a dignidade e aos direitos humanos.

RAFAEL MARTINS ARAUJO - 1° ANO - DIREITO (MATUTINO)