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sexta-feira, 4 de abril de 2025

Uma Ordem Fora da Realidade

 

Entra ano e sai ano, os seres humanos criam teorias sobre como e quando seria o fim do mundo. Sejam essas previsões de caráter religioso, conspiracionista ou baseadas em análises de eventos reais, é curioso perceber como se torna mais fácil imaginar o colapso total da humanidade do que o fim do sistema capitalista em que estamos inseridos há tempos.

Essas especulações costumam ganhar força diante de acontecimentos intensos e preocupantes que ocorrem em escala global. Entre eles, destacam-se os conflitos contínuos entre Israel e Palestina, decisões políticas controversas nos Estados Unidos sob a liderança de figuras como Donald Trump, e, mais recentemente, o crescimento acelerado da inteligência artificial, que tem gerado debates éticos e sociais profundos.

Um exemplo emblemático do último ponto citado ocorreu nas redes sociais recentemente, quando viralizou uma trend envolvendo o uso de IA para gerar imagens no estilo do Studio Ghibli — famoso estúdio japonês conhecido por suas animações autorais e artísticas. Apesar da aparência inofensiva da trend, ela acendeu um alerta sobre a apropriação robótica de artes feitas por humanos, o que incitou uma resposta de desapontamento por parte do cofundador Hayao Miyazaki. Muitos críticos apontaram que, ao replicar estéticas tão singulares sem nenhum envolvimento criativo real, a IA não apenas banaliza o trabalho artístico, como ameaça desvalorizar a produção cultural original. Isso evidencia um problema maior: o uso indiscriminado da inteligência artificial em áreas humanas e criativas sem considerar os impactos éticos, econômicos e sociais dessa substituição.

Tais acontecimentos — tanto políticos quanto tecnológicos — não apenas afetam a estabilidade mundial, como também revelam dúvidas sobre o estado da ordem. Afinal, o que entendemos hoje como “ordem” parece estar cada vez mais distante das necessidades humanas. Talvez o mundo não esteja desalinhado, como muitos pensam, mas sim aprisionado a uma ordem que perdeu sua capacidade de responder aos desafios atuais. Trata-se de uma estrutura que perpetua desigualdades, falha em promover justiça e se mostra desconectada da realidade vivida pela maioria.

A pergunta “um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo?” nos leva a repensar não o colapso da civilização, mas sim o colapso de um modelo de organização insistente, mesmo quando já não oferece respostas sustentáveis ou humanas para os problemas contemporâneos. É nesse ponto que o debate jurídico e sociológico se torna essencial, pois exige tanto a crítica quanto a construção de alternativas capazes de colocar a vida — e não o lucro — no centro das decisões.


Nicole Sthefany Calabrezi

1º ano - Direito - Matutino

O mundo fora de ordem e o seu fim: a mudança é necessária

 Atualmente vivemos um período de crises sociopolíticas, econômicas, climáticas e diplomáticas. Como, por exemplo, as decisões do governo Trump e suas repercussões negativas tanto em âmbito estadunidense como internacional, a alta inflação no mercado brasileiro, o aquecimento global - recentemente classificado em fase de ebulição -  a guerra contra a Palestina. Todas essas questões levantam ansiedade, angústia, receio e medo sobre o futuro da sociedade, pois acabamos por nos questionarmos se estamos próximo do fim. Outra questão que também aparece é em relação à ordem mundial, se o mundo está fora de uma ou a ordem fora dele.

Há pouco tempo, estive presente em uma mesa de debate promovida pelo movimento  Afronte! sobre o tema “Estamos no fim do mundo? Palestina, Trump, Ecossocialismo e Cotas Trans”. A partir desse debate, ponderou-se uma reflexão acerca das cotas trans e quão necessárias são, pois ao analisarmos a sociedade percebemos que são poucas as representatividades trans. Cito aqui a deputada federal Erika Hilton, o vereador de São Paulo Thammy Miranda e a cantora pop Liniker; essas pessoas públicas transformaram tanto o cenário social ao ocupar seus respectivos cargos quanto as vidas de outras pessoas trans mostrando que esses espaços também os pertencem. À luz disso, entende-se como o espaço escolar pode ser e é hostil para crianças e adolescentes trans; ou seja, cotas trans são necessárias para que reduza a exclusão dessa população nas universidades e no mercado de trabalho e, também, mude a ordem do mundo.

Em segundo plano, descrevo essa ordem vigente como sendo classista, racista, misógina, homofóbica, ou seja, privilegiando apenas a elite branca. Ademais, percebe-se uma crise generalizada nessa ordem, que muitos denominam como o fim do mundo, porém podemos interpretar como o fim do sistema capitalista atual. Contudo, isso só é possível atrás de uma esperança ativa, mobilização social para concluir ações concretas e organização política - embasada no ecossocialismo, proposto por André Gorz - filósofo austro-francês - a superação do capitalismo, a produção sustentável, democracia participativa, justiça social e ambiental.

Portanto, entende-se que o medo, a ansiedade, angústia e receio são causados pelo questionamento sobre o mundo fora de ordem e sobre seu fim. Além disso, é necessário tornar as cotas trans em uma realidade concreta em todas as universidades do país, assim, avançando com a mudança da ordem mundial. Desse modo, é imprescindível que ocorra uma mobilização social e política a fim de mudar o cenário de fim do mundo para que seja o fim da ordem vigente.


Maria Júlia Miranda Loureiro - 1° ano Direito (matutino)

A desconstrução do pensamento positivista por Grada Kilomba

           O positivismo está contido nas mais diferenciadas faces da sociedade e do sistema politico brasileiro como um todo. Entendo que, como física social, a busca pela ordem e o progresso, hoje, marca o preconceito e a aversão pela liberdade de expressão. Não tão somente isso, mas também constrói um ideário de rejeição à novas opiniões e pensamentos, conservando um ideal imutável frente a sociedade.

Seguindo essa linha, tais ideias positivistas são refletidas por Grada Kilomba. Esta questiona a ordem e a superioridade que é imposta pelos brancos sobre os negros, até nos dias de hoje. O lugar social também é um questionamento da socióloga, em que os brancos sempre estiveram nos lugares bem vistos e idealizados, até em contos e histórias.

Assim, pode-se dizer que o preconceito e o racismo, de algum modo, constróem-se sob o viés positivista.


Brenda Diniz, 1 Ano Matutino.


Há uma ordem igual para todos?

            O mundo não está fora de ordem. Ocorre que alguns filósofos e sociólogos na antiguidade acreditavam ter uma ordem concreta a ser seguida. Todavia, fica um questionamento. Se existe ordem, ela deve ser unanime ou pode ser relativa em alguns aspectos?

Para Comte, a sociedade deveria ir em direção ao progresso e a ordem. Contudo, entende-se que para isso todos deveriam adimplir com seus deveres e cumprirem as regras, pois o contrário seria o caos e a desordem.

Entretanto, hodiernamente esse conceito é, na minha visão, relativo em alguns aspectos, como no da cultura e no direito a liberdade de expressão. Desse modo, pensemos no Brasil. A legalização da Cannabis e do Aborto seria, de algum modo, a efetivação da desordem e do caos, assim como a adoção de cotas Trans na Unicamp; mas para outros seria o oposto, levaria ao progresso e a manutenção da ordem vigente.

Logo, resta evidente que há uma ordem no mundo, mas será que ela é estática, igual para todos? Ou ela é, de alguma maneira, dinâmica e relativa?

 

Brenda Diniz, 1 ano Matutino. 

O AVESSO DO CAPITAL

A palavra “utopia”, que, em latim, significa “não lugar”, lugar inexistente, é usada para se referir a um cenário quimérico, a um futuro idealizado o qual se encontra deveras distante da realidade na qual é ansiado. Tal conceito é vulgarmente usado para se referir aos sistemas econômicos alternativos que vão de encontro ao vigente, o capitalista, cujo cerne consiste na expropriação do humano pelo humano. Contudo, seja pela falta de “imaginação sociológica”, preconizada por Mills, seja pela influência da ideologia, parte da “infraestrutura”, definida por Marx, poucos se permitem imaginar a seguinte proposição: Como seria um mundo cuja finalidade é a defesa do bem-estar coletivo?

Imagine um mundo voltado não para a busca incessante pela riqueza econômica, mas para a máxima evolução do conforto e do intelecto humanos. Nesse cenário “idealizado”, o trabalho seria uma vertente da arte, pois sua prática objetivaria o exercício das potencialidades criativas de cada um, não apenas o lucro. A produção, por sua vez, de forma autossustentável e com o uso universalizado da tecnologia, seria apenas dos recursos necessários a uma vida digna e ao progresso desta, exigindo menos horas de labor. Assim, sucumbida a necessidade de produzir capital a todo instante, os sujeitos poderiam usufruir do próprio tempo de vida. Desse modo, além do tempo necessário à manutenção da própria moradia e saúde, garantindo a sobrevivência mínima, seria possível desfrutar do lazer, do esporte e até do ócio, cuja importância é salientada pelo filósofo Byung-Chul Han. Ainda, as relações interpessoais se dariam com maior frequência, estreitando os laços afetivos familiares e fraternos, porquanto, além do tempo, dispor-se-ia de mais energia para investir em atividades comunitárias, as quais resultam na socialização. Já no âmbito educacional, o letramento crítico no ensino básico seria ampliado, enquanto no superior, a formação e a pesquisa se ocupariam com a resolução de questões a fim de aprimorar a vida social e a experiência humana no planeta. Esse último, por fim, expurgada a lógica exploratória de seus recursos, seria preservado por nossa raça, cuja perpetuação resultaria da harmonia com o meio ambiente.     


É coerente concluir que vislumbrar dias melhores não é apenas justo, mas também possível. Exemplo concreto disso é a tradição originária, do Brasil e do mundo, a qual, insubordinada à arrolação do tempo e ao estilo de vida capitalistas, sobreviveu ao genocídio a à pressão civilizatória, vivendo em conjunto e em harmonia com a natureza.


Texto extra (Palestra do Afronte): Um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo? 


Laura Xavier de Oliveira - 1º ano - Direito (matutino)


Fim do mundo ou novo começo?

Aumento das disputas comerciais entre China e Estados Unidos após a eleição de Trump; quebra de cessar-fogo de Israel contra Palestina e a expansão de conflitos para outros territórios do Oriente Médio; no Brasil, aprovação de cotas para estudantes trans aprovada pela Universidade Estadual de Campinas; primeira produção audiovisual brasileira a ganhar um Oscar. Oscilando entre avanços e retrocessos, incertezas e esperanças, o questionamento que nos vem é certeiro: Estamos no fim do mundo? A resposta não é concreta, tampouco objetiva, afinal, todos estes dados, refletem os altos e baixos de um cenário geopolítico instável e incerto. 

O mundo atual se apresenta como um palco onde a desordem não apenas ocorre, mas é sistematicamente alimentada por estruturas que priorizam o poder e o lucro em detrimento da dignidade humana. Não se trata apenas da ausência de ordem; é uma ordem distorcida, manipulada e fragmentada, expressa nos conflitos geopolíticos, nas crises sociais e nas desigualdades que permeiam nossa realidade.

A perpetuação dessa desordem é, em grande parte, resultado de um sistema global que se mantém de desigualdades e divisões. As disputas comerciais entre potências como China e Estados Unidos não são apenas econômicas, mas também simbólicas, representando uma luta por hegemonia em um mundo multipolar. Enquanto isso, conflitos como o de Israel e Palestina transcendem fronteiras, espalhando instabilidade e sofrimento humano. Esses eventos não são isolados; eles são interconectados, formando uma teia de interesses que frequentemente coloca a ordem como um instrumento de controle, e não de justiça.

No entanto, há sinais de resistência e transformação que desafiam essa lógica de desordem institucionalizada. A aprovação de cotas para estudantes trans na Unicamp é um marco que aponta para a possibilidade de uma ordem mais inclusiva e equitativa. Embora pontuais, esses avanços demonstram que a ordem não precisa ser sinônimo de opressão, mas pode ser um caminho para a emancipação. Compreender essa lógica significa transcender o caos imposto diariamente. Ter esperança em um mundo que parece promover conflitos é, por si só, um ato de resistência. E mesmo diante da incerteza do amanhã e do (inevitável) fim do mundo, o fato de Ainda estarmos aqui é motivo para continuar acreditando que, sim, a vida presta.

Pedro Augusto da Costa Leme - 1º ano Direito - Matutino

Texto com base na palestra promovida pelo movimento estudantil Afronte! a qual foi designada: Estamos no fim do mundo? Trump, Palestina, Ecossocialismo e Cotas trans

Ordem e Regresso

Havia uma cidade distante, que aparentava quase um estado de utopia, essa era Ordemlândia, e nela tudo funcionava sempre com precisão e ordem. Suas ruas impecáveis, cidadãos disciplinados, edifícios perfeitamente simétricos, e em todos os bairros da cidade haviam sensores para garantir que as ruas estivessem sempre limpas, que os ruídos não ultrapassassem os decibéis permitidos e que cada pessoa se comportasse conforme o esperado, conforme a ordem. Além disso continham um governo que se orgulhava de seguir aquilo que acreditavam ser as "leis naturais da sociedade", e este levava a ferro e fogo o maior e mais incontestável lema da cidade estampado em cada esquina: "Ordem gera Progresso". Para todos a ordem que ali proliferava era positiva e ajudava no crescimento da cidade, e quem a cumpria ao pé da letra se tornava positivista, e subia até os mais altos cargos, para continuar espalhando o ideal. 


Hendrich, um pequeno sociólogo que buscava entender os fenômenos sociais de Ordemlândia, sempre achou a forma como o contexto fluía muito estranho. Quando era criança a cidade era totalmente diferente, ele se lembrava de um cenário mais caótico, mas também mais vivo, e agora, cada aspecto da vida era cuidadosamente gerenciado. No trabalho, ele investigava os "grupos desaparecidos", pessoas que, sem aviso, deixavam de existir nos registros da cidade. Muitos relatos falavam de trabalhadores informais, artistas não registrados, moradores de rua... Mas as autoridades sempre negavam: "Não existem desaparecidos, apenas aqueles que não se adaptaram ao progresso."


Hendrich decidiu assim investigar esse mistério. Percorrendo becos esquecidos e vasculhando registros apagados, encontrou algo perturbador: a cidade não apenas excluía pessoas, mas as tornava invisíveis. Os Sistemas automatizados bloqueavam acessos, tornavam seus documentos inválidos e eliminavam qualquer traço digital de sua existência, dessa forma aos olhos da Nova ordem, eles nunca haviam existido.


Chocado com isso, Hendrich decidiu ir além, buscando aqueles que haviam sumido completamente, e vasculhando e investigando pela cidade, achou num subterrâneo escondido entre construções antigas, uma comunidade inteira vivendo às sombras do progresso, exilados da sociedade. Havia músicos, artesãos, cuidadores, intelectuais... Pessoas que a cidade considerava "improdutivas" para o modelo científico de eficiência. Ali, sem vigilância e sem ordem imposta, a vida florescia de maneira autônoma e cheia de diversidade, sem regras que regessem cada passo e cada individualidade daqueles que naquele lugar viviam.


Ao retornar para a superfície, Hendrich percebeu que sua própria identidade também começava a desaparecer dos sistemas. Ele estava sendo apagado por questionar demais e querer fugir das amarras do progresso, mas antes que perdesse sua voz, escreveu e espalhou sua pesquisa clandestinamente. E assim, pequenos manifestos começaram a surgir, rabiscados nos muros imaculados da cidade:


"E se o progresso for apenas a ordem de quem pode ficar?"


A frase se espalhou, primeiro em sussurros, depois em protestos, e o sistema reagiu com mais ordem, oque dessa vez não foi o suficiente pois as ideias já estavam vivas, e ideias, diferente de pessoas, não podem ser apagadas.

A cidade continuava bela e organizada, mas agora, nas entrelinhas sabiam que algo diferente crescia, o progresso nunca mais seria visto da mesma forma, a diversidade estava aparecendo, e as vozes se levantando, e naquele chão perfeitamente liso e asfaltado, brotaram rachaduras por onde escapava a liberdade.