Troca
de papéis
Acerca dos
acontecimentos envolvendo a palestra (que não ocorreu) do príncipe herdeiro da
família real brasileira, Dom Bertrand de Orleans e Bragança nas dependências de
uma universidade pública (UNESP).
No
dia 31 de agosto de 2012, ao adentrar o espaço da universidade da qual estou
matriculado no curso de direito, percebi uma enorme movimentação em volta do
espaço a qual seria destinado à palestra do príncipe citado acima. Uma multidão
de estudantes ocupava o anfiteatro na qual também se encontrava Dom Bertrand,
gritos de ‘nazista’, ‘fascista’ e ‘assassino’ eram ouvidos de todos os cantos
do local. Observei também a existência de uma bandeira do movimento dos ‘Sem
Terra’ carregada por um aluno.
Após
30 minutos de protesto, Dom Bertrand se retirou do campus sem dizer ao menos
uma palavra. Me senti extremamente envergonhado face ao desrespeito cometido
com o palestrante que se dirigiu à uma outra faculdade da cidade de Franca para
ministrar sua palestra.
O
que mais me deixou indignado é que justamente a universidade, um lugar adequado
para o debate e discussão de ideias tenha se transformado em um local onde a
maioria oprime a minoria. E o pior de tudo, uma fração de estudantes destruiu o
direito de outros colegas que desejavam ouvir a palestra. Convenhamos, a
ideologia sustentada por Dom Bertrand, é anacrônica e obsoleta, porém vivemos
em uma democracia e acima de tudo, em um Estado Social de Direito. O que
deveria ser feito: a realização da palestra e através da dialética de argumentos
e ideias, mostraríamos ao palestrante sua posição retrógada e defasada em
relação ao atual panorama político vigente no país.
Trocaram-se
os papéis, as minorias que historicamente lutaram pela conquista de direitos e
da democracia, se comportaram como a classe autoritária a qual o palestrante
pertence, oprimindo a sua liberdade de expressão. O que enxergo, infelizmente,
é a utilização do espaço público da universidade como fonte de propagação de
ideologias políticas, utilizando parte dos estudantes como massa de manobra
para assegurar os interesses particulares de alguns, em casos como este.
Vítor Augusto Momma Portioli