Pinheirinho,
nome de um bairro localizado na comarca de São José dos Campos, e assentado sob
um terreno que era antes uma imensa área vazia. Em 2004, centenas de pessoas
que moravam em um terreno próximo, foram despejadas e sem alternativa, empeçaram
a ocupação desse local. Entretanto, em 2012, após uma liminar concedida em
2011, e embora com diversos aspectos em favor da causa dos moradores do
Pinheirinho, iniciou-se a reintegração
de posse à massa falida da empresa Selecta. Destarte, a operação dessa reintegração
teve um resultado catastrófico, desalojando 6 mil pessoas, deixando dezenas de
pessoas feridas, privadas de seus bens, crianças e idosos traumatizados em
razão da violência, além de inúmeros relatos de violência sexual,
desaparecimentos e até mesmo mortes. À vista disso, ao analisar o julgado desse
acontecimento à luz da visão sociológica de Max Weber, inferimos como se deu a
dominação, e o descaso em relação aos moradores, ao colocar-se no momento da
decisão a propriedade, acima do direito à moradia, e até mesmo acima da
dignidade da pessoa humana.
Max
Weber foi um intelectual alemão, considerado como um dos fundadores da
sociologia, o qual considerava como objeto de estudo da mesma a ação social.
Para ele, ação social é o modo como deve ser guiada sua vida e que só existe
quando o indivíduo estabelece relação com os outros. Dessa forma para ele, a
realidade é concebida a partir de trocas, assim como é também o espírito do
capitalismo, não necessitando ser impreterivelmente essas trocas equivalentes.
Depreende-se, portanto que as relações de poder e dominação estão subsumidas no
conceito de ação social. Isto posto, assim, como para o sociólogo o indivíduo é
probabilidade de ação social, visto que é composto por várias camadas de
cultura, embuída de diversos valores, o poder é a probabilidade de um indivíduo
impor sua vontade sobre outro, dominando-o consequentemente.
Em
suma, esses conceitos compendiam em grande parte, a realidade da maioria das
sociedades. Nas quais, as trocas designam o modo de vida das populações, sendo
elas equipolente ou díspar, prevalecendo as desiguais nas sociedades
capitalistas, onde existe sempre um indivíduo que vai exercer a dominação sobre
o outro, colocando seus próprios interesses acima de qualquer outra coisa,
assim como no caso Pinheirinho, o qual, mesmo os moradores tendo mais aspectos
favoráveis à sua causa do que a empresa, a decisão levou em conta o lado mais
forte, a propriedade, aqueles que usualmente exercem a dominação.
Outrossim,
é essa dominação que para Weber demanda legitimidade, a qual é conquistada pela
burguesia através da “equidade”, ao eliminar os privilégios , ou seja, ao menos
que na teoria, ela assegura a igualdade entre todos cidadãos, asseverando a
necessidade de todos trabalharem e produzirem igualmente. Dessa forma, o
dominado assente a dominação por se entender como igual em relação ao
dominador.
Weber vai mais além, para ele a dominação é um tipo ideal, ou seja, um conceito ideal é geralmente uma simplificação e generalização da realidade. Advindo desse modelo, é possível inquirir diversos fatos reais como desvios do ideal, sendo então um recurso metodológico para a análise. Consoante a isso, ao indagarmos a decisão da juíza Marcia Loureiro ao decidir conceder o pedido de reintegração de posse, percebemos que ela se baseia num tipo ideal da realidade para dar seu veredito, ao desconsiderar valores sociais, e propender apenas às questões comerciais e privadas ao tentar fazer uso de uma neutralidade axiológica, ao dar seu julgamento de forma a não engendrar juízo de valor, o que é impossível, visto que todo ser humano, cresce embuído de valores que são passados a ele no decorrer da vida, e que mesmo que tente-se a dissociação deles, eles estarão presentes em cada decisão tomada pelo indivíduo.
Em suma, a juíza faz seu julgamento afirmando não ser as questões sociais funções do judiciário.
Entretanto ao fazer isso, os direitos inerentes as pessoas humanas são desconsiderados, os quais
deveriam ser o guia de qualquer tomada de decisão, lembrando que antes de qualquer bem
ou propriedade, os indivíduos são antes de tudo seres humanos. Dessarte, é preciso salvaguardar
primordialmente, assim como dizia Max Weber, os direitos humanos, que proporcionam a cada
indivíduo a expectação de usufruir uma existência própria, independentemente da área que
ocupa na ordenação racional.
Jennifer Ribeiro-Turma XXV(Noturno)