Nas
primeiras organizações humanas, a maioria das comunidades dividia as funções
pelo sexo. Mulheres permaneciam no local que o grupo ocupava, portanto, eram
responsáveis pela coleta (e, posteriormente, pela agricultura), pela criação
dos jovens e pela produção de roupas e potes para armazenamento da comida, por
exemplo, enquanto os homens saiam em expedições de caça ou protegiam o grupo,
portanto, também produziam suas armas. Ao longo do tempo, essas organizações
foram se modificando e tornaram-se mais específicas, porque os grupos cresceram
e suas necessidades aumentaram também.
No período do Feudalismo, por
exemplo, havia a divisão entre soberanos em vassalos, em que cada um possuía suas
responsabilidades, que se tornou extremamente complexa, pois vassalos tinham
vassalos, portanto, estavam todos mais ou menos ligados uns aos outros. Além
disso, haviam os servos, que produziam todos os produtos necessários para a sobrevivência
do grupo, e guerreiros, que defendiam os territórios de invasores.
Apesar de já ser extremamente
complexa, essa divisão se transformou e se aprofundou ainda mais com a
industrialização. Ford, em suas fábricas, dividiu tanto o trabalho que seus
operários sequer precisavam saber o que produziam. Um deles apertava um
parafuso, o outro batia um prego e, no final da esteira, havia o produto
pronto, que poderia ter sido feito por macacos bem treinados.
Atualmente, a interdependência é tão
grande que não se reduz mais a uma fábrica, e sim ao mundo inteiro. Qualquer
produto viaja mais que uma pessoa, e, além disso, cria mais relações que o
Facebook seria capaz de criar. Os acionistas do mercado financeiro de Tóquio
formados em Harvard resolvem investir em uma indústria de apontadores que tem
sede administrativa na Alemanha, mas importa sua matéria prima de Minas Gerais
e tem suas fábricas na China, enquanto seu mercado consumidor se localiza na
América Latina (três exemplos bem mais elaborados que o meu são o filme Babel,
a série sense 8 e um pequeno documentário chamado Ilha das flores). Além disso
tudo, existem diversos advogados intermediando as relações entre todos esses
países envolvidos. As redes se tornaram tão densas que quase não é mais
possível distinguir os fios. O próprio Durkhein, que criou o conceito de
solidariedade orgânica, não previu tamanha interação em seu discurso. Um
advogado do Brasil dependente do trabalho de um operário chinês, que depende do
trabalho de um pecuarista argentino e assim em diante. A organização da sociedade tornou-se global.
Sofia Foresti, Direito noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário