Francis Bacon, em suas obras, mostrou ao mundo uma outra forma de se praticar ciência: o empirismo. Sua teoria consistia no estabelecimento de um método que, ao invés de percorrer caminhos duvidosos e pouco produtivos através do labor da mente, se sedimentava na interpretação da experiência sensível. Tal mudança de panorama fez com que a realidade pudesse ser encarada de uma maneira mais resoluta que, guiada pelo exercício empírico, considerava as adversidades da natureza humana.
Partindo de uma análise histórica, o filósofo inglês e seu pensamento atuaram na Idade Moderna promovendo uma tentativa de trazer maior esclarecimento em relação aos obstáculos dogmáticos e preconceitos da sociedade daquela época. Entretanto, mesmo com o passar do tempo, algumas dessas barreiras para o desenvolvimento do conhecimento ainda se fazem presentes, adquirindo novas configurações. Tanto quanto no Período Moderno, na contemporaneidade o exercício empírico ainda se mostra essencial para entender da melhor forma o funcionamento da realidade social com todas as suas complicações.
Uma dessas barreiras que continua enraizada na sociedade, em especial no Brasil graças a sua carga histórica, é o preconceito racial. O racismo, em termos gerais, consiste na crença irracional da superioridade de uma etnia sobre outra. Tal pensamento resulta em ações que ferem direitos naturais de inúmeros brasileiros que, por consequência, são marginalizados. Essa situação, sem pormenorizar, criou duas realidades completamente diferentes: a do privilegiado, que se vê livre dos transtornos causados por essa intolerância infundada e forma suas convicções sem uma base empírica forte no que diz respeito aos entraves racistas atuantes em seu meio, e a do negro, que encara diariamente os obstáculos da discriminação racial.
Assim, analisando as tirinhas de Alexandre Beck por um olhar baconiano, é dedutível que o uso da razão pura não proporciona um entendimento que contemple a realidade social e o racismo enraizado nela. Para a verdadeira compreensão sobre o acontecimento seria necessária uma certa vivência que o amigo de Camilo não possuía e não tinha conhecimento sobre. É preciso combinar a racionalidade humana com a interpretação da experiência sensível para se esclarecer sobre a situação. Dessa forma, entende-se que, independentemente de serem infundadas ou não, as irracionalidades do ser humano, como nesse caso o racismo, se fazem presentes e precisam ser consideradas na observação das interações sociais. Para isso, é necessário praticar uma reflexão empírica sem sobrepor sobre ela uma razão silogística monarca. Uma análise movida apenas por lógicas simplistas, como afirmava Bacon em seu livro "Novum Organum", mais valia para consolidar erros do que para a indagação da verdade, sendo mais prejudicial do que útil para a humanidade.
Victor A. Lopes (Direito Noturno)
Victor A. Lopes (Direito Noturno)