A sociedade tem sua harmonia garantida
por normas que orientam o bom convívio social, tendo os Direitos Fundamentais
como seu principal norteador. Infelizmente, por mais que em tese os direitos
sociais deveriam se sobressair entre os homens, muitas vezes tais são
profundamente desrespeitados, contando até mesmo com a aceitação tranquila deste
desrespeito pela população, ocasionando em sua cristalização e assim o mantendo
entre os parâmetros sociais vistos com normalidade pelo povo. A verdade é que,
em um sistema capitalista como o atual, os direitos liberais são muito mais
visados do que os sociais nesse mundo tão competitivo pela busca pelo lucro.
Como exemplo, é possível citar “O Caso do Pinheirinho” ocorrido em 2012 em São
José dos Campos, consistindo na desocupação violenta do bairro Pinheirinho residido
irregularmente por mais de 300 famílias desde 2004 para reintegrar a posse da
massa falida Selecta SA, a qual havia abandonado o terreno há mais de 20 anos.
Portanto, com a racionalização do mundo social muito bem observada por Weber,
os homens passaram a valorizar muito mais o capital circulante do que a própria
empatia humana, trazendo grande preocupação ao bom convívio social.
“O Caso
do Pinheirinho” foi alvo até de mídias internacionais por seu tamanho impacto. O
pior de tudo é ter ocorrido tantas atrocidades chocantes cometidas pelos
policiais militares apoiadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e o Governo
Estadual com suposta justificativa no Direito. É válido ressaltar que embora
haja um direito de propriedade da empresa por tal terreno do bairro Pinheirinho,
também há, entre os direitos humanos universais, o direito à moradia, o que
garante a necessidade de estabelecimento das famílias sem teto por parte do
Estado. Além do mais, toda propriedade precisa exercer uma função social, de
acordo com a lei, podendo sim ser desapropriada pelo Poder Público e, no caso
em questão, a terra estava abandonada há mais de 20 anos pela Selecta,
agravando a situação após esta ter falido. Assim, de qualquer maneira, por mais
irregular que tenha sido a ocupação, as famílias contaram com apoio do Poder Federal
e tinham seu direito de moradia se sobressaindo pelo fato da propriedade estar
em desuso pelo proprietário, sendo uma manipulação de poder legitimar uma
liminar da empresa pela reintegração de posse e mais absurdo ainda a forma como
os ocupantes foram expulsos do local. Não há nada mais primordial que o
respeito aos Direitos Humanos.
Infelizmente,
em uma sociedade capitalista onde o dinheiro acaba norteando muito mais as relações
do que a empatia humana, quem possui mais bens, tem mais privilégios e mais
influência nas questões de poder, sendo a igualdade jurídica entre todos os
cidadãos uma mera ilusão. Como muito bem encaixado no pensamento de Weber, a
democracia não passa de um Tipo Ideal, sendo somente um parâmetro maravilhoso,
em teoria, que norteia os fenômenos sociais, todavia, jamais plenamente
alcançado.
Logo, “O
Caso do Pinheirinho” não passou de um explícito exemplo de que o mundo não é
feito de uma justiça equivalente entre os homens, mas sim, de uma justiça
ponderada pelo dinheiro, a base de todo o sistema capitalista. Acaba sendo priorizado
pelos próprios entes do Poder Judiciário e pelo aparato coercitivo lutar na contramão
pelos direitos dos privilegiados, mesmo que quase esmagados democraticamente
pelos direitos dos despossuídos, só para, assim, manter a ordem e o prestígio
do lado mais forte da sociedade. As relações de justiça nunca foram horizontais.