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terça-feira, 10 de maio de 2016

O fator limitante da coerção social

      Na intenção de consolidar a Sociologia como ciência, Émile Durkheim estabelece um método sociológico definitivo e rigoroso de análise da sociedade, o objeto de estudo, adaptado aos fenômenos sociais, a fim de entender o desenvolvimento da sociedade moderna. Em seu estudo, ele define o fato social como fenômenos que se dão no interior de uma sociedade com interesse geral; como toda maneira de fazer, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; como toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade e possui essência própria, independente de suas manifestações individuais. Desta forma, o fato social dá origem à coerção social, pois determina a conduta exterior aos indivíduos que rege o comportamento geral através de sua força imperativa e coercitiva.
      Observando as crianças, percebe-se que os fatos sociais são impostos a elas desde seu nascimento, incutindo sobre elas as maneiras de como agir, ver, sentir, etc. Com o tempo, essa coerção cessa e surgem os hábitos, os costumes, as tendências, a moral e a conduta coletivos. A educação produz o ser social dentro de tais padrões, ou seja, o meio modelando a criança à sua imagem, através dos pais e mestres. Sendo assim, os indivíduos são privados de sua individualidade ao serem obrigados a respeitar as normas morais, pois está intrínseco à sociedade a conservação de tais preceitos. Por exemplo, existe o comportamento “correto” para um menino e outro para uma menina; os homens têm que ser viris e expressar sua masculinidade e superioridade o tempo todo e as mulheres têm que ser “belas, recatadas e do lar”.
      A revista VEJA de 19 de Abril de 2016 ilustra muito bem a coerção social sobre a mulher, ao ditar o padrão de como uma mulher deve ser, exaltando características que subjugam e restringem o gênero feminino à exterioridade estética, à retração de sua expressão, ao impedimento de suas vontades e liberdades; ao descrever a mulher do vice-presidente Michel Temer, Marcela Temer, como “bela, recatada e do lar”. Portanto, fica evidente a preocupante realidade de nossa sociedade excludente e repressora e a de pessoas que não se enquadram no padrão, na moral e na norma vigentes simplesmente pelo fato de expressarem sua essência, sofrendo com o preconceito e a discriminação; assim a coerção social limita, muitas vezes, o desenvolvimento, a diversificação e a liberdade, impondo sua conduta, torna a sociedade menos sociável.

Henrique Mazzon - Direito Noturno