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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Quiroga lifestyle


Rafael estava ansioso com o seu novo emprego em um renomado escritório de advocacia, chamado de Quiroga. Em seu primeiro dia de trabalho, vestiu o seu terno cinza e simples, entrou em seu carro “popular” e foi trabalhar. Na entrada do Quiroga, percebeu que havia algo errado, quando foi questionado pelo porteiro se ele realmente era funcionário do escritório. Adentrando em sua sala percebeu olhares de desdém dos demais advogados, não se atentando a esses fenômenos, foi direto ao Fórum onde seu chefe disse por e-mail que ele teria uma audiência.
            Chegando ao Fórum os mesmos fenômenos estranhos se repetiram, quando se identificou como funcionário do Quiroga o porteiro o questionou se era funcionário mesmo. E todos os demais tramites foram custosos, até que alguém do Fórum, desconfiado e incomodado, ligou para o dono do escritório que achou melhor enviar outro advogado com mais tempo de casa.
            No escritório de advocacia Rafael estava atônito. Respondia para seu chefe, que sempre havia trabalhado dessa maneira e nunca houve nenhum problema parecido com esse. Seu chefe explicou, pacientemente, que agora Rafael era um Quiroga, tinha que se vestir como um Quiroga, tinha que ser um Quiroga, tinha que viver como um Quiroga. Entregou a ele uma série de instruções denominadas de Quiroga lifestyle. As instruções iam desde o terno, que teria que ser Armani, os sapatos, a gravata e até mesmo o carro que não poderia mais ser popular e nem médio. Rafael ficou surpreso com tudo, mas achou melhor seguir as orientações. Foi ao shopping, comprou todo o vestuário seguindo as instruções à risca, utilizou toda sua poupança para financiar uma Mercedes e foi para casa.
            No dia seguinte, ainda abalado e receoso com todos os acontecimentos do dia anterior, saiu de casa e foi ao Quiroga advogados, a recepção foi diferente logo na entrada, onde o porteiro deu bom dia a ele, e o atendeu melhor. No elevador todos o cumprimentaram e até puxaram assunto com ele. Chegando no escritório verificou que defenderia Grespan, seu professor de sociologia na faculdade, que estava sendo processado, acusado de doutrinação, crime tipificado graças ao projeto escola sem partido.
            Chegando ao Fórum, tudo foi diferente. O porteiro o tratou bem e até o juiz mudou o tratamento em relação a ele. Enquanto conversava com seu professor, uma advogada foi retirada esperneando do Fórum enquanto gritava que a roupa dela não significava nada, que aquilo era um absurdo. Por um momento, Rafael a invejou pela capacidade de contestar e não aceitar essas regras superficiais, enquanto ele já havia sido “docializado”. Resolveu contar para o professor toda a sua experiência do dia anterior e tudo o que havia feito para se adequar e que agora ele era um Quiroga. Grespan, ouvindo tudo o que seu aluno dizia; vendo a satisfação em sua fala por estar trabalhando no Quiroga advogados; pensando na advogada que foi retirada esperneando; e lembrando do seu processo movido pelo escola sem partido, disse espantado: Durkheim ainda vive e como vive!!!

Ricardo da Silva Soares    Direito Noturno

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