No
Evangelho segundo Mateus, encontra-se um dos mais famigerados discursos de
Jesus, em que se pode sintetizar os princípios da doutrina cristã. Jesus toca
em diversas questões morais, dentre elas a relação do ser humano com a
propriedade: “não podeis servir a Deus e à riqueza” (Mt 6,24)
Séculos
mais tarde, o cristianismo se desenvolveu e encontrou diversas vertentes, como
a Igreja Católica Apostólica Romana, as Igrejas Ortodoxas e as Igrejas Protestantes.
O movimento protestante, em especial, desenvolveu-se justamente em um período
em que a ordem econômica europeia se reorganizava, ascendendo, em
concomitância, o capitalismo e o protestantismo.
Seja
por resposta ao Ancien Régime, seja para se adequar à modernidade capitalista,
Max Weber reflete sobre a forma como a ética protestante se desprendeu da rede
dogmática religiosa e se disseminou pelo mundo alcançando dimensões universais.
O
espírito acumulador do homem não é recente e nem é a primeira vez que deturpa a
religião, em especial a cristã que o condena. A história da traição de Cristo
por Judas é a história de um Deus traído por dinheiro. O protestantismo surge,
justamente, em resposta ao comportamento mundano e materialista da Igreja
Romana. O que o capitalismo traz de novo a ser sustentado pela ética
protestante é o empreendedorismo: o acúmulo do lucro para ser reaplicado a
gerar nova riqueza.
Esse
espírito empreendedor que valoriza o trabalho e a prosperidade é um dos pilares
do movimento protestante e foi responsável, não sozinho, pelo desenvolvimento
de nações eminentemente protestantes, como os Estados Unidos da América.
Conscientemente ou não, no mundo hodierno a valorização da prosperidade corre
no sangue de praticamente todo ser humano. Fieis recorrem às igrejas e templos
para que Deus lhes prova não apenas o pão cotidiano, mas o capital para uma panificadora
transnacional. E o protestante, o católico e o ortodoxo, o budista e o hinduísta,
o judeu, o muçulmano e o ateu, todos servem, enfim, a um só senhor.