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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Uma ordem Psicológica: A desigualdade nos transtornos mentais.

 

Tema: Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?

“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego ”. O trecho da música Construção do ilustre cantor Chico Buarque, traz uma reflexão crítica sobre a desvalorização da vida. Muito embora tenha sido escrita em 1971, a obra permanece relevante no contexto atual, ao relacionarmos a ordem que estamos inseridos com os aspectos psicossociais presentes na contemporaneidade.

Inicialmente, ao citar o termo ordem deve-se entender a subjetividade presente nessa concepção. Enquanto para muitos ordem é sinônimo de estabilidade e segurança, para outros a ordem que domina é um sistema que oprime através das desigualdades socioeconômicas. Com intuito de evidenciar tamanha relatividade da ordem pode-se citar, por exemplo, dados de pesquisa do Ibope, feito sob encomenda pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), constatou que 25% das pessoas das classes D e C apresentam vulnerabilidade a ter depressão, contra 15% das classes A e B. Esses dados desmentem o estereotipo que “Depressão é coisa de rico”, deixando explícito que a ordem psicológica das pessoas em vulnerabilidade econômica é somente da sobrevivência e não do lazer e segurança, pois conforme citado anteriormente, o cenário de incerteza predomina nas classes sociais inferiores.

Ademais, é mister salientar a invisibilidade das doenças psíquicas mediante o Estado brasileiro, essa afirmação torna-se evidente ao utilizar fatos concretos: Segundo uma matéria do G1, o programa farmácia popular não inclui antidepressivos na lista de remédios gratuitos - dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)-. Ao notar esse cenário de desprezo por parte do Estado, é imperiosa a intervenção do poder legislativo a fim de positivar leis que dê a importância devida à saúde mental dos trabalhadores brasileiros, contudo, não bastando somente positivar leis e dar ênfase para executa-las ativamente no corpo social.

Somente assim, será possível colocar em prática uma nova ordem, uma ordem que preze pela vida dos aproximadamente 500 mil brasileiros afastados de seus empregos por conta de transtornos mentais, uma ordem em que não haja classes, que o Brasil seja governado pensando nas dificuldades individuais de cada um, enquanto esses ideais não forem executados, a ordem mental dos vulneráveis estará ausente.

Demetrius Silva Barbosa, 1 ano Direito Matutino.

03/04/2025.












Sociedade nas rédeas

Era por volta do meio-dia, minha esposa cuidava da horta enquanto eu decidi consertar alguns buracos na cerca da fazenda. Foi quando vi entrar pelo arco que ornava a entrada um homem imponente, apesar da baixa estatura e magreza, se comportava como rei, trajando preto do chapéu às botas, caminhava ao lado de um cavalo, também negro. O corcel era bonito, mas andava cabisbaixo e aparentava estar muito magro.

O homem se aproximou de mim e com tom de soberba e desprezo pediu que eu cuidasse do cavalo por alguns dias, ele retornaria e era fundamental que o cavalo estivesse melhor para poderem voltar às viagens e assim darem continuidade aos negócios. A oferta era generosa e eu não podia recusar, aceitei a proposta e acolhi o alazão com a única regra imposta de não lhe tirar o cabresto de modo algum.

    Passei dias tentando alimentá-lo, chamei conhecidos meus que entendiam melhor sobre doenças, mas nada parecia adiantar, foi no dia anterior ao retorno do homem que decidi retirar a correia que prendia o cavalo, foi em um pulo que ele se levantou e correu no pasto da fazenda, nunca vi um bicho tão feliz, era linda a sua liberdade.

    No dia seguinte, já visivelmente melhor, alimentei e dei banho no animal, foi quando minha esposa alertou que o homem retornava, corri então para laçar o animal novamente e assim entregá-lo ao dono, mas fiz questão de deixar as rédeas mais soltas. O homem quando viu o estado em que se encontrava o animal abriu um sorriso de ponta a ponta e me entregou um maço gordo de dinheiro, meu último olhar para o cavalo foi carregado de tristeza e identificação, esquisito como eu por algum motivo me identifiquei com ele.


    O senhor subiu nos estribos e cutucou com os calcanhares para que o animal se pusesse a andar para fora da fazenda. Novamente de cabeça baixa, passou a trotar lentamente, mas foi num descuido do homem de soltar as rédeas, que o cavalo relinchou, empinou e saiu correndo, rompendo o cabresto e as rédeas que o seguravam. O rapaz desequilibrou e caiu no chão sujando completamente de pó e terra as roupas chiques e caras, foi embora a pé xingando Deus e o mundo.

    A história me causou reflexões interessantes: Será que na vida, nós não estamos na mesma situação que o cavalo? Quem impõe esse “cabresto” em nós visa o que? Um progresso? Uma ordem? A quem interessa e qual seu objetivo nisso tudo isso? A felicidade individual muitas vezes é considerada uma ameaça ao "bem-estar geral". Quando tentamos analisar e controlar pessoas e animais do mesmo modo que analisamos e controlamos experimentos científicos, nos esquecemos do que realmente nos diferencia de um mero objeto de estudo científico: Liberdade e transformação. Interessante né? Talvez esse devesse ser o lema estampado em nossa bandeira...

O MUNDO ESTÁ FORA DE ORDEM ? OU A ORDEM ESTÁ FORA DO MUNDO ? Uma nova perspectiva, a ORDEM continua.

 O mundo está fora de ordem ? Ou a ordem está fora do mundo  ? Para responder tais perguntas podemos ir na etimologia da palavra ''ORDEM'', que de modo sucinto, poder ser definida como, um conjunto de elementos que se repete. A partir disso, podemos levar tal significado para a história da humanidade, e apoiado nisso, podemos começar a entender, e tentar responder as perguntas feitas no início

Primeiramente, é necessário dar uma panorama histórico de toda a humanidade. Nesse sentindo, vamos entender o seguinte, praticamente em toda a história das sociedades, essas por algum motivo passaram por crises, seja políticas, sociais, econômicas, identitárias e climáticas, podendo ocorrer apenas uma ou todas ao mesmo tempo. Com isso, podemos afirmar que, quando uma sociedade passa por esses impasses mais graves, essa toma decisões não habituais, na tentativa de mudança como, revoluções, guerras, extremismo político entre outros. Agora vamos para a comprovação disso, no final do século XVIII à França passava por momentos conturbados, tanto quanto climáticos, que acarretou em uma grande fome, quanto políticos, no qual a monarquia francesa não dava a assistência necessária ao seu povo, a partir de todos esses problemas a população tomou uma decisão não habitual do seu tempo, á de fazer uma revolução, na tentativa de melhorar a situação vigente. Outro grande exemplo, são os regimes totalitários, principalmente o nazismo, visto que pós primeira guerra a Alemanha passava por um grande problema econômico, o qual intensificou pós a crise de 1929, novamente, na tentativa de escapar dessa realidade a população apela para o extremismo político, no caso o Partido Nazista, o qual prometia a mudança e instituía um culpado por tudo isso, que seriam os judeus. Portanto, prova-se o ponto explicado, nesse sentido, sempre que há turbulências na sociedade, essas são motivacionais para que o povo tome decisões não habituais.

Agora, vamos levar essa discussão para o mundo atual. É perceptível, que diversas das sociedades passam por momentos turbulentos, principalmente políticos, lembrando, que isso acarreta em decisões tomadas pelo povo que não são habituais. Martelo nesse ponto, porque ao entendermos ele, tudo fará mais sentido ao final do texto. Os Estados Unidos, devido a uma crescente imigração, sofreu uma crise identitária, na qual a população não queria mais a chegada de imigrantes, com o argumento que esses destruiriam sua cultura norte americana, tomando assim decisões extremas políticas que no caso foi a eleição de Donald Trump, um presidente americano que flerta com o fascismo, algo que os Estados Unidos abominou durante anos, mas como já dito, tal decisão é tomada pelo povo com o intuito de tentar melhorar a crise que esse sofre. Outros exemplos muitos parecidos são na Europa, como França e Itália, que também sofrem com esse crise identitária e pra tentar resolver tal problema tomam medidas extremas, na França não se concretiza, mas por pouco o candidato de extrema direita não se elegeu, já na Itália tal falto se concretiza, trazendo ao poder  Giorgia Meloni, do partida de extrema direita do país, o qual flerta com o fascismo de Mussolini. Temos outro exemplo, a guerra Palestina-Israel, a qual tomou grandes proporções no ano de 2023, devido a uma crise também identitária, na qual já dura a séculos contra o povo palestino, Israel toma medidas extremas, no caso a de apoiar novamente uma guerra, com intuito de acabar com a Palestina e tomar seus territórios. Sendo assim, comprova-se ainda mais a tese, de que, quando uma sociedade passa por uma crise, essa toma decisões não habituais, e muitas vezes extremas

Portanto, voltemos as perguntas feitas. Quando se olha oque foi exposto no texto, percebe-se que na história algumas coisas se repetem e de forma muito semelhante, e da maneira que definimos a palavra ''ORDEM'' como : ''um conjunto de elementos que se repete'', podemos dizer que não há resposta para as duas perguntas, visto que, oque está acontecendo nos dias atuais, já aconteceu no passado, ou seja o mundo está apenas seguindo a ordem natural das coisas. De modo objetivo, seria que a o mundo continua em ordem,  e que de certa forma as duas perguntas não tem sentido até o momento desse texto, visto que tudo continua como sempre foi.


Felipe Ferreira Gomes 1 ano -Noturno



Nacionalismo e Ufanismo: extensão do pensamento colonial?

        A obra "O Que é uma Nação?" escrita por Ernest Renan oferece uma análise crucial sobre como a identidade nacional se forma, sugerindo que uma nação vai além de características biológicas ou étnicas, fundamentando-se em uma "vontade coletiva de coexistir" e na partilha de uma memória histórica comum junto a um acordo entre seus membros. Apesar de Renan defender uma concepção abrangente de nação, onde a inclusão não era rigidamente estabelecida por elementos raciais, suas ideias ainda transportam vestígios das influências coloniais.

        Contudo, a noção de uma "nação coesa" muitas vezes implica numa homogeneização da identidade, que tende a excluir ou marginalizar as diversidades internas, especialmente em contextos coloniais. Em nações que surgiram de processos de colonização, como o Brasil, a formação da identidade nacional frequentemente desconsiderou as dinâmicas sociais e raciais complexas, favorecendo uma unidade aparente que camuflava as desigualdades e os conflitos entre os diversos grupos. Assim, embora a contribuição de Renan seja inovadora ao desafiar o essencialismo racial, ela também reflete os conceitos colonialistas de uma nação ideal e "purificada", onde a diversidade frequentemente é reduzida em favor de uma narrativa nacional uniforme

        Acerca disso, termos constantemente estudados e vivenciados, trazem expressões como o nacionalismo e o ufanismo, sendo eles correlacionados, mas que apresentam suas diferenças, principalmente com relação a intensidade pela qual cada um permeia a sociedade. O Nacionalismo caracteriza-se como uma ideologia política que valoriza a identidade, cultura e história de um país, buscando promover sua soberania perante as outras nações. Além disso, pode transparecer de diversas forma em uma sociedade, partindo de um patriotismo moderado até as formas mais radicais. Em outras palavras, pode-se observar essa vertente em contextos como a propagação do movimento “America First” nos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump e o discurso adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”

         Por outro lado, o Ufanismo é uma forma extremamente exagerada ou idealizada do nacionalismo. Isso se distingue por um otimismo inflado a respeito das virtudes do país, ressaltando a crença de que a nação é mais distinta ou superior comparada a outras. O ufanismo frequentemente desconsidera ou subestima as dificuldades e deficiências do país, fornecendo uma perspectiva romantizada e muitas vezes ilusória sobre a condição da nação. A exemplificar, a Ditadura Militar Brasileira segue essa vertente, pois utilizou a propaganda para criar uma imagem de um Brasil forte, unido e progressista, frequentemente ignorando ou minimizando as desigualdades sociais, a repressão política e as violações de direitos humanos.

        Seguindo essa ideia, Auguste Comte, filósofo conhecido como “pai do Positivismo”, corrente está que se desprende do conhecimento teológico, elevando o conhecimento cientifico e a metafísica como única verdade, justamente por se basear em técnicas cientificas. Cabe ressaltar que a doutrina de Comte buscava a ordem social, por conta desse fato surgiu o lema positivista: “O amor por principio e a ordem por base; o progresso por fim”. Frase essa que causou grande efeito no Brasil durante o século XIX, sendo adotado na bandeira nacional. Em virtude da influencia de Comte, o lema exposto reflete, principalmente, após a Proclamação da Republica em 1889, onde os republicanos buscavam um Brasil moderno e progressista a partir da identidade nacional forte e autossuficiente.

        Para complementar o entendimento das influencias nacionalistas e ufanistas como prorrogação das raízes coloniais, fatos históricos entram em evidencia ao redor do mundo. Por exemplo, os Kamikazes japoneses, o Brasil Império e a propaganda nazista. No Japão, no período da Segunda Guerra Mundial, o sentimento nacionalista tornou-se evidente por meio do sacrifício extremo dos Kamikazes, que eram vistos como heróis de uma nação sagrada, refletindo um fervor que exaltava a morte pela pátria e a superioridade japonesa. No Brasil durante o Império, esse fervor nacional foi impulsionado pela noção de uma nação idealizada, especialmente dentro de um cenário agrário e monárquico, que tentava encobrir as injustiças sociais e a opressão da escravidão ao promover uma imagem de unidade e grandeza nacional.

        Similarmente, a propaganda nazista na Alemanha utilizava o nacionalismo exagerado para glorificar a "raça ariana" e gerar um clima de intensa devoção patriótica, apresentando a nação alemã como radicalmente superior. Esses casos podem ser interpretados como desdobramentos do pensamento colonial, uma vez que, em todos esses cenários, houve uma tentativa de moldar uma identidade nacional fundamentada na noção de uma nação dominante e invencível. Frequentemente, essa formação identitária ocorria à custa de excluir ou marginalizar realidades sociais e históricas, como as desigualdades raciais, étnicas e de classe.

        Um outro aspecto é o apresentado por Grada Kilomba em sua obra “Memória da Plantação: episódios de racismo cotidiano” que traz uma análise profunda sobre o legado da escravidão e como suas consequências ainda ecoam na atualidade, especialmente por meio do racismo estrutural. Kilomba enfatiza como a lembrança histórica da escravidão continua a influenciar as interações sociais e raciais, sustentando uma hierarquia racial que ainda marginaliza as pessoas negras. O conceito de escravidão moderna está intimamente ligado a essa situação, pois, embora a escravidão tenha sido encerrada, práticas de exclusão social, discriminação e exploração econômica permanecem afetando as populações negras, particularmente em relação à desigualdade no acesso à educação, ao emprego e à justiça. A obra de Kilomba, portanto, não apenas reexamina o passado, mas também revela como o racismo estrutural se manifesta de maneiras discretas e persistentes na sociedade atual, mantendo viva a opressão e a exclusão, mesmo no contexto pós-abolição.

Por fim, o nacionalismo e o ufanismo, ao buscarem reforçar a identidade nacional, frequentemente se manifestam como desdobramentos do pensamento colonial que ainda afeta a formação de nações pós-coloniais. Assim, ambos os conceitos evidenciam como o legado colonial ainda impacta as narrativas nacionais, muitas vezes de maneira distorcida, ao invés de fomentar um diálogo crítico e reflexivo sobre as desigualdades históricas.

Maria Eduarda Siqueira Alves dos Santos - 1° ano - Direito - Matutino 

O Caos Invisível: Negacionismo e a Desordem que Ameaçam Nosso Futuro

   O conceito de "fim do mundo" tem sido explorado de diversas formas ao longo da história. De uma perspectiva apocalíptica, é fácil se deixar levar pela sensação de que a humanidade está caminhando para um colapso irreversível, especialmente quando olhamos para as crises globais que enfrentamos hoje: o agravamento da mudança climática, as falhas no controle de pandemias, a ascensão de movimentos negacionistas e a erosão das instituições democráticas. Mas, ao refletirmos sobre o tema, surge uma pergunta crucial: estamos de fato no fim do mundo, ou é o mundo que está simplesmente fora de ordem? Essa questão nos leva a repensar o papel das forças humanas que, mais do que causar o fim, são responsáveis por desorganizar as estruturas que sustentam a convivência pacífica e a estabilidade global.

O negacionismo climático é um dos principais agentes de destruição da ordem no mundo atual. A ciência é clara: o planeta está aquecendo, os ecossistemas estão sendo devastados e os desastres naturais, como furacões, incêndios e secas, estão se tornando mais frequentes. No entanto, figuras políticas e ideológicas, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, durante seu mandato, e outros líderes ao redor do mundo, negaram os fatos e o consenso científico sobre a mudança climática. Isso não apenas impede que medidas eficazes sejam tomadas, mas também cria um ambiente de desinformação, onde as soluções para problemas ambientais urgentes são adiadas ou ignoradas. O negacionismo climático, portanto, pode ser visto como um reflexo de um mundo fora de ordem — não porque a natureza esteja prestes a "terminar", mas porque a ordem política e social, ao se distanciar da verdade científica, se torna incapaz de resolver uma crise iminente. O mundo não está acabado, mas está desorganizado pela recusa em lidar com as evidências e as necessidades globais.

Outro exemplo de um mundo fora de ordem é a crise sanitária global que a pandemia de COVID-19 revelou. O coronavírus causou uma pandemia mundial que expôs a fragilidade das nossas instituições e a polarização social em torno de medidas de saúde pública. A resposta global à crise foi marcada por desinformação, resistência a medidas como o uso de máscaras e vacinação, e a disseminação de teorias da conspiração. A negação da gravidade da pandemia, alimentada por líderes políticos como o ex-presidente Jair Bolsonaro, não apenas prolongou a crise, mas também aprofundou divisões dentro das sociedades. Nesse contexto, a ideia de que o mundo está "acabando" surge de uma falha nas estruturas de governança e de confiança pública. Quando o conhecimento científico é descartado e as políticas públicas são enfraquecidas por disputas ideológicas, não é o mundo em si que entra em colapso, mas a ordem das instituições que deveriam garantir a proteção e o bem-estar da população. O fim do mundo não é físico, mas institucional, um reflexo da incapacidade de organizar respostas eficazes diante de crises globais.

Além dos desafios ambientais e de saúde, o negacionismo também se manifesta em uma rejeição da história e dos avanços sociais conquistados ao longo dos séculos. O revisionismo histórico, que busca apagar ou distorcer eventos como o Holocausto ou a escravidão, é uma expressão clara de como o mundo está fora de ordem. Esses movimentos não buscam apenas apagar o passado, mas também enfraquecer os direitos conquistados por minorias e grupos historicamente oprimidos. A ideia de que estamos em um "fim do mundo" se fortalece quando as conquistas sociais — como os direitos civis, os direitos das mulheres, e os direitos LGBTQIA+ — são desafiadas por forças políticas que desejam reverter esses avanços.

Nesse cenário, a ordem que deveria existir em torno dos direitos humanos e da justiça social está sendo destruída, criando um ambiente de insegurança e medo. A negação do progresso social, alimentada por discursos extremistas e polarizadores, coloca em risco as bases das sociedades democráticas, levando a uma sensação de que a civilização está à beira de um retrocesso irreversível. Mais uma vez, o mundo não está chegando ao fim, mas a ordem social e política está sendo desmantelada por aqueles que buscam minar os princípios de igualdade e dignidade humana.

Ademais, o negacionismo político e a desinformação estão desafiando as bases das democracias em vários países. No caso dos Estados Unidos, a recusa de Donald Trump e de seus apoiadores em aceitar os resultados das eleições de 2020 resultou em um ataque ao Capitólio, um episódio que expôs a fragilidade do sistema democrático americano. Em outros países, como o Brasil, movimentos políticos negacionistas questionam a legitimidade do sistema eleitoral e buscam enfraquecer as instituições que sustentam a democracia. Esses ataques às democracias não são, na verdade, um sinal de que o "mundo está acabando", mas de que a ordem política está sendo corroída. A rejeição ao Estado de direito, ao processo eleitoral e à independência dos tribunais indica uma desordem dentro das próprias estruturas governamentais, minando a confiança nas instituições e criando um clima de polarização e violência.

Diante de todos esses fatores — negacionismo climático, falhas nas respostas a crises sanitárias, distorção da história e da política — a questão central não é se estamos no fim do mundo, mas se a ordem está sendo desfeita de dentro para fora. O mundo continua a existir, mas a ordem que deveria garantir a paz, a justiça e a sustentabilidade está sendo desmontada por forças que se recusam a aceitar a realidade. O negacionismo, seja ambiental, sanitário, político ou histórico, é um sintoma dessa desordem, e não o fator que causa o fim do mundo em si.

A grande questão é: como responder a esse caos crescente? Será que podemos restaurar a ordem nas nossas instituições e políticas públicas, ou continuaremos a trilhar um caminho de destruição, negando as evidências e alimentando um ciclo de crises irreversíveis? O mundo não está acabando, mas a ordem, essa sim, está fora de controle. E cabe a nós decidir se conseguiremos restaurá-la antes que os danos se tornem irreparáveis.


Laura Gomes Valente - 1º ano Direito Matutino

O uso transgressivo do batom contra o positivismo nazista

O positivismo, termo cunhado por Auguste Comte, é uma vertente filosófica que surgiu do cientificismo europeu e desempenhou um importante papel no desenvolvimento do nazismo, influenciando seus ideais nacionalistas e autoritários. De tal maneira, as virtudes femininas exaltadas nas propagandas conservadoras eram aquelas relacionadas à maternidade, simplicidade, submissão e utilidade. Mulheres precisavam ser úteis. Para essa vertente política, técnica era o maior bem de uma nação, junto à praticidade.

O partido nacional socialista exigia que mulheres evitassem a maquiagem, porque a vaidade não devia ser uma característica da mãe exemplar: a camponesa trabalhadora que sacrifica sua identidade pessoal em prol da família e nação. Sendo assim, o batom, especialmente o vermelho, que evocava sensualidade e independência, era visto como uma transgressão dos valores impostos.

Subsequente, mulheres de países que se opunham aos regimes do eixo, ao notarem tal doutrina nazista, iniciam um movimento simbólico e transgressivo – o uso do batom vermelho. A maquiagem rompe com os valores positivistas patriarcais, e é um protesto sutil contra o controle de corpos femininos, contra o autoritarismo e concentração de poder.

Pessoas que gestam não devem ter seus corpos escravizados pelo bem da suposta ordem e progresso. O positivismo deseja que o útero seja subordinado do governo, mesmo que isso signifique opressão e sacrifício. Por isso, mulheres continuam a usar maquiagem como forma de arte em uma sociedade que muitas vezes a repudia.

- Letícia Mayumi Sato Prado.

(obs: não consigo analisar a quantidade de linhas pois uso o blogger em sua versão mobile)