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sábado, 5 de agosto de 2017

Soneto sobre a ciência moderna e a verdade

Senso comum, frequentemente engana
Pré-conceitos, mente frágil, doída
Reparo e razão, em contrapartida
Trazem verdade, sempre soberana.

Ídolos, bloqueiam a mente humana
Falsas percepções do mundo e da vida
Para a situação ser resolvida,
A verdadeira indução a nós clama.

Ciência moderna, visando ao útil
Não à aforia, como os antigos
Com a clareza, proporciona o tátil.

Razão e experiência, amigos
De um novo método, agora fértil
Trazem cura da mente, sem perigos.


Tiago Nery Constantino - 1º ano Direito Matutino

Descartes e Bacon na sociedade

O Discurso do Método de Descartes e Novum Organum de Bacon em uma primeira impressão, aparentam ser apenas métodos epistemológicos aplicados somente em pesquisas científicas, até considerados métodos de simples aplicação em uma sociedade do século XXI. Porém, ao analisar mais a fundo as obras e as relações humanas nessa suposta sociedade moderna, percebemos que os métodos empreendidos por Descartes e Bacon são aplicáveis também na formulação do pensamento do indivíduo e de suas ações no seu cotidiano.
Apesar de toda a tecnologia e o acesso à informação que temos, as nossas razões ainda são frutos de concepções muitas vezes errôneas, deixamos as nossas decisões politicas e sociais serem influenciadas pela religião, misticismo e principalmente o senso comum, que se encontram enraizados em nossas mentes.
Muitas vezes, não temos o cuidado de ao menos perguntar e refletir se há algum sentido ou lógica nas nossas decisões, simplesmente seguimos as nossas emoções e paixões; podem ser dados diversos casos, como, por exemplo, o medo de algumas pessoas tem para com gatos pretos ou reclamar da corrupção e votar em políticos que ofereceram dinheiro pelo seu voto.
Além de nossas decisões, a nossa percepção de como é o mundo também é afetada pela falta de um método que permita um melhor compreendimentos das coisas, dessa falha, surgem o racismo, a xenofobia, e outras falhas que deterioram ainda mais as relações humanas, as quais, pela razão, poderiam ser harmônicas, são, em realidade, caóticas e cheias de paradigmas e dogmas.

Assim, os métodos de Descartes e Bacon não devem ser entendidos somente como um simples método epistemológico utilizado nas pesquisas acadêmicas, mas sim devem ser apreciados na formação de nossas razões, para que possamos melhorar as nossas relações no trabalho e na vida social, quebrando velhos dogmas que impedem o aprimoramento da sociedade.  

                                                                                Augusto Fávero Merloti- Direito 1 ano Noturno
Procurar tirar as lentes para um mundo menos nublado
Experimentar, vivenciar, ter uma visão particular
Não existe Ciência neutra, só a visão que interessa a um lado
Sair da caverna, quebrar correntes
O senso comum quer a massificação da gente


Liga homogênea é mais fácil para lidar
Os fatos imparciais da mídia corrobora para isso
Gigante acordou pra quem? Quem precisa disso?
O Facebook virou os Dois Minutos de Ódio.


E necessariamente, despir-se das visões ortodoxas da
Xenofobia, ideologia, religião, política, racionalismo e Ciência.
Idolos são distorções das dimensões
Sociais e individuais.
Trabalhar o exercício da racionalidade adjunta a realidade,
O mais belo espírito da humanidade.


Brunna Aguiar da Silva    1º ano Direito diurno

Direito: instrumento de manutenção ou de mudança?


 Incrivelmente, apesar da passagem de quatro séculos após o florescimento do pensamento científico moderno, seus preceitos fundamentais encontram-se tão vivos na sociedade contemporânea quanto no século XVII. A sobreposição da razão frente às paixões e ideologias ao se pensar e produzir ciência, da objetividade sobre a subjetividade tornaram-se requisitos básicos da comunidade científica e da chamada "boa ciência", e englobam o novo senso comum científico das sociedades humanas, baseado em uma ciência multilateral, plural e democrática. 

 Sendo os principais diferenciais do ser humano a sua capacidade cognitiva, comunicativa e ontológica com base no uso da razão, Descartes e Bacon criticam em suas obras sobretudo a filosofia antiga e a utilização da razão pela razão, ou seja, o seu caráter especulativo e contemplativo, incapaz de promover inovações e o progresso da civilização humana, sendo este último obtido graças à finalidade prática do saber científico, a fim de garantir o bem-estar e o desenvolvimento das potencialidades humanas. 

 A reflexão que deve ser feita por todos é a necessidade atual de se mudar o mundo e a interpretação da realidade que nos cerca, a partir de uma revolução do próprio olhar, ou seja, deve se implementar o uso de lentes sobretudo científicas para se enxergar o mundo, sem a influência de nossos ídolos baconianos, responsáveis por deturpar nossa visão. Deve haver uma ruptura com o senso comum baseado em costumes e hábitos pretéritos. Devemos vencer nossas próprias convicções. 

 Como Bacon dizia, devemos "olhar mais de perto", inibindo a nossa própria antecipação da mente, formadora das mais terríveis pré-noções, sendo estas últimas os grandes males da contemporaneidade. Nos aproximamos da verdade quando conseguimos fazer uma conexão entre a razão e a experiência, sem fazer algum juízo de valor ou afirmação categórica sem embasamento naquilo que é real, concreto. 

No entanto, seria a ciência um mero motor do sistema capitalista? Sendo sua função exclusivamente a produção de conhecimento, que levaria portanto ao surgimento de novas tecnologias e bens de consumo, que por sua vez seriam responsáveis pela escassez dos recursos naturais? É para se pensar. 

A valorização da ciência empreendedora e transformadora já feita lá atrás por Descartes tem efeito, portanto, no modo de produzir conhecimento e sua finalidade prática na sociedade capitalista, sendo também responsável pelo consumismo desenfreado realizado por todos nós. 

Indubitavelmente, a elite político-econômica desde sempre dedicou-se a pensar, enquanto o operariado a trabalhar, portanto, pode se afirmar que há uma alienação contínua dos trabalhadores, para que assim a manutenção do status quo seja feita e a hegemonia da classe burguesa se concretize, além de o conhecimento e o progresso técnico-científico continuem sendo realizados no mundo globalizado. 

 Para que nossos pensamentos não sejam limitados pelo senso comum e pela manipulação da mídia atualmente, devemos negar a realidade tal como ela nos é imposta, questionar a realidade, a ordem natural das coisas e assim começar a pensar em possíveis caminhos de mudança a fim de se amenizar as mazelas de tantos séculos, sobretudo na sociedade brasileira, devido à assustadora desigualdade sócio-econômica.   

 O Direito seria portanto um instrumento de manutenção da ordem capitalista ou de mudança da conjuntura atual? Cabe a nós respondermos, e como futuros operadores do Direito, fazer valer a segunda opção. 

Juliana Beatriz de Paula Guida - 1° ano - Direito Matutino 

O método cientifico versus os vícios humanos

O Direito é uma associação da ética com a ciência. Ao citar a segunda palavra vem logo em mente os filósofos Bacon e Descartes. Ambos possuíam uma noção de ciência inovadora e bem distante do conceito antigo, sendo conhecida como ciência moderna.

Para Descartes, o método cientifico deve ser orientado pela razão de maneira a superar as superstições, extremamente enraizados na Idade Média. Já para Bacon, o “olhar mais de perto” é a melhor maneira de descobrir-se ciência, já que é uma associação da razão com a realidade, o que pode ser considerado como experiência. Esses dois filósofos foram extremamente importantes para a ciência moderna, pois, a partir desse momento, nasce o conhecimento como neutro e guiado pela razão, sempre despedido de paixões e sentimentos.

O mais importante para a ciência moderna e para esses filósofos é o conceito de verdade, que só é feita, segundo eles, com a razão e a ciência. Dessa maneira, enquanto para Descartes o ensino tradicional e a filosofia clássico são decepcionantes por nãos buscarem a verdade, servindo apenas para contemplar as descobertas, para Bacon os filósofos gregos que, segundo o mesmo, “estão sempre prontos para tagarelar, mas são incapazes de gerar, pois, a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril de obras. Ou seja, eles se limitavam a apenas discutir e contemplar o mundo e não desejam ir a fundo de aprender novos conhecimentos. Além disso, para Bacon, a ciência deve ser útil de alguma maneira na relação do homem com o conhecimento e, caso não haja, a mesma é desmerecida.

Em meio a essa conjuntura, os conceitos básicos à razão cientifica, segundo Descartes, são até hoje utilizados. O primeiro dele é nunca aceitar algo como verdadeiro até que se conheça como tal claramente, evitando a pressa para acreditar como verdade e sempre se utilizando da prevenção. O segundo, é repartir as dificuldades, de maneira a raciocinar-se cobre a melhor forma de solucionar a discussão. A terceira é direcionar os pensamentos por ordem de simplicidade, colocando a frente sempre os de mais fáceis solução e, por último, os mais complexos. Por fim, o quarto, é efetuar as relações metódicas completas e revisar de maneira a ter certeza de que não houve omissão de algo.

Também de acordo com Bacon, o conhecimento não pode ser levado pela corrupção da mente, devendo se livrar de ídolos e do senso comum. E é aí que entra a maior dificuldade do homem moderno. Nos prendemos a esses conceitos como se fossem verdades e conhecimentos eternos, ignorando totalmente a racionalidade. Mesmo com o método todo examinado, classificado e explicado pelos filósofos, e citados anteriormente, nós humanos não conseguimos nos livrar desses vícios.

O homem é conhecido por ser o único animal racional. Dessa maneira, aprendemos a nos comunicar, construir ferramentas que facilitassem o nosso dia-a-dia e evoluímos nos conhecimentos e as tecnologias até chegarmos ao hoje. No entanto, uma característica única e marcante nossa é a facilidade com que nos deixamos levar pela comodidade, explorada desde de Sócrates com o mito da caverna. O mito, conhecido universalmente pela inovação no olhar para com o homem e na sua modernidade apesar de ter sido escrito a muitos séculos, é um exemplo do vício do homem ao senso comum e `a idolatria. Buscamos nos eventos familiares maneiras de nos conformarmos com o mundo e seus acontecimentos, sem que haja questionamento. Já a idolatria, é uma forma de manipulação por falsas percepções, podendo ser bem observada nas torcidas de times de futebol, nos sentimentos humanos, nas pessoas e, até, pela religião.

Perante toda a analise já feita, percebe-se que o homem, apesar de mostrar-se extremamente persistente na busca pela verdade, com o método cientifico e todas as suas regras, também é um ser fraco e cômodo, esperando que a verdade que melhor lhe convenha cai ao seu colo. Diante disso, é necessário buscar ao máximo livrar-se desses vícios que nos impedem de sermos plenamente racionais e de buscarmos as verdades legitimas. Só assim, o homem irá obter progresso.

Luísa Lisbôa Guedes, 1º ano Direito Diurno



Equilíbrio necessário em tempos fundamentalmente racionalizados.

Considerando-se que, atualmente, posicionamentos feitos com certo rigor na maioria das vezes abarcam mais concordância geral frente àqueles cuja rijeza não se faz valer, é possível abrir questionamentos acerca da utilização da razão e sua metamorfose conseguinte.
Seja em discursos políticos, opiniões sobre causas sociais ou até econômicas, tal transformação utiliza-se de elementos permeados por radicalismos e preconceitos, de modo que a razão, antes tida como elemento precursor para a quebra com a opinião simplória e não embasada, como afirmaram Descartes e Bacon, torna-se nada mais que um achismo travestido com suposto cientificismo.  
Faz-se, então, valer a opinião, que concorre para interromper e extinguir as investigações, repetindo falhas passadas, apontadas por Bacon como presentes na dialética; em nada modificando o andamento das coisas, mais servindo para firmar os erros do que para descerrar a verdade. 
Contudo, uma ruptura radical com o que nos foi ensinado despindo seu valor não se mostra solução cabível, embora o mau uso das mais variadas ciências para incutir chavões preconceituosos sugere que o façamos. Sendo assim, há o impasse entre a confiança cega nas ciências como instrumentos libertadores e sua idolatria, contra sua descrença e anseio por algo realmente novo.
Talvez a palavra adequada seja o equilíbrio entre os caminhos. Não que haja medida ideal para o uso da razão, ou então limite ou impedimento para sua presença, mas sim uma maior reflexão acerca de sua importância, não reduzindo-a a mera ferramenta justificativa utilizada como sustentáculo de posicionamentos pessoais, por vezes até egoístas.
Também há de se questionar uma separação brusca sugerida por Bacon, de que haja, finalmente, dois métodos: um destinado ao cultivo das ciências, motivado pela impaciência ou insegurança em compreender mais profundamente o outro método: o da  descoberta científica, sem o uso das descobertas já feitas. Afinal, descobertas já feitas têm sua importância, não cabendo aos atuais excluí-la ou ignorá-las, mas sim se preocuparem com a vitória sobre as grandes questões motrizes da humanidade, secundarizando caprichos pautados em discussões vencidas graças a - parafraseando Francis Bacon - opiniões elegantes e prováveis, de modo que ocupem-se em conhecer a verdade de forma clara e manifesta.


Rúbia Bragança Pimenta Arouca
1º ano Direito diurno

ANÁLISE DOS FUNDAMENTOS DA AÇÃO HUMANA MODERNA

     Ao se fazer uma abordagem axiológica das distintas dimensões em que a pessoa humana se insere hodiernamente prevalece com notoriedade as noções em prol da racionalidade e logicidade das ações humanas. Evidentemente, tal fator não é de se estranhar, dado que a racionalidade humana perfaz uma característica distintiva dos homens ante os demais seres vivos: não apenas a existência física como os vegetais, ou assomada a esta a existência sensitiva dos animais, mas também, a aptidão para possuir uma vida interior calcada no uso da razão. Ocorre, porém, que desde os princípios da sociedade moderna, alocada temporalmente no século XV pela Renascença e sua ulterior evolução pelo liberalismo, tornam-se presentes de modo indelével as demandas pelas fundamentações lógico-existenciais da ação humana. Este meio conjuntural tem, por óbvio, uma raiz histórica que se acha medianamente no ínterim aqui elencado atuando especialmente como principiadores basilares do racionalismo Francis Bacon e René Descartes, ambos bases epistemológicas da forte presença atual da racionalidade metódica.
      Inicialmente, tome-se Descartes como exemplo. Em seu “Discurso sobre o método” prepondera o princípio de que se faz necessário um processo metodológico racional para se alcançar a verdade de forma neutra e imparcial. Ora, esta premissa possui aspectos fortemente existentes nos Estados e sociedades contemporâneas, exemplo paradigmático é o Direito e sua práxis de ação. Desde o século XVIII tornou-se presente a ideia da necessidade da positivação do Direito para que se fizesse o seu uso legítimo; um dos principais juristas do século XX, Hans Kelsen, advogou essa tese gerando protótipos para as ciências jurídicas de numerosos países. Veja-se, portanto, que o juspositivismo engendrou uma ideia de ordenamento jurídico que, no Ocidente, só não se faz presente no Reino Unido e países por ele colonizados, claro, cada qual com suas nuances com exemplo para os EUA que se desvencilharia, em parte, dessa situação adotando uma constituição escrita o que mostra a forte influência racionalista nesse país. Pode-se notar que prevalece a ideia de que a positivação da lei é aspecto fundamental para que se mantenha a lisura e higidez do ordenamento jurídico, em vista de sua racionalidade; deixando-se de lado outras fontes do Direito como princípios e costumes e fazendo do jusnaturalismo representante de uma via secundária do Direito moderno.
       Também Francis Bacon demonstra em Novo Organum, de modo inexorável, a primazia da racionalidade- termo aqui utilizado não em oposição ao empirismo de Bacon, mas correlato à acepção que “razão” vinha tendo desde o Renascimento, isto é, um sentido individualista e antropocêntrico-, levantando um enfoque crítico em torno de preconceitos sociais e individuais que se mostram como percalços para o método científico intervindo no processo epistemológico, ao que o autor denomina “ídolos”. Estes entes também podem ser identificáveis no âmbito fenomenológico atual, dado haver aqueles indivíduos, de certo modo, puristas, se assim pode-se chamá-los, que não aceitam absolutamente quaisquer interferências de opiniões pessoais, sentimentos e conjunturas outras que não as analisadas em determinada situação- tudo isto representaria os "ídolos". É patente, por exemplo, que na atualidade, vários estudos da macroeconomia a considerem de modo amplamente sistemático e racionalizado sem grande interferência da ação humana dentre outros fatores e, por conseguinte, assim sejam as práticas das nações que os adotem como base.
     São, por assim dizer, inúmeros os exemplos de como a própria conformação social e estatal se dá por meio dos princípios da razão como concebiam Bacon e Descartes. É de certa forma reflexiva a apreciação que se faz quando são analisadas as discussões acerca da necessidade, funcionalidade e justeza de certas situações embasadas, única e exclusivamente, no racionalismo sistemático. Deve-se cuidar para não cair no erro do vício que os próprios positivistas alcançariam ao transformar o racionalismo em uma religião e, mais ainda, as bases que esse racionalismo daria como justificação para genocídios tais quais o holocausto efetivado pelos nacional-socialistas. Por outro lado, é crível que o que mais importa para a aplicação dos princípios dos filósofos supracitados é o que o próprio Descartes elenca como basilar: faz-se necessário abrir-se à correção das próprias ideias e nunca limitar seu conhecimento à utilização dos mesmos métodos pré-definidos, ainda que sempre se deva levar em consideração o bom senso e o respeito aos que conhecem e seu arcabouço cognitivo que muito pode sempre acrescer a quaisquer indivíduos.

Gustavo de Oliveira- 1º ano noturno


Meritocracia à luz de Descartes e Bacon



         René Descartes e Francis Bacon são importantes nomes entre os pressupostos epistemológicos para a base do pensamento, encarados como essenciais para os pilares da Ciência Moderna. Reivindicam para o homem a interpretação do mundo e defendem uma ciência baseada no real, liberta de sentimentos e guiada pela conexão da razão com a experiência. Procura-se, assim, o pensar orientado pela observação e pela experiência, tendo como intuito uma ciência transformadora e capaz de mudar o mundo.
            Com base nessa concepção de ciência moderna da qual fazem parte Descartes e Bacon, observa-se a presença de discussões nas quais o simples posicionamento intuitivo desprovido de uma análise realística se mostra insuficiente. A meritocracia, nesse sentido, se traduz, à primeira vista, em uma forma tentadora de encarar a realidade social e econômica de um país. Por definição, trata-se de um sistema segundo o qual a sociedade é hierarquizada com base no mérito pessoal de cada indivíduo, ou seja, é o poder do mérito considerando apenas o desempenho e esforço individual como propulsores do sucesso. Com isso, a ideia de premiar aqueles que se “esforçarem mais” ou tiverem mais talento parece, na teoria, lógica e coerente. Isso, de acordo com os dois pensadores, seria uma consideração advinda da razão, que levaria a crer na adequação desse sistema à dinâmica da sociedade.
            No entanto, faz-se necessário analisar se de fato esse conceito pode ser aplicado na realidade. Nesse sentido, Descartes e Bacon defendiam um choque entre a razão e a experiência. Apesar de a meritocracia aparentemente ser lógica, no caso brasileiro esconde por trás de si uma complexidade que só pode ser compreendida ao conectar a razão com a realidade. Surge o questionamento se essa dinâmica representa de fato a realidade e se é possível afirmar que os indivíduos partem das mesmas oportunidades, o que é feito por meio da observação e experiência. Como disse Bacon, é preciso olhar o problema no país mais de perto, a fundo. Depreende-se da realidade brasileira uma falsa percepção da lógica do merecimento, que passa a ser questionável na medida em que não se pode pensar em um sistema baseado no mérito pessoal numa sociedade marcada pela extrema desigualdade e em que as condições não são as mesmas entre aqueles que almejam a realização pessoal. Bacon defende a teoria de que os ídolos são obstrutores do conhecimento e da verdade, são falsas percepções do mundo que impedem que a razão entre em choque com a observação da realidade de maneira a desvirtuar-se de princípios pessoais já consagrados. Descartes, nessa mesma linha, afirma que é preciso antes “vencer a si próprio” para depois encarar o mundo e transformá-lo.
            Torna-se claro, a exemplo da situação brasileira, que falar de meritocracia é desconsiderar que as pessoas não partem do mesmo lugar social e por isso não podem ser hierarquizadas exclusivamente com base no esforço individual. Afinal, uma série de questões devem ser levadas em conta para definir o sucesso de alguém, como a dificuldade em ter acesso a uma educação de qualidade, problemas familiares, falta de oportunidades, preconceito, dificuldades financeiras, entre outros. O discurso da meritocracia, de certa forma, desresponsabiliza o Estado e transfere a culpa do fracasso do indivíduo na sua falta de esforço pessoal. Um exemplo é a crítica dos defensores da meritocracia à implantação de ações afirmativas, como as cotas, na forma de reparação da desigualdade social e visando uma maior diversidade no acesso ao ensino superior público. Acreditar que todos partem do mesmo nível e que, portanto, deve-se considerar apenas o mérito individual de cada um na busca pelo ingresso na faculdade é ignorar a realidade social e histórica no Brasil que não permite que haja uma igualdade de oportunidades, além da herança escravocrata refletida nas dificuldades da população negra em se adaptar à sociedade.
            Conclui-se, assim, que é possível notar aplicações diretas de Descartes e Bacon, importantes nomes na formação da Ciência Moderna, em questões cotidianas. A necessidade de conciliar a razão com a experiência, defendida pelos pensadores, se traduz em exemplos práticos como a discussão sobre a meritocracia no Brasil. Quanto a esse sistema que defende o poder do mérito, torna-se claro que para que essa dinâmica de fato funcionasse seria necessário que a desigualdade entre ricos e pobres fosse reduzida, o que passaria pelo investimento público em educação de qualidade e programas de ajuda às camadas menos favorecidas. Isso seria o ponto de partida para considerar um discurso em que todos partissem da mesma condição visando o sucesso pessoal.
Gustavo Garutti Moreira – 1º ano Direito Matutino

O senso comum na atualidade

            O século XXI nos faz mergulhar em uma onda de novidades e mudanças na sociedade e no mundo como um todo. Questões que jamais foram debatidas, hoje estão presentes e ganhando força em várias esferas da nossa vida, tornando-se pautas essenciais para a constante evolução e desenvolvimento da humanidade e deixando cada vez mais de lado o senso comum. Os meios de comunicação têm papel fundamental na proliferação de informações benéficas, garantindo que a informação chegue a todos os tipos de grupos e classes e permitindo, assim, a manutenção do aprimoramento da vida humana em sociedade.
            No que diz respeito ao maior entendimento sobre o mundo e todas as coisas que o rodeiam, René Descartes e Francis Bacon tiveram grande importância para uma nova interpretação de mundo, deixando de lado teorias mitológicas ou supersticiosas, e baseando-se na razão. Apesar das obras O Discurso do Método e Novum Organum possuírem origem no século XVII, as ideias propostas por seus autores ainda possuem influência na atualidade, apesar de terem passado por adaptações. Descartes inovou seus estudos utilizando a dúvida como princípio fundamental para tal, implicando a ideia de que sempre há algo a se descobrir, que nada é totalmente certo; além disso, com suas viagens pelo mundo, deixa clara a necessidade de se conhecer de perto certas experiências que livros não podem dar. Isso ainda é muito atual, uma vez que ainda há a necessidade de adaptação, mudança e maior conhecimento acerca de vários povos, culturas, costumes e situações cotidianas da vida.
            Além das ideias cartesianas, podemos relacionar Bacon com os tempos modernos de acordo com sua ideia sobre ídolos. Hoje ainda é muito comum encontrar pessoas com ideais conservadores devido aos seus ídolos, como a Igreja; essas pessoas ficam presas a determinados ideais e são incapazes de mudar conforme tudo em volta muda. Bons exemplos são a permanência da homofobia, da submissão feminina, da criminalização do aborto, que estão entrelaçados com discursos religiosos que impedem que seus seguidores abram a mente e percebam que o cenário fora da sua “caverna” é muito mais complexo.

            Podemos, então, traçar relações das obras de René Descartes e Francis Bacon com o cenário moderno. Atualmente, necessitamos que a sociedade saia do senso comum e busque expandir seu conhecimento acerca de determinados assuntos, assim como defendem os dois filósofos citados, além da necessidade de levantar questionamentos e promover mudanças. 

Kelly Akemi Isikawa - 1º Ano Direito/Diurno