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sábado, 17 de maio de 2025

Ideologia & Racismo & legitimidade

 

Max Weber, sociólogo alemão, abordou muitos conceitos, desde a definição de Estado Moderno que utilizamos hoje, formas de poder, além do principal a ser abordado aqui, a legitimidade. Weber destaca que o Estado possui o monopólio legitimo do uso da força. Essa legitimidade é conferida, principalmente, por meio da Constituição, na qual o povo, de certa forma, aceita ser dominado ou ceder essa legitimidade.

No livro Racismo Estrutural, de Silvio Almeida, mais especificamente no tocante ao capítulo Racismo e Ideologia, o autor aborda como a ideologia age de forma a normalizar o racismo estrutural na sociedade. Mas pensando por uma vertente  weberiana, o que confere a essa ideologia ou o que confere ao racismo legitimidade?

Antes de proceder, é preciso entender que legitimidade não possui relação com o que é justo ou certo, mas com a aceitação, poder só é exercido quando se aceita, quando se legitima o poder, se a dominação não é legitimada, não existe, uma pessoa só pode ser dominada quando ela torna legitima a dominação, sendo ela coagida a isso (seja pela força) ou não. Isso nos leva a seguinte questão, o racismo em nossa sociedade é legitimado. A partir do momento em que se torna “natural” os negros ocuparem apenas certos papeis no mundo, a sociedade está reforçando a legitimidade do racismo.

Nós, enquanto sociedade, falhamos a partir do momento que conferimos que essa estrutura social é minimamente normal, pois assim legitimamos sua existência. Entretanto, não basta deixar de ver como normal para que se retire sua legitimidade, é preciso de fato mudar essa visão, mudar essa ideologia e consequentemente, caminhar para mudar realmente a estrutura social.


Ulisses de Alencar Merli        Matutino 

A Relação de Poder com o Racismo Estrutural

 No capítulo “Raça e Racismo” do livro Racismo Estrutural, Silvio Almeida propõe uma ruptura com a visão tradicional que entende o racismo como mero preconceito individual. Ele o define como um mecanismo estrutural, que organiza as instituições e determina quem tem acesso a direitos e quem permanece à margem da cidadania. Nesse sentido, o racismo não é um acidente ou falha moral, mas sim uma forma de poder socialmente legitimada.

Essa perspectiva dialoga diretamente com a teoria de Max Weber, especialmente com sua concepção de poder como a possibilidade de se impor a própria vontade em uma relação social ainda que com contrariedades. O racismo, enquanto estrutura, institui uma relação assimétrica de poder, pois define quais grupos sociais têm sua vontade reconhecida e quais são sistematicamente excluídos dos espaços de decisão, recursos e proteção do Estado.

Almeida ainda nos mostra que, no Brasil, essa lógica atravessa o campo jurídico, acadêmico, econômico e político, fazendo com que as instituições atuem como instrumentos de manutenção da desigualdade racial. Ao mesmo tempo, Weber destaca que o poder só se sustenta quando é reconhecido como legítimo — e é exatamente essa legitimação que o racismo estrutural realiza ao se esconder sob discursos de neutralidade, meritocracia ou legalidade.

Portanto, a compreensão do funcionamento do racismo estrutural e de seus precedentes nos permite identificar como as relações raciais moldam a atuação do Direito e da sociedade brasileira. Deste modo, conclui-se que não é suficiente apenas aplicar normas sem a devida reflexão sobre o que as moldam e para qual fim seriam, sendo necessário interrogar aqueles que definem as regras, que se beneficiam delas, bem como quem, historicamente, tem suas vontades negligenciadas ou invisibilizadas.


Nicole S. Calabrezi - 1º ano - Matutino

 Racismo estrutural.

Em uma grande cidade brasileira, um rapaz, um jovem negro, formado em engenharia, decide se candidatar a uma vaga em uma prestigiada empresa de tecnologia. Desde pequeno, sempre ouvira de sua mãe que precisava se esforçar "duas vezes mais" para alcançar o que os outros conseguiam com metade do trabalho. Com um currículo exemplar, fluência em três idiomas e experiência internacional, o rapaz chega confiante à entrevista.

Do outro lado da mesa, o recrutador o recebe com um sorriso cordial, mas hesitante. Durante a conversa, faz perguntas sutis sobre “adaptação a ambientes corporativos formais” e comenta que o perfil dele seria “melhor aproveitado em setores mais dinâmicos e criativos”. Dias depois, o rapaz recebe a resposta: não foi selecionado. A vaga foi preenchida por um candidato com menos experiência e formação, mas com “perfil mais alinhado à cultura da empresa”.

Essa situação, embora pareça individual, é um reflexo do que Silvio Almeida chama de racismo estrutural. A ação do recrutador — segundo a teoria de Max Weber — é uma ação social orientada por valores e estigmas que, muitas vezes de forma inconsciente, guiam suas escolhas. Ele acredita estar apenas buscando alguém “adequado” à empresa, mas suas decisões são moldadas por um imaginário racial que associa competência, confiabilidade e liderança a perfis brancos. A exclusão do rapaz não resulta de um ódio declarado, mas de uma cadeia de ações sociais atravessadas por um sistema racializado. Assim, esta narrativa mostra como o racismo não precisa ser explícito para ser real e poderoso — ele vive nas estruturas e nos sentidos atribuídos às ações cotidianas.

 

Bruno Issamu Ishioka – Noturno.