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sexta-feira, 17 de abril de 2020

Involução e ignorância: novos desafios em meio à crise de saúde


Sempre haverá mais ignorantes que sabedores enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa. Assim defendeu Marquês de Maricá, escritor, filósofo e político brasileiro que ainda em meados de 1800 foi capaz de traduzir a realidade contemporânea de centenas de países que tem de enfrentar, em meio à uma crise de saúde que tem ceifado milhares de vidas todos os dias ao redor do mundo, a ignorância de quem prefere a morte em favor da economia. Apesar de os direitos fundamentais inerentes a todo e qualquer cidadão garantir a liberdade de expressão e o direito de ir e vir, o isolamento social não coloca em xeque tais princípios, mas pelo contrário, estabelece e garante a saúde à todos, além de evitar que o vírus ganhe proporções maiores e siga destruindo vidas, sonhos e famílias.
Nesse sentido, a ciência tem exercido papel fundamental no desenvolvimento de pesquisas para tratamento e prevenção do novo coronavírus (ou Covid-19), além de milhares de profissionais da saúde que tem abdicado de suas vidas e família para dar atenção e cuidados aos infectados pelo vírus e que muitas vezes tornam-se as próprias vítimas. Desse modo, percebe-se a importância da evolução do conhecimento científico na consolidação de métodos e na construção do saber verdadeiro, fundamentado na razão e na observação da natureza, que reflete-se nas metodologias de pesquisa utilizadas até hoje, seja em institutos, universidades ou até mesmo hospitais.
Entretanto, ainda há quem opte por contrariar a ciência e apoiar-se em ideias sem fundamentos científicos e que são incapazes de exprimir a realidade, desrespeitando o isolamento social e ignorando a proporção de contágio do vírus e seus sintomas que podem tornar-se mais graves em determinado grupo de pessoas, colocando em risco a vida. Assim, mesmo diante de dados concretos e pesquisas, o desrespeito as determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma realidade que atinge milhares de países, principalmente o Brasil, onde em meio a uma pandemia o Presidente da República, que deveria priorizar a saúde e o bem-estar dos cidadãos, defende o retorno das atividades em favor da recuperação e fortalecimento da economia e que tem influenciado milhares de pessoas a defender e compartilhar do mesmo pensamento.
Por fim, vale ressaltar que o direito a liberdade de expressão e o de ir e vir não devem extrapolar as medidas estabelecidas a todo um sistema vigente, uma vez que, confrontam determinações de saúde pública, da ciência e geram consequências irreversíveis a vida. Além disso, é valido a importância da evolução do conhecimento nesse sentido, que propôs metodologias e novas formas de desenvolvimento da ciência, que tem como objetivo principal a racionalidade, assim como apresenta-se ainda hoje nas pesquisas, em exemplo as pertinentes ao Covid-19. Assim, é preciso entender que não deve-se  ultrapassar os limites do outro e, inclusive, colocar em risco outras milhares de pessoas por mera ignorância e egoísmo, pois, assim como a ciência e a pesquisa possibilitam a iluminação das ideias, há quem prefira viver no escuro.


Ana Carolina de Campos Ribeiro – Direito matutino (1º ano)

Mais que um erro Crasso

     No dia 28 de fevereiro,cidades da Lombardia,apesar do baixo número de mortes,decidiram propor um isolamento social.Entretanto,o primeiro-ministro Giuseppe Conte decidiu derrubar tais medidas,afirmando que era essencial a manutenção do turismo local.No mês seguinte,em Março ,a Itália se encontrava com um crescimento exponencial do coronavírus.As notícias que vinham da Itália mostravam um cenário de terra arrasada,bem similar ao livro A Peste de Albert Camus.Nele não havia locais para ocorrem enterros ,como foi visto na Lombardia.                                                         Apesar do pésssimo exemplo do governante italiano,o presidente Jair Bolsonaro seguiu uma linha parecida,mesmo presenciando consequências catastróficas.Em um discurso ele afirmou que o vírus não passava de uma gripezinha e que a pandemia era muito mais fantasia.Essa tola contestação científica era um artíficio para manter as pessoas trabalhando e a economia seguir ativa.Entretanto,o presidente ignorou um direito humano e fundamental que é o direito a vida,uma falha medonha e de grandes proporções.                                                                                                                                                   Desse modo,fica evidente que esses governantes tiveram erros éticos gravíssimos , que afeta a a integridade física de milhões de pessoas e,provavelmente,entrará para história como conduta a não ser seguida.                                                                                                                                                                                                                                                                                                               JOÃO VITOR SODRÉ DIAS GALVAO- 1ºANO (DIREITO NOTURNO)                                                                                                                                                                                       

Mentiras disfarçadas de ceticismo; ignorância disfarçada de humildade

O tema para a elaboração desse texto, proposto em tempos de crise, era sobre o direito de confrontar a ciência. Em tempos mais mundanos, talvez eu escrevesse esse texto de um ponto de vista mais moderado, exaltando a importância da liberdade de expressão e do direito à dúvida e do direito de errar, mesmo diante da ciência como uma instituição, como importantes ferramentas no desenvolvimento do conhecimento e no desenvolvimento do próprio espírito humano, uma posição difícil de ser criticada, de ser desafiada. Mas não estamos em tempos mundanos, estamos em tempos de crise e esses tempos me lembram que não há nenhuma beleza inerente a uma posição moderada e neutra, nem ao discurso ideológico infalível mas inútil. Dado esse contexto, me encontro muito mais alinhado com a posição tomada por William K. Clifford em seu texto The Ethics of Belief, de 1877. Em especial no excerto a seguir:

"Um dono de navios estava prestes a enviar um navio de emigrantes para o mar. Ele sabia que o navio era velho, e que não tinha sido muito bem feito em primeiro lugar; que ele já tinha passado por muitos mares e climas, e frequentemente precisava de consertos. Dúvidas lhe foram sugeridas de que talvez o navio não fosse capaz de fazer mais uma viagem. Essas dúvidas assombravam sua mente, e o faziam infeliz; ele pensou que talvez ele devesse completamente reformar o navio, mesmo que isso viesse a um grande custo. Porém, antes do navio partir, ele conseguiu superar essas reflexões melancólicas. Ele se convenceu de que o navio já tinha conseguido fazer tantas viagens e sobrevivido tantas tempestades que era besteira pensar que ele não conseguiria completar essa viagem também. Ele iria confiar na providência divina, que certamente iria proteger de qualquer mal essas pobres famílias que deixavam sua pátria em busca de melhores oportunidades. Ele iria dispensar todas as rudes suspeitas sobre a honestidade dos construtores navais. Dessa forma ele adquiriu uma sincera e confortável certeza de que seu navio era seguro e capaz; ele o viu zarpar com o coração leve, e benevolente desejos de sucesso para os exilados em seus exóticos lares futuros; e ele coletou o dinheiro do seguro quando o navio afundou no meio do oceano, não deixando nenhum sobrevivente para contar a história.
O que podemos dizer sobre ele? Certamente isto, que ele é completamente culpado da morte destes homens. É verdade que ele sinceramente acreditava na segurança de seu navio; mas a sinceridade de sua crença não o desculpa de nada, porque ele não tinha o direito de acreditar nas evidências que ele havia produzido. Ele não tinha adquirido sua crença honestamente, a partir de uma investigação paciente, mas somente por ter silenciado suas dúvidas. E mesmo que no fim ele tenha sentido completa certeza, tal que ele não conseguisse imaginar o contrário, mesmo assim foi ele que conscientemente e voluntariamente se colocou em tal estado mental, e ele deve ser considerado responsável por isso."
Se Clifford já condena o consentimento da ignorância, ainda que desprovido de motivações maliciosas e apenas como um fruto do otimismo existencial humano e do desejo pelo conforto, o que dizer dos líderes das grandes nações neoliberais de hoje? Esses homens que se passam por céticos aspirantes a cientistas em público, mas em privado praticam como contar suas mentiras, mentiras que lhes são dadas pelas grandes corporações e que eles aprendem a seguir cegamente. Esses homens que defendem sua ignorância como um símbolo de sua humildade que os conecta ao homem comum, apesar de serem todos filhos de elites, que sempre dispuseram de conforto e de boas escolas e de todas as oportunidades para retificarem suas ignorâncias, e hoje dispõem de tantos especialistas quanto desejarem não só para lhes aconselharem mas para também lhes ensinarem. Esses homens que foram adestrados para consumirem e regurgitarem uma dialética egoísta, desprovida de empatia e de consciência coletiva, focada apenas em criar o ambiente ideal para consolidar o eterno abuso da população e do planeta nas mãos dos grandes vencedores do sistema capitalista.

Não tento negar as dificuldades sistêmicas e certamente intencionais de se tentar ser uma "pessoa bem informada" nos tempos atuais, mas por favor não depositem sua fé naqueles que foram eleitos para lhes abusarem. E se desejarem contestar as opiniões de infectologistas e virologistas, não o façam apenas para aliviar seu desconforto, e não o façam através do silenciamento das dúvidas, mas sim através de uma honesta e paciente investigação e estudo. E não, uma postagem em rede social ou uma manchete sensacionalista de uma imprensa sub-serviente aos interesses do mercado capitalista não são uma "investigação honesta e paciente", são apenas preguiça mental auxiliada e encorajada.

Thiago de Oliveira Lopes - 1º ano de Direito - Noturno

Infectados

Ao começar afetando o Ano Novo Chinês, o brasileiro, ou qualquer outro cidadão do mundo, jamais imaginaria que uma pandemia se instauraria e influenciaria no cancelamento, suspensão ou atraso de planejamentos previstos para o ano que se iniciava. Estávamos todos despreparados e equivocados.

Os primeiros passos seriam tão importantes quanto o resto dessa longa caminhada. Principalmente, as medidas adotadas por cada governo dizem muito sobre a vertente ideológica que os responsáveis possuem, alguns decidiram priorizar sua economia e não criaram um motivo de alarde na população, já outras localidades, como por exemplo a Coréia do Sul, que aderiram medidas que perduram e permitem um controle melhor da doença, são eles: a realização de inúmeros testes diários (ajudando ao governo na identificação no controle de pessoas infectadas), além de uma quarentena seguida à rigor e antes do previsto, tendo partido da própria população.

É notório que ambas as realidades são infinitamente distintas, apesar do Brasil apresentar um número elevado de leitos de UTI hospitalares e uma forte presença da busca por informação, primordial em tempos como estes. Entretanto, a disseminação de discursos que dão valor à um vírus totalmente desconhecido e extremamente letal ao de uma "mera" influenza merecem a devida atenção, pois são esses mesmos que influenciam uma massa a repensar teorias inválidas, reavendo do pensamento positivo, defendido por Augusto Comte.

Tal espírito positivo apresenta-se valendo da ciência e da lógica, instrumentos que antes eram descartados pelas autoridades da época, onde o espírito e pensamento teológico era a principal resposta para tudo o que se fazia. Claramente, numa situação como a que vivemos na atualidade, a chance de catástrofe seria, até mesmo, incalculável, dada a gravidade da situação. Por fim, podemos perceber semelhanças em discursos que obtém intenção de confundir ainda mais a mente daqueles que são tão leigos quanto, construindo inverdades e não cooperando com o progresso em razão da pandemia instaurada.

 GABRIELLE ALVES PINHEIRO - 1ºANO DE DIREITO (MATUTINO)


LUXO


Com 50 milhões de mortos, a Peste Bubônica, no século XIV, devastou cerca de um terço da população entre a Europa e a Ásia, explicitando que, num cenário pós-cruzadista do final do feudalismo, tensionado pelos dogmas católicos e avanços dos ideais burgueses, a ciência começa a caminhar em passos maiores, uma vez que o comércio incipiente do início da Idade Moderna financiou saberes que levaram ao Renascimento Cultural, junto à recente imprensa - vide Guttenberg -. Isso colocou em xeque a hegemonia do pensamento teológico.
Após esse marco, outras epidemias surtiram pelo mundo, como a Varíola, o Sarampo, a Tuberculose, a Cólera, a Gripe Espanhola, o Tifo, a Febre Amarela e a Malária. Com isso, o papel de compreensão e cura pela ciência tornou-se fundamental para a sociedade, e hoje, com a pandemia COVID-19, com âmbitos de poderes plurais, a ciência, embora aponte os caminhos para que os organismos continuem a salvo, esbarra-se com as falas de políticos e economistas para que os trabalhadores retornem ao trabalho, a salvar a economia.
Enquanto isso, 3,4 bilhões de pessoas, ou 46% da população mundial, vivem com menos de 5,50 dólares por dia, segundo dados do Banco Mundial em 2018. Mais uma vez, então, a ciência, com a "máxima" #FiqueEmCasa, choca-se contra a realidade miserável de meio mundo pois, certamente, a maioria dessas pessoas não possuem vínculos empregatícios. Assim, atitudes pela ordem a coibir o avanço da pandemia encontram obstáculos no quesito socioeconômico, em que, muitas vezes, ficar em casa significa literalmente morrer de fome.
Por outro lado, muitos governantes adotam políticas contraditórias, uma vez que têm como principais financiadores, corporações lucrativas baseadas, entre outros fatores, na exploração da mão-de-obra de seus trabalhadores. Além disso, nenhum "príncipe" quer a sombra do desemprego aliada à sua imagem. Entre virtú e fortuna, os governantes, num contexto extremamente maquiavélico, buscam fazer o melhor para si, para quem os mantém no poder e, vez ou outra, para a população. Logo, a tomada de decisões fica esmaecida, em que, ao salvar alguns, outros são expostos ao risco.
Junto a isso, no contexto técnico-científico-informacional, a informação, a técnica e a ciência são, junto ao capital, de fato, poder sobre nós, humanos como força produtiva. O que revela os interesses por trás da ciência, nos fazendo pensar sobre quem financia e quem a transforma, e até onde estamos seguindo ordens do interesse de quem?
Em ordem local, por sua vez, o Brasil, mantenedor da velha política de favores por séculos, encontrou, como todos, no covid-19, uma situação única, mas com bônus de um presidente complicado, que vem fazendo desse contexto mais difícil do que já é por si ao abalar o Ministério da Saúde, prejudicando a tomada de decisões, uma vez que instabilidades políticas nesse momento devem ser categoricamente evitadas, pois perda de tempo resulta e, perdas de vidas também.
Ficar em casa significa ter casa para morar e dinheiro suficiente para não sair ao trabalho por tempo indeterminado. Por isso, o confinamento é um luxo. É um luxo que salvará, talvez, bilhões de vidas, e deve ser apregoado aos sete ventos, uma vez que sejam arquitetadas maneiras para que ele ocorra, tendo em vista as pessoas em situações mais vulneráveis, para que o sistema de saúde não entre em colapso.
Assim, é fato que a fome sempre matou mais que qualquer epidemia, e é muito negligenciada por não atingir a elite, como o coronavírus, que é transmitido independentemente das classes sociais. Então, se todas as vidas importam, por que punir com multas e violência aqueles que necessitam transitar até o trabalho, como feito na Itália e na França? Medidas assistencialistas. quer queira ou quer não, são extremamente necessárias para que a proteção seja holística, abrindo mão da estabilidade econômica e, por vezes, colocando a garganta de políticos ao risco, contrariando ações liberais que, certamente, culminarão numa histórica crise econômica. Por isso, criticar não é negar, mas entender as contribuições científicas e econômicas e seus defeitos, para que políticas errôneas sejam desaprovadas.


Anita Ferreira Contreiras - Direito Noturno, turma XXXVII.