Exemplo de "coerção" na sociedade moderna.
Nascemos geralmente num hospital. Nos alimentamos, fazemos
amizades, criamos nosso caráter. Observamos o mundo de modo a pensar que tudo é
de nossa própria natureza, de nosso próprio instinto, até porque o senso comum
diz que cada um constrói seu ser de acordo com as suas vontades e o que acha
que realmente lhes encaixa pertinentemente. Porém, será mesmo que tudo isso não
nos é imposto desde o momento que nascemos numa sala de cirurgia até o momento
em que somos enterrados em um terreno lotado de caixões?
Para responder essas perguntas utilizo o texto de Émile
Durkheim, Regras do Método Sociológico, especificamente
o capítulo primeiro, no qual o autor discorre sobre quais são as possíveis
definições de “fato social”. Assim, este se faz observável através de coerções
externas, ou seja, de sanções que a sociedade impõe aos indivíduos desde que
estes passam a existir no mundo material, pois não é de nossa cultura ou hábito,
chamarmos parteiras ou deixar o próprio filho nascer dentro de casa.
Outro exemplo que podemos utilizar para responder à pergunta
acima exposta é a educação, também citada por Durkheim. Ela nos é apresentada -
se analisada e observada criticamente - como uma forma de imposição que se não
seguida corretamente segundo a concepção de nossos criadores (frequentemente
nossos pais e familiares, não obstante da sociedade) seremos seres avessos aos
bons costumes, à moral e à ética. Assim, como esses “costumes” já estão
arraigados nos moldes societários, não fugimos deles de modo algum.
A resistência é
uma palavra importante na “teoria sociológica durkheimiana”. Segundo o autor,
se ela é figurativizada por instituições contrárias ao capitalismo, por
exemplo, o indivíduo é controlado pelo todo, e, assim, ele não consegue emitir
suas vontades, opiniões e engajamentos. Mesmo que o indivíduo consiga resistir
ao status quo, por exemplo, ele
necessita lutar contra ele. Em outras palavras, se o ser humano quer se
defender contra os tentáculos do capitalismo, ele não consegue fugir
completamente, pois aquele é extremamente abrangente, de modo que tudo esteja
relacionado e “contaminado” pelo sistema capitalista.
Portanto, percebe-se, após todo esse pensamento acerca do “método”
de Durkheim, um pequeno erro: o de que nem tudo é coercitivo, mas sim foram um
resultado de um desenvolvimento social, econômico e cultural das sociedades,
sejam elas primitivas ou não. Mesmo sendo uma conclusão ousada do autor, ela é
pertinente, pois é possível pensar no Direito, nas regras da sociedade, moral, ética,
etc. como maneiras imperativas. Porém, se visto de outro modo, tal
desenvolvimento abrange tudo o que encontra pela frente, possibilitando novos
modos de analisar e criticar o mundo.