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sábado, 23 de junho de 2012

Os Valores e a Razão

   É possível perceber, ainda, que esta visão da história esforça-se por negar o caráter multicultural da sociedade e dos processos que a envolvem. Isso ocorre quando faz distinções entre os habitantes originais da terra e aqueles que se estabeleceram depois. De acordo com esta perspectiva, todos aqueles que migraram para a Índia e seus descendentes são estrangeiros e, portanto, não são parte da nação. Neste sentido, muçulmanos e cristãos, por exemplo, que não seriam naturais da Índia e, desta forma, são considerados estrangeiros pelos nacionalistas, deveriam tornar-se indianos (indianizar-se) ou viver como “cidadãos de segunda classe sem quaisquer direitos ou privilégios”.
OLIVEIRA, M. S. R. . Identidade Nacional e Intolerância Religiosa na Índia Contemporânea. In: II Simpósio Internacional sobre Religiões, Religiosidades e Culturas, 2006, Dourados. CD BOOK.Dourados : Editora UFMS, 2006. (pg. 8)

   Dentre todas as ideias expressas por Weber em sua obra, é possível destacar a de que o sociólogo enquanto pesquisador não deve contaminar o objeto de estudo com seus valores. Apesar de aparentemente livre de maiores complexidades, nota-se que sua prática compreende grandes dificuldades, principalmente quanto à não emissão de opinião em determinados momentos da pesquisa. Muito embora Weber afirme que não existe neutralidade, o conhecimento não deve se afastar da razão, devendo esta prevalecer sobre a opinião do sociólogo.
   Levando essa ideia para além do plano do pensamento, é possível exemplificar sua aplicação através de casos concretos, como o da intolerância religiosa, mais especificamente, a que ocorre entre hindus, muçulmanos e cristãos, apresentada no texto acima. As raízes desse conflito são históricas, estando relacionadas ao nacionalismo indiano, que se estende até mesmo à questão religiosa. Essa intolerância ocorre porque os hindus, antes de enxergarem muçulmanos e cristãos como seres humanos, tomam-nos como estrangeiros, representantes de uma cultura inferior.
   Assim, a defesa desse julgamento por parte de sociólogos hindus sem fundamentação em nenhuma base racional vai extremamente contra o pensamento de Weber, visto que está impregnado de etnocentrismo e relativização de valores.
   É possível concluir que, de uma maneira geral, a aplicação dessa ideia weberiana é a melhor prevenção de conflitos, sendo, portanto, a racionalização das ações o "pontapé inicial" para a solução dos problemas relacionados a desentendimentos culturais. 
   Por fim, pode-se tomar por complemento ao pensamento de Weber a frase do escritor francês Victor Hugo, na obra Os Miseráveis, na qual ele afirma que "chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável". Weber já apresentou a filosofia, onde está a ação?
O pensamento de Weber se distingue de forma explícita do pensamento de Marx e Engels. Uma de suas ideias é a de que as "leis" são apenas um recurso metodológico, ou seja, representam meios para uma análise sociológica, não fins. Isso ocorre pois, para Weber, todo o conhecimento deve ser neutro, ou seja, as ditas verdades são meras afirmações relativas. É nesse contexto que o filósofo critica o chamado 'denominador comum' e defende que o dogmatismo deve ser deixado apenas as seitas religiosas, sem abranger as ciências.
Em um dos trechos de seu texto, Weber afirma que é necessário acentuar vários pontos de vista a fim de se fazer uma análise sociológica. Isso pode ser muito bem aplicado também no fenômeno jurídico. Em estudos de casos judiciais, os profissionais envolvidos no processo devem deixar de lado seu julgamento individual a fim de poderem ter uma visão mais ampla e neutra da situação. Só assim é que advogados, juízes e promotores conseguirão compreender os motivos que levaram tal réu a cometer certos atos e a melhor julgar a pena mais apropriada para cada caso.
Por isso, é necessário na área do Direito, a análise de cada indivíduo e dos valores que os perpassam, fenômeno chamado por Weber de 'individualismo metodológico'. Infelizmente, a burocracia e um número excedente de casos faz com que muitos profissionais do setor do jurídico não tenha tempo ou disponibilidade de proceder dessa forma.

Maria Cláudia Cardin - 1° ano Diurno

Weber: do determinismo à verdade científica.


                Max Weber, em sua obra “A ‘objetividade’ do conhecimento na ciência social e na ciência política” (1904), critica a ideia determinista de ciência e introduz o conceito de ação social. Para ele, a função essencial da sociologia é a compreensão dessas ações, principalmente de seus sentidos e motivações.
                Dessa forma, Weber afirma que o juízo de valor é o ponto de partida de um indivíduo para a realização de qualquer ação social e as classifica em quatro tipos diferentes: 1) Ação racional com relação a um objetivo – a qual o indivíduo determina seu objetivo e os meios para alcançá-lo; 2) Ação racional com relação a um valor – o indivíduo é fiel à suas ideias e preparado para lidar com os riscos de sua decisão; 3) Ação afetiva ou emocional – decidida pelas paixões, sentimentos, sem racionalidade; e por fim, 4) Ação tradicional – resultado dos costumes e crenças sociais.
                O sociólogo também definiu ferramentas metodológicas para uma melhor análise do seu objeto de estudo: as leis constituem-se como meios, e não fins para a análise. Para tanto, criou o conceito de “tipo ideal”, o qual não representa de fato o “dever ser” do objeto a ser estudado, mas sim o possível.
                Suas ideias inovaram a compreensão sociológica, principalmente por seu caráter crítico ao dogmatismo do materialismo histórico e ao “denominador comum” marxista. Weber propõe um novo método, e não mais a absorção de normas e ideais obrigatórios, a partir dos quais os indivíduos devem se espelhar em suas práticas. Assim, a partir de sua concepção, conclui que a verdade científica provém da comparação entre o tipo ideal e os fatos, e não de dogmas impostos pelas ciências sociais.

O papel da compreensão e dos valores em Weber




   A grande contribuição de Weber para a ciência social foi o fato de não buscar em suas análises uma generalização dos fatos, mas sim uma compreensão. Segundo ele, o homem era movido não somente pelas vontades sociais, mas os valores também incidiam sobre suas ações. Assim sendo, cada homem age de maneira distinta mesmo estando em uma mesma comunidade, mesmo que entre eles aja uma semelhança de valores, dificilmente eles serão iguais.

   A obra de Tarsila Amaral pode ser invocada como exemplo desse pensamento. Não há só as diferenças físicas dentro de uma mesma classe social, há também diferenças de pensamento, diferenças culturais e religiosas. A generalização nas análises sociais prejudica a obtenção da realidade. É preciso considerar diversos fatores (nesse ponto critica Marx por considerar somente o fator materialista) para a obtenção de um quadro o mais próximo possível da verdade.

   Weber não desconsidera que o pesquisador possui seus valores, defende, no entanto, que esses valores devem ser deixados o máximo possível fora da esfera de pesquisa. Contribui, assim, não só com a desmistificação da sociologia, ao considerar que esta é feita por homens e não por deuses, mas acima de tudo a revela como ferramenta de entendimento e não como ferramenta detentora da verdade universal e absoluta.


Limites

Max Weber, intelectual alemão, em sua obra publicada em 1904, "A objetividade do conhecimento na ciência política e na ciência social", defende que a análise social seja feita de modo em que o pesquisador deixe lado seus próprios valores e estude o caso pela ótica do objeto a ser estudado.

Por exemplo, um pesquisador francês, ao estudar uma comunidade islâmica, não deveria julgar as condições da mulher muçulmana com os olhos de um cidadão parisiense, e sim tentar entender o caso através dos valores islâmicos.

Porém, até que ponto isso é válido? Certos valores, não deveriam ser considerados universais, e outros, repudiados por todos os povos? Não é possível, que um sociólogo ocidental militante dos direitos humanos não se indigne com certas práticas de alguns países árabes, como por exemplo o apedrejamento de mulheres condenadas por adultério.

O compreensivismo weberiano tem seus limites. É espetacular a concepção de uma ciência social que tente entender os fatos por uma visão de quem os vive. Porém, não se pode deixar de lado um princípio que deveria ser inerente à todos: a defesa do ser humano.