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terça-feira, 18 de março de 2025

 A imaginação sociológica e o crescimento da extrema direita na política mundial

Ao longo dos séculos, diversos conceitos foram criados para a democracia, entre eles a divisão política em direita e esquerda. Esses termos surgiram a partir da disposição dos membros do Parlamento francês, após a Revolução Francesa. Naquela época, os conservadores se sentavam à direita e os liberais à esquerda. Com o tempo, na contemporaneidade, surgiram grupos classificados como extrema direita, originados de ideais violentos, preconceituosos e excludentes, os quais se destacaram principalmente na Alemanha e na Itália entre 1930 e 1945, devido ao nazifascismo.

No entanto, mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial, ficou claro que a extrema direita não foi completamente erradicada. A presença de grupos integralistas no Brasil e das ditaduras civis e militares na América do Sul evidenciam isso. Mesmo após mais de 40 anos do fim dessas ditaduras, ideais extremistas ainda persistem no cenário político contemporâneo. Esse fenômeno pode ser explicado por Charles Wright Mills, em seu livro A Imaginação Sociológica, onde o autor busca apresentar uma visão ampliada dos problemas sociais, considerando os fatores econômicos, culturais e sociais de forma integral.

O crescimento da extrema direita no cenário político atual, visível em países como os Estados Unidos, Argentina, Brasil e Itália, decorre de um processo que fragiliza o senso crítico da população, transformando-a em uma massa manipulável que segue os interesses da elite que apoia a extrema direita. Isso se torna ainda mais evidente com a aproximação de CEOs de grandes empresas, como as big techs (Meta, TikTok, X), com Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos e um dos maiores representantes da extrema direita no mundo. Trump, por sua vez, também propõe medidas extremamente prejudiciais para as minorias e imigrantes em seu país.

Portanto, ao analisar sociologicamente esse crescimento, é possível perceber como a aliança entre a extrema direita e as big techs facilita a alienação da população, tornando-a suscetível a apoiar a volta de políticos extremistas, acreditando que esses líderes podem "salvar" a sociedade de ameaças externas e internas.

Mateus Penteado de Paula (1° ano direito noturno)

A consciência acerca do panorama inteiro

     A sociedade moderna vive em constante fluxo e, consequentemente, os modos de vida são alterados e suprimidos em ritmo frenético, criando novos padrões. Assim, essa mudança sucessiva perpetua a tendência humana de não conscientizar-se acerca dos fatores que o influenciaram a tomar tal lugar na sociedade, ao passo que não buscam, também, questionar tais padrões sociais, que não só moldam o comportamento, mas também as relações interpessoais. 

Dessa forma, Charles Wright Mills, em sua obra “A Imaginação Sociológica”, percebe como essa questão afeta, também, a maneira em que as pessoas passam a apenas compreender e  a analisar um pequeno recorte em detrimento do entendimento completo acerca desse fenômeno. Contudo, não questionar a razão de atuar de certa maneira, favorece uma deturpação da compreensão dos fatores que atuam sobre os cidadão, de modo a ofuscar as problemáticas que afetam a vida cotidiana, julgando-as como algo particular ou isolado, quando, na realidade, são frutos de uma construção coletiva. Sendo assim, esse panorama pode ser exemplificado pela presença do racismo estrutural nas sociedades hodiernas, haja vista a ocorrência de situações as quais são analisadas sob um viés individual, todavia, representam um comportamento enraizado na atualidade.

Sendo assim, torna-se notória a maneira em que casos constantemente considerados como singulares, constituem um padrão que continua sendo negligenciado por autoridades e por cidadãos. Logo, tal situação pode ser notada no caso ocorrido no Rio de Janeiro, em que um jornalista negro foi baleado quando transitava em um moto-taxi, isso porque foi confundido com um suposto suspeito de furto. Nessa via, é possível observar a maneira como essa suposição foi, não somente errônea, mas também, enviesada sob uma perspectiva preconceituosa. Portanto, não questionar e não buscar compreender causas e consequências de situações como a supracitada, suscetibiliza a sociedade a continuar reproduzindo certos padrões, além de colocar vidas em risco.


Em suma, retomando Mills, ao observar apenas uma pequena parte de uma problemática, sem perceber suas causas, suas consequências e seus desdobramentos, omite-se a estrutura que a origina, propiciando a reverberação do ciclo.


A crise do aumento nos casos de suicídio juvenil sob a óptica da imaginação sociológica de Mills.

 

   Percebe-se, no século XXI, um aumento significativo nas taxas de suicídio entre os jovens, sendo hoje a segunda maior causa de morte na faixa etária de 15 a 29 anos, um problema sempre tratado a partir de pontos de vista individuais, os quais colocam a questão unicamente na esfera privada da vida do suicida, esquecendo-se dos problemas que permeiam a contemporaneidade em geral e que atingem a juventude de forma a levá-los a desistir dessa vida tão complexa que é cobrada nos tempos atuais.


   Charles Wright Mills, sociólogo americano do século XX, publicou em 1959 seu livro A imaginação sociológica, no qual trata da necessidade de se produzir um pensamento mais amplo sobre os problemas, ou seja, observar os fatores culturais, sociais e econômicos para criar, parafraseando o autor, uma fusão de biografia e história na percepção dos problemas.

   O suicídio de um jovem é uma tragédia imensurável, o de milhares de jovens é um indício de um problema em escala global.


   A imaginação sociológica aplicada no conceito deste ensaio se mostra fundamental, pois esse aumento de casos provavelmente decorre das condições do mundo onde os jovens estão expostos, com as redes sociais podendo ser um dos principais fatores, com "pessoas perfeitas" mostrando apenas o lado bom de suas vidas e demonstrando que "conquistaram tudo por mérito", gerando uma autocobrança e uma autossabotagem imensa na maioria dos jovens, que se sentem frustrados por não possuírem o mesmo padrão de vida e acreditam ser desprovidos dessas vivências devido ao próprio ócio frente às "oportunidades" (não são herdeiros).


   Portanto, é de suma importância o estudo sociológico no combate ao triste aumento do suicídio juvenil, trazendo à tona fatores além da bolha social e familiar do indivíduo, como a desigualdade social, a alienação e a massificação do conteúdo digital, mostrando à juventude brasileira que grande parte de seus problemas decorre do impacto de desigualdades estruturais em nível coletivo no nosso país, e que a noção popular sobre a força motriz de suas ações pode, sim, em conjunto, mudar o curso de nossa sociedade.

Eduardo Cavalcante Seghese Neto - 1º Direito noturno

O direito de existir

Os direitos da comunidade LGBTQIA+ parecem estar em maior vigor nos tempos atuais. Entretanto, isso se mostra como uma falácia ao se analisar a sua realidade de sobrevivência, porque é isso, eles sobrevivem para viver. 

No documentário “Paris is burning”, ambientado no final dos anos 80 e em Nova York, é mostrado a maneira que homens gays e pessoas transsexuais, em sua maioria pessoas pretas, encontraram para se expressar e conseguir sobreviver: através dos chamados bailes. Com reuniões diárias e diversos tipos de categorias, eles expressavam sua criatividade e arte, algo que não poderiam fazer à luz da sociedade branca heterossexual americana, já que isso poderia comprometer sua segurança e suas vidas. Inclusive, uma dessas categorias era chamada de “realness”, em que os participantes teriam que se vestir e agir de maneira que não fosse possível identificar que eles não eram heterossexuais, algo dito pelos organizadores do evento como algo que qualquer pessoa queer deveria ter o dom de realizar. Muitos dos indivíduos que frequentavam esses bailes foram expulsos de suas casas e famílias por serem quem eles são e não possuíam um lar ou qualquer garantia de alimentação ou conforto, tendo o evento como a única coisa que os permitisse verdadeiramente desfrutar deles mesmos. 

A perseguição e a insegurança da existência desse grupo persiste até hoje, mesmo depois da conquista de alguns direitos através de muita luta. Um exemplo muito claro é a nova política “anti woke” estadunidense, em que documentações de pessoas trans foram alteradas para mostrar seu sexo biológico, como foi o caso da atriz Hunter Schafer, que gravou um vídeo com indignação e medo ao seu passaporte ser alterado pelo governo americano. Além disso ser uma violação direta e grave contra esse grupo, esse ato os expõe a uma maior chance de ataques e uma onda de terror. No Brasil, o número de assassinatos do público LGBTQIA+ é um dos maiores do mundo, fato que confirma a brutalidade da homofobia atualmente, mesmo com mudanças de comportamento em relação ao passado. 

Em tempos como esse, possuir o que Wright Mills chama de imaginação sociológica é essencial para compreender a realidade e fomentar a empatia nas pessoas. Essa prática ajuda os indivíduos a entender todo o cenário histórico e o que vive de maneira mais ampla, enxergando como aquilo pode afetar a sua vida pessoal e a do próximo. 

Dessa forma, quem sabe seja possível que todas as pessoas consigam realizar o direito de existir e viver, e não somente sobreviver em meio a tantas violências. 


Giovanna Garboci Siqueira dos Santos (primeiro ano Direito noturno)


Desconectados da Própria Consciência

 

A inconsciência lidera a trajetória humana,

Tal como a injustiça, a barbárie, a parcialidade.

Há quem se considere os olhos da verdade,

Quando aquilo que se manifesta é mais um ato de uma mente insana.

 

Uma mente restrita e limitada apenas à própria órbita,

Um pensamento privilegiado e distante do que as coisas verdadeiramente são.

O senso crítico é, hoje, uma pura distorção,

Não há mais homem que enxergue a imaginação sociológica como uma prática a ser seguida.

 

Nos alertou C. Wright Mills

Sobre a incompreensão da realidade ser a causa para um mundo perdido e desconexo.

Diferentes facetas da sociedade devem superar um sistema sujo e complexo.

Precisa-se interpretar além do que é simplesmente visto.

 

É necessário intervir, é necessário crescer.

As perturbações pessoais não devem ditar as soluções das questões públicas,

Mas a elucidação é a verdadeira luz da equidade.

A compreensão é o caminho para a liberdade.



1° ano de direito (noturno)

Imaginação Sociológica e o retorno do Autoritarismo na sociedade contemporânea

    A imaginação sociológica, conceito elaborado por C. Wright Mills, corresponde à uma ferramenta essencial no que tange a análise e compreensão acerca das interconexões entre o indivíduo e o meio em que vive - sociedade. Sob essa ótica, a identificação de que questões individuais podem (e são) reflexos de conjunturas estruturais, a imaginação sociológica nos propõe a ampliar nossa capacidade de análise, compreendendo  as escolhas pessoais bem como a influência de aspectos coletivos nesta. Assim, corresponde não só a uma prática intelectual e filosófica, como nos instiga a refletir criticamente acerca da sociedade contemporânea em que estamos inseridos.

    A prerrogativa do pensamento sociológico, segundo Mills, nos exige a compreensão de que problemas e perturbações pessoais, como o desemprego, encontram-se intimamente ligados, por profundas raízes históricas, à questões de caráter público. Essa abordagem rompe com nossa visão deturpada e fragmentada de realidade ao nos posicionar enquanto parte de um todo, mas que também se altera ou se transforma devido ao mesmo. Assim, tal imaginação também se encarrega de questionar as hierarquias e relações de poder que moldam a atual sociedade, bem como as narrativas excludentes e opressoras que, compreendendo a história enquanto processo cíclico, tendem a surgir e serem mitigadas ao longo do tempo. É nessa prerrogativa que, na contemporaneidade, observamos a importância da imaginação sociológica e os impactos negativos que a ausência desta promovem: a crescente onda de ideais fascistas circulando no atual cenário global.

    Deste modo, nota-se a imaginação sociológica como uma lente vital para analisar tal fenômeno no Brasil e no mundo como sendo, indubitavelmente, resultado de processos históricos e estruturais que influenciaram e ainda influenciam no comportamento e opiniões coletivas. A expansão de discursos autoritários, ultra nacionalistas, carregados de ufanismo e, sobretudo, excludentes encontram-se relacionados diretamente à um legado que, evidentemente, não se encerrou com a redenção alemã aos Aliados ou alteração do cenário político italiano em 1947. A realidade é que tais pensamentos nunca foram diretamente confrontados, e o arranque do caule nazi-fascista não trouxe consigo suas raízes, que, em uma terra fértil e adubada pelo incentivo à desinformação e alienação, rapidamente florescem nas épocas certas.


    Discursos que apelam para o medo e a nostalgia de um passado idealizado tornam-se mais influentes em tempos de instabilidade política e econômica. Assim, o que, a princípio, se tratam de percepções individuais - como a crença em regimes autoritários e a adoção de práticas discriminatórias - correspondem, na realidade, à mazelas estruturais da sociedade que favorecem a exclusão de grupos minoritários bem como a disseminação de discursos de ódio contra tais. Assim, a imaginação sociológica atua, neste contexto, enquanto uma abordagem crítica para compreensão das raízes desses processos, contribuindo para que se possa identificar os caminhos para o enfrentamento deste entrave, mediante fortalecimento das estruturas democráticas e incentivo ao pensamento crítico, focando na resolução estrutural do problema.



Pedro Augusto da Costa Leme - 1° ano - Direito - Matutino