A um tempo atrás ouvi uma história. História típica de cidades pequenas, supera a velocidade da luz e se propaga como mistério sem, no entanto, deixar de flertar com a realidade. Segundo as más línguas que a conta, segundo a minha própria má língua, Ródia, um jovem estudante que não mataria uma mosca – e um jovem estudante já é mais que suficiente para apresentá-lo – deitado em seu quarto, que, a propósito, era também seu banheiro, sala de estar e cozinha, em cima de um colchão que nem mesmo os sem tetos ousariam repousar, pensava na fome. Interessante que, quando famintos a tanto tempo quanto o jovem Ródia estava, pensar na fome não é uma questão de escolha. Na verdade, acredito realmente que não se trata nem ao menos de pensar. Seu estômago, retorcendo-se, pouco a pouco se autoconsumia, clamava desesperadamente por algo, por ação. Quando famintos a tanto tempo quanto o jovem Ródia, sua cabeça não é mais realmente sua. Mas, bom seria se a fome fosse o único problema de nosso miserável não-herói. Bom seria se sua morte fosse apenas mais uma dentre os milhares de ródias, mais uma morte a ser ignorada nas estatísticas do jornal local. A vida continuaria como se nada tivesse acontecido.
Mas você, bom leitor, já imagina que o jovem Ródia não terá tal vil fim. Está claro que ele será capaz de enganar a miséria e estender sua angústia para uma posterior história, para um outro narrador. O que tenho a dizer é que não somente da fome remoía a mente de nosso estudante. Deitado num colchão que até as baratas abdicaram o direito de usufruto, pensava no mais perfeito plano que ele poderia elaborar naquela situação. Francamente, agora em pé, olhando-se através de um velho e enferrujado espelho, cujas bordas já escurecidas pelo tempo e maus tratos, surrado, não sabia ser o espelho ou a si mesmo. Não pensava mais no plano, pensava agora em como foi tão ridiculamente executado. Como ele, um jovem e desesperado estudante, pode assassinar uma doce e gentil velhinha ? Daquelas de filmes americanos, que vivem sozinhas e guardam as joias nos lugares mais cômodos para aqueles que as desejarem roubar.
Ródia, em crise, tem de um lado os demônios do crime, de outro a terrível necessidade de dinheiro, mais que isso, a terrível necessidade em se nutrir. Seu valores, sua humanidade, competem com seu extinto, com seu eu animal. Não é preciso dizer que, realmente, ridiculamente executado, Ródia foi descoberto, julgado e condenado culpado. Quem diria, quais eram as probabilidades. Um jovem. Um estudante. Um homem que não mataria uma mosca… acho que pode-se dizer que, realmente, não matou uma mosca.
Pedro Guilherme Tolvo - noturno -
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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quinta-feira, 1 de setembro de 2016
A análise sociológica de Weber: crítica ao dogmatismo do materialismo histórico
A teoria sociológica de Max Weber tem como base fundamental a afirmação da sociologia como uma ciência empírica da realidade, cuja função é, primordialmente, compreender o sentido dos fenômenos sociais e explicar seu significado efetivo de acordo com as conexões entre eles. Weber defende, neste contexto, a distinção entre a análise social e o estabelecimento de juízos de valor, devendo estes últimos serem afastados do âmbito dos estudos científicos, devido a sua demasiada subjetividade. A tarefa da ciência social, portanto, não é criar normas e "receitas" obrigatórias do "dever-ser", mas sim, analisar aquilo que realmente "é".
A partir de seu método individualista, o teórico supracitado compreende a ação social do indivíduo como objeto principal para a compreensão da sociedade. Por "ação social" deve-se entender todo agir humano determinado por um sentido; e a compreensão da interconexão entre essas ações, ou seja, das relações sociais, é fundamental para o entendimento da sociedade. Segundo Weber, toda ação envolve a mobilização de valores pelo indivíduo, que opta por aqueles que melhor correspondem a sua consciência pessoal. Dessa forma, o cálculo racional anterior à ação implica a escolha de determinados valores em detrimento de outros. Essa concepção significa, em última instância, que a ação social possui múltiplos sentidos, uma vez que o indivíduo sofre influência de inúmeros valores advindos de suas diversas relações sociais. Uma pessoa é influenciada, por exemplo, pelos valores da família da qual faz parte, da religião que possui, do partido do qual é membro, do grupo de amigos que o rodeiam, do meio social em que se encontra, da ideologia que defende, das tradições, das paixões humanas, enfim.. são infinitas as interferências sobre o ser. Em vista disso, trata-se de um grave equívoco pautar-se em generalidades simplistas para explicar os fenômenos sociais.
A partir desses conceitos, Weber critica duramente a ideia determinista do materialismo histórico de Marx e Engels, que busca submeter todo o complexo das relações humanas a leis obrigatórias. A crítica dirige-se, precipuamente, à parcialidade e ao dogmatismo de tal teoria, que parte da estrutura econômica para explicar todo e qualquer fenômeno social. São construídas, assim, formulações genéricas e frágeis, que pressupõem um denominador comum para todo o estudo da sociedade e estabelecem princípios universalizantes imprecisos e equivocados. Para Weber, não existem leis incondicionalmente válidas, a exemplo da máxima defendida pelos marxistas de que tudo é determinado pela estrutura do modo econômico capitalista. A realidade é caracterizada por permanente instabilidade, por isso, múltiplos fatores devem ser levados em conta para sua análise. A dominação liberal burguesa, defendida como regra máxima por Marx, sofre contradições o tempo todo, como, por exemplo, no que diz respeito à garantia de direitos sociais à classe proletária.
As leis, ou os "tipos ideais" portanto, devem representar meios, ferramentas, mas nunca os fins da análise sociológica, uma vez que são incompatíveis com a complexidade da verdade científica. O tipo ideal é puramente conceitual, uma construção de como seria caso não houvesse nenhuma interferência além da razão nas ações sociais, o que significa que ele não existe na realidade concreta. Se a generalização for considerada o fim da análise, acarretará em prejuízos para a ciência social. Toda generalização, todo simplismo, no que diz respeito à análise da sociedade, são equivocados e prejudiciais. A compreensão da verdade científica depende da comparação entre os fatos e o tipo ideal, e deve, dessa forma, levar em consideração as várias imputações causais dos fenômenos.
Thainara Righeto - Matutino
As variadas formas de interpretar o indivíduo
Weber, diferentemente de outros sociólogos, visava o
individual e as ações sociais. Além desse aspecto de divergência, ele ainda
acreditava que a ciência servia para criticar o mundo, e não para transformá-lo.
Essa mudança ocorreria através da política.
Seu método de
compreensivismo favorece o indivíduo. Como sociólogo, seu dever seria o de
encontrar a compreensão do sentido de ação social. Essa, por sua vez, possuía
quatro vertentes: a ação racional que se relaciona com um objeto; a ação
racional que se relaciona com um valor, a ação emocional ou a tradicional. A
situação, portanto, determinaria a ação social, que, muitas vezes, se manifestava
inconscientemente e se baseia em valores e vontades individuais.
Dessa forma, um fato pode ser explicado através de
diferentes visões. A ação das penas no Oriente, por exemplo, pode ser analisada
perante a visão oriental e a ocidental. Essas duas certamente irão se opor. Por
isso, para Weber, as contradições eram inerentes à realidade social. O ponto
mais contrastante, para o autor, era a divergência entre a ética da
responsabilidade, que visava a ação baseada em ponderações; e a ética da
convicção, que consistia nas ações perante valores.
O tipo ideal, analisado pelo pensador, deveria servir como
ferramenta para análise, pois não esse não existe na realidade, mas ajudava a
organizar as incoerências sociais. Weber também criticava o determinismo
marxista, pois ele achava que a economia era capaz de produzir cultura, mas que
a cultura não produziria economia, diferenciando-se de Marx. A cultura,
portanto, seria estruturante.
Para finalizar o apontamento das ideias weberianas, é válido
considerar sua opinião sobre os juízos de valor, que seriam um dos pontos de
partida para o entendimento da ação. Porém, eles impedi-la-iam de ser explicada
de forma neutra e científica.
Mariana Smargiassi - Primeiro ano de Direito (diurno)
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