Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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terça-feira, 26 de março de 2024
Furar fila é o reflexo do país
“Ordem e progresso” e a família tradicional brasileira: o positivismo estrutural no Brasil
A
atual bandeira da República Federativa do Brasil foi implantada em 19 de
novembro de 1889, logo após a Proclamação da República, e é considerada um símbolo
nacional. Tal bandeira se destaca pela frase “Ordem e Progresso”, inspirada nos
ideais positivistas de Auguste Comte. O sociólogo defendia em sua “física
social” que o progresso constituiria uma das condições essenciais da
civilização moderna, e que esse dependia exclusivamente da ordem para se
concretizar, como expresso no lema “Amor por princípio e a Ordem por base; o
Progresso por fim”.
Dessa
forma, a bandeira brasileira e o seu lema positivista – que preza pelo
progresso contínuo da humanidade - acabaram por ditar determinados padrões na
sociedade, estabelecidos desde o século XIX, e que se desenvolviam antes mesmo
do momento do auge da corrente filosófica positivista e da criação da bandeira
nacional. A ordem, que fundamenta a ideia positivista de progresso, se traduz
na sociedade brasileira no conservadorismo ou até na passividade dos cidadãos
frente a questões políticas e sociais; e na repressão estatal histórica de
movimentos abolicionistas, operários, estudantis, feministas, entre outros,
pela violência; de modo que os movimentos sociais eram e ainda são, muitas
vezes, vistos como perturbações à ordem do país e, portanto, ao seu progresso.
Como ironizou Lima Barreto quando a República brasileira nasce sem qualquer
participação popular direta: “O Brasil não tem povo, tem público”.
Assim,
no positivismo, defende-se a supremacia da sociedade em relação ao indivíduo,
de modo que a ideia de felicidade estaria indubitavelmente relacionada ao bem
público. Este, por sua vez, seria atingido através de uma harmonia social,
proveniente do cumprimento do papel social determinado pela moral, ou seja, da
aceitação dos “lugares sociais” e dos seus papéis. Portanto, o ideário popular
de progresso está fundamentado na manutenção da ordem generalizada no país, nos
campos social, político, econômico, religioso, entre outros; o que propiciou a
exaltação da extrema direita, conservadora, em diversos momentos da história do
país, como no governo de Jair Bolsonaro.
Sob
uma premissa de louvor ao progresso, os conservadores negam novas estruturas
sociais que surgem justamente com a evolução da sociedade e com a época
contemporânea. Nesse aspecto, uma aspiração do governo anteriormente citado era
a conservação da “família tradicional brasileira”, formada essencialmente por
um casal heterossexual, unidos por matrimônio, pai e mãe de um ou mais filhos,
como a representação fundamental de um padrão de núcleo familiar “estável”,
“normal”, pautado nos valores católicos, no patriarcalismo e na monogamia, que
seria supostamente capaz de garantir a ordem, o progresso e a felicidade social
no Brasil, nos moldes positivistas. Tais conservadores, até nos tempos atuais,
insistem em difundir o ódio e o preconceito para com casais homossexuais,
poligâmicos e tantas outras formas de relacionamentos e identificação pessoal, e
não os aceitam como uma representação, também, de humanidade, de amor e de família.
Contudo,
apesar de princípios positivistas ditarem grande parte do Brasil e serem
difundidos e venerados por inúmeros cidadãos, destacam-se, na atualidade,
principalmente, movimentos pela justiça, liberdade e pelo respeito às
diferenças sexuais, de gênero, étnicas, religiosas, dentre outras, ressaltando
que essas não são e jamais foram uma perturbação à ordem social e ao progresso
da nossa nação.
Luísa Rosenburg Mendes, 1°
ano, Direito Matutino, RA: 241222842
Mills e o racismo contemporâneo
Na temporada 2022/2023 do futebol europeu, as notícias de jornais foram inundadas com matérias relacionadas ao futebol e racismo, com destaque para o jogador brasileiro do Real Madrid, Vinícius Junior. Os jogadores, por sua vez, se expressaram contra as agressões verbais vindas das arquibancadas usando da frase de Haile Selassie “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos, haverá guerra.”. O principal time acusado dos atos racistas (Sevilla) foi multado em 5 mil euros e conduziu a expulsão de um torcedor, pena um tanto quanto leve para a escala que os acontecimentos tomaram e suas repercussões.
Esse triste episódio de racismo pode ser interpretado pela visão sociológica de Charles Wright Mills, na sua visão, tudo o que o homem pensa e procura fazer está limitado pela esfera na qual se encontra dentro da sociedade a qual pertence. Dentro do contexto analisado, os torcedores espanhóis, que foram os autores das falas racistas, foram influenciados por essa teoria do comportamento social. Decerto, nem todos os torcedores concordam com essa projeção de ódio, mas é fato que o pensamento individual ganha força ao se incluir em grandes massas.Ademais, deve-se levar em consideração o racismo estrutural vigente na atualidade, o qual é passado de geração em geração desde o período colonial. Da mesma forma que as esferas sociais impactam na forma de agir do indivíduo, essa também atravessa o tempo, sendo que essa cultura é transmitida pela família e meio social, mesmo que não propositalmente, ou seja, por meio de ações que são reproduzidas pela próxima geração.
Portanto, a fim de que o racismo cesse em escala mundial, as mais diversas bolhas da sociedade precisam ser reformadas. Assim, da mesma forma que o racismo penetrou na sociedade contemporânea de forma intensa, ele será, gradualmente, mitigado.