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quinta-feira, 20 de março de 2025

A incessante busca pelo Pertencimento

 




A incessante busca pelo Pertencimento


    O documentário “Paris is Burning” retrata a realidade de diversos indivíduos da comunidade LGBT nos anos 1980 e os desafios que enfrentavam ao buscar um senso de pertencimento em uma sociedade excludente. Atualmente, essa realidade pouco se difere, visto que diversos grupos marginalizados ou "outsiders" continuam a enfrentar desafios sociais para conquistarem sua aceitação. Isso ocorre por diversos motivos, sendo um dos principais o fato de que o pertencimento é uma necessidade humana fundamental.

    A priori, todo indivíduo tende a se sentir desconfortável quando não pertence a um grupo. Isso porque, de acordo com Erik Erikson e sua teoria do desenvolvimento psicossocial, a busca por aceitação social começa na infância e influencia de maneira direta a construção da autoestima e da identidade. A integração em grupos sociais, portanto, é um fator determinante para o bem-estar psicológico dos indivíduos.

    Além disso, como observado em “Paris is Burning”, a marginalização dos “outsiders”, com frequência, os leva a criar espaços alternativos nos quais expressar sua identidade e encontrar apoio mútuo. Foi nesse contexto que surgiu a cultura do “ballroom”, um movimento que oferecia não apenas um espaço de celebração, mas também uma rede de suporte para aqueles que eram rejeitados pela sociedade. Esse fenômeno reforça a ideia de que o pertencimento não é um mero desejo, mas uma necessidade essencial para a construção da identidade e do bem-estar humano.

    Dessa maneira, a exclusão social desses grupos deixa em evidência o impacto que a falta do pertencimento gera nos indivíduos. Tanto antigamente quanto hoje, os marginalizados buscam meios de se inserir. Logo, para a construção de uma sociedade mais justa e acolhedora, é necessário reconhecer e promover a importância da inclusão e acolhimento de todos em sociedade.


O Epistemicídio como Desafio a Ser Enfrentado pela Sociedade da Razão

         Augusto Comte (1798 – 1857), considerado o “pai da Sociologia”, defende em suas principais obras a racionalização das ciências sociais. Para o autor, a “Física Social” deveria ser estudada com método e observação, tal qual as matérias biológicas e matemáticas.  

A proposta de Comte foi, de fato, concretizada. Atualmente, a sociedade em geral detém maior consciência a respeito de suas prioridades e defeitos graças à ascensão da Sociologia ao posto de ciência empírica. Entretanto, a modernidade enfrenta um estranho paradoxo: mesmo com a aparente evolução no campo da compreensão social, predominam ainda as antiquadas práticas de exclusão pautadas na cor da pele, em especial dentro do ambiente acadêmico 

A escritora portuguesa Grada Kilomba, no ensaio “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano”, se debruça sobre o poder de fala do colonizado dentro de uma estrutura dominada pelo colonizador: o negro, inserido em um contexto marcada e institucionalmente racista, se torna silencioso. Não porque não deseja falar, mas porque é forçadamente silenciado diante da violência sistemática imposta por um cenário acadêmico predominantemente branco.  

Nesse espaço, o conhecimento e a participação negros não encontram respaldo: através de uma educação implicitamente racista, na qual os estudantes têm pouco ou nenhum acesso à história da população preta, a versão europeia (ocidentalizada) dos fatos persiste na dominância. Além disso, o direito à educação perde seu caráter universal ao percebermos a predominância de brancos nos espaços de conhecimento. Essa conjuntura, conhecida como “epistemicídio”, nos indica que não há um sistema educacional contemporâneo inteiramente neutro: os negros sofrem um preconceito estrutural dentro das instituições de ensino, o que determina uma desigualdade tanto no acesso ao conhecimento quanto na produção deste.  

Tomando como base o exposto, entende-se que a racionalização positivista de Comte não é sinônimo de progresso. Embora tenha avançado séculos com o estudo aprofundado das ciências sociais, o espaço acadêmico persiste repetindo padrões de preconceito institucionalizados nas épocas coloniais. Quanto mais a sociedade progrediu cientificamente, menos inclusiva pareceu se tornar.  

Tal perspectiva só poderia ser revertida por meio de mudanças profundas no sistema de ensino, fomentando o estudo crítico do racismo contemporâneo e ampliando o acesso de pessoas pretas aos ambientes de conhecimento, transformando-as em sujeito epistemológico. Todavia, esse longo caminho exige uma desconstrução de noções e atitudes historicamente reproduzidas, o que indica que a nossa jornada rumo à verdadeira evolução moral está apenas começando.  

Vitória Alvarenga Pistore - 1º ano - Direito (Matutino)

O paradoxo entre a falta de esperança e a confiança no individualismo.

Na contemporaneidade, a produtividade tóxica tem se tornado uma das principais pautas de discussão. Isso ocorre porque muitos jovens, influenciados por rotinas desgastantes divulgadas por influenciadores digitais, acreditam que a melhor e mais fácil forma de prosperar está na ideia de produção máxima – ou seja, realizar diversas funções em um único dia como um símbolo de honra. Dessa maneira, reproduzem uma perspectiva profundamente capitalista que coloca os indivíduos como meros trabalhadores de suas próprias vidas, privando-os de períodos de descanso necessários para reflexões críticas sobre o contexto social em que vivem, adotando uma postura puramente individualista voltada para a ascensão pessoal.

Apesar dessa alienação voltada à conquista individual, observa-se um intenso pessimismo coletivo. Essa visão negativa gera uma descrença na transformação social. Segundo pesquisa do Financial Times de 2024, o conservadorismo tem crescido entre a população jovem masculina em diversos países, refletindo uma mentalidade mais desiludida em relação a movimentos que envolvem questões públicas. Esse cenário contribui para a manutenção de uma estrutura ultrapassada e reacionária, que deixa as pessoas alienadas e apolíticas. 

Nesse contexto, é relevante considerar o pensamento do sociólogo americano Wright Mills, que discute a limitação do ser humano ao seu cenário imediato, sem conseguir acessar a “imaginação sociológica” necessária à compreensão do corpo social. Em outras palavras, ele não pratica a interpretação do espaço e do tempo em que está inserido, e tampouco reconhece sua própria capacidade transformadora. Como resultado, os cidadãos atuais se caracterizam por uma constante indiferença ao progresso coletivo, ao mesmo tempo em que se inquietam com as perturbações pessoais.

Ademais, as inúmeras desvantagens da falta de interesse pela história tornam-se evidentes em situações como a pandemia de coronavírus. O negacionismo científico e a negligência estatal resultaram na morte de milhares de pessoas ao redor do mundo, muitas das quais recusaram a imunização e priorizaram a economia em detrimento da saúde pública. Um exemplo histórico, como a Revolta da Vacina de 1904, mostrou que a desinformação foi determinante para a desconfiança na ciência e a propagação de doenças. Se lições do passado tivessem sido devidamente analisadas e o contexto de urgência sanitária interpretado corretamente, muitas mortes poderiam ter sido evitadas.

Portanto, a sociologia se apresenta como uma ciência essencial para o desenvolvimento e a sobrevivência humana. Quando o ser humano se foca exclusivamente em si mesmo ou preenche seu cotidiano com interesses pessoais, ele exclui a possibilidade de cultivar uma boa imaginação sociológica, o que o mantém preso a uma perspectiva sem esperança e conformista frente às injustiças e descasos sociais.


Nome: Camilly Isabele Mendes Agostinho

Turma: 1º ano Direito (Noturno)

A importância da imaginação sociológica como ferramenta anti-discriminatória na sociedade contemporânea, com enfoque na LGBTfobia

O conceito de “imaginação sociológica” abordado pelo sociólogo Wright C. Mills em sua obra “A Imaginação sociológica”, apesar de relativamente antigo, tendo em vista sua publicação em 1959, é instrumento indispensável para o entendimento das problemáticas do mundo atual, entre elas a discriminação por questões de identidade de gênero e orientação sexual, a chamada LGBTfobia.
O documentário “Paris is Burning”, lançado em 1991 e dirigido e escrito por Jennie Livingston, expõe as dificuldades enfrentadas pela população LGBTQIA+ nos anos 80, em Nova York, Estados Unidos, e a importância dos chamados ballrooms para a produção cultural da época e para a proteção dessa comunidade perante a uma sociedade extremamente violenta e preconceituosa.
Os chamados ballrooms eram espécies de salões de dança, onde eram realizados bailes. Nesses eventos, a comunidade queer e LGBTQIA+ se reunía para realizar desfiles com categorias específicas de figurino, batalhas de dança, e entretenimento, no geral. Jovens que haviam sido expulsos de casa muito cedo devido à não-aceitação dos pais eram acolhidos por artistas que participavam das casas de baile há mais tempo, formando uma grande família (cada casa tinha seu próprio sobrenome e sua “mother” (mãe) — a figura mais respeitada dentro do ballroom e a que cuidava de todos os integrantes).
Nesse período, a comunidade LGBTQIA+ sofria pela falta de acesso a direitos básicos, como alimentação, moradia, saúde, emprego, visto que homofobia e transfobia eram discriminações justificadas e legitimadas por organismos sociais e estatais. Porém, além de todo o estigma já carregado por pessoas trans e homens gays nessa época, o fato de a maior parte dessa comunidade ser negra e latina aprofundava a sua exclusão e marginalização perante ao restante da sociedade estadunidense, a qual era idealizada através de conceitos como o “Tio Sam” e o “Sonho Americano”. 
Por isso, como ressaltam os artistas participantes do documentário, o sonho da maioria dos jovens que participavam desses eventos era alcançar um patamar de fama, luxo e dinheiro para sair da situação em que viviam, o que enxergavam ser impossível, devido à sua origem e ao preconceito que sofriam. Os ballrooms eram locais onde podiam fantasiar uma realidade diferente, na qual seus sonhos eram possíveis e sua existência, permitida. 
Diante de todas as discriminações sofridas por essa comunidade, percebe-se que o conceito de imaginação sociológica proposta por Mills não era aplicado em nenhum âmbito de convivência social nesse período. A população geral sentia que seus valores individuais estavam ameaçados e “em crise”, pois observavam tudo o que era considerado “diferente” no contexto sócio-histórico em questão sob a ótica biográfica — ou seja, a partir de uma visão individualista e limitada pela consciência e vivência pessoal, sem a capacidade de enxergar também o lugar do outro e a sua presença na estrutura social, como explica Mills.

Com essa análise, conclui-se que a aplicação da imaginação sociológica é fundamental para a mudança da sociedade atual, visto que através dela é possível alcançar o entendimento de que discriminações como a LGBTfobia não são casos individuais, e sim, fenômenos sociais nos quais o preconceito se enraiza e fortifica.


Maria Vitória Silva

1º ano - Direito (Noturno)


A Maratona do Café e o Desafio de Ser Feliz

 Ontem, decidi fazer algo muito ousado: tomar um café sem meu celular. Isso mesmo, sem rolar o feed do Instagram, sem responder ao WhatsApp, sem olhar e-mails, sem a pressão do “não posso perder nada” enquanto espero a espuma do meu cappuccino. Só eu, minha xícara de café e o silêncio. Parecia simples, né? Mas, logo que me sentei, algo estranho aconteceu. Fui assolado por uma sensação desconfortável, quase de pânico. Eu estava sozinho. E, o pior, sem nada para fazer.


De repente, comecei a me perguntar: "Quem é que consegue viver sem estar constantemente conectado ao mundo?" Não é mais sobre o café. Nem sobre o silêncio. Agora, estava começando a entender a magnitude do problema social em que me meti. 

Essa maratona do café me provocou reflexões sobre algo que tem sido tema de muitas conversas: o aumento de diagnósticos de depressão e suicídios, fenômenos que, embora não sejam novos, se amplificaram nos últimos anos. A vida que parece “perfeita” na tela do Instagram, com filtros e risos de selfies, parece estar cada vez mais distante da realidade de quem está, de fato, vivendo um dia a dia cheio de pressões e frustrações.


Enquanto me afundava no meu cappuccino sem celular (quem diria que um simples café poderia me fazer tão existencial?), comecei a perceber que essa necessidade constante de estar ocupado e conectado não é uma coincidência. Em um mundo onde a produtividade é a medida do valor humano, não há tempo para estar triste. Não há tempo para questionar a vida. Estamos todos tão focados em realizar, produzir, mostrar que tudo está bem, que esquecemos de, de fato, viver.


Quanto disso é reflexo de uma estrutura social que preza mais pelo que mostramos do que pelo que sentimos? Não é só sobre estar ocupado, mas sobre ser aceito. E ser aceito, hoje, parece ser sinônimo de estar feliz o tempo todo, mesmo que a felicidade seja um estado artificial, construído para ser consumido.


Eu não podia deixar de pensar que, talvez, essa obsessão por estar bem, seja uma das razões pelas quais os diagnósticos de depressão e suicídio estão em alta. Porque, ora, se estamos todos em uma corrida para ser felizes, o que acontece quando, inevitavelmente, a gente cansa de correr? Quando, finalmente, o café sem celular nos mostra a nossa própria solidão?


“Sente-se triste? Não se preocupe, temos aplicativos para isso! Exiba seu melhor sorriso em um story e você já estará no caminho da felicidade! Não tem tempo para isso? Não tem problema, tome um antidepressivo e continue correndo.” A solução não é resolver o que realmente nos incomoda, mas fazer com que pareçamos estar bem enquanto seguimos nos atropelando na maratona do café.


No fim, acho que a grande lição do meu café sem celular foi que, talvez, todos nós precisemos de um pouco mais de "desconexão" para entender o que realmente está acontecendo com nossas vidas. E, quem sabe, assim, encontrar um pouco mais de paz nesse mar de ocupação e pressa.


Laura Gomes Valente - 1 ano Direito Matutino