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sábado, 29 de abril de 2023

A inconstância do capitalismo

 

            Na atual sociedade, é evidente que os cidadãos, em sua maioria, passam suas vidas em busca da tão sonhada “estabilidade”, seja ela financeira, familiar, habitacional, etc. Esse equilíbrio é o que garante que as pessoas possam viver dignamente. No entanto, nos moldes do sistema capitalista, percebe-se que a busca da referida e tão desejada estabilidade se torna dificultosa, e, em muitos casos, inalcançável.

            Analisando a sociedade como um todo, é notável que, cada vez mais, as pessoas buscam por melhores condições de vida, por solidez e segurança. É perceptível, ainda, que essa incessante procura pela estabilidade se dá pela falta dessa no sistema capitalista – isto é, como o capitalismo não proporciona à sociedade nenhuma constância, as pessoas se desdobram em busca dessa, sendo que, em muitos casos, nunca a alcançam.

            Na obra “a corrosão do caráter”, Richard Sennett demonstra o quanto a instabilidade e as incertezas passaram a ser inerentes à vida das pessoas, devido aos modos de produção que operam na atual sociedade. Nota-se, ainda, que esse mesmo sistema produtivo não se prolonga apenas às relações de produção e trabalho – pelo contrário, são intrínsecos a cada parte da vida de cada pessoa, em todas as suas relações, de modo que as referidas inconstâncias se estendem, também, às demais conjunturas da vida dos cidadãos. Na obra “A ideologia alemã’, o escritor Karl Marx também tece críticas ao capitalismo, enfatizando o quanto o sistema aliena e sufoca a classe trabalhadora, e, ainda assim não oferece garantias de estabilidade ou segurança aos cidadãos, viabilizando, então, a instabilidade e a insegurança.

            Nesse sentido, compreende-se que o sistema capitalista, em seus modos de operação, dificilmente proporcionará aos trabalhadores a constância que eles tanto almejam, ainda que esses passem suas vidas trabalhando arduamente em busca da utópica estabilidade.

 

Beatriz Fernandes

1° ano Direito - matutino

O modo de produção alienante e a sociedade capitalista

 Na obra "A corrosão do caráter", de Richard Sennett, o trecho "Se eu fosse explicar mais amplamente o dilema de Rico, diria que o capitalismo de curto prazo corrói o caráter dele, sobretudo aquelas qualidades de caráter que ligam os seres humanos uns aos outros, e dão a cada um deles um senso de identidade sustentável.” exemplifica a crítica ao capitalismo e suas consequências na vida dos indivíduos. Nesse sentido, o enredo pode ser relacionado às ideias de Karl Marx, uma vez que argumenta que o modelo de trabalho adotado pelo capitalismo, baseado em contratos temporários e na busca constante por eficiência e produtividade, tem um efeito corrosivo sobre a identidade e a moralidade das pessoas. 

 Sennett desenvolve seu livro na perspectiva de que a forma de trabalho na sociedade capitalista fragmenta a vida dos indivíduos em esferas separadas, impede a formação de relações duradouras e impede que as pessoas desenvolvam um senso de propósito e significado em suas atividades. A partir disso, os personagens são descritos e reforçam o parecer de Marx acerca de que o modo de produção coincide com a essência do homem e quem ele é. Dessa forma, surge o conceito de alienação, o qual consiste em um processo pelo qual as pessoas perdem o controle sobre suas próprias vidas e são dominadas pelas forças impessoais do capitalismo.

 Ainda, Marx argumenta que o trabalho no capitalismo é alienante porque os trabalhadores são obrigados a vender sua força de trabalho em troca de um salário, perdendo o controle sobre o processo de produção e sendo submetidos a condições de trabalho que são determinadas pelos interesses dos empregadores. Essa exploração gera uma desigualdade social cada vez maior, na qual uma minoria de proprietários dos meios de produção acumula riqueza e poder, enquanto a maioria da população vive na pobreza e na precariedade. Logo, ambos os autores concordam que o capitalismo tem efeitos negativos na vida dos cidadãos.


Rayssa de Oliveira Dantas - 1° ano de Direito (matutino).

RA: 231223161

sexta-feira, 28 de abril de 2023

A ideologia do individualismo neoliberal

Marx e Engels, ainda no contexto do século XIX, analisavam as várias formas de dominação exercidas pela classe dominante na sociedade, e dentre elas fora listado o controle da produção de conhecimento, de ideias que formam o pensamento do coletivo. Tal análise comprova-se materialmente até mesmo na contemporaneidade, visto que o pensamento do coletivo é permeado pelo atual ideário dos dominantes, que é embasado no neoliberalismo. 

A doutrina neoliberal fundamenta a noção do indivíduo como figura central da própria existência, conferindo a este um papel de protagonismo frente à realidade. Ela compõe o pensamento das massas desde as classes menos favorecidas, moldando-as a partir da criação de uma narrativa baseada no indivíduo como "autor da própria vida", o qual deve enxergar a arduidade de sua condição como motivo de respeito próprio, de orgulho, tal como retratado por Sennett em sua obra. Dessa forma, fundamenta-se uma ideologia, ou seja, um "falseamento do real" que se baseia na imposição da ilusão de completo controle e autonomia sobre a própria existência ao indivíduo, que assim torna-se não apenas alienado de seu estado de explorado, como também pacificado por acreditar que o cerne de suas árduas condições de vida não advém das contradições inerentes ao capitalismo e suas estruturas de dominação, mas de si próprio, de seu próprio fracasso.

Um fruto dessa ideologia, por exemplo, é o fortalecimento da cultura do empreendedorismo e do coaching no mundo contemporâneo, a qual se vende como uma forma de ensinar ao indivíduo como alcançar a tão sonhada, conforme define Sennett, "mobilidade social ascendente". Trata-se de uma falácia que imerge o indivíduo em uma ideologia meritocrática baseada na ilusória garantia de sucesso por meio do esforço próprio e em um estado de frustração causado não graças à conclusão de que o sonho da ascensão social independe de seu mérito, mas porque o sujeito pensa não ter feito por merecer. Dessa forma, essa cultura neoliberal - oriunda da ideologia dominante - engloba e influencia os indivíduos desde os menos favorecidos a partir da promessa de melhores condições de vida a aderi-la e fortalecê-la no meio social.

Em suma, é por meio do "falseamento do real", da criação de um concreto-pensado deturpado, que se manifesta o ideário neoliberal, uma ideologia fabricada pelos dominantes para manter e expandir sua dominância social por meio da completa responsabilização do indivíduo menos favorecido por suas próprias condições e da falsa promessa de ascensão social pela adesão a tal. 

Murilo Lopes Cardoso da Silva
1º ano de direito (Matutino)
RA: 231222653 


 

Marxismo e atualidade: relação entre capitalismo e a perda do “longo prazo”

   As teorias de Karl Marx são consideradas atuais, já que apesar de elaboradas no século XIX, ainda servem para explicar fenômenos do século XXI. Posto isso, Richard Sennett em sua obra “A corrosão do caráter”, aborda essencialmente o capitalismo vigente e sua relação com o tempo, enfatizando que “não há mais longo prazo", posto que a classe dominante visa reproduzir empregos que mudam constantemente para promover benefícios próprios. Esse comportamento, aliado ao uso das novas tecnologias, permite ampliar a jornada de trabalho até mesmo para o ambiente familiar, o que evidencia o quão nocivo é o sistema capitalista. 
 A priori, salienta-se que a sociedade busca incessantemente fazer parte da burguesia, mantendo assim uma estrutura segregacionista e desigual. Isso pois, as pessoas são coagidas dada a naturalização desse pensamento, em virtude dessa classe dominar como dizia Marx, não somente as relações de produção, mas os comportamentos, por exemplo as tendências de moda ditadas pela Fashion Week. Dessa maneira, as relações de produção são condicionadas por esse sistema, que visa acima de tudo acumulação de capital.
  Nesse viés, há uma naturalização da produtividade com a ideia de que “Tempo é dinheiro”, no qual a todo momento temos que produzir para acumular capital. A produtividade encontra seu extremo na era da globalização, visto que com a evolução tecnológica há a precarização do trabalho e adoção de empregos temporários. Com isso, a experiência a longo prazo em uma estrutura empregatícia rígida tornou-se disfuncional, levando os trabalhadores a se adaptarem a uma nova forma de produção.
  Na obra de Sennett, é possível perceber essa questão, quando o personagem Rico muda de emprego diversas vezes, tentando se adequar às novas relações de trabalho. Em decorrência, há prejuízos à sua vida pessoal e familiar, porque existe uma dificuldade em conciliar horas de trabalho e de lazer. Sendo assim, a ideia “não há mais longo prazo” de Sennett, ressalta o imediatismo das relações sociais e de produção, respaldadas pelo uso dos meios tecnológicos atuais, como o celular.
 Portanto, a estrutura domina o pensamento do trabalhador a ponto de ele se responsabilizar por ações das quais não tem culpa, mas que são impostas. Por sua vez, o conjunto de valores disseminados pela burguesia fortalece o capitalismo vigente, deslegitimando discursos das classes subalternas para fortalecer o comportamento e as condições materiais de existência que beneficiem a classe dominante.

Larissa Melone Esquetini
RA: 231222751
1 ano Direito Matutino

quinta-feira, 27 de abril de 2023

O enfraquecimento social devido ao trabalho

     Os pensadores Karl Marx e Friedrich Engels são muito conhecidos pelos seus ideais acerca da luta de classes vigente na sociedade e também sobre o chamado materialismo histórico. Segundo estes autores a história da humanidade pode ser vista como uma constante luta de classes sociais e sugerem que para se chegar em uma sociedade ideal, o proletariado deve ser unido visando combater as desigualdades oriundas da burguesia. Apesar de terem vivido durante o período da Segunda Revolução Industrial, muitos destes ideais perduram até hoje entre as camadas da sociedade; com ênfase para aqueles relacionados com as atuais desigualdades, com os conflitos entre tais classes e com a progressiva precarização do trabalho.
     Analogamente aos pensadores citados, Richard Sennett, um sociólogo contemporâneo, também disserta e reflete sobres os temas das alterações trabalhistas no mundo de hoje e suas consequências nas esferas das relações interpessoais. O mesmo explica que com a economia em escala mundial, devido a globalização, somado aos níveis tecnológicos levam à uma corrosão do caráter dos indivíduos da sociedade, tornando-os mais desagregados em seu trabalho, afastando-os das questões sociais ainda muito importantes, explicitando assim a crescente individualista que é presente nos dias atuais. Assim, Sennett confirma seus conceitos na crescente terceirização e automação das relações trabalhistas, que por sua vez, favorecem o crescimento do desemprego e da instabilidade do trabalho.
     Em síntese, os conceitos sociológicos de Karl Marx, Friedrich Engels e Richard Sennett são vistos como relevantes e presentes no mundo contemporâneo para se analisar e concluir ideias sobre as questões sociais e trabalhistas, principalmente no que se refere à luta de classes, a precarização do trabalho e da insegurança das relações sociais.


Renato Mello de Paula ( RA: 231224842 )
Direito Diurno  
TEMA: MARX, ENGELS E SENNETT

quarta-feira, 12 de abril de 2023

SOBRE PENSAR COLETIVAMENTE: DURKHEIN E GRADA KILOMBA


 

  Emile Durkhein foi um grande filósofo francês, consolidando sua reputação ao publicar obras sobre o funcionalismo e o fato social. Assim como Auguste Comte, a sociedade era o objeto prevalente em seus âmbitos de estudo. Porém, ele discordava de Comte em muitos aspectos, escrevendo críticas que geraram muito material para a seus livros.

  Nascido à luz de uma revolução no pensamento da sociedade pelo surgimento de novas ideias sobre como guiar o funcionamento da mesma, como o capitalismo e o socialismo, Durkhein escreveu, em sua primeira obra, “Suicídio”, sobre como o individualismo estava consumindo as pessoas da época. Ele dissertou sobre a mudança de estilo de vida com a prevalência do capital, uma vez que, agora, as pessoas se importariam cada vez mais com si mesmas, colocando o bem individual acima do coletivo. Isso dava a elas o poder de decisão sobre com quem iriam casar, qual seria o seu emprego e sua religião, dentre outras opções. Caso tudo corresse bem, seria feliz; porém, se falhasse em uma coisa que escolheu para si, o indivíduo entraria em estado de depressão, se culpando por tudo de errado que aconteceu, mesmo que, por vezes, não seja dele a culpa.

  Concomitante a isso, a ideia de fato social é de algo que ocorre exteriormente ao indivíduo, ou seja, que nos molda e influencia sem que possamos ter controle. Por isso, nem tudo que prejudica um ser humano é causado por ele, mas o capitalismo e a ideia de libertação pela capacidade de decidir tudo por conta própria criam essa visão equivocada nas pessoas.

  Ademais, o francês critica seu conterrâneo, Auguste Comte, quanto à análise das coisas. O Positivismo de Comte sugeria a criação de um pré-conceito, baseado no que cada um acha de uma coisa, para depois ter contato com ela, já com ideias enraizadas. Durkhein afirma que, primeiro, é necessário conhecer, ter contato com algo, para depois depreender ideias sobre aquilo. Isso evitaria, em muitos casos, o preconceito cultural e étnico presente em nossa sociedade, o qual se limita a escutar e validar apenas as vozes dominantes, e impedir a expressão do oprimido. Tal fato é estudado e conceituado pela escritora portuguesa Grada Kilomba, em sua obra “Memórias de plantação: episódios e racismo cotidiano”. Nela, a autora conduz uma linha de pensamento que questiona: “quem pode falar?”. E, desde sempre, a resposta foi: “A subalterna não pode falar”, pois, se expressar como é a sua condição, vai reacender o debate e revoltar as pessoas, e a classe dominante não quer revolta, pois gosta de tudo como está. Os governantes romanos não criaram a política do “pão e circo” porque queriam o bem da população; eles a criaram para ocupar as pessoas com outras atividades, tirando o foco das atitudes do governo.


Matheus Barboza Galatte, 1° ano matutino

POSITIVISMO HOJE: A NEGAÇÃO DO SUBJETIVO E DO PENSAMENTO AVANÇADO


 

  Em um contexto de grandes mudanças na estrutura da sociedade como um todo, denominado “Primavera dos povos”, surge uma corrente de pensamento que valoriza, acima de tudo, a razão e a aplicação do método científico para explicar a revolução decorrente do momento.

  O Positivismo foi criado pelo francês Auguste Comte, com o intuito de validar apenas o método científico para a obtenção de teses. Comte defendia que apenas o conhecimento concreto, ou seja, o qual poderia ser provado por meio de demonstrações rápidas e pontuais, seria válido para a aquisição de conhecimento. 

  Ademais, o pensador percebeu que não havia uma ciência que explicasse os fenômenos sociais decorrentes da Revolução Francesa, da Revolução Industrial e da Primavera dos
Povos. Por isso, criou a Sociologia, a qual teria como objeto de estudo o comportamento e as ações da sociedade, e as devidas consequências. Esta foi considerada uma "física social", uma vez que deveria analisar os fatos humanos como se fossem leis imutáveis e aplicáveis a todos os contextos, como as Leis de Newton.


  Apesar de ser considerada uma ideia equivocada para explicar fenômenos decorrentes
diretamente da ação humana, os ideais positivistas ainda são muito presentes na sociedade contemporânea. O movimento da extrema-direita, fortalecido na França, na Itália e no Brasil, usa como base de projeto político e de retórica argumentativa os princípios positivistas da ordem necessária para o progresso. Como ordem, eles consideram que cada ser deve saber o seu lugar social e segui-lo estritamente, sem possibilidade de ascensão. Outra premissa positivista é aplicada no debate sobre sexos: ao observar apenas os órgãos genitais, encontram-se dois sexos. Porém, o Positivismo não considera o subjetivo, que está presente no que cada ser humano pensa sobre sua sexualidade e na capacidade de defini-la por conta própria.

  Um outro exemplo válido é a campanha anti-imigração entre países do Leste europeu, como a Hungria.  Seu ex-presidente, Victor Orban, defendeu no mandato que os estrangeiros não deveriam ingressar em seu país, pois não tinham a nacionalidade húngara e seriam tratados como inferiores para não prejudicar os nascidos no território. Portanto, segundo ele, algo registrado em um documento define quem pode ou não viver em um determinado local, e não o sentimento de pertencimento ou a necessidade de um abrigo.


Matheus Barboza Galatte, 1° ano matutino

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Coercitividade e dependência sob a perspectiva de Durkheim.

 


Beatriz Furigo Benedito 
1° ano de Direito Noturno




     Para melhor compreensão da sociedade, o sociólogo e cientista político David Émile Durkheim criou especificações para o grau de dependência entre os indivíduos, a qual denominou de solidariedade social. Dentre elas, está a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica, ambas usadas para diferenciar a sociedade em seus diferentes períodos históricos. Além disso, ele desenvolve a teoria do Fato Social, que evidencia a coerção que a sociedade exerce nos indivíduos.
      Em primeira análise, a Solidariedade Mecânica deriva de sociedades mais simples e pré-industriais, antes da consolidação do capitalismo, como o feudalismo. Desse modo, destaca-se a baixa taxa de divisão do trabalho social, ou seja, funções individuais menores e menos relacionadas no trabalho e pouca dependência social.
     Consonante a isso, a Solidariedade Orgânica , que faz referência à  biologia justamente por fazer analogia a um organismo vivo. Para Durkheim, o corpo humano seria a sociedade e os órgãos seriam as funções sociais de cada indivíduo sendo assim, uma sociedade mais complexa , onde o grau de contato entre as pessoas são mais fortes e de interdependência.
     Assim, as relações jurídicas também diferem nesses dois modelos de Solidariedade. Na Solidariedade Mecânica o direito é mais baseado em costumes e tradições, como o direito consuetudinário da Idade Média passado hereditariamente. Já na Solidariedade Orgânica, as relações entre os indivíduos são pautadas pela formalidade das relações jurídicas, como otrabalhador do capitalismo necessita das leis trabalhistas para assegurar seus direitos
     Ademais, Durkheim também reflete sobre os fatos sociais. Nessa órbita, os fatos sociais são externos e anteriores aos indivíduos e possuem certos graus de coercitividade , ou seja, padrões de comportamento, imposições, instituições, normas e regras que abrangem a todos e espera-se que sejam seguidas, passivo a punições. Sendo assim, os fatos sociais possuem generalidade, sendo eles comuns e coletivos.

Durkheim e o Preconceito Coletivo

 

Émile Durkheim, sociólogo francês do século XIX, defendeu em sua tese que a sociedade, através das relações sociais, exerce uma coerção moral e ideológica na formação do indivíduo. Essa força, logo, existiria em um plano além do pessoal e comum à maioria, delimitando as nossas noções de certo e errado, coibindo anomalias e estabelecendo assim uma noção de ordem social.  Durkheim utilizou-se do termo “consciência coletiva” para nomear esse fator comum à média que ordena os indivíduos, estabelecendo assim um conceito que elucida uma série de situações em que, através desses fatores comunitários e confinatórios, os seres humanos ainda agem de maneira primitiva e preconceituosa.

Como explicado antes, a consciência coletiva pavimenta a personalidade do indivíduo, porém isso não significa que ela seja única e atemporal. Ao analisarmos as opiniões e valores cultivados por, exemplificando, homens ocidentais brancos, idosos e heterossexuais, veremos que apesar de cultuados como os mais “corretos” de sua época, carregam conceitos ultrapassados e monofocais, frutos de uma visão de mundo dominante e opressora. Na atualidade percebemos claramente que os princípios regentes da humanidade são diversos e se encontram em constante transformação, porém, grupos sociais com pouca diversidade cultual e contato com classes sociais distintas tardam a acompanhar essa mudança.

Em seu livro “Memória da plantação”, a escritora Grada Kilomba descreve episódios de racismo sofrido por ela na Universidade de Berlim, na Alemanha. Buscando realizar seu projeto de doutorado, a intelectual enfrentou uma série de complicações, entraves e até desmotivações verbais pelo fato de ser uma mulher negra. Sendo assim, podemos observar que os funcionários e envolvidos compartilhavam uma mesma consciência de que o espaço universitário, ocupado majoritariamente por pessoas brancas desde sua fundação, não comportaria/seria afetado negativamente pela presença de uma pessoa de outra raça, um pensamento fundamentalmente e desveladamente racista.

Nesse sentido, a perspectiva de Durkheim nos ajuda a compreender que grande parte dos problemas e discriminações que ocorrem na sociedade nem sempre são inerentes ao indivíduo, mas sim à uma mentalidade comunitária arcaica que prospera nos mais diversos âmbitos. Para tanto, a diversificação social e étnica se faz importante para, além de enriquecer culturalmente os espaços segregados, também promover uma discussão multifocal acerca dos padrões e valores adotados pelas comunidades ao longo do tempo e, com isso, promover o desenvolvimento e a união humana.  

Bruno Vieira Salles

RA: 231224885

1° Ano

Pensamento Científico

 Ao longo dos anos a sociedade se transformou de forma rápida, por consequência, as ciências que estudam o comportamento social se modificam com o passar do tempo. Contudo, é importante que os indivíduos - constituintes da sociedade - tenham um olhar crítico perante à criação das leis e à forma de funcionamento da máquina pública.

  Dessa maneira, a ciência do direito nos permite ter um olhar científico para as mudanças que ocorrem no país, o direito nos permite saber a melhor hipótese de funcionamento da sociedade, de uma maneira científica, portanto, diferente do senso comum ou do que chamamos de consciência coletiva. Ademais, o mundo e o direito não podem ser interpretados isoladamente, já que o direito é um reflexo das constantes mudanças globais, podemos ver claramente que o direito afeta diretamente em questões de interesse internacional como: justiça, leis, política, etc.

 Em suma, para se transformar um cidadão é imprescindível que saiba do direito, as nações devem ter esse conhecimento, não só quem estuda o direito para fins profissionais mas todo indivíduo que faça parte da formação de uma sociedade. Precisamos saber a melhor forma de punição, por exemplo, para que o indivíduo consiga ser reinserido na sociedade quando estiver em liberdade, o senso comum não olha dessa forma, pois, confunde justiça com vingança, o direito nos permite pensar de uma maneira diferente.


Sophia Caños Farias - Direito (noturno)
RA: 231224826

Unificação e partilha da consciência coletiva

 

O sociólogo francês Émile Durkheim teoriza consciência coletiva como o conjunto de ideias compartilhadas pela média dos membros de uma sociedade em sua totalidade, sendo assim algo que advém da semelhança entre as pessoas. O que estabelece essa semelhança são as forças coercitivas dos fatos sociais que o indivíduo encontra durante a vida e a sua utilidade é de fortalecer a solidariedade mecânica que ajuda a unir tal sociedade.

 Porém, como pode haver uma única consciência coletiva se as vivências que possibilitam a coerção são muito diferentes entre grupos distintos? Isso é algo que Marx vai abordar, argumentando sobre este prisma que a consciência é pelo menos dividida na questão de classe, foco de sua pesquisa e questão central na vida de cada um, assim drasticamente mudando os fatos sociais que ela interage. Claro que classe não é a única coisa que separa as pessoas, sendo a raça sendo outro fator importante, já que ser constantemente vítima de uma sociedade racista muda muito a vivência da pessoa. Levando em conta esses pontos, então como que tem pessoas que parecem ter uma consciência particular que não faz sentido para a sua realidade própria? 

 Isso se dá por como a consciência do grupo dominante tenta se forçar no resto da sociedade, usando seu poder hegemônico para tornar a violação dela quase como um crime. Nisso se vale a definição de Durkheim do que é um crime, que seria o que vai contra a consciência coletiva, a qual ele considera como única, mas como já explicado é fragmentada, sendo assim a do grupo dominante aquela que consegue usar os aparelhos legais para tomar suas ideias leis. Além da visão legal de Durkheim, essa criminalização também se dá de forma mais abstrata, com certas coisas não sendo ilegais mas pela pressão social que seu descumprimento gera elas quase que são. 

 Exemplo disso é dado por Grada Kilomba em seu livro "Memórias da plantação" quando ela, mulher negra, relata sua experiência de estudar em uma universidade na Alemanha, tendo sofrido repetidos casos de preconceito e diversos impedimentos para conseguir estudar lá que quase a fizeram desistir disso. O motivo disso é que a consciência coletiva predominante na Alemanha é fortemente branca, esperando que a pessoa negra seja uma raridade a ser encontrada nas margens da sociedade, não em um exclusivo e prestigiado lugar como uma faculdade. Assim, quando Grada Kilomba quebra o que a sociedade esperaria dela, ela sofre retaliações quase automáticas aos moldes de como se sofre retaliações legais ao cometer um crime, sendo ambas punições por não seguir uma norma. 

 

Só que o curioso é que vários desses casos foram perpetuados por mulheres brancas, que por serem mulheres poderia se esperar que ela entendesse o que é querer ocupar um lugar importante enquanto a sociedade vê isso como impróprio e cria barreiras para que isso não aconteça. Porém, como a consciência coletiva predominante mantém o status quo, ela não comtempla o reconhecimento de preconceitos sistêmicos como o racismo e o machismo, entre outros, não querendo indagar sobre os problemas mais profundos da sociedade pois isso envolveria se contrariar. Assim as pessoas influenciadas por ela não têm o entendimento geral de como os preconceitos funcionam e se interligam, ficando presas nas suas próprias experiências. 

 Dessa forma Durkheim não estava tão errado, já que a tal consciência coletiva única que ele propõe existe, só que como uma construção artificial que se tenta aplicar a todos.

 

Gabriel de Alencar Fernandes 

1° ano de direito matutino

RA: 231222701

Durkheim, a coletividade e os preconceitos na sociedade

Émile Durkheim foi um sociólogo francês, considerado um dos pais da Sociologia, que exerceu uma grande influência no estudo do comportamento da humanidade. O Francês desenvolveu o chamado “fato social”, que é um conjunto de ações conjuntas que rodeiam e cercam a humanidade. Tais fatos podem coagir o corpo social e por isso, a presença de um senso crítico facilitaria a diminuição de condutas problemáticas para a sociedade.

As teses do sociólogo necessitam do bom funcionamento da sociedade. Cada indivíduo deve fazer o necessário para que essa sociedade funcione bem. Essas funções são estipuladas por uma consciência geral do coletivo, que é criada baseada em valores de instituições que unem gerações. Desse modo, costumes passam a se manter e hábitos ruins perduram na sociedade baseada na ideia de Durkheim

A transmissão de valores pode não ser boa para sociedade, como também pode transmitir costumes prejudiciais a sociedade. Um exemplo disso é a permanência do racismo como elemento transmitido ao longo da gerações, visto que é uma herança do passado, do qual além de se estender pela sociedade de maneira estrutural, é exterior aos indivíduos. Dessa forma, analisar a sociedade baseada no olhar de Durkheim se torna absurda, pois devemos o racismo é problema ainda evidente na sociedade que deve ser criminalizado e responsabilizar todos os atos racistas dos indivíduos.

Logo, os estudos de Durkheim, se forem aplicados na sociedade, devem ser aplicados com muita responsabilidade e cautela, pois pode sustentar comportamentos preconceituosos que se opõe aos ideais coletivos de pluralidade do mundo contemporâneo.

Bruno Hondo Silva de Moraes RA: 231222718 1 ano - Direito - Matutino

A tradição do conhecimento.

 Lorena Ramos Panizza Jalkh 

1° ano de Direito Noturno 

RA : 231223072


        Em seu discurso nomeado " The danger of a single story", a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi explica como em 1561, um navegador inglês viajou até o oeste da África e referiu-se aos negros africanos como "bestas que não tem casa, pessoas sem cabeças, que têm suas bocas e olhos em seus seios"; e assim iniciou uma tradição de histórias sobre continente africano que o retratam como um ambiente negativo, pobre, repleto de pessoas incapazes de falar por si mesmas, aguardando serem salvas por um estrangeiro branco e gentil. Sob essa perspectiva, a fala de Ngozi acerca-se ao funcionamento dos fatos social de Émile Durkeim, pois o sociólogo afirma que os fatos são maneiras de agir, sobretudo de pensar e sentir, exteriores ao ser humano e  possessivos do poder de coerção. Dessarte, histórias únicas acerca da África subsaariana formaram a consciência coletiva do Ocidente e impuseram, inconscientemente, a forma como proceder e reconhecer a cultura africana. 

         Segundo a autora Grada Kilomba, diversos pensadores veem os colonizados como incapazes de falar, e consideram seus discursos como insatisfatórios, além de inadequados. Nesse sentido, os subalternos estão em uma posição de marginalidade e silêncio, por isso não há um espaço para a articulação de suas vozes. Como se vê na tese de Durkeim, são os fatos sociais que sustentam essas estruturas de opressão. De fato, é a partir da tradição do conhecimento e sua reprodução que o ser social é forjado, lhe incutindo regras que, aos poucos, e de maneira resignada, são incorporadas na sociedade.Dessa forma que ordenações de injustiças são asseguradas.

        Destarte, a construção de uma consciência coletiva, por vezes cria histórias únicas. Para tanto, o perigo e a consequência disso é que rouba das pessoas sua dignidade e torna difícil reconhecer que há uma humanidade compartilhada, proliferando maneiras de agir preconceituosas.

           

   Segundo Durkheima consciência coletiva é o conjunto de sentimentos e crenças comuns aos membros de uma mesma sociedade. Dessa forma, é possível dizer que que tal consciência dita os rumos que tomarão uma comunidade e podem podar atitudes e pessoas que divergem de tais parâmetros. Em si não é obrigatoriamente boa ou ruim, mas ao se analisar atitudes pessoais causadas por direcionamentos coletivos, pode ser grandemente maléfica, uma vez que instiga a não autenticidade pessoal e molda cidadãos visando uma uniformidade. 

   Não obstante, a consciência coletiva pode ser capaz de de controlar as leis criadas, politicas nacionais e criar julgamentos pessoais na forma que olhamos a qualquer cultura estranha a nossa, como fizeram os povos europeus da idade media ao intitular como “bárbaros” todos aqueles que divergiam aos seus costumes e crenças. 

  No livro “1998”, é mostrado o quanto uma sociedade é regida e ditada por uma consciência coletiva e o quão influenciável tal consciência pode ser. A obra literária aprofunda nas características socais da comunidade e mostra que a consciência coletiva pode sim orientar os governantes e ao governo vigente, mas que muitas vezes pode ser orientada por tais administradores estatais através de controles ditatoriais que buscam criar um novo “normal” que se adeque aos seus objetivos políticos e econômicos.

Vitória Fernandes Mazarão – 1 ano direito noturno

UM MECANISMO PRECISAMENTE AJUSTADO

 

A casa de concerto de Musikverein, inaugurada em 6 de janeiro de 1870, está  atualmente entre as três maiores do mundo, servindo como lar de uma das mais  longevas e importantes orquestras contemporâneas: a Orquestra Filarmônica de  Viena. As listas de espera para se assistir um concerto nessa casa podem variar  de seis a treze anos. 

Prédio e músicos formam um todo harmônico indissociável. A acústica, pensada  na composição da arquitetura do prédio, conjugada a sincronia que se  desenvolve em cada corda de cada um dos instrumentos, todos perfeitamente  afinados, e até mesmo o ritmo da respiração de cada músico metodicamente  cadenciado, tudo colabora para compor um quadro que revela a riqueza da  proposta artística da casa. Proporção e equilíbrio. Elementos caros a teoria e a  prática musical, mas também a própria modernidade. 

O homem moderno aprendeu a olhar para o mundo não como uma caótica  disposição de fenômenos incompreensíveis e imprevisíveis, e sim como um  conjunto de relações harmônica e logicamente correlacionadas entre si. Um  mecanismo precisamente e matematicamente calibrado, do qual seria possível  abstrair certas leis intrínsecas a ele. Daí a afirmação de Galileu: “Matemática é  a linguagem em que Deus escreveu o universo”. 

O entendimento dessas relações por meio do método científico, viabilizou um  alargamento sem precedentes das fronteiras do conhecimento humano e de sua  aplicação. Assim, as ciências matemáticas se consolidaram como o primeiro  campo científico moderno fornecendo um modelo para os demais campos de  estudo que se desenvolveriam posteriormente, entre os quais a própria  Sociologia. 

A influência dessa mentalidade moderna com relação a estruturação matemática  do universo, é notável na incipiente elaboração dos estudos científicos acerca  da sociedade e suas instituições. Auguste Comte, um dos primeiros formadores  do pensamento sociológico, propôs uma verdadeira “Física Social” capaz de

identificar as leis imanentes a ordem, a cadência, a harmonia e ao progresso  sociais, as quais nomeou de “Leis Positivas”. 

Para ele, a função de um cientista social seria reconhecer essas leis numa  análise histórica e se possível afinar a sociedade a elas. Pois, da mesma maneira  que não se pode trocar os elementos de uma equação matemática sem alterar  o seu resultado, Comte defendia não ser possível ao corpo social romper com  certas leis, instituições e valores positivos sem comprometer o equilíbrio e o  desenvolvimento da sociedade como um todo. 

Dessa maneira, com a rigidez de um cálculo, qualquer elemento descoordenado  ou dessincronizado, cada nota destoante ou imperfeitamente cadenciada,  representariam para o positivismo um mal a ser expressamente rechaçado e  combatido sob ameaça de anarquia e degeneração da harmoniosa melodia  social – do próprio equilíbrio que permite o movimento da sociedade. 

Entretanto, existe um equívoco fatal nessa visão positivista em atribuir ao  universo social a justeza e precisão com a qual operam as ciências matemáticas,  ou melhor, em tratar a sociedade com um mecanismo cujo bom funcionamento  está subordinado ao acatamento exato e irrestrito às Leis Positivas, traduzidas  em valores e instituições das quais depende o equilíbrio social. Desse modo,  Émile Durkheim foi o primeiro a identificar esse equívoco nas teorias sociais de  Comte. 

Em primeiro lugar, ele percebeu que a irredutibilidade da “Física Social” não  proporcionava um modelo capaz de explicar e gerar uma contínua ordem e  progresso na sociedade. Isto porque, a realidade social é muito mais fluida do  que um mecanismo matemático e o corpo coletivo, junto as suas instituições e  valores, precisa corresponder a essa flutuação de uma maneira satisfatória, o  que não é possível mediante a essa inflexibilidade do método positivista. 

Nessa perspectiva, uma Sociedade Positivista anelando preservar a todo custo  suas estruturas consideradas imprescindíveis para o equilíbrio social,  desconsiderando e combatendo implacavelmente qualquer elemento divergente,  está fadada a dissenção e anarquia pela sua incapacidade de sequer admitir  suas divergências internas, quanto mais administrá-las.

Durkheim compreendeu que a coesão de uma sociedade ultrapassa a simples  repressão de forças sociais centrífugas, e engloba a própria aptidão das  instituições vigentes de assimila-las e as incorporar às suas estruturas caso seus  mecanismos de coerção falhem. Em outras palavras, não se deve pressupor  que a sociedade alcançará em algum momento um estado de equilíbrio absoluto  e duradouro no qual todas as formas de divergência serão superadas, como  prescreve o ideário positivista; entretanto, presume-se que a sociedade sempre  oferecerá uma resposta a fim de promover e estender ao máximo possível sua  condição de estabilidade e harmonia. 

Essa resposta se dá em dois momentos: a priori, com a coerção de qualquer  parte discordante do arranjo social em vigor (status quo) através de mecanismos  coativos próprios ao corpo coletivo; a posteriori, com a agregação total ou parcial  dessas partes na totalidade coletiva, não mais como um elemento estranho a  essa totalidade e sim como componente da mesma. 

Como já foi mencionado, a passagem do primeiro para o segundo momento de  resposta ocorre mediante a insuficiência dos recursos coercitivos em neutralizar  as forças sociais que diferem da condição de equilíbrio imperante na sociedade  com seus valores e instituições, resultando em rupturas e descontinuidades que  comprometem a ordem e o bom funcionamento do corpo coletivo (anomia). 

Portanto, segundo Émile Durkheim, a engenhosidade da dinâmica social,  intrínseca a ordem e ao movimento coletivos, não está em Leis Positivas que  ajustam a grande máquina social e seus componentes, e sim na habilidade do  corpo social de moldar e ser moldado pelas circunstâncias, de fazer convergir  em si forças desagregadoras gerando novos arranjos compatíveis com as novas  demandas, as quais os antigos arranjos não podiam assimilar. Enfim, trata-se de  se compor a partir das incorrigíveis notas destoantes uma nova melodia. 

A casa de Musikverein foi concebida no seio de um dos mais reacionários  impérios da Europa Continental: o Império Austríaco e Habsburgo, em plena  Belle Époque. Nesse sentido, a composição da ilustre casa de concertos não  deixou de refletir o espírito conservador de sua época, e no decorrer do tempo  buscou preservar ao máximo suas bases conservadoras e elitistas.

Para tanto, valeu-se de procedimentos extremamente austeros que  determinavam, por exemplo, a não admissão de mulheres como membros  oficiais de sua orquestra. E durante muito tempo essas medidas não foram  sequer questionadas e quando foram, sem muita contundência. 

Todavia, não menos do que cento e vinte sete anos depois da inauguração da  casa de concerto em Viena e contando cento e cinquenta e cinco anos desde a  fundação do grupo, somente em 1997, a harpista Anna Lelkes foi a primeira  mulher a ser admitida oficialmente como membra da Orquestra Filarmônica de  Viena, isso depois de passar vinte anos apresentando-se nela. 

Essa mudança nesse microcosmo social que representa Musikverein, reproduz  perfeitamente como as instituições e os próprios componentes da vida social se  comportam buscando, sim, preservar suas estruturas e arranjos originários, mas  também como o sucesso e a sua continuidade dependem da sua capacidade de  flutuação em meio a fluidez do universo social, isto é, de se ajustar  adequadamente as demandas do cenário histórico e coletivo vigente.