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quinta-feira, 20 de março de 2014

Descartes: o pilar esquecido da hegemonia Ocidental

Nos tempos em que nos encontramos, a influência da sociedade Ocidental é tamanha, que mesmo aqueles de culturas diferentes se adéquam às necessidades do capitalismo criado por aquela. O que fez com que a cultura Ocidental se espalhasse de forma tão brutal, dilacerando as outras encontradas em seu caminho foi seu avanço científico. Seria tolice crer que os orientais, os nativo-americanos, os africanos e indianos não tivessem grande conhecimento, seja filosófico, científico ou o chamado Folklore(Sabedoria do Povo).
 O que deve ser compreendido é que o avanço do povo europeu deve-se a um homem chamado René Descartes. Homem de gênio impressionante, e que concebeu um método para validação do conhecimento útil para a humanidade, que segundo esse método, deveria ser fragmentado e estudado a fundo para que se juntassem as partes e o todo ficasse por assim conhecido. Descartes torna-se assim o pai da metodologia científica, pois crê que o conhecimento também deve se embasar na razão e possuir prova irrefutável de sua validade, razão pela qual ele se distanciou dos eruditos filósofos, que segundo ele apenas pregavam suas opiniões, sem buscar testá-las e conhecer-lhes a utilidade mais a fundo.
 Graças ao referido método, a Europa viu nos séculos seguintes uma gigantesca melhora no conhecimento científico, que possibilitou também o desenvolvimento da indústria bélica como consequência. Esse desenvolvimento bélico girou em torno da pólvora, de origem chinesa, daí lembrar que os povos fora da Europa não eram ignorantes, só não possuíam interesse em desenvolver seus conhecimentos, por estarem intimamente ligados com a moral e tradição formal e religiosa de suas culturas.
 Mas o europeu não era tradicional, antes destruía tudo por mais dinheiro e, em vez de utilizar os conhecimentos para extirpar as diferenças sociais, as intensificou, além é claro de levá-la aos lugares que colonizou. Descartes e Bacon foram ases na manga europeia porque possibilitaram uma análise mais a fundo do conhecimento e da razão, que se estivesse disponível aos outros povos dificilmente o mundo seria tão deturpado ao eurocentrismo. Uma das reflexões que Descartes fez sobre a própria razão foi a respeito da natureza humana e de Deus: se ele como homem sabia não ser perfeito, porque não podia fazer tudo aquilo que desejava, sabia que tinha uma ideia inata de perfeição e que esta é atribuída ao princípio inteligente do universo, que é Deus. Essa reflexão pode ser analisada com todo o rigor que ainda assim cairá na dúvida entre a fé de Descartes e o medo da rejeição social da época, cuja sociedade se encontrava vinculada com a Igreja Católica.
 Justamente esse homem genial que propôs um sistema de verificação que poderia enfim trazer ao mundo uma face melhor e transformá-lo(mesmo que não fosse essa sua vontade) em algo novo, que propôs uma neutralidade de análise racional que sabemos ser difícil de atingir, devido às nossas paixões e vicissitudes humanas e ideologias que carregamos, foi ser pilar fundamental de uma sociedade destrutiva e que ignora a existência de outras culturas e formas de governo e economia que não a sua. A sociedade Ocidental só se lembra dele desse modo, e não como base fundamental para o patamar que atingiu hoje e sequer honra tal gênio com um simples feriado, mas faz presente inúmeros de cunho religioso. Se minha opinião como ser existente tem algum valor, então eu agradeço do fundo do meu espírito a você René Descartes, que forneceu um meio de os cegos abrirem os olhos, mesmo que continuem com eles fechados por lhes ser mais conveniente.

Ecos do tempo e da ciência.

Descartes, pai da dúvida metódica,
físico, filósofo e matemático.
Senhor de um conhecimento melódico.
E também de um modelo sistemático.

Caro, se conhecesses nossos dias, 
Saberia da sua grande herança.
Descobertas feitas com euforia
que cada vez mais geram esperança.

Porém, calma. Analise o discurso. 
Informação real ou traiçoeira?
Escute-o com atenção no decurso
e decida se é falsa ou verdadeira.

Pense em si mesmo, antes do universo, 
E assim com os problemas deve ser.
Se o problema demonstrar-se perverso,
Quebre-o em menores para vencer.

 De enumerar tudo, só não se esqueça.
Informação que olvida permaneça
ilude o pensador no raciocínio
e de novo começará do início.

Eco do tempo que atinge o presente,
Em eterno contraste, luz e treva.
Um novo mundo,construindo sempre
À sombra da mente que René leva.





Leonardo Eiji Kawamoto - 1ºAno Direito Matutino











Descartes, argumentum ad verecundiam e a política do conhecimento.



Ao longo da história humana podem-se perceber diversas relações que passam a desenvolver a cultura contemporânea, sendo muitos destes movimentos culturais imprescindíveis para que entendêssemos o mundo como o entendemos. Assim, sob o aspecto político-social e, principalmente, cultural, os avanços que os chamados “clássicos” empreenderam em suas vidas e obras é extremamente importante e norteador da consciência de toda a sociedade ocidental.
Durante muito tempo, o conhecimento produzido nas Academias, que são em dos primeiros locais de ensino acerca de temas fundamentais e mais complexos que o senso comum, que se especializavam em determinada perspectiva e metodologia, se estruturava por aquilo que se propunha verdadeiro. A simples evocação de uma autoridade no assunto poderia propiciar o fim da discussão, os novos conhecimentos sem poder ser contrapostos aos tradicionais. A prática desta estrutura de argumentação chamada argumentum ad verecundiam e outras normas discursivas empregadas em tempos passados acabam por retardar o desenvolvimento da ciência em vários âmbitos.

Assim, então, Descartes levanta-se contra as conveniências e políticas acadêmicas de seu momento histórico e propõe a argumentação da dúvida. Em sua obra Discurso do Método, o autor é muito claro ao afirmar que a simples aceitação de obras clássicas, se não analisadas, pressupõe conhecimento errôneo e defasado, propondo a estruturação do trabalho crítico. Desta forma, até o momento em que o autor propôs uma nova sistematização do pensar era possível criar argumentações absurdas e, no entanto, válidas, através da não averiguação de conhecimentos antes produzidos, por exemplo:

Proposta 1) A maçã é um fruto;
Proposta 2) O fruto advém da terra;
Proposta 3) A terra é algo vazio de vida;
Proposta 4) O fruto não tem vida.

Apesar de utilizar um exemplo pouco problemático e pouco questionável, a questão de raciocínios sem ligação ou com ligações errôneas eram cessadas com um simples considerar do mestre. A elite intelectual é disposta, portanto, não aos questionamentos e dúvidas; não ao estudo ou problematização, mas sim a uma estrutura de conservação. As propostas cartesianas, desta forma, para além de suas conclusões filosóficas como “eu penso, logo existo”, permeiam por nossas comunidades como um meio de legitimar o questionamento, uma vez que a elite intelectual e política, principalmente política, se não é, muitas vezes comportam-se como, os clássicos que não argumentam, apenas expõem seus conceitos.
O conhecimento pressupõe e aceita, portanto, conceitos já propostos. Mas estes apenas estruturam a real necessidade de entendimento humano, que não pode ser fragmentado ou falso, se houver o empreendimento do “esforço problematizante” e da colocação de dúvidas acerca daquilo que nos parece minimamente questionável. Assim, vencemo-nos a nós mesmos na busca por nosso conhecimento e tornamo-nos aquilo que somos.

“Quer estejamos despertos, quer estejamos dormindo, jamais devemos nos deixar convencer exceto pela evidência de nossa razão.” Descartes


Artur Marchioni- Aluno do XXXI turma de Direito Unesp, 1º ano, período diurno.