A corrente filosófica do positivismo foi desenvolvida tendo
como base o progresso científico e a conservação das instituições tradicionais
a fim de manter a ordem. Apesar de estimular o raciocínio lógico, essa
ideologia busca leis imutáveis, o que pode gerar resultados negativos,
considerando a dinâmica das sociedades humanas, as quais estão em constante
transformação cultural e evolução do pensamento. Isso pode ser exemplificado
pela visão da figura feminina.
Durante séculos, a mulher foi considerada inferior ao homem.
Em meios religiosos, isso ocorreu devido ao que o filósofo Augusto Comte denominaria estágio
teológico do conhecimento, de forma que tal pensamento se concretizara, pois os
livros sagrados – como a Bíblia e o Alcorão – afirmaram que a mulher deveria
ser submissa ao marido. Na Grécia Antiga, por ideias metafísicas, a pessoa do
sexo feminino não era considerada cidadã. Essa linha de raciocínio passou pelo
estágio positivista através do argumento de que, em geral e biologicamente, a
mulher seria fisicamente mais fraca do que o homem e, assim, não seria capaz de
exercer as mesmas funções.
Regada pelo conservadorismo e pela misoginia, essa
concepção, que há muito tempo estivera enraizada na sociedade, foi causa de
inúmeras mulheres enfrentarem diversos tipos de abuso e discriminação, além de
gerar uma estratificação de gênero devido à desigualdade salarial. Não
obstante, o desejo de equidade suscitou o movimento feminista, o qual ainda
cresce hodiernamente. Dessa forma, dezenas de direitos políticos foram conquistados através
da revolução e das manifestações, o que não seria possível em meio à ordem
defendida pela teoria positivista.
Assim, a partir do exemplo feminista, é indubitável que o
progresso social somente pode ser obtido com a possibilidade da quebra de
instituições e da desconstrução de pensamentos retrógrados. Sabe-se que o
crescimento tecnológico é essencial para a ordem econômica vigente no mundo
contemporâneo e, para isso, o positivismo pode ser efetivo. Entretanto, os
costumes e as culturas antropológicas nunca permaneceram iguais, tornando inviável a
tentativa de formular regras que sejam imutáveis e universais. É indispensável para
a prosperidade das relações humanas que os indivíduos estejam dispostos a
acompanhar as mudanças, considerando que elas são inevitáveis.
Valkíria Reis Nóbrega - Diurno