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segunda-feira, 24 de março de 2025

     A alienação midiática se opõe diretamente ao conceito de imaginação sociológica de Wright Mills. Enquanto a alienação se baseia no fato de levar à passividade e à perda da criticidade, o conceito de Mills diz que precisamos de experiências individuais nos contextos sociais para nos conectar com a sociedade.

    Relacionando a alienação midiática com René Descartes, novamente os conceitos se opõe. A famosa frase "penso, logo existo" entra em combate com a mídia, pois essa muitas vezes não promove o pensamento crítico (as vezes nem o simples pensar).

Nicole Barbosa Garcia

1º ano Direito Noturno



A Pandemia Sociológica

Wright Mills, sociólogo americano, a partir da imaginação sociológica afirma e reitera que a percepção de mundo de cada indivíduo deve estar além das associações colecionadas em um contexto particular, isto é, um indivíduo deve considerar questões e dilemas que fogem da sua área, assim, situações rotineiras devem ser atreladas a impressões externas ao meio em que estão. 

Portanto, para o sociólogo, a imaginação sociológica é o exercício desta observação das diversas observações que devem ser feitas a partir de contextos específicos, para que assim, o indivíduo que constitui o corpo social seja capaz de protagonizar uma análise que transcenda as percepções pessoais que não consideram histórias distintas.

Situações conflituosas e de aflições vividas pelos coletivos humanos explicitam o exercício mencionado por Wright Mills, como a pandemia do COVID-19. Embora a pandemia seja uma experiência que esteja intimamente relacionada à casos isolados em rotinas distintas, como por exemplo: a perda de entes queridos, a situação de desemprego, o acesso à rede de saúde e a estabilidade financeira. 

Porém, por mais individual que tenha sido a experiência pandêmica, o contexto exigiu que tudo  que se limitasse a cenários particulares fosse refletido de modo rigorosamente coletivo, ou seja, a sociedade foi forçada a lidar com discussões acerca de saúde mundial, disparidade de etnias e poder político e a forma que tais assuntos foram capazes de conduzir as experiências tidas por cada sujeito durante o período de preocupação global, assim como Mills propôs a partir da imaginação sociológica.

Felipe Junco da Silva - 1º Ano de Direito Noturno

A Imaginação Sociológica e o voto nulo

 A Imaginação Sociológica proposta por Charles Wright Mills se caracteriza pela capacidade de compreender e interpretar o meio e o contexto no qual um indivíduo se insere e vive, e impõe a capacidade de compreensão das mudanças pessoais olhando para as modificações estruturais que ultrapassam a percepção do desse indivíduo, se resumindo a habilidade de "entender" o que se passa no mundo ao seu redor interpretando os contextos.

Atualmente na sociedade brasileira a taxa de votos nulos e votos em branco nas eleições vem apresentando um grande crescimento. Diversos desses casos condizem com jovens eleitores que acabam optando voluntariamente por não participarem de fato das eleições, devido ao fato de não entenderem, estarem alienados ou não ligarem para política, encontrando como opção mais fácil o uso do voto nulo ao invés de  buscarem o conhecimento político e formarem opiniões próprias, apesar de terem o conhecimento da importância da política para a sociedade. Tal exemplo ocorre mais recorrentemente com jovens eleitores, mas diversos adultos também utilizam a mesma "técnica" para evitarem reflexões e a participação efetiva de eleições, demonstrando, dessa forma, uma escassez e a falta do uso da Imaginação Sociológica em grande parte da população no contexto das eleições e em contextos que dizem a respeito da política.

Portanto, é evidente que a Imaginação Sociológica proposta por Mills possui, também, um papel de combate a alienação e busca por novos conhecimentos a fim de compreender o meio em questão para o indivíduo. E que boa parcela da população opta pela negação do uso da Imaginação Sociológica pela maior facilidade, mesmo cientes de que seu uso seria benéfico tanto para si mesmos, quanto para sociedade ao todo.


Lucas Bessa Sanchez-Direito Noturno


Uma análise dos limites do individualismo sob à luz da Imaginação Sociológica

     Desde seus surgimentos, a Filosofia e a Sociologia já abrangeram variados temas e discussões, como o entendimento da relação do homem para com o meio em que vive, a própria análise qualitativa da definição de "homem", área conhecida como Ontologia; a Ética, a Epistemologia, entre outros campos diversos. Entretanto, houve sempre um assunto recorrente em ambas as áreas e situado entre sua intersecção, o estudo da liberdade individual, suas implicações para com cada indivíduo, e principalmente, suas implicações para com a sociedade, na qual a oposição entre coletividade e individualidade se torna intrínseca e inexorável, e portanto, passível de análises sociológicas, antropológicas e filosóficas.

    Para uma análise sociológica efetiva sobre esta relação, não haveria outro caminho senão a basear em autores célebres que já versaram sobre este mesmo tema, sendo eles Charles Wright Mills e Marilena Chauí. Apesar de serem de contextos históricos e sociais disntintos, ambos versaram sobre assuntos comuns e relacionados, como a forma que os indivíduos se comportam em sociedade, frente ao cerceamento de suas liberdades individuais. Sendo assim, percorrerei suas teorias relacionadas, Imaginação Sociológica de Mills, e os tipos de juízo de Marilena, a fim de ao menos instigar reflexões importantes nos leitores. 

    Mills conceitua a Imaginação Sociológica a partir de preceitos importantes, dos quais o entendimento é imprescindível para o entendimento desta, sendo eles a perda da consciência externa e abrangente dos indivíduos, em razão da limitação que suas vidas privadas impõe a eles; as rápidas transformações sociais que originam uma sensação de "crise de valores" nos indivíduos que percebem que seus valores foram substituídos ou alterados, culminando numa apatia destes mesmos indivíduos frente a situações coletivas; e a análise de todo o contexto histórico e social de uma sociedade, bem como de seus indivíduos, a fim de romper com abordagens deterministas e com abordagens sumamente individualistas.

    Desta maneira, a Imaginação Sociológica apresenta-se como a única ferramente capaz de romper com a alienação causada pelo acúmulo de experiências privadas em detrimento da coletividade, fazendo com que os indivíduos em posse dela entendam que as perturbações vividas em sua esfera privada (esfera micro) modificam e são modificadas por questões públicas de ordem coletiva (esfera macro), ou seja, que por mais individuais que sejam, acontecimentos privados remetem sempre à noção de coletividade. 

    Situações contemporâneas como o crescimento abrupto de condomínios em detrimento de espaços públicos e a descriminalização geral do porte de armas no Brasil, exemplificam a oposição entre individualidade e coletividade, uma vez que em ambos os exemplos, a limitação da consciência imposta pela vida privada de cada indivíduo acaba implicando negativamente na vida pública e coletiva. Desta forma, enquanto o argumento para a construção de condomínios autossuficientes e isolados do restante das cidades, assim como os argumentos para a liberação do porte de armas de forma mais acessível á população forem o favorecimento do indivíduo sob uma perspectiva exclusivamente individualista, toda a coletividade sofrerá as consequências negativas, sendo essas, respectivamente, a decadência dos espaços públicos de convivência, bem como das interações sociais subjacentes; e o aumento da violência, furtos, assassinatos e acidentes.

    Marilena Chauí também ilustra esta linha de raciocínio exposta acima ao expor e opor dois tipos juízos, isto é, entendimentos acerca de algo, sendo o Juízo de Fato e o Juízo de Valor; este se refere aos entendimentos construídos dentro das perspectivas exclusivamente individuais de cada indivíduo, sendo, portanto, subjetivo, já esse se refere aos entendimentos que independem da subjetividade, ou seja, baseiam-se em fatos. Em situações em que o Juízo de Valor, instrospectivo e individual, é posto em prioridade em relação a um Juízo de Fato, científico e incontestável, situações como as expostas acima podem ocorrer, uma vez que, no exemplo da expansão da segregação social motivada pelo crescimentos dos condomínios, o entendimento de que, frente à possibilidade de melhoria e desenvolvimento de espaços coletivos de socialização, a melhor escolha a ser feito é a construção de mais espaços privados, representa a escolha do Juízo de Valor, em detrimento do Juízo de Fato, o qual representaria, nessa situação, o entendimento das consequências de tal segregação social para um bom funciomento do corpo social.

    Conclui-se, principalmente de forma reflexiva, que o limite do individualismo é a coletividade, caso esse afete negativamente esta. Espero veementemente que o leitor tenha apreendido a relevância das abordagens de Mills e da Marilena acerca da questão levantada, mas sobretudo, a relevância de Mills, que, com a Imaginação Sociológica, nos dá os meios necessários para uma manutenção ativa da sociedade. Deixo, em conformidade com a proposta inicial do texto, algumas reflexões relevantes para os ávidos e curiosos leitores acerca de um tema muito presente hodiernamente, o Aborto: Em que ponto a criminalização do aborto abrange questões coletivas e não exclusivamente individuais? Qual a relevância de crenças individuais para decisões políticas amplas? Qual bem público o Estado privilegia ao inviabilizar o aborto? A quem interessa a inviabilização do aborto?


Teodoro Susi Alves

Direito Noturno - 1 semestre

 

 O filme Alice no País das Maravilhas retrata a história de uma menina que cai na toca do coelho e descobre um mundo totalmente novo e estranho. Paralelamente a isso, o mundo em que vivemos nos faz sair das bolhas e enxergar várias realidades diferentes das quais não estamos acostumados. Assim, a imaginação sociológica nos permite enxergar além do nosso cotidiano e perceber as estruturas invisíveis que moldam a sociedade.


No País das Maravilhas, as regras são ilógicas, as mudanças são constantes, e Alice precisa questionar tudo ao seu redor para entender como agir. Da mesma forma, Mills argumenta que a sociedade moderna está passando por mudanças tão rápidas que muitos se sentem perdidos e desorientados. Alice tenta compreender aquele mundo e, ao mesmo tempo, relacionar sua própria biografia com um contexto maior.

Assim, a associação com a imaginação sociológica nos ajuda a conectar diversas experiências individuais com grandes impactos sociais e históricos.

Aluna: Isabelle Moulin - 1⁰ Ano de Direito 
Turma: Matutino 

Telefone sem fio

Na internet a notícia que se espalha
É de um homem que morreu
De tanto beber água na palha
E se utilizam de IA para provar que aconteceu

O repórter diz no jornal
Que na verdade a causa da morte
Foi um presidente mal
E usando a tragédia, para a politicagem deu suporte

Na cidade a fofoca é diferente
Dizem os vizinhos sabidos 
Que o homem falecido sem motivo aparente
Viajou e passou seus anos muito bem vividos

O capitalismo não está interessado 
Na causa desse rebuliço temporário
Ele está bem mais preocupado
Quem vai ocupar o cargo do operário?

 A verdade é que o homem tem nome
José Inácio, morador da periferia
Morreu sem identificação e renome
Cada um dizendo o que preferia

A verdade é que morreu de trabalhar e continuar pobre
Foi mais um número para o avanço da ciência
Apenas uma estatística que cobre
Todo o progresso da falta de consciência

Ana Clara Lima Abdala Prata - 1º ano de Direito noturno

A realidade dos refugiados: Quando o mundo bate à nossa porta

 É fácil olhar para as imagens de famílias atravessando fronteiras, carregando o pouco que sobrou de suas vidas em mochilas surradas, e pensar: "Isso não tem nada a ver comigo." Afinal, temos nossos próprios problemas—contas para pagar, filhos para criar, empregos que nos consomem. Mas e se eu te dissesse que a história dessas pessoas não é só deles? Que a mesma teia de decisões políticas, conflitos e desigualdades que os obrigou a fugir também nos afeta, mesmo que de formas menos visíveis?


1. O que acontece quando fechamos os olhos?
Vivemos tão mergulhados em nossas rotinas que esquecemos: não existimos em bolhas. Quando alguém vira as costas para um refugiado, não está apenas ignorando um estranho—está ignorando como guerras financiadas por interesses globais, terras arrasadas pela ganância de grandes potências e climas alterados por um desenvolvimento sem limites criam ondas que, cedo ou tarde, chegam até nós. Nenhum muro é alto o suficiente para separar totalmente "nós" de "eles".

2. "Incomodou meu bairro" vs. "O mundo inteiro está doente"
Pensamento estreito: "Um refugiado chegou aqui e trouxe problemas."
→ Como se ele tivesse escolhido deixar sua casa, sua língua, seus mortos para trás só para "atrapalhar" alguém.

Pensamento aberto: "O que fizemos—ou deixamos de fazer—para que famílias inteiras precisem fugir assim?"
→ Por trás de cada barco lotado, há décadas de exploração, acordos políticos fracassados e um sistema que trata vidas como números.

3. Enxergar além do próprio umbigo
Para entender de verdade o desespero de quem foge, precisamos:

Olhar para trás: Quem vendeu as armas? Quem explorou essa terra até secá-la? Quem decidiu que algumas vidas valem menos?

Olhar ao redor: Aquele homem sírio no metrô não é um "invasor"—é um professor, um pai, alguém que perdeu tudo porque o mundo permitiu que sua cidade virasse pó.

Olhar para frente: Se não agirmos juntos, seremos a próxima geração a assistir, impotente, enquanto mais gente é empurrada para o abismo.

Conclusão: Ninguém é só espectador
Dizer "não é minha culpa" não resolve nada. Enquanto tratarmos o sofrimento alheio como um incômodo distante—e não como um sinal de que todo o sistema está falhando—estaremos cavando um buraco que, um dia, pode nos engolir também. A questão não é "por que eles estão aqui?", mas "o que nós, como sociedade, vamos fazer sobre isso?". Porque no fim das contas, ou aprendemos a ver o mundo como uma teia em que todos estamos ligados, ou seremos lembrados como a geração que preferiu fechar os olhos

Maria

 Seus olhos se abrem metodicamente e Maria não faz questão de olhar o visor do relógio que a desperta para saber que são 05:45. Cansada, a mulher se levanta em silêncio para não acordar o marido, trabalhador e honesto. Toma um banho rápido para se livrar da exaustão e vai para a cozinha preparar o café da manhã para seus três filhos, frutos de seu casamento precoce.

Café feito, ela acorda as crianças e as arruma para a escola, enquanto o marido ainda cheira álcool da noite anterior. Provavelmente fede assim desde a tarde retrasada, ou desde o começo do casamento... ela não saberia dizer. Enquanto ele se veste, ignorando propositalmente o olhar de sua esposa -como faz sempre que não precisa aliviar-se da tensão do dia- ela pede que retorne ao lar mais cedo naquele dia. Ele nega. No fundo, ambos sabem que sua súplica se resume em seu desejo de não traída mais uma vez.

O marido sai para o trabalho e aproveita a viagem para levar seus pirralhos à escola. Sozinha em seu chamado lar, habitualmente passa um pano no chão da casa enquanto seus pensamentos vagam para as conversas que tinha com sua mãe quando ainda viva sobre sua função de servir ao esposo. Pelos filhos que nem sempre almejou, pela casa que ele financiou, pela comida que seu cônjuge traz a mesa, pela família! Ela propositalmente evita olhar-se no espelho quando passa por este durante a limpeza, porque o vidro reflete uma mulher cansada, machucada e abusada e não Maria, que outrora fora tão inteligente e vívida.

A mulher não deixa de lembrar de uma antiga amiga sua que cometeu a burrada, em seu ponto de vista, de desistir de sua família por não aguentar alguns tapas. Nunca mais ouviu falar dela, deve estar morando nas ruas sem casa, ou passando de mão em mão como uma prostituta- assim como toda mulher divorciada.

Seus filhos retornam à casa, tomam banho, jantam e vão para a cama. Ela desiste de esperar o marido chegar, então prepara uma marmita para ele quando retornasse e vai dormir. No dia seguinte, Maria não faz questão de olhar o visor do relógio que a desperta para saber que são 05:45.

A "imaginação sociológica" refere-se à conscientização sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla, permitindo a conexão entre realidades e interesses em disputa. Essa compreensão, que vai além do conhecimento formal de sociologia, ajuda as pessoas a perceberem as ligações entre suas vidas pessoais e o contexto social mais amplo. Mills, ainda, enfatiza que um aspecto fundamental dessa imaginação é a capacidade de observar a sociedade de forma distanciada, em vez de se limitar às experiências pessoais e pré-concepções culturais. Dessa forma, o caso de Maria não deve ser entendido como um caso isolado quando se trata de um tema público de maior amplitude. O olhar sob Maria deve, portanto, entendê-la como não apenas um indivíduo, mas analisar sua história, a biografia e a estrutura social inserida.

Anna Lívia Izidoro Ferreira; 1° Direito Matutino

O Custo Humano da Precarização

 

O Custo Humano da Precarização

Nas últimas décadas, a crise de saúde mental tem se intensificado de maneira alarmante, especialmente entre trabalhadores submetidos a condições cada vez mais extenuantes. Longe de se tratar de um problema meramente individual, essa problemática encontra raízes profundas nas transformações estruturais promovidas pelo neoliberalismo e seus mecanismos. Sob a ótica da imaginação sociológica de C. Wright Mills, torna-se evidente que os altos índices de ansiedade, depressão e esgotamento não podem ser dissociados das dinâmicas econômicas e sociais que regem o mundo contemporâneo.

Em primeiro lugar, é imprescindível destacar que o neoliberalismo, ao preconizar a desregulamentação do mercado, a flexibilização das relações laborais e a redução do papel do Estado, engendrou um cenário no qual a estabilidade empregatícia foi substituída por um modelo extremamente precarizado. Como consequência desse processo, observa-se a ascensão da uberização, fenômeno que, ao transformar trabalhadores em prestadores de serviço sem vínculo formal, os priva de direitos fundamentais, como previdência, descanso remunerado e jornada regulamentada. Dessa forma, o indivíduo se vê compelido a submeter-se a jornadas exaustivas e instabilidade financeira constantes, o que, por sua vez, compromete significativamente sua saúde mental.

Ademais, é inegável que essa lógica é reforçada pela ideologia do hustle culture, que glorifica a hiperprodutividade e atribui ao indivíduo total responsabilidade pelo próprio sucesso ou fracasso. Esse discurso, ao mesmo tempo em que invisibiliza as desigualdades estruturais, transfere a culpa das dificuldades enfrentadas pelo trabalhador exclusivamente para sua conduta pessoal. Dessa maneira, em vez de reconhecer o impacto sistêmico da precarização, impõe-se a crença de que a solução reside no esforço individual, ignorando deliberadamente os determinantes sociais que perpetuam essa realidade.

Diante desse contexto, torna-se imperativo que a sociedade como um todo repense os impactos desse modelo e reivindique medidas que mitiguem seus efeitos nocivos. Assim, resgatando a perspectiva de Mills, é fundamental que os indivíduos desenvolvam a imaginação sociológica, enxergando que seus sofrimentos não são meras falhas pessoais, mas sim sintomas de um sistema econômico que precisa ser questionado e reformulado. Somente ao compreender essa interconexão entre biografia e estrutura social será possível romper com a lógica da alienação e construir uma sociedade mais justa, onde o bem-estar não seja continuamente sacrificado em nome da produtividade irrestrita.

Felipe Bechelli Caldas 

Direito matutino 1 ano

RA:251221482

Chamado à Imaginação Sociológica

 Prezado cidadão,


  Venho por meio deste, informar sobre seus direitos de imaginação sociológica e demonstrar a importância de interpretar a realidade. Wright Mills, nos adverti quanto a dimensão entre compreender a sociedade por quem nós somos, distinta do que realmente ela é. Anaïs Nin também traz essa relação na frase "não vemos as coisas como são, vemos as coisas como somos".
  No exercício de interpretação, utiliza-se a liberdade, mas para que em verdade haja apreensão do real é necessário observar as situações por meio da razão. Tendo em vista, as limitações do ser humano ao âmbito que "pertence", no qual ele é influenciado pela família, amigos, crenças e profissão, buscar a racionalidade, é estar liberto dos sentimentos.
  Além disso, a ciência auxilia nessa reflexão com os métodos, para que haja experiências e comprovações, por exemplo, as pesquisas qualitativas, possibilitam coletar informações específicas que descrevem saberes amplos.
  Portanto, te convido hoje para exercitar sua liberdade de pensar sobre a sociedade e a realidade que você está inserido, para se tornar mais do que um reprodutor, telespectador do conhecimento sobre este mundo, é seu direito saber e conhecer a realidade para transforma-la.

Atenciosamente,
Raíssa Marques Camargo
1°ano de direito noturno

A Ascensão da Extrema-Direita: uma análise por meio da imaginação sociológica

 

    A ascensão da extrema-direita nas últimas décadas pode ser analisada à luz das ideias de C. Wright Mills em seu livro "A Imaginação Sociológica", que propõe uma análise das questões sociais ao conectar os problemas individuais com as estruturas sociais mais amplas. Nos últimos anos, movimentos com tal ideologia têm ganhado força, principalmente em contextos de crise econômica, polarização política e crescente insegurança social. Líderes e partidos dessa vertente política frequentemente exploram as ansiedades coletivas e medos relacionados à imigração, globalização e perda de identidade cultural, oferecendo respostas simplistas e populistas para questões complexas.

    Mills, ao enfatizar a importância de compreender as estruturas de poder e a história para entender os problemas sociais, nos ajuda a entender que a ascensão da extrema-direita não é um fenômeno isolado, mas parte de uma série de transformações sociais e econômicas mais amplas. A desigualdade crescente, o desemprego, a exclusão social e a crise de representatividade política contribuem para a sensação de alienação de vastos setores da população, criando um terreno fértil para o populismo de direita. Esses movimentos se alimentam da insatisfação popular e da sensação de que as elites políticas falharam em responder às necessidades das massas.

    O autor também critica a falta de perspectiva histórica e a tendência de ver os problemas sociais apenas como questões pessoais. A extrema-direita muitas vezes apresenta soluções fáceis para questões complexas, culpando minorias ou a globalização pelos problemas, sem considerar as dinâmicas estruturais que realmente geram essas dificuldades.

    Por fim, a reflexão do sociólogo sobre a relação entre o indivíduo e as forças sociais ajuda a perceber como a ascensão da extrema-direita está ligada não apenas a crises momentâneas, mas a transformações estruturais que requerem soluções profundas e fundamentadas na análise crítica. Em vez de se deixar levar pelas soluções rápidas e autoritárias que a extrema-direita oferece, é necessário fomentar um debate mais amplo e racional, que leve em consideração as causas históricas e sociais da desigualdade e da polarização. Só assim poderemos encontrar respostas adequadas para as questões que realmente afligem a sociedade.

Geisa Vitória Monteiro Pereira, 1º Ano - Direito (Noturno)

A imaginação sociológica e a sociedade despolitizada

          O sociólogo Wright Mills explica o conceito de imaginação sociológica como a capacidade humana de analisar, por meio do desenvolvimento da razão, os acontecimentos do mundo de forma complexa e ampla. O ser humano inicia essa habilidade a partir do momento em que deixa de se limitar a um contexto individual cerceado por sua realidade e passa a considerar a sociedade como uma grande máquina com peças que constantemente se relacionam. Entretanto, a sociedade atual vem sendo cada vez mais marcada pela falta da imaginação sociológica, uma vez que uma parcela da população prefere se fechar ao pensamento crítico a compreender de maneira profunda as problemáticas da atualidade.

             A escassez da imaginação sociológica teorizada por Mills se reflete na atualidade em movimentos como os da Escola Sem Partido, uma iniciativa que se apresenta como contrária à "apresentação de ideologias" em instituições educacionais- escolas e universidades - e ,utilizando termos como "ideologia de gênero" e "doutrinação ideológica", busca barrar o debate crítico amplo acerca de temas sobre sociologia,política e história. Desse modo, a disseminação de pensamentos semelhantes não só reduz a capacidade humana de analisar situações fora da sua própria "bolha social" como também problematiza essa análise com o falso discurso de que a discussão crítica é uma pauta exclusiva da esquerda. Consequentemente, ao se suprimir o desenvolvimento da imaginação sociológica desde a base da educação, a sociedade se torna mais distante da política como um todo e ,como afirmou Mills ,"adquire frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais."

                Portanto, é facilmente perceptível o processo gradual de "despolitização" da sociedade atual que acontece concomitantemente ao desencorajamento do "saber" relacionado ao sentido social e histórico do indivíduo dentro da realidade mundial. Desse modo ,movimentos que buscam implicitamente a alienação do ser humano ganham cada vez mais espaço e reconhecimento no tecido social e, assim, buscam problematizar o essencial exercício da imaginação sociológica.

              

                 



              

              

Imaginação sociológica e psicológica

  A imaginação sociológica, conceito criado por C. Wright Mills, nos incentiva a entender como os fatores  estruturais da sociedade, como a cultura e as instituições, moldam a experiência pessoal. Entretanto, a imaginação psicológica busca entender os fatores internos do indivíduo, explorando a mente humana e lidando com emoções, desejos, traumas e diferentes estímulos. A relação entre essa duas imaginações é fundamental para o entendimento mais completo da condição humana, pois ambas se complementam. Porém, há uma certa banalização de atitudes que ferem grupos sociais e até mesmo a democracia, através de uma dificuldade em diferenciar o psicológico do sociológico.

 Em 2022, houve uma onda de manifestações que ameaçavam a democracia devido ao cenário político da época, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro não conseguiu reeleger, portanto diversos apoiadores se mantiveram em frente à diversas instituições militares implorando por um golpe de estado. Essas ações foram extremamente ridicularizadas pela sociedade e, sob o viés psicológico, tratadas como um distúrbio mental daquelas pessoas presentes nessas manifestações, gerando até memes daquele cenário. Porém, há uma explicação sociológica daquele momento, entretanto isso foi ignorado por grande parte da população que apenas criava conteúdos humorísticos e não buscava refletir e pensar criticamente sobre aquele momento vivido.

  Ambas imaginações oferecem perspectivas complementares, mesmo que distintas, sobre a condição humana, entretanto, essa relação tão próxima entre as duas não pode acarretar em uma banalização de ações de caráter social, que pode gerar grandes consequências em grupos sociais que estão fragilizados na sociedade. Portanto, é necessário que haja uma análise crítica da sociedade e o indivíduo sob essas duas imaginações, mas sem favorecer uma sob a outra.

Matheus Nicolau Cremm de Sousa - Direito (noturno) - 1° Ano

 A falsa liberdade financeira

Carlos sempre foi um cara batalhador. Começou a trabalhar cedo, com 18 anos, como auxiliar administrativo numa pequena empresa de logística. O salário não era grande coisa, mas ajudava nas contas, e ele tinha carteira assinada, contando com benefícios como décimo terceiro, férias e até um convênio médico que sua mãe vivia elogiando:

— Meu filho, segura esse emprego! Tá cheio de gente por aí sem nada.

Mas Carlos queria mais. Passava horas no Instagram e no Tiktok vendo vídeos de caras da sua idade, ostentando carros de luxo, viagens e uma vida que parecia um sonho. "Largar o CLT foi a melhor decisão da minha vida!", diziam. "Seja seu próprio chefe e nunca mais trabalhe para os outros!"

Aos poucos, aquilo foi entrando na cabeça dele. O escritório começou a parecer um cativeiro. O chefe virou um carrasco. A rotina? Uma prisão sem grades.

Até que, num impulso, pediu demissão. Pegou o dinheiro do acerto e abriu uma loja virtual de camisetas e roupas streetwear. No começo, tudo parecia incrível: sem chefe pegando no pé, trabalhando do jeito que queria, sem horário fixo. Mas as vendas não vieram no ritmo esperado. O custo com marketing era alto, os boletos do fornecedor não paravam de chegar e, sem salário fixo, os dias foram ficando cada vez mais apertados.

Em menos de um ano, estava atolado em dívidas, sem férias, sem décimo terceiro e trabalhando até mais do que antes.

Engolindo o orgulho, voltou a mandar currículo. Conseguiu um novo emprego, mas sem tantos benefícios quanto o antigo. Dessa vez, viu as coisas de outro jeito. Nem o CLT era o inimigo, nem empreender era a salvação. Cada escolha tem seu preço, e as decisões da vida não podem ser baseadas em discursos prontos da internet.

No fim das contas, liberdade de verdade não é sobre ser chefe ou empregado. É sobre enxergar a realidade sem filtro.


Yago Storti, primeiro semestre de direito matutino.

A Perspectiva sociológica de C. Wright Mills e a política dos EUA

C. Wright Mills propôs que muitos problemas individuais são, na verdade, reflexos de questões estruturais. Aplicando essa visão ao cenário político dos EUA, fica claro que a polarização, a desigualdade e a crise institucional não surgiram isoladamente, mas são fruto de processos históricos e sociais.


A divisão ideológica não se deve apenas a diferenças de opinião, mas também ao impacto das redes sociais e da mídia segmentada, que reforçam bolhas de pensamento. A desigualdade econômica, agravada pelo alto custo da saúde e da educação, gera frustração e impulsiona discursos radicais. Além disso, a desconfiança nas instituições e as tentativas de deslegitimação do sistema democrático mostram como o poder é disputado e manipulado.


Compreender esses fenômenos exige olhar além das narrativas simplistas. A perspectiva de Mills permite enxergar que os desafios políticos dos EUA não são apenas escolhas individuais, mas reflexos de uma estrutura que precisa ser analisada criticamente para buscar soluções eficazes.


Nome: Luis Fernando Cardoso Rocha

Turma: 1° Direito (Noturno)

 A inconsciência proposital 


Diante de tantas questões importantes a se pensar,


O homem na sua trajetória conseguiu até seu pensamento alienar.


Voltado somente a sua própria esfera,


Ficou incapacitado de exercer a relação com a sociedade, consigo mesmo e com a história da Terra.



Buscando somente o mundo físico e material,


Com seu trabalho, família, amigos, sua casa e seu quintal,


Deixou abster-se das informações, do desenvolvimento social, dos problemas além da sua própria “ciência”.


Ocasionando uma vida sem controle, sem entender por quê, sem crescer, sem se incomodar, sendo uma indiferença.



Diante de tantas tribulações e problemas 


A imaginação social que C. Wright Mills defende nos propõe agir com responsabilidade e consciência.


Atingir a compreensão, fatigar o questionamento, evitar a alienação e a passividade,


Deixar de ser espectador e ser capaz de criticar com autoridade.



Felipe Kinzo Massuda Nascimento - 1° ano, Direito (Matutino)

O uso da imaginação sociológica no combate a transfobia

 Durante uma audiência do subcomitê de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos, ocorreu um episódio de transfobia no qual o deputado republicano Keith Self, ao apresentar a deputada transgênero Sarah Mcbride, referiu-se a ela no masculino -“Senhor Mcbride”- desrespeitando sua identidade de gênero. O caso pode ser analisado sob a perspectiva da “imaginação sociológica” de C. Wright Mills, que discute a distinção entre perturbações pessoais e questões públicas. 

No episódio em questão, a agressão verbal sofrida por Sarah Mcbride, em uma primeira análise, pode parecer uma perturbação pessoal, ou seja, um problema que ocorre em nível individual, sendo entendido então como um desrespeito por parte de Keith Self para com a deputada. No entanto, essa é uma visão completamente limitada da situação, pois leva em conta apenas o episódio isoladamente. 

Ao analisar a situação de forma mais ampla, vemos que o caso não é um evento isolado. Podemos citar o exemplo da atriz transgênero Hunter Schafer, que veio às redes sociais dizer que teve seu gênero alterado no passaporte devido às medidas preconceituosas adotadas pelo presidente Donald Trump. Temos também os frequentes episódios de transfobia no legislativo brasileiro, como o da deputada Érika Hilton, e muitos outros exemplos que comprovam a marginalização sistemática de pessoas trans. Dessa forma, é possível caracterizar esses casos como uma questão pública, pois ocorrem devido a um sistema estrutural de opressão. 

 Com isso, a distinção entre perturbações pessoais e questões públicas discutida por Mills na “imaginação sociológica” nos ajuda a entender que a transfobia não é um problema de nível individual, mas um fenômeno social. Assim, a imaginação sociológica nos permite enxergar além do evento isolado, compreendendo que as mudanças devem ocorrer de forma estrutural e coletiva. Sendo esse o primeiro passo para acabar com o preconceito contra pessoas transgêneras.

Letícia Z. Morandi - 1° semestre Direito diurno.

Entre a compreensão da formação social e a perpetuação do abandono estatal

 

 A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 5°, a liberdade e a igualdade como direitos comuns e inalienáveis ao povo. Tal prerrogativa enaltece reflexões quando analisada a partir de estudos do sociólogo americano Charles Wright Mills. Para o pensador, a capacidade de relacionar experiências individuais com estruturas sociais diversas garante a compreensão do desenvolvimento social. Nesse sentido, observar o coletivo populacional e o atendimento efetivo de suas necessidades torna-se uma atividade para além da equidade, sendo necessário, assim, uma revisão, como proposta pelo pensador, entre "problemas pessoais" e "questões públicas".

 Em diálogo com as demandas e as dificuldades trabalhistas, a aplicação da imaginação sociológica revela como muitos desafios enfrentados pelos trabalhadores não são problemas isolados, mas parte de um quadro estrutural mais amplo. Em paráfrase, a obra literária “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, relata as dificuldades experimentadas pela autora enquanto subsistia em uma precária favela de São Paulo, em especial ao redigir sobre a “fila dos ossos” enfrentada por ela e por muitos reféns da insegurança alimentar e monetária. Essa premissa que, por vezes, possa parecer um problema pessoal de quem a enfrenta, torna-se uma questão pública ao concluir que milhões de trabalhadores encontram-se na mesma situação, refletindo o abandono estatal vivenciado diariamente por cidadãos invisíveis.

 Em sua obra, Mills argumenta que "nem a vida do indivíduo nem a história de uma sociedade podem ser compreendidas sem conhecer ambas". Assim, é possível perceber que a realidade de um trabalhador, como a falta de emprego e a desigualdade no acesso a meios para ascensão social, está inserida em um cenário de transformações econômicas e políticas que afetam uma coletividade. Concomitantemente, as esperanças populares pelo respeito à Constituição extinguem-se à medida que governantes ignoram a realidade observada pelo sociólogo.

 Portanto, a análise das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, sob a ótica da imaginação sociológica de Charles Wright Mills, compreende que muitos problemas, frequentemente vistos como pessoais, são, na verdade, manifestações de questões sociais mais amplas. Outrossim, o pensamento crítico baseado nessa perspectiva pode contribuir para uma sociedade mais justa e informada, capacitando os indivíduos a questionarem e desafiarem as estruturas de poder existentes, visando à extinção da marginalização a partir da igualdade de direitos como objetivado na Constituição Federal de 1988.

 

 

Luiz Felipe Hernandes Paschoim – 1° ano, Direito(Matutino)

A atual negociação de direitos em prol da individualidade.

Os indivíduos contemporâneos se mostram extremamente preocupados com questões publicas relacionadas a segurança e proteção pessoal. O que refletiu nas eleições de 2018, em que o ex-militar Jair Bolsonaro conseguiu uma grande quantidade de seguidores, responsáveis pela sua vitória nas eleições, por emitir diversas declarações de defesa ao armamento da população como garantia da integridade dos cidadãos de 'bem'. Entretanto, como exposto por Wright Mills em "A imaginação sociológica", p.11, "em defesa do eu se tornem moralmente insensíveis", ou seja, essa obsessão esta resultando na individualidade, ausência de empatia e anseio pela negligencia de direitos até então indiscutíveis.

Essa realidade pode ser visualizada no caso do Gabriel  Renan da Silva Soares, em que foi assassinado por um policial militar. Nas imagens das câmeras de segurança Gabriel estava correndo de um supermercado com produtos na mão, quando escorrega, o agente da policia que estava de costas durante a queda, dispara oito tiros contra ele. Assim, qualquer tipo de abordagem humana e de direito a todos os brasileiros, independente da situação, é negligenciada. A pena que tradicionalmente e legalmente é decidida por pessoas capacitadas, estudadas e pautadas em leis, atualmente está à mercê da individualidade e subjetividade de indivíduos prontos para julgar e direcionar suas sentenças agressivas e na maioria das vezes, como no caso do Gabriel, irreversíveis a parcelas bem definidas da população: a preta e pobre. 

A repercussão do caso foi ainda mais reveladora do que a própria atitude do policial. Uma grande parcela dos interlocutores o parabenizou, expressando o desejo de que essa postura se tornasse comum entre os agentes, afim de que a segurança e proteção da população fosse restaurada e efetivamente feita. Essa reação desconsidera completamente as violações de direitos que tal atitude implica. Para esses indivíduos, qualquer coisa que possa ameaçar suas individualidades e seus bens, merece ser reprimida, independente dos métodos. Para eles, não interessa quantos pretos e pobres inocentes precisarão morrer apenas por -nos parâmetros subjetivos: preconceituosos e racistas- parecerem suspeitos, mesmo sem qualquer abordagem. 

Portanto, os direitos que antes eram indiscutíveis, como o de ser considerado inocente até que provem o contrário, e o de uma defesa, estão sendo desprezados nas atitudes de muitos agentes policiais que agem conforme seus próprios ideais, e apoiados por grande parte da população- alucinada com a ideia de que mesmo burlando a constituição, essas ações são tomadas visando a proteção. É visível, então, que os direitos são respeitados apenas quando são convenientes para os interesses desses 'cidadãos de bem'- que, por sinal, nunca possuem um caráter social. Embora o Brasil não permita constitucionalmente a pena de morte, na atualidade ela se faz vigente. A pena: a mercê de incompetentes para defini-la e a morte, contrariando a legislação que prega igualdade entre os indivíduos, bem direcionada: aos pretos e pobres. 


Laís Alves de Queiroz- 1º direito; Noturno.

A condenação do trabalho CLT

   A imaginação sociológica, preconizada pelo sociólogo Wright Mills, diz respeito à percepção de como a realidade de cada indivíduo está intrinsecamente ligada a contextos sociais mais amplos. Logo, um sujeito que possui tal imaginação detém a capacidade de ir além de sua visão da realidade, limitada pelo cenário em que está inserido, graças aos valores que absorveu durante toda a sua vida, conseguindo, assim, analisar o que o cerca de maneira mais crítica. Contudo, tal percepção é raramente alcançada pelos membros da sociedade, que muitas vezes se encontram alienados pela indústria cultural, principalmente por influência das redes sociais.

Nesse contexto, tal alienação é perceptível quando analisamos casos como o discurso cada vez mais presente de influenciadores que condenam o trabalho CLT e enaltecem o indivíduo ser seu próprio chefe. Tais falas contaminaram uma grande parcela dos trabalhadores, que preferem abrir mão dos direitos conquistados e garantidos pela CLT para seguir o sonho do empreendedorismo que lhes foi vendido. Logo, graças à análise rasa das frases sedutoras amplamente difundidas nas redes sociais, as massas, ao não tentarem ir além do que está diante de seus olhos, lutam contra a melhora de suas próprias vidas, indo na contramão de suas conquistas, aumentando a precarização e a falta de direitos trabalhistas que lhes são garantidos.

Portanto, por meio da análise a partir da ótica da imaginação sociológica, fica perceptível que a "demonização" do trabalho CLT não se resume somente a um indivíduo que está cego para a realidade, mas sim a um fenômeno de caráter social, representado por uma sociedade enviesada por sua realidade, interpretando-a de maneira superficial e tendenciosa.

Gustavo Zoca Goulart de Andrade, primeiro semestre de direito, noturno.


Entre Muros: A Violência da "Condominização" e a Lógica da Exclusão

    A princípio é necessário analisarmos o fenômeno da "condominização" nos espaços físicos e simbólicos do nosso dia a dia. Shoppings e universidades são apenas alguns exemplos de como apartheids acompanham nossas vidas e muitos espaços representam lugares destinados a apenas algumas pessoas, levando em consideração renda, etnia e demais particularidades. 

    Nesse sentido, o condomínio brasileiro tem uma conformação histórica semelhante às capitanias hereditárias. Há nele, inclusive, internamente dinâmicas violentas de separação entre funcionários e moradores, como os elevadores de serviço e o “quarto do fundo para a empregada” nas estruturas de moradia predominantes das casas brasileiras.

    Eliane Brum, em seu texto: “Mãe, onde dormem as pessoas marrons?”, apresenta como a lógica do condomínio pela visão infantil denuncia a brutalidade do país que criamos para elas. Isso escancara em como a naturalização de um mundo segregado é internalizado por nós, o que interrompe o exercício de coletividade e cidadania já que não não enxergamos no outro o mesmo direito de espaço que nós. Nesse sentido, assim como Wright Mills afirma, estamos limitados pelo cenário próximo que vivemos, tornando base da nossa consciência direta sobre nossa visão de mundo e se fazendo necessário o processo de estranhamento e desnaturalização para a compreensão das dinâmicas sociais e históricas que permeiam nossas vidas. 

    Portanto, a Imaginação Sociológica, assim como o autor afirma, busca superar o senso comum em busca de um saber científico sobre a realidade para que nunca naturalizemos algo a fim de que passe por imutável, bem como os espaços de segregação que os condomínios produzem desde o processo de colonização.

Sophia Rossato Ferro, 1º Ano -  Direito (Noturno)

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO GÊNERO E O OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE A DIVERSIDADE

    O conceito de imaginação sociológica proposto por Charles Wright Mills ajuda a compreender que problemas pessoais nem sempre são questões exclusivamente individuais, mas sim reflexos de estruturas sociais, econômicas e históricas. Isso posto, no debate acerca da "ideologia" de gênero, tal pensamento é essencial para deferir que as discussões sobre o assunto vão muito além do debate pessoal e refletem um problema coletivo mais amplo. 

    A partir dessa perspectiva, percebe-se que os papéis de gênero, por serem construções sociais, não surgem de forma natural e são reforçados ao longo do tempo por meio da cultura, da educação e das instituições.  Por conseguinte, a sociedade patriarcal desempenha papel fundamental nesse processo, pois impõe condutas e cria estereótipos sobre o que é esperado de homens e mulheres, sem considerar que indivíduos podem se identificar com um gênero diferente do sexo biológico atribuído ao nascimento, ou podem não se identificar com nenhum em específico. 

    Nesse sentido, ao aplicar o conceito de Mills, é perceptível que essa problemática não é apenas uma questão individual ou psicológica, mas um reflexo de estruturas sociais que determinam e limitam as diferentes expressões de gênero. A identificação, portanto, não é apenas uma escolha particular, mas algo que está intrinsecamente ligado à maneira como a sociedade constrói e impõe “regras” às pessoas ao longo da história e como tal conduta impacta na existência desses corpos. 

    Portanto, assim como propôs o sociólogo, para enfrentar esse problema é necessário desenvolver um olhar crítico e consciente, tanto para as estruturas que definem o gênero quanto para as experiências pessoais de cada indivíduo. Isto é, ser mais atento consigo mesmo e com o mundo, analisando o contexto sociocultural atual de maneira racional e menos individualista. Dessa forma, será possível escapar de debates rasos baseados apenas em crenças pessoais e exercer efetivamente o pensamento sociólogo.


Júlia Aguiar Silva, 1º Ano - Direito (Noturno).


Que bilhete é esse?

 Livia Zacariotto, 1º semestre, direito matutino