Durkheim explicava o fato social com coisa e o definia como todo aquele que independe do indivíduo e tem como substrato o agir do homem em sociedade, de acordo com as regras sociais. Desde que nascemos, nascemos em uma sociedade e, portanto, somos ensinados a seguir as ordens desta. Quanto mais crescemos, mais recebemos responsabilidades e mais úteis devemos ser para garantir o bom funcionamento da nossa sociedade. Toda essa "cobrança" leva, muitas vezes, o homem a desistir dos seus próprios sonhos, em função de se tornar esse 'ser útil'. É exatamente essa sensação que o poeta popular português, Antonio Aleixo, expõe no seguinte poema:
"A Torpe Sociedade onde Nasci
I
Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.
II
Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!
III
Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...
IV
E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!
V
Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte..."
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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sexta-feira, 4 de maio de 2012
O ser social
"And tidal waves couldn´t save the world from californication"
Red Hot Chili Peppers
Um dos pontos
principais do pensamento de Émile Durkheim apresentado em “As
regras do Método Sociológico” é sua definição de fatos
sociais como modos de agir e pensar que são exteriores e têm uma
força coativa sobre os indivíduos. Assim, cada simples ação
cotidiana não nasce da personalidade individual de cada um, mas de
tudo o que a pessoa assimilou da sociedade em que vive e de tudo o
que esta lhe impôs.
É u ma análise
extremamente perspicaz que o autor faz da participação da sociedade
nos atos individuais. Percebe-se que a associação a outros faz o
indivíduo tomar atitudes que por si só não tomaria, seja porque
ele tenta provar que é digno de fazer parte de determinado grupo,
seja porque em união ele se sente fortalecido, ou por quaisquer
outras possíveis razões. Demonstrações disso são o envolvimento
de indivíduos vistos geralmente como pacíficos em brigas entre
torcidas de times de futebol e o fato de que em festas, por exemplo,
uma pessoa se sentir envergonhada de fazer determinado tipo de dança,
mas não se importar de fazê-lo com os amigos.
Esses são apenas
exemplos em pequena escala de como a sociedade pode determinar as
ações individuais. Mas cada simples ato faz parte de uma convenção
social maior: a forma de se vestir, as músicas ouvidas, os aparatos
domésticos e tecnológicos utilizados, a forma de falar (incluindo o
idioma) e até as convicções políticas e filosóficas e as crenças
indicam o pertencimento a uma certa sociedade ou grupo social, fora
do qual a pessoa não será reconhecida e aceita, e por isso ela é
obrigada a se adaptar e aderir a esses fatores.
Alguns desses pontos
são mais generalizados e outros pertencem a grupos mais restritos,
mas todos têm o mesmo papel. E como cada pessoa pode participar de
vários tipos de grupos sociais, ela acaba sendo um mosaico de
influências: um jovem que gosta de punk rock tem seu vestuário
limitado por esse grupo; ao mesmo tempo, pode se sentir coagido a
beber para se adequar aos padrões dos colegas de faculdade e a
cortar o cabelo de determinada forma para ser aceito pela família
da namorada.
Dessa forma, não
resta muito espaço para a iniciativa pessoal, porque mesmo que se
possa escolher entre ser gótico ou sertanejo, católico ou
umbandista, há sempre a imposição de algum comportamento que, se
abandonado, leva ao desprezo público. Além disso, observa-se
atualmente que apesar de existirem diferentes estilos de vida,
encontra-se profundamente arraigada na sociedade ocidental a busca
pelo estilo capitalista-consumista-”americano-hollywoodianizado”,
que perpassa os mais diversos campos da vida social.
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