Entra ano e
sai ano, os seres humanos criam teorias sobre como e quando seria o fim do
mundo. Sejam essas previsões de caráter religioso, conspiracionista ou baseadas
em análises de eventos reais, é curioso perceber como se torna mais fácil
imaginar o colapso total da humanidade do que o fim do sistema capitalista em
que estamos inseridos há tempos.
Essas
especulações costumam ganhar força diante de acontecimentos intensos e
preocupantes que ocorrem em escala global. Entre eles, destacam-se os conflitos
contínuos entre Israel e Palestina, decisões políticas controversas nos Estados
Unidos sob a liderança de figuras como Donald Trump, e, mais recentemente, o
crescimento acelerado da inteligência artificial, que tem gerado debates éticos
e sociais profundos.
Um exemplo
emblemático do último ponto citado ocorreu nas redes sociais recentemente,
quando viralizou uma trend envolvendo o uso de IA para gerar imagens no
estilo do Studio Ghibli — famoso estúdio japonês conhecido por suas animações
autorais e artísticas. Apesar da aparência inofensiva da trend, ela acendeu um
alerta sobre a apropriação robótica de artes feitas por humanos, o que incitou
uma resposta de desapontamento por parte do cofundador Hayao Miyazaki. Muitos
críticos apontaram que, ao replicar estéticas tão singulares sem nenhum
envolvimento criativo real, a IA não apenas banaliza o trabalho artístico, como
ameaça desvalorizar a produção cultural original. Isso evidencia um problema
maior: o uso indiscriminado da inteligência artificial em áreas humanas e
criativas sem considerar os impactos éticos, econômicos e sociais dessa
substituição.
Tais
acontecimentos — tanto políticos quanto tecnológicos — não apenas afetam a
estabilidade mundial, como também revelam dúvidas sobre o estado da ordem.
Afinal, o que entendemos hoje como “ordem” parece estar cada vez mais distante
das necessidades humanas. Talvez o mundo não esteja desalinhado, como muitos
pensam, mas sim aprisionado a uma ordem que perdeu sua capacidade de responder
aos desafios atuais. Trata-se de uma estrutura que perpetua desigualdades,
falha em promover justiça e se mostra desconectada da realidade vivida pela
maioria.
A pergunta
“um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo?” nos leva a repensar não o
colapso da civilização, mas sim o colapso de um modelo de organização insistente,
mesmo quando já não oferece respostas sustentáveis ou humanas para os problemas
contemporâneos. É nesse ponto que o debate jurídico e sociológico se torna
essencial, pois exige tanto a crítica quanto a construção de alternativas
capazes de colocar a vida — e não o lucro — no centro das decisões.
Nicole Sthefany Calabrezi
1º ano - Direito - Matutino