Total de visualizações de página (desde out/2009)

domingo, 2 de agosto de 2020

A Utopia Durkheimiana

No início do mês de julho, após quatro meses de fechamentos dos comércios, devido a pandemia que se arrasta desde o começo de 2020, a prefeitura do Rio de Janeiro, autorizou a abertura dos bares na zona sul da cidade. Fotos, vídeos e depoimentos de moradores preocupados estamparam as principais capas de revista e noticiários nas manhãs seguintes. As ruas do Leblon, lotadas de pessoas, aglomeradas, sem distanciamento social e sem o uso de máscara, em total desrespeito ao distanciamento social marcam o triste episódio.

O contexto de calamidade pública que o mundo vive, decorre das altas taxas de transmissão do novo vírus. Assim, enquanto os estudos referentes ao combate de tal doença não são promissores, o distanciamento social imposto em todos os países do mundo, se torna a única ferramenta para conter a proliferação e consequentemente a ocorrência de novas mortes. Entretanto, as fotos e vídeos que repercutiram na virada do mês, demonstra a falta de solidariedade com o outro em momentos como este.

A solidariedade segundo o dicionário Aurélio refere-se à qualidade do ser de demonstrar sentimentos de empatia com o outro. Porém, tal termo já se fez presente em outras circunstâncias. De acordo com o sociólogo francês Émile Durkheim, em seu livro Da Divisão Social do Trabalho, utiliza a ideia de solidariedade para auxiliar na conceituação da teoria funcionalista. Embora, tal termo esteja desvinculado de sensações, a solidariedade orgânica, como define o francês, refere-se ao agir dos indivíduos para o equilíbrio social.

A ideia por trás do equilíbrio social, proposto por Durkheim se relaciona com o progresso da sociedade. O sociólogo do final do século XIX observa em ascensão a pluralidade social, isto é, os indivíduos que compõem a sociedade no início do século XX diferem-se um dos outros. Os atores sociais são plurais. Os agentes são diferentes. Portanto, Durkheim concluí, que a solidariedade da pós modernidade se caracterizaria pela individualização crescente da sociedade - o que de fato ocorreu - assim como o altruísmo múltiplo dos seres para o bem social – a utopia durkheimiana.

Assim, as ideias do sociólogo, de uma sociedade especializada, onde os indivíduos cumprindo suas funções sociais conduziria a um suposto equilíbrio é errônea, na medida que determinadas ações sociais impedem a própria solidariedade. Durkheim, acreditava que o sacrifício em prol do bem comum culminaria na harmonia e equilibro social, porém o erro de tal ideia, consiste na exclusão de características negativas do ser. O egoísmo e a negligência podem ser observados no triste episódio anteriormente mencionado. As ruas e avenidas do Leblon, lotadas de pessoas, sem máscara enquanto milhares de famílias lamentam pelo falecimento de seus amigos e colegas sintetiza os aspectos de uma sociedade cada mais individualista e cada vez menos altruísta.


Rafael Bronzatto | 1º Direito - Matutino