Reconhecido como um grande expoente da produção sociológica norte - americana, Charles Wright Mills foi um professor, sociólogo e pesquisador consagrado por suas reflexões críticas acerca das relações entre a sociedade, as ações individuais e as grandes estruturas socias, criando uma ponte entre o micro e o macro social. Em sua obra célebre "A imaginação Sociológica", o autor discorre a respeito da importância do indivíduo social, principalmente do sociólogo, de deter esta imaginação sociológica, isto é, livrar-se de sua órbita privada de mundo, marcada por aspectos do cotidiano social do indivíduo responsáveis por limitar sua percepção, para poder compreender de maneira ampla a realidade, sem influência de paradigma pessoais, como também, a conexão entre as questões individuais e as forças sociais que moldam a vida cotidiana.
Mesmo se tratando de uma obra escrita e publicada no século XX, portanto, baseada em um momento e uma época distinta da atual, a falta de aplicabilidade do conceito de imaginação sociológica, criado pelo autor, ainda se faz presente. Este fato torna-se visível no caso envolvendo o filho do cantor Mussum, o qual foi impedido de sair de um shopping no Rio de Janeiro acusado de roubar a própria moto, uma vez que, os seguranças, incumbidos de "achismos" e ideais racistas enraizados na mentalidade social, caracterizados por julgar todo individuo preto ou pardo como ladrão, realizaram esta distinção envolvendo o jovem, baseando-se em preceitos próprios, não analisando, assim, de forma sociológica e ampla da realidade vivenciada.
Para Mills, a imaginação sociológica tem como princípio a capacidade de compreender como as experiências pessoais se relacionam com as estruturas históricas e sociais mais amplas, visto que, a história, o tempo e a época vivenciada são essenciais para compreender de forma completa os problemas individuais. Desse modo, a acusação de furto proposta pelos seguranças ao filho do cantor não se trata de um caso isolado, mas sim, está inserida em um contexto de racismo estrutural nas relações sociais que, mesmo após diversas leis criminalizando este tipo de ato, práticas preconceituosos e ideais arcaicos ainda são proferidos de forma explícita e velada.
Ademais, vale ressaltar que, para o autor, ao não compreender o movimento contínuo de mudanças a qual está sujeita a sociedade e não compreender a relação entre esta transformação histórica e sua experiência individual, o indivíduo entra em crise, vislumbrando seus valores e ideais mais pessoais sendo ameaçados. Diante deste panorama, grupos radicais e supremacistas como o Ku Klux Klan emergem, utilizando-se da violência e do terror, afim de tentar manter seus valores e a ordem social vigente.
Posto isso, em suma, evidencia-se a importante contribuição da obra de C. Wright Mills para a sociologia, pois oferece, ainda de forma bem atual, uma análise crítica e profunda das relações sociais, buscando entender as complexidades do mundo contemporâneo e do comportamento humano. Com isso, a utilização da imaginação sociológica permitiria que o indivíduo se distanciasse das explicações simplistas e passe a perceber o impacto das instituições, da economia, da história e da política em sua vida, evitando casos com os abordados.