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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Herança infantil


Com a inserção da máquina no processo de produção, o homem foi de certa forma, libertado, pois aquela estabeleceu um novo referencial produtivo; todo o saber do homem havia sido transferido para a máquina equalizando as competências humanas. Para Marx, essa emancipação trouxe consigo malefícios visto que a libertação da força de trabalho do homem adulto colocou, frente aos olhos dos donos dos meios de produção, uma possibilidade de lucro maior ainda, usar a criança como força de trabalho.
Se a máquina havia emancipado a força física antes necessária, o capitalista não precisava mais pagar por uma força ociosa, a potência do homem era algo inútil. Como as máquinas, no século XIX, não possuíam a tecnologia encontrada hoje de auto programação, era preciso apenas alguém para operá-la, sem que fosse necessária a força física. A lógica de mercado é pagar por aquilo que se usa, portanto a criança era um “trabalhador” mais barato e que estaria operando um objeto com capacidade de produção maior que a dos homens.
Infelizmente, passados mais de duzentos anos dos relatos de Marx, o sistema capitalista ainda engloba a criança como força de trabalho. As condições do século XIX a que eram submetidas pode ainda ser encontrada nas carvoarias do Centro-Oeste brasileiro, pois o regime de semiescravidão das indústrias inglesas não difere muito do que encontramos hoje em nosso país. Entretanto, não precisamos sair de nossas cidades para encontrar uma criança trabalhando. Muitas vezes, as famílias sem condições para manter os filhos na escola, acaba usando-os como auxílio à renda familiar.
Encontradas nos semáforos, carvoarias, fábricas clandestinas, as crianças são retiradas da escola, a qual poderia ser uma forma de perspectiva de futuro para aquele que tem tanto pela frente. Isso acaba colocando-as mais próximas da violência e da marginalização; e contribuindo para a continuidade do processo. A criança que começa a trabalhar tem grandes chances de transmitir essa condição para os filhos, trazendo um problema social.
Em contrapartida aos trabalhos infantis ilícitos, comumente encontramos crianças trabalhando na televisão. Mesmo que não estejam sendo exploradas fisicamente, a carga de responsabilidade e a necessidade do amadurecimento precoce trazida na infância podem refletir psicologicamente no adolescente e no adulto que se formarão a partir dali. O que nos assombra é que a sociedade, os pais e mesmo a escola, aceitam de muito bom grado o fato da criança trabalhar.
Marx nos mostra uma condição no século XIX que encontramos até hoje veiculadas pelos meios de comunicação. A criança não deixou de ser uma força de trabalho e o sistema capitalista, aparentemente, não a livrará tão cedo dessa herança.

TEMA: A criança como força de trabalho

Mudança de papel

Com o advento da Revolução Industrial, todas as relações de trabalho foram modificadas. A matriz da produção foi obrigatoriamente transferida das mãos dos homens para as engrenagens de uma máquina. É claro que esta, em meados do século XIX, não possuía ainda o poder de auto controle e produção. Contudo, esse "progresso" esse progresso nos meios de produção acarretou também a desvalorização da força de trabalho humano, visto que para interagir com a máquina não é necessário grande força ou conhecimento. O resultado dessa facilidade foi o emprego maciço de mulheres e crianças no mercado de trabalho.
As condições de trabalho que as crianças recebiam eram assombrosas. No princípio não havia lei alguma que regulamentasse esse tipo de relação de emprego, ou melhor, de exploração. Com o passar dos anos, houve algumas tentativas para amenizar a condição de proletário das crianças, instituindo carga horária máxima de trabalho para menores de 13 anos e a obrigatoriedade da presença em escolas, fato este que era facilmente burlado pelos donos dos meios de produção.
Ainda hoje se tem notícias de trabalho escravo e exploração de menores, fato este vergonhoso para a humanidade, que teve 200 anos para aprender com os erros e não o fez. Entretanto, a criança em geral já não é vista como força de trabalho, e sim como potencial consumista. Isso não a faz menos importante para a sociedade industrial, visto que a criança exerce papel fundamental no consumo familiar, tendo grande influência na aquisição de todos os bens e produtos de uma família, como carros, casas e alimentos.

Máquina social


Muito distante da politéia e do cidadao helênico que podia dedicar-se à vida política e à filosofia, a máquina moderna nao libertou o homem do trabalho. Ao contrário, o trabalho mecanizado serviu para o aumento da producao e consequentemente da geracao de riqueza aos Estados, sem que para isso fosse garantida melhores condicoes de vida ao trabalhador. Nao obstante, nao se pode negar os benefícios da tecnologia e nao cabe aqui também o argumento falacioso e panfletário de que a máquina rouba o posto de trabalho do operário (como se o aumento de eficácia devesse ser condenado). O problema é administrativo ou sistêmico. Se concebermos a máquina como um artefato do engenho humano, entao seu fim ultimo é solucionar um probblema específico ou ainda uma servir como uma potencialidade de capacidades físicas humanas. Talvez seja tarefa do Estado democrático de direito, em sentido científico, construir mecanismos que assegurem que os dividendos oriundos do aumento da produtividade sejam devidamente aplicados para o proveito do cidadao, em busca de um welfare state.

A vergonha da educação na civilização industrial

Na civilização industrial a educação era bastante precária, as escolas eram superficiais e possuíam um mecanismo de reprodução de classes, onde o filho de um operário sempre teria uma educação muito aquém da direcionada aos filhos dos grandes burgueses.
A situação era de calamidade, como os pais tinham que trabalhar horas a fio nas fábricas as crianças se criavam na rua, sem a menor perspectiva de poder ascender na vida, ficando com elas a função de substituir seus pais nas fábricas, mesmo nas escolas, por existirem unicamente por fins jurídicos, não havia essa perspectiva, o destino dos filhos da classe operária já estava determinado: as fábricas.
Enquanto os filhos da classe operária viviam em tais condições, tendo casos relatados por Marx em que mães drogavam seus filhos para acalmá-los, os filhos da classe burguesa cresciam em um ambiente culto, onde música e literatura faziam parte de seu dia-a-dia desde os primeiros anos de vida, e no caso dessas crianças a escola também tenha o papel de torná-los substitutos de seus pais, eles tinham a melhor das educações, lazer e todo o conforto.
Essas condições mostram um motivo pelo qual o socialismo marxista surgiu nessa época, era difícil para um operário ver o filho passando por todo tipo de dificuldade enquanto o filho de um burguês possuía tudo do melhor.
Todos queriam poder ter acesso à melhor educação, queriam ter algum lazer, e o suficiente de comida para não passar fome, e é com esse intuito que Marx surge com sua ideologia, para dar a todos o que era privilégio de uma minoria.
 

A Busca por um Realmente Admirável Mundo Novo

A Busca por um Realmente Admirável Mundo Novo
"Hoje à noite, 500 milhões de crianças vão dormir na rua. Nenhuma delas é cubana". Esta frase, estampada num outdoor na saída do aeroporto de Havana ilustra bem as contradições do mundo moderno. Por um lado, vemos as maravilhas da tecnologia, que permitem que estejamos em qualquer lugar do mundo, no máximo, em dois dias enquanto ainda existem crianças passando por problemas sociais. 
Muitas pessoas dizem que Cuba é um país que ficou parado no tempo, e que não está pronto para os desafios da modernidade, num mundo em constante transformação sob a égide capitalista. Contudo, é necessária a análise do conceito de modernidade e comparar os prós e os contras de ser um país dito "moderno".
Modernidade pode ter várias acepções. Por exemplo, se compararmos as taxas de analfabetismo dos cubanos com a de outros países no passado, nota-se que estas serão consideradas modernas, por serem baixas. O nível de desigualdade social também será moderno, pois no ideário ocidental, conforme um país avança, as condições sociais melhoram. Então, por que ainda a Ilha é considerada atrasada? Talvez pelo fato de que as inovações constantes e inerentes ao mercado de consumo não estejam presentes da mesma forma que ocorre nos Estados Unidos, o símbolo máximo da cultura de consumo.
Nos países ocidentais de economia capitalista há o lançamento de produtos todos os dias, muitos incorporando o que há de mais moderno em termos de materiais e tecnologia. Entretanto, muitas vezes, esses mesmos países convivem com contrastes sociais que não permitem a todos o acesso à essas maravilhas, criando somente uma vontade de consumo, um sonho. Nem mesmo os serviços básicos escapam disso, veja-se o sistema de saúde estadunidense.
Marx, em seu "O Capital", conseguiu prever muitos desses fenômenos. A esta vontade de comprar e a necessidade do novo, chamou de fetiche da mercadoria. O que ocorre, na verdade, é que o produto, cria a própria demanda e não o contrário, pelo fato das pessoas já terem se condicionado a consumir. Por tanto, com a ideologia e pelo fato de que os produtos muitas vezes são maravilhosos (realmente), as pessoas permitem que haja uma sociedade cheia de contradições para que continuem desfrutando dessa renovação constante.
"Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens." - Karl Marx
A estrela solitária (principalmente após o embargo estadunidense), optou por valorizar o mundos dos homens, ainda que com muitos problemas. E tem em termos de tecnologia, não somente no quesito social, modernidade, principalmente na medicina.
Marx não negava os benefícios que a tecnologia e a modernidade traziam, não era um Luddista, mas foi o primeiro a notar os malefícios que estas causavam numa economia capitalista. Questionou o fato da maioria não pode desfrutar dessa "modernidade".
É com base nesse conteúdo crítico que devemos analisar os prós e os contras desse tipo de desenvolvimento, para que possamos modificá-lo de forma a encontrar um equilíbrio entre inovação, sustentabilidade e justiça social. A república caribenha o está tentando, surge com antítese e busca uma síntese atualmente. Não seria isso modernidade? Que os outros países criem suas respostas com base nos anseios de seus povos, e não fiquem somente afirmando uma tese, numa alienação sem questionamento!

Raul da Silva Carmo. Aluno do 1º Ano do Curso de Direito Noturno da UNESP Turma 2012-2016.


A incógnita da soma entre capital e ciência.

Todos nós sabemos que nossa economia vem sofrendo grandes transformações desde a Revolução Industrial na Inglaterra. Tudo isso foi proporcionado graças a muito investimento de capital por parte da burguesia que financiou o desenvolvimento da ciência, acarretando em uma melhoria enorme nos meios técnicos de produção. Antigamente, a força de produção tinha como principal fonte de trabalho a dos homens, que eram mal remunerados e trabalhavam em condições deploráveis. Hoje observamos um panorama completamente diferente do que a dois séculos atrás. 

Oriundos da soma entre capital e ciência, surgem inúmeros fatores que podemos considerar sendo os principais para a realização da revolução tecnológica presenciada nos dias atuais. Com investimento maciço em tecnologia de ponta, os produtos demoram menos tempo para sair de sua linha de produção, graças a robotização e a nanotecnologia. Por outro lado temos um fator negativo, a mão de obra humana que é desempregada em razão desta revolução tecnológica.

Podemos ainda observar uma renovação constante dos meios técnicos de produção, o que otimiza cada vez mais o tempo e a qualidade da produção. Além do mais, os vultuosos investimentos de capital em setores como pesquisa científica química e biológica, estão dando resultados positivos, e, em questão de anos encontrarão a cura para várias doenças como o câncer, a AIDS, etc.
Está incógnita que se forma da soma de capital e ciência, se justifica pelo fato de que também trará consequências catastróficas para a população mundial. Poderemos observar como consequência desta soma de fatores, uma grande onda de desempregados que assola os países como Espanha, Grécia e até mesmo no Brasil. O capital investido em tecnologia, poderia ser encaminhado para setores como a educação, visto que no nosso país ainda opera uma greve de quase 1 mês nas universidades federais. Uma pequena porcentagem do PIB do pais, como 4%, poderia ser destinado ao setor de saúde pública, para dar  à população um atendimento mais digno.

Este é o dilema que se segue em nosso panorama econômico atual, muito controverso, porém com alguns aspectos positivos. Com tanto pano pra manga, acredito que Marx estaria satisfeito em constatar que sua teoria político-econômica se repete durante gerações e ecoa pela humanidade.

Tema: ''Capital + Ciência = ?''

Vítor Augusto Momma Portioli

Raymond Aron ao explicar Marx assinala que para este o trabalho não consistia mais em uma expressão livre da essência  humana, pois passou a ser um meio de subsistência. E essa alienação do trabalho teria como resultado a ruptura das relações ou das comunicações diretas entre os homens porque entre eles se colocaria um mundo de objetos estranhos- a mercadoria.

Naquela época os homens eram submetidos a trabalhos exaustivos manuais, tinham que seguir o ritmo da máquina e enfrentar horas de trabalhos extensas e para compor o orçamento familiar, todos os integrantes desta tinham que ir à labuta diariamente, pai, mãe, filhos, crianças. Não havia distinção entre eles. Todos eram úteis.

Trazendo a questão para os dias atuais, o trabalho já não se configura como antigamente, as máquinas robôs dominaram o trabalho nas indústrias, alguns estatutos passaram a proteger as crianças e adolescentes da exploração do trabalho, e os pais tiveram que se encaixar em outras formas de trabalho. No entanto, apesar dessas mudanças ele não passou a ser a tal sonhada “livre expressão da essência humana” e nem se tornou menos alienado. Quem pretende formar uma família tem que, antes de tudo, ter um bom emprego que se traduza em bom salário, só que muitas vezes esse “bom emprego” não é o que a pessoa gostaria de exercer, não atende a sua vocação mas supre as necessidades do mercado. Depois da conquista desse bom cargo é hora de escolher o seu parceiro, com quem pretende se casar e formar uma família. Aí entra a questão, não se procura alguém que te complete sentimental e ideologicamente, mas sim alguém bom o suficiente para poder, junto com você, sustentar essa família, proporcionar conforto e segurança financeira. O próximo passo é na educação das crianças, por mais que sejam protegidas por Códigos e Estatutos, desde os primeiros anos de vida  já são introduzidas num mundo em que precisam pensar no que vão ser quando crescer, brincam com jogos que desenvolvam sua capacidade intelectual. São matriculadas em escolas que as treinem para o vestibular, assim podem ingressar em uma boa universidade, sofrer uma nova lavagem cerebral, pois seus únicos objetivos serão ter boas notas para alcançar um excelente emprego para que possam ganhar satisfatoriamente, casar-se com alguém de seu mesmo nível financeiro e formar uma outra família que atenda aos padrões sociais. E esse ciclo se renova a cada geração. Não há tempo para se pensar as contradições de uma sociedade, suas desigualdades e exclusões. E assim as famílias caminham em suas redomas, em seus mundos... Seguem a linha.

Brutalização de quem?
Mães desnaturadas e que por vezes deixam seus filhos morrerem de fome, homens que vendem sua mulher e os filhos. Por um momento parece que o operário, a classe trabalhadora se tornou bruta, grotesca, rude. É inimaginável uma mãe envenenar seu filho, isso vai até contra a lei natural de perpetuação da espécie. Talvez essa seja a imagem que um capitalista teria dessa família operária, uma família capitalista na qual somente o homem trabalha, enquanto a mulher e os filhos permanecem em casa, bem vestidos, com empregados e muita comida.
Pois bem Sr. Capitalista dono de uma fábrica têxtil:
O Senhor explora a cada dia família inteiras, mulheres, crianças, homens. Anuncia em jornais que necessita de crianças em sua fábrica... O que o pai de uma família operaria faria? Obviamente colocaria seus filhos para trabalhar, já que é uma necessidade o trabalho de toda a família,  agora imagine o que um pai sentiria no começo, quando houve essa ruptura do trabalhador homem braçal, por um criança, ingênua e frágil! O que esse pai sentiria, ao ver seu filho magro, sujo, com dores, falta de ar, fazendo aquele movimento repetitivo, aquele olhar agoniante... Não teria orgulho em dizer: meu filho trabalha muito bem. Não, quando o emprego industrial em grande escala virou febre, o trabalho operariado ainda não dignificava o homem, na verdade, desumanizava, destruía, corroía o homem.
Creio que o Senhor, não sabe como essa família vive, o quanto trabalha e o quanto come. O Senhor, com suas bochechas robustas e rosadas, não sabe o que é passar fome. O Senhor também não sabe o que é dor, o que é ser escravo. Ah como eu gostaria que o Senhor sofresse, não para pagar pelo que fez, mas para sentir o que os subalternos, seus empregados sentiram. Para que assim, pelo menos você pensasse em reverter essa situação: o Senhor realmente necessita de tanto lucro? A ponto de fazer o sangue de crianças escorrer por sua fábrica? A ponto de desumanizar famílias? A ponto de ser totalmente podre por dentro? .
Pelo visto o Senhor está disposto a tudo isso, e o engraçado é que se um ladrão entrasse em sua casa, matasse sua família e roubasse seu dinheiro, ele deveria ser preso. E é exatamente isso que o Senhor faz: mata aos poucos uma família... Uma família não, muitas... Mata aos poucos, e rouba, a cada dia de trabalho está roubando:  mais-valia...
Se o fim do capitalismo é algo inevitável, espero que o Senhor esteja lá para ver esse fim. E por favor, traga suas crianças.



Homem desvirtuado

Antes da revolução industrial, nos tempos das manufaturas, os trabalhos eram separados em uma escala hierárquica conforme a força, capacidade de utilização de certos instrumentos, além dos graus de virtuosismo de cada um. Já na fábrica, não há escala de forças entre os trabalhadores, cada um cumpre um certo processo específico da produção. Portanto, como o próprio Marx escreve: "[...] a escala hierarquica de capacidades, que em menor ou maior medida caracteriza a manufatura, não tem mais razão de ser." Os trabalhadores são limitados a cumprir um mínima parte da produção de acordo com a necessidade da máquina ou ferramenta e não mais do próprio trabalhador.
O homem  na fábrica acaba por não ser permitido pensar além do que já foi dado, isto é, seu pensar se torna limitado. Ele passa a pensar sob regras já definidas. Sabemos que o capitalista produz com intuito de obter lucro, isto é quer ganhar com sua mercadoria, mas do que investiu. Podemos citar o exemplo da mais-valia de Marx, onde o trabalhador trabalha mais tempo e ganha o mesmo valor, ou seja, gera um valor maior do que e pago na forma de salário.


Arthur Gouveia Marchesi

Homem X Máquina


A introdução das máquinas na indústria não alterou apenas o modo, e o resultado da produção, mas sim o mundo, isso pelo fato de inserir a ciência e a tecnologia, e tornar o mercado o eixo central das relações. 
O Homem que sempre dotado do seu saber, exercia todas as atividades e etapas da produção, desde a fabricação das suas ferramentas e dos meticulosos detalhes até as partes mais básicas dos produtos, a partir desse momento, passar a ser substituído por um instrumento inovador, capaz de produzir mais em menos tempo. 
Assim, se antes a produção dependia das condições do homem, depois da máquina, ela se liberta. E a inserção desses novos meios de produção acaba sendo o único modo de atingir um mercado global, porque por mais que aumentassem as jornadas de trabalho do trabalhador, a produtividade pela máquina era muito maior do que a que poderia ser alcançada dentro dos limites humanos. Em suma o homem é confrontado por um objeto capaz de produzir além da capacidade dele mesmo, já que se torna impossível atingir o mercado global sem aderir a esses novos artefatos. 
Para Marx há dois lados para se entender, sendo um deles o fato de que a máquina emancipou a produção, indo além dos limites humanos de produção, e que é positivo, e o outro é que essa inserção de artefatos diminui cada vez mais o conhecimento humano de conteúdo, visto que antes o trabalhador possuía o saber de produzir desde sua ferramenta de trabalho, e todas as etapas de produção do seu produto, e depois passa a fazer trabalhos que exigiam pouca sabedoria, como apenas fiscalizar as máquinas para caso de algum erro na produção, ou usar a força para gerar a energia para as máquinas. Como exemplo de como o homem começa a ser diminuído na indústria, há o exemplo do modo de produção chamado "Fordismo", no qual o objetivo era produção em massa, e que se constituía basicamente no fato de cada trabalhador fazer uma pequena etapa da produção, o que consequentemente não dependia de uma mão de obra qualificada.
Pode-se dizer que o capital desvaloriza o homem, diminuindo a sua necessidade do saber para adquirir um trabalho, o que é refletido nos preços dos produtos, já que os preços caem, sendo reflexo da desvalorização do trabalho do operário.

TEMA 1: O TRABALHADOR, SUA FERRAMENTA E SEU SABER.

A máquina no centro de tudo

      A relação entre a produtividade do trabalho e a condição humana é algo extremamente debatido atualmente, já que existe uma onda intelectual que visa levar os direitos humanos a todos extremos do planeta. Entretanto, nem sempre esse tema foi levado a sério. Na época em que Marx desenvolve sua obra "O Capital", a sociedade está a beira de um caos no que se diz respeito a essa relação.
     A condição humana trabalhista durante o século XIX é algo que fugiu do controle e atingiu níveis críticos, eram homens, mulheres e crianças, que, em massa, preenchiam as fábricas para obter o lucro de se chefe. A situação claramente chegou a esse ponto devido a um fato, a máquina. Sua introdução nas fábricas após a I Revolução Industrial permitiu que parte da mão de obra humana se tornasse desnecessária em contraste com o aumento da produtividade, desencadeando uma onda de puro capitalismo nos donos de fábricas, que fechavam os olhos para as condições desumanas em suas fábricas pois visavam apenas o seu lucro pessoal.
     Como a elite da sociedade controlava as fábricas a seu bel prazer, estipulavam as condições mais precárias, cortando gastos com salários e qualquer medida que beneficiasse o trabalhador. Este, por outro lado, não tinha outra opção, necessitava do dinheiro, mesmo que escasso, para sustentar a si a e a sua família. Tudo girava em torno das máquinas, eram elas que garantiam o lucro absurdo de ínfima parcela da sociedade e garantiam a pauperização de grande parte da mesma.
       Engana-se, contanto, que essa situação morreu com Marx, atualmente mesmo com tantas campanhas em prol dos direitos humanos e de direitos trabalhistas, existe em muitos lugares situação extremamente semelhantes a essa descrita acima. Como por exemplo o trabalho infantil desenfreado na China, fábricas de grandes e poderosas multinacionais aproveitam brechas na leis para poder utilizar tal mão de obra. E assim continua em países asiáticos como Cambodja e Vietnã. Claramente percebe-se que aliado à necessidade de alguém para manusear a máquina e garantir o interesse dessas grandes coorporações, está a péssima condição social da sociedade, que não tem outra alternativa a não ser trabalhar sujeita a essa situação no trabalho.
      A lei não garantiu que a situação do trabalho x produção x máquina  tivesse uma real mudança desde o tempo de Marx. Obviamente muito foi feito, e em muitos lugares muito mudou. Mas há ainda uma mentalidade doentia em torno da necessidade do lucro. O capitalismo está entranhado nos grandes empresários que, em pleno século XXI, sujeitam crianças a trabalhos exaustivos em nome de seu interesse.



Tema 5: A máquina, a produtividade e a condição humana

Fantoches


A apresentadora de TV Maísa, como é conhecida, em meados de 2009 foi protagonista de uma ação judicial movida pelo Ministério Público contra o empresário Sílvio Santos, já que em seu programa a menor – então com cerca de seis a sete anos de idade – foi exposta a situações de pânico vexatório que chegaram a comprometer sua integridade física.
                O caso, de repercussão nacional, chamou a atenção para uma situação que já fora discutida há décadas: o capitalismo incorporando crianças como força de trabalho.
                Já no século XIX, Karl Marx fazia referência à adequação de crianças à produção capitalista. O autor ressaltava que a mão de obra infantil era mais barata já que dispunha de menor força, mas força suficiente para realizar os serviços necessários em determinadas produções.
                Guardadas as devidas proporções, o capitalismo contemporâneo, que se veste de um humanismo lucrativo, continua se utilizando de mão de obra infantil partindo de um princípio similar ao de que trata Marx séculos atrás: muita vez é a mão de obra infantil a que melhor se adequa à geração de lucro para o capitalista, de forma que sua força é preferida ao desperdício da de um homem adulto.
                É evidente que em casos como o supracitado a mão de obra infantil não substitui, para a renda familiar, a mão de obra do homem e mulher adultos, gerando todo o processo exploratório discutido por Marx. Todavia, parte da mesma lógica de que o trabalho realizado pela pequena mão da criança gera mais resultados do que se se utilizasse uma mão adulta.
                O trabalho infantil desenvolvido por Maísa é apenas um dos casos do emprego desse tipo de mão de obra na contemporaneidade brasileira. Embora seja este um dos casos que consideravelmente menos lesa a criança que trabalha – quando comparado ao trabalho infantil de muitas crianças em condições ilegais de semi escravidão, por exemplo - sua peculiaridade está na aceitação pública que tinha – ao menos até o incidente que levou à ação judicial – e ao respaldo jurídico que possuía,  já que a emissora firmava contrato com os pais da criança.
                Todo o país podia ver Maísa trabalhando e divertia-se com a exploração da imagem de uma criança com pouco mais de cinco anos de idade. Utilizar Maísa em programas de TV tornava-se mais adequado quando se tratava da busca desenfreada por audiência na rede televisiva. E mais uma vez, sob os olhos jocosos da sociedade, uma criança era feita de brinquedo para gerar lucro a um capitalista sob o véu dos trâmites legais. 
     No contexto em que o desenvolvimento da tecnologia sofre avanço desenfreado, fazendo surtir em campos como a informática e a robótica um impulso nunca visto antes, sentimos o futuro invadir nossas vidas. Resta saber se ele vem a favor ou contra a humanidade.
     Em sua obra de maior destaque -"O Capital"- Karl Marx descreve, em um tom que pode ser confundido com o fascínio, o avanço das máquinas derivadas da Revolução Industrial expondo sua eficácia e poder naquele novo momento histórico. O faz sem deixar, claramente, de dar destaque ao plano social e humano que figuravam entre as consequências de tais avanços.
     Do mesmo modo, surge a necessidade de ponderar essa nova modernidade que nos afeta, uma vez que vem se revelando uma modernidade para poucos.
     Isso se revela não apenas no quesito financeiro, onde poucos são capazes acompanhá-la materialmente, mas no plano social.
     Apesar dos avanços da medicina, em muitos países ainda ocorrem mortes por doenças simples de serem tratadas e há alta taxa de mortes entre os que não completaram cinco anos de idade. Apesar das técnicas de produção e agricultura estarem cada vez mais apuradas, o problema da fome persiste sem solução.
     Parece haver essa dialética entre a modernidade e a barbárie, onde há sempre a preservação de uma alta parcela de excluídos.


    


  Renan Silveira

Emancipação ou alienação?

Não é à toa que o termo “revolução” é utilizado na Revolução Industrial; a inserção da máquina na produção mudou o mundo, e a ciência passou a ser essencial na produção, a qual aumenta a competitividade, produz para um mercado global com uma facilidade jamais vista, emancipando a produção e passando os limites orgânicos. Porém a revolução não foi percebida apenas no aspecto econômico, a sociedade sofreu intensa transformação, essa nova perspectiva esvaziou o conhecimento de todos os ofícios, tornou o operário periférico e dispensável, tirou a reflexão das pessoas, inseriu as mulheres e crianças no mercado de trabalho, por trabalharem por um menor salário, gerando também uma confusão dentro da hierarquia familiar, podendo ser notado nessa época que o nível de alcoólatras aumentou significadamente. Isso nos leva a refletir: como ficou a educação nessa nova sociedade?

A família toda, não só o homem,  torna-se força de trabalho, sendo uma necessidade, e nesse contexto educar filhos transforma-se em uma tarefa muito mais difícil do que já era; ao mesmo tempo que a criança será mais uma força de trabalho, ela também será mais uma boca para comer, faltam creches, e as que existem estão em péssimas condições, as crianças passam o dias na rua, o que ainda acontece muito atualmente, e acabam sendo um incômodo na vida dos pais, já que a tarefa da mãe, que antes era cuidar da casa e dos filhos, agora sofreu modificações.

As escolas trazem, então, uma mera finalidade jurídica, um amparo mínimo do estado,  apenas para reprodução da força de trabalho, ficando claro uma reprodução das classes sociais dentro do sistema de ensino, já que as crianças de classes superiores tem um acesso muito mais direto à educação, desde pequenos dentro de casa escutam discussões políticas, econômicas, são educados musicalmente, tendo desde já vantagens em relação às outras. Além disso a educação ao mesmo tempo que emancipa, aliena; não é por acaso que as cartilhas escolares na Era Vargas tinham uma foto de Getúlio na capa, ou que as disciplinas de humanas perderam a importância durante a Ditadura Militar, podemos ver nela uma maneira de incutir um pensamento, uma ideologia, em alguém, ainda mais uma criança, que tem pouco senso crítico. A educação passa a refletir o interesse do mercado.

As Diversas Faces da Exploração

Frente ao surgimento da máquina durante a Revolução Industrial tem-se a desvalorização da força de trabalho do homem. As máquinas,  apesar de aumentarem as capacidades orgânicas dos seres humanos, atuam, em contrapartida, negativamente ao esvazia-los do saber tornando-os meros operadores de máquinas. A partir de uma produção repetitiva, resumida à movimentos maquinários, o conhecimento dos trabalhadores e sua técnicas tornam-se dispensáveis, assim como sua força física. É nesse contexto que inicia-se a utilização da mão de obra infantil na produção industrial.
As crianças eram capazes de operar as máquinas, logo a presença da mão de obra adulta torna-se desnecessária, uma vez que, além de mais cara, era uma força de trabalho ociosa. As crianças passam a trabalhar para sustentar toda a família, no entanto recebiam bem menos do que seus pais e dessa forma, todos os membros de uma família eram obrigados a trabalharem para garantir sua sobrevivência.
Na atual sociedade brasileira nota-se semelhante situação. Certas famílias necessitam que as crianças saiam de casa para trabalhar e contribuir financeiramente. Essas crianças perdem o vínculo com os estudos, alegando muitas vezes falta de tempo, contribuindo para sua marginalização e abrindo portas para a violência. No entando, algumas famílias de baixa renda acreditam que com os filhos trabalhando há menor risco de se marginalizarem, pois ocupam-se do trabalho. Mas se a escola também possuiria o papel de afastar os jovens da marginalização, o principal motivo para o trabalho precoce é, sem dúvidas, a necessidade financeira. Pode-se ainda analisar que essa mão de obra desqualificada não possui perspectiva de evolução econônomica, o que acaba contribuindo para que as próximas gerações dessas famílias tenham um futuro semelhante, resultando num problema sucessivo na sociedade. 
Não só exemplos de trabalho infantil como forma de exploração das crianças é que se pode relatar. Contemporâneamente é comum deparar-se com a imagem de crianças vinculadas a diversas formas de trabalho, como por exemplo aos artísticos. Apesar de não serem trabalhos que as explorem fisicamente, também trazem maleficios ao seu desenvolvimento pois exigem uma responsabilidade e maturidade precoce. Entretanto, a sociedade os encara com maior aceitação, apesar de ambos possuírem seu principal objetivo relacionado à remuneração.  Sendo assim, apesar de ilegal segundo a própria Constituição Federal, o trabalho infantil está intensamente presente em nossa sociedade de diversas formas e em alguma delas, revestido de um certo prestígio.

Giovanna Cardassi S. Yarid

Minha punição, seu lucro.

Tema 5: A máquina, a produtividade e a condição humana.


Minha punição, seu lucro.

     Antes, o modo de produção em sua maioria era feito de serviços artesanais, que em relação ao que estava por vir, o homem era mais valorizado, pois exerciam funções mais específicas. Com o advento da industrialização muita coisa mudou, o investimento em capital constante, tal como na lei da baixa tendência da taxa de lucro de Marx, aumentou, então o capital variável foi proporcionalmente reduzido, tem-se que a mão de obra humana foi gradualmente sendo substituída pela mecânica.
    O homem começa a se tornar descartável e reciclável. Descartável pela sua especificidade que foi reduzida, tornando facilmente substituível; E reciclável por que após se tornar desempregado, para tentar se manter, era preciso se reinventar alçando novas áreas e tarefas.
      A máquina acaba por afrontar o próprio homem, produzindo além do imaginável da capacidade do ser, e impõe um novo referencial ao passo que modifica a noção do tempo e do espaço. Pode-se produzir muito mais em muito menos tempo e com as novas tecnologias pode-se contatar em tempo real com outro continente. O homem transfere seu saber para a máquina.
     O aumento da produção e a diminuição do tempo deveriam dar ao trabalhador mais tempo de folga e lazer, mas não é o que ocorre, como todo o sistema é baseado na busca incessante de lucro, o desenvolvimento acaba por não amenizar a condição humana do trabalhador.
     A fome é um dos casos mais claros, muita comida é produzida por ano, muito mais que seria necessário para acabar com a fome no planeta, mas muito dessa mesma comida é perdida enquanto existem pessoas famintas.
    O desenvolvimento só trouxe mais ganancia pela ampliação do lucro enquanto a trabalhador foi sendo esquecido e incapacitado intelectualmente, com uma educação que busca a formação de operários totalmente dependentes e não de agentes modificadores e autossuficientes.
    Com a transferência do conhecimento para a máquina, a busca contínua de lucro e uma educação de baixa qualidade o operário acabou não tirando um proveito positivo, e em seu benefício, do desenvolvimento do capital constante. Quem acabou conseguindo esse proveito de maneira bem positiva foram os capitalistas com suas máquinas, que penalizaram com mais trabalho seus subalternos. 

A universalização da exploração



No contexto da Revolução Industrial, o Homem passou a ser reificado, considerado apenas mais uma engrenagem da grande máquina capitalista produtora de mais-valia.
Assim, a educação do proletário - na lógica burguesa – tornou-se desnecessária, mormente após a adesão das máquinas na produção, quando não seria mais preciso que o trabalhador refletisse durante a execução de suas tarefas. Apenas a instrução dos possuidores dos meios de produção se fazia necessária, tornando possível a esses a dominação do proletariado.
Da mesma forma como o trabalhador ainda hoje é explorado, a conjuntura educacional não se alterou, ainda que o acesso à educação a todos seja garantido pela Constituição Federal.  De fato, a universalização da instrução ocorreu. Todavia, deve ser questionado se essa educação realmente leva a uma libertação da consciência humana ou se é apenas mais uma forma de garantir a alienação do proletário.
Exemplo disso é que a criação da USP se deu concomitantemente à de ETECs e FATECs. Assim, houve preocupação com a formação de “cabeças pensantes” e de “braços trabalhadores”, respectivamente, uma vez que estatísticas nos mostram que a maioria dos alunos de faculdades públicas é oriunda das classes A e B, que possuem condições de pagar por uma educação básica de qualidade. Por outro lado, as ETECs e FATECs formam apenas técnicos, o que nos remete à cena do filme “Tempos Modernos”, na qual Chaplin cumpre seu papel mecanicamente, não refletindo sobre a realidade na qual se insere.
A educação, portanto, tornou-se, no modo de produção capitalista, apenas uma mercadoria, não encontrando em seu valor de uso – a utilidade – sua maior expressão, mas sim em seu valor-de-troca – o financeiro, na busca incessante do lucro.
Dessa forma, percebemos que a educação universalizada não passa de mais uma ilusão imposta pelos óculos do capitalismo contemporâneo, servindo somente à pequena parcela dos aristoi que forma a sociedade brasileira, reafirmando a exploração burguesa. Pois, como já nos ensinava Bacon, “saber é poder”.

“Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/ Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do patrão/ Que sua imensa fadiga/ Era amiga do patrão.
(MORAES, Vinícius de; Operário em Construção)

Neste pequeno trecho do poema “Operário em Construção”, Vinícius de Moraes expõe de maneira clara a superexploração feita pela classe burguesa sobre a classe proletária e a consequente desigualdade existente entre estas. Pensando no que Marx afirma em “O Capital”, conseguimos compreender como o burguês conseguiu ampliar de maneira tão significativa o seu lucro sobre o proletariado com o surgimento das fábricas.

Segundo ele, a máquina na Idade Moderna emancipa tanto a capacidade humana como a produção; ou seja, a máquina, superando as capacidades físicas do homem, consegue produzir mais e em menos tempo do que este. A máquina produz a mesma quantidade de produtos que um trabalhador produziria em um espaço de tempo muito menor; no entanto, mesmo com tal aumento na velocidade da produção, o trabalhador manteve as mesmas jornadas de trabalho, que chegavam a ser de até dezoito horas por dia. Assim sendo, o trabalhador acabava por trabalhar gratuitamente em parte de sua carga horária, ampliando a mais-valia e, consequentemente, o lucro do burguês. Além disso, vale ressaltar que, com o aumento da produtividade, há maior oferta de produtos, o que barateia a mercadoria. Se a mercadoria torna-se mais barata, torna-se mais acessível a um mercado de massas, composto pelo próprio proletariado que a produz.

Durante todo esse processo, o trabalho do homem teve cada vez menos importância com relação à produção. Anteriormente, com a realização do trabalho artesanal, o homem era responsável por toda a confecção do produto e conhecia todas as etapas do processo de produção. Mais tarde, com a manufatura, houve uma forte divisão do trabalho e, como cada um era responsável por uma das etapas, o homem passou a desconhecer todo o processo de produção. Finalmente, com o surgimento da maquinofatura, o homem já não passava de um simples operador da máquina e esta realizava a produção do produto inteiro. Diante de tal realidade, sabendo que a burguesia estava interessada somente com a obtenção de lucro e desconsiderava o bem estar físico e social do operário, a fim de explorá-lo cada vez mais e que o trabalho deste já não possuía tanta importância, posto que era como se este fosse apenas mais uma parte da máquina - então responsável pela confecção dos produtos -, podemos dizer que  a condição humana, aos poucos, foi deixada de lado, o que levou a um processo de desumanização do homem.

O proletariado, tendo que trabalhar dessa forma para poder sobreviver, não possuía tempo livre para refletir e questionar a respeito da sua própria situação, o que retardava o desenvolvimento do homem político. Mas, depois de tantos anos de exploração, o operário finalmente tomou consciência do seu papel e da sua importância sociais, deixando de ser um “operário em construção” e passando a ser um “operário construído”. Desse modo, após muita luta, a classe trabalhadora adquiriu direitos e tentou reverter essa injusta realidade. Não podemos dizer que nada mudou, pois houve progresso com relação aos direitos do trabalhador e à consciência de que a condição humana deve ser respeitada. Entretanto, infelizmente, sabemos que o capitalismo baseia-se na desigualdade entre os homens e que, ainda hoje, a classe trabalhadora é explorada em prol do benefício de uma pequena parcela da população.

Lívia Costa Pinheiro – Tema 5: A máquina, a produtividade e a condição humana

O patriarca: traficante de escravos?

     Com a inserção da maquinaria na indústria moderna ocorreu uma emancipação dos limites orgânicos do homem, no momento em que se utilizou a máquina criou-se uma “barreira orgânica que a ferramenta manual de um trabalhador não podia ultrapassar”, segundo Marx no capítulo “A Maquinaria e a Indústria Moderna” de “O Capital: crítica da economia política”. Visto que a força humana tornara-se inferior  à força motriz necessária às indústrias; além de ser imperfeita, não uniforme e descontínua; torna-se supérflua a força muscular do homem adulto no exercício do trabalhador nas fábricas.
     Com essa força muscular ociosa juntamente com a necessidade de empregados com membros mais flexíveis, fisicamente, surgiu a intenção de se inserir as crianças nas indústrias. Além de serem pequenas, podendo assim entrar nas máquinas para realizar sua limpeza e manutenção, estas custariam muito menos ao empregador; “Três meninas com 13 anos de idade e salário de 6 a 8 xelins por semana substituem um homem adulto com salário de 18 a 45 xelins”, como Marx afirma citando uma nota de um artigo de Londres.
     Agora o trabalhador não vende somente sua própria força de trabalho, como também a de seus filhos; tornando-se um “traficante de escravos”. O pai autoriza que seu filho com 13 anos( ou menos, contanto que aparente tê-lo) entre nos maquinários da fábrica em funcionamento para limpá-los sofrendo muitas vezes mutilações; inclusive, em distritos de Londres costumavam haver leilões públicos, nos quais os pais alugavam diretamente seus filhos às fábricas de seda; uma verdadeira traficância dos pais com crianças a partir de 9 anos de idade.
     Mas por qual motivo um pai ou uma mãe aceitaria que seu filho fosse empregado em tais fábricas  nos séculos XVIII, XIX ? Pelos mesmos motivos que continua existindo o trabalho infantil em pleno século XXI :  a necessidade fisiológica das famílias. O patriarca não obriga seu filho a trabalhar por acreditar que lhe pareça justo. A fome não atinge apenas os adultos, ou apenas o pai ( que trabalha ), atinge também seus filhos; e com a desvalorização do trabalho manual por conta do desenvolvimento das máquinas, extremamente mais produtivas e lucrativas, torna-se necessária a inserção de mais membros da família nas fábricas, tanto a esposa como também os filhos.
     Hoje, observa-se milhares de crianças que continuam sendo obrigadas a trabalhar para o sustento de suas famílias; particularmente no Brasil, observa-se veemente o trabalho infantil na agricultura de cana de açúcar, de mandioca ou nas minas de carvão. Essa realidade não torna os pais dessas crianças desumanos ou aproveitadores, a necessidade de garantir o “pão de cada dia” para suas famílias é o que torna essa condição “sine qua non” para essas famílias. A produção mecanizada deveria humanizar o trabalho, e não o contrário; porém, é a desigualdade social  o verdadeiro traficante de escravos; pois através da má distribuição dos maiores lucros e produtividade das fábricas  escraviza não somente as crianças, como também seus pais e a sociedade como um todo.

Ciência + Capital = Capital²


Sem dúvidas o capitalismo trouxe evidente progresso ao desenvolvimento da ciência e tecnologia.  Não é difícil comprovar, basta pegar um rápido panorama do fim do século XIX e começo do século XX para ver que as técnicas e o saber progrediram exponencialmente se comparados ao desenvolvimento dos séculos anteriores.
Obviamente as evoluções tecnológicas e científicas foram muito importantes e, até certo ponto, positivas para o homem. Porém até que ponto o capital atua em benefício da ciência?
De fato, os investimentos são essenciais para a sobrevivência das pesquisas e projetos científicos, porém, muitas vezes visam apenas o lucro, buscando os interesses do próprio capital e do próprio investidor. Há, portanto, uma inversão de valores e o capital, que deveria ser o combustível para mobilizar a busca da ciência, acaba sendo o “ator principal”.  Para ilustrar melhor: os investimentos privados em pesquisas para medicina são muito menores que no setor industrial, por exemplo. Por quê? Simplesmente porque um da mais lucro que o outro.
Saber realmente é poder, nas indústrias não são as máquinas que ajudam os homens, mas sim os homens que auxiliam as máquinas.  Busca-se o lucro de toda a forma possível, crianças trabalhando, condições precárias. A soma ciência + capital tem como resultado mais capital, lucro e a ciência acaba sendo esquecida.

Homem. Homem-máquina. Máquina.



Em uma rápida observação de nosso cotidiano, facilmente percebemos o quanto a tecnologia se faz presente em nossas vidas. Estaria eu sendo hipócrita em falar algo contra o seu uso, afinal, estou sentada diante de um computador para escrever essas palavras e, mais cedo, utilizei-me dessa mesma máquina como um meio de comunicação com pessoas que estão distantes. E Marx nem precisou ser nosso contemporâneo para que seus pensamentos sobre a relação homem-máquina pudessem ser aplicados até hoje.
Karl Marx, em sua obra “O Capital”, externava sua grande preocupação: o fato de que, na teoria, a máquina libertaria o homem da maçante produção; porém, na prática, não era isso que acontecia. O trabalhador não passava, por contar agora com uma máquina que agilizaria seu trabalho, com maior tempo livre para lazer, participação na família, ou educação. E nem teria maior acesso à alimentação de qualidade, com a mecanização do campo. O tempo ganho com a mecanização beneficiou apenas o mercado, que podia agora produzir mais em menos tempo, eternizando a máxima “tempo é dinheiro”.
Assim, vemos que a “libertação” da produção aconteceu não no sentido pró-trabalhador, e sim no sentido de que ele se tornou menos necessário para a fabricação do produto. Este e, portanto, o capitalismo, não precisava mais de um trabalhador. Só de um operário. Portanto, o uso da máquina provocou certo esvaziamento do saber humano em seu conteúdo propriamente dito. De que tanto conhecimento o homem precisava para executar uma máquina? Unicamente seu modo de operação. O conhecimento e até a força não eram mais necessários, pois existiam a máquina e seu operador. Mais simples. Mais rápido. Proporcionalmente mais barato. Mais lucrativo.
Adicionando a evolução tecnológica a essa relação homem-máquina, chegamos à Teoria da Singularidade – em referência a mesma teoria na Física - , que permeia o universo das ficções científicas, como os filmes “Eu, Robô”, “Exterminador do Futuro” e “Matrix”. Tal Teoria, defendida por muitos experts, enxergam um momento na História – próximo, por sinal – em que essa libertação da máquina chegará ao extremo: o homem acabará por criar uma máquina com inteligência semelhante ou superior à dele e que poderá se autoprogramar. Se considerarmos tal hipótese como possível, poderemos chegar a uma nova era do Capitalismo, totalmente independente do homem, e este, de alguma forma, teria que se readaptar a um novo tipo de trabalho, para que possa receber seu salário e mantenha o ciclo de compra e venda do capitalismo em funcionamento.
Enfim, a máquina mudou - e muda até hoje com sua evolução - não só a produção, como também o mundo. Nós, estudantes de Direito, deveríamos ter como papel, em nossa área, fugir da “mecanização” que estão sofrendo todas as profissões, e nos tornarmos verdadeiros pensadores críticos do Direito, e não apenas operadores, afinal, o senso crítico ainda é um dos principais diferenciais do homem em relação à máquina – e essa observação final não deveria ser um pouco mais óbvia nas atitudes reais da sociedade como um todo?! Aliás, estariam os enredos trágicos das ficções científicas metaforizando uma crise próxima em nossa realidade provocada pelo extremismo da mecanização e o “não saber o que fazer” de nossa parte, tanto pela rapidez dessa mecanização quanto pela acomodação da sociedade no status “não pensar”?!



Estratificações sociais do maquinário


Ao analisar a sociedade capitalista, Karl Marx discorre sobre o advento na máquina, e aponta as vertentes geradas a partir do mesmo. Enquanto reconhece o progresso e modernização trazida pelo maquinário, faz crítica à forma como foi utilizado. O homem, devido ao poder e novas possibilidades que a nova tecnologia proporcionou, passou a mais do que nunca intensificar a produção, acumulando materiais para venda e explorando a força de trabalho sem utilizar de critérios. Marx nos chama a atenção para o processo de depreciação do trabalho, suas causas e reflexo social.
O que antes se refletia em exploração do trabalho infantil, jornadas de trabalho desumanas, e o baixíssimo salário, hoje se mostra de formas mais sutis. Claro que infelizmente, ocasionado pelos mesmos fatores, ainda se observam esses problemas em algumas partes do mundo, mas os Direitos Humanos e movimentos trabalhistas ganharam forças ao passar dos anos e erradicaram muitos dos casos. Atualmente, é possível perceber várias estratificações sociais advindas do surgimento da máquina e predomínio da sociedade capitalista. A cultura capitalista induz a incorporação do homem à forma de produção, consequentemente não estimulando seu desenvolvimento pessoal e mental.
A educação então se vê prejudicada. O mercado exige trabalhadores que proporcionem lucro e que não questionem ou tragam indagações “desnecessárias”, ele não é aberto a sugestões e é pouco inclinado a mudanças. Se idealmente é esse o perfil tido como satisfatório, a educação não tem como propósito a emancipação do indivíduo. Atualmente isso se observa desde o lar, até as escolas e na forma de governo. A qualidade do ensino é pouco observada, há pouca ou nenhuma valorização do trabalho do professor, pais desestimulam filhos com ideias que diferem do socialmente predominante por considerarem perda de tempo ou mesmo ‘idiotice’. Não é preciso ir longe para se encontrar outras causas para esse fenômeno. É mais proveitoso para o processo de produção e para o mundo capitalista pessoas desprovidas de ideias próprias, estas se preocupam apenas com a tarefa a que foram designadas. Um trabalhador que não questiona sua condição, não reflete a realidade que vive, ou alguém desprovido de ética traz menos problemas e mais benefícios. Ou seja, pessoas desprovidas de instrução são manipuladas mais facilmente.
Dentro deste quadro, é inegável a necessidade da revolução da forma de ensino, de  forma a gerar mais pensadores. Para assim talvez progredirmos.


Nicole Gouveia Martins Rodrigues

O trabalhador, sua ferramenta e seu saber



Século XVIII, Revolução Industrial. Cidades mudando inteiramente seus cenários, dando lugar à uma paisagem escura e à um clima de rapidez e agilidade. Os artesãos foram sendo obrigados a deixar de lado suas pequenas produções e todo o conhecimento das técnicas para a fabricação de seus produtos. Não necessitavam mais conhecer todas as etapas da produção e, muito menos, o custo e o tempo que levariam para tal. Muito rapidamente a máquina tomou o lugar do ser humano e, a partir daí, o trabalhador precisava apenas vigiar, e não mais fazer parte da produção. Marx, no capítulo XIII de seu livro, O Capital, diz: "A máquina de trabalho executa todos os movimentos necessários ao processamento da matéria-prima sem ajuda humana, precisando apenas de assistência humana". A compensação do artesão não era mais proporcional à sua capacidade, ele passava a trocar sua força de trabalho por um salário negociado junto ao dono da matéria-prima e das máquinas. Aos poucos o trabalhador foi se encontrando em um cenário de alienação, não percebendo mais a discrepância existente entre sua capacidade, seu saber, e o seu salário; não percebendo o valor que o produto, feito pelas suas próprias mãos, possuía.
Apesar de isso tudo ter ocorridos há muito tempo, o cenário continua o mesmo. Os trabalhadores continuam sendo explorados por seus empregadores e o ser humano é cada vez mais parte da máquina e menos detentor do conhecimento. Um trabalhador em uma fábrica de sapato, por exemplo, é apenas um operário, não necessita conhecer todas as etapas da produção de determinado sapato, mas sim uma única e repetitiva tarefa. E por parecer tão simples essa repetida tarefa, os trabalhadores se conformam com seus baixos salários, sem reclamar por seus devidos direitos.

As máquinas e a padronização

     Antes da invenção das máquinas, a produção do homem era muito mais personalista. Através da manufatura, o produto tornava-se uma tradução da personalidade de seu produtor, apresentando, mesmo que pequenos, detalhes únicos que o diferenciavam dos outros. A produção era lenta, mas valorizava as habilidades do produtor. Entretanto, com o advento das máquinas, a situação alterou-se completamente, uma vez que ela reinventou o referencial produtivo. 
        Essa mecanização da sociedade é um tema muito tratado por Karl Marx, que discute a teoria da emancipação do homem. Ela consiste no fato que, com as indústrias, houve um processo de transferência de saber do homem para a máquina, uma vez que as habilidades únicas que possuía antes não eram necessárias, ele somente precisava saber como ser um operário, pois a máquina faria todo o seu trabalho, esvaziando, portanto, qualquer conteúdo do homem, reduzindo-o a algo também mecânico. 
       Tal processo surtiu um profundo efeito tanto nos produtos quanto na sociedade em si. Aqueles passaram a ser não pessoais e originais como eram antes as manufaturas, e sim padronizados, diversos objetos iguais visando o consumo em massa para atingir um maior lucro, e perderam completamente a personalidade. E isso acabou se estendendo também aos homens, que, quanto mais mecanizavam-se e quanto mais atraíam-se pelos produtos reproduzidos em massa, iam perdendo juntamente sua personalidade também. 
            Isso funciona como um grande instrumento do capitalismo, pois o fim deste, como defendia Marx, não era a qualidade da condição humana, e sim os benefícios ao mercado. E para este, a produção e consumo em massa dos produtos é muito mais prática e lucrativa, mesmo que comprometa o conteúdo e a individualidade dos homens, que se tornam padronizados, assim como os objetos. Desse modo, vemos que, na verdade, as máquinas não trouxeram libertação ou emancipação alguma para o homem, pelo contrário, aprisionou-o dentro de um padrão, ao acabar fazendo-o abdicar de seu conteúdo para tornar-se um mero operário. 

A família produto

 A mecanização dos meios de produção representou a realização de um sonho para o capitalista, e o passo seguinte para o progresso do homem em direção a sua sublimação como espécie, ainda que essa sublimação não exista, servindo apenas de meta para que vivenciemos seu percurso. Representou também a queda do homem para o ponto mais baixo e miserável em que já se viu.
 Não foi a máquina que reduziu o homem à condição de mercadoria, pois desde que a concepção de lucro se enraizou na mente do ser humano, tudo que o cerca, material ou imaterial, ciência ou religião, produto ou idéia se tornaram bens comerciáveis.
 Mas o ponto a que o homem foi levado, ponto este criado pela vigência de uma cobiça irrefreável, de um capitalismo desprovido de humanidade, encabeçado por verdadeiros comerciantes de escravos, e que ganhou força com o surgimento dos meios mecanizados de produção, beirou a barbárie.
 Se antes o homem comum se via obrigado a trabalhar em condições desumanas, em jornadas de trabalho que mal lhe davam tempo de se preparar para a próxima, tudo a fim de tentar poupar sua família do sofrimento e de penas como as que passava, agora ele via suas expectativas frustradas, se via preso em uma armadilha bolada por um sistema que não tem piedade de suas presas.
 O barateamento de sua força de trabalho, a desvalorização do homem como mercadoria, o torna incapaz de suprir as necessidades mais básicas de sua família. A miséria e a fome levam o homem a vender a força de trabalho de sua família, desistir da qualidade de guardião de sua prole para levá-la ao mesmo labor que enfrenta todos os dias, obrigá-la a trabalhar por sua sobrevivência, numa idade em que nem podem começar a compreender o quão macabro e desumano é o sistema que os obrigou a desistir de sua infância para garantir sua sobrevivência.
 Hoje, embora não se reflita nos grandes centros do globo, para onde todas as atenções estão voltadas, a condição acima citada continua a ocorrer. E embora suas ocorrências não sejam resultado da criação das máquinas, não se pode negar que poderiam ter sido usadas para evitar esse tipo de quadro,não fosse o modo como seus detentores as escolheram  usar, em prol de si próprios e em detrimento da raça humana.
A educação brasileira: semelhanças com a sociedade industrial inglesa
No capítulo XIII da obra “O Capital”, Marx escreve sobre a educação nos tempos da sociedade industrial do século XIX na Inglaterra. Os pais obrigavam as crianças a trabalhar, pois queriam aumentar a renda da família e, graças à invenção das máquinas o esforço muscular era poupado, isto possibilitava que as crianças pudessem exercer determinados ofícios. O Parlamento inglês tornou o ensino primário uma condição legal para uso de crianças com menos de 14 anos nas indústrias sujeitas às leis fabris. Marx diz: “o espírito da produção capitalista resplandeceu com brilho” na elaboração das cláusulas da citada legislação.
            As escolas não estavam preparadas para educar as crianças. Primeiro, os professores não tinham formação adequada, muitos mal sabiam ler e escrever. Segundo, não era difícil encontrar as crianças de todas as idades amontoadas em pequenas salas de aula. Ainda, havia carência de livros e outros materiais didáticos. Muitas crianças ficavam na escola sem fazer nada, apenas entravam nas estatísticas da época como tendo sido educadas.
            É nítido perceber na obra de Marx, que as escolas na Inglaterra eram apenas uma formalidade voltada para o mercado e não para o bem social do homem. Agora voltemos para o nosso país, não precisamos voltar no tempo, podemos encontrar uma situação muito semelhante àquela da civilização industrial nos dias de hoje. Temos vários exemplos de escolas com professores de baixíssimo nível intelectual, alunos sem material escolar, salas lotadas, condições precárias de instalação, alunos saindo do ensino fundamental sem saber ler e escrever uma simples frase.
             O Brasil economicamente é um país rico, mas seu ensino escolar ainda é precário como de um país pobre. Se sonhamos em chegar ao patamar dos países desenvolvidos, é na educação que precisamos investir mais recursos.
Matheus da Silva Mayor

Martelo, parafuso, mulher e filhos


    
 Muito se alterou no mundo desde o início da revolução industrial. Naquele período de extrema transição os costumes e obrigações foram profundamente modificados por diversos motivos. As mulheres saíram das casas e foram para a indústria. As crianças saíram da segurança dos lares, para os sombrios e anti-higiênicos pátios de fábricas.       Não mais integrantes de uma família, se tornaram ferramentas do proletariado para a acumulação de capital, assim como eram o martelo e suas demais ferramentas.
     Atualmente esse quadro vem progressivamente se alterando. Surgiram as leis trabalhistas, além do direito das crianças e adolescentes. Aquele pensamento de naturalidade ao se considerar uma criança, que ainda precisa se desenvolver e não sabe se defender sozinha, como parte do proletariado está se tornando cada vez mais raro e fraco.
     Entretanto, apesar de haver a proibição de trabalho infantil garantido por lei, podemos dizer que é este foi totalmente banido da sociedade? A resposta é não. Não é difícil nos depararmos com um menor trabalhando. È só passar por alguma avenida movimentada de uma grande cidade, e esperar o sinal fechar. A diferença é q não são trabalhadores oficiais, são informais.
     Agora, até quando levaremos o legado da displicência quanto as trabalho infantil? Até quando este assunto passará batido? Devemos sim nos preocupar com isso. Devemos sim exigir uma campanha governamental para isso, pois é o interesse de todos. Mesmo se desconsiderarmos o evidente lado social disso, não podemos nos esquecer do efeito disso na nação. Com as crianças na escola, o país poderá se desenvolver no futuro devido à qualificação de sua população, além da diminuição em massa do analfabetismo, e é claro, há a importante criação da cultura de respeito às regras claras sobre o assunto. Então para concluir, proponho a reflexão sobre o tema, até onde a família pode, ou deve, ser usada como força e ferramenta de trabalho?

O ciclo do trabalho infantil


Com a Revolução Industrial do século XVII e a conseqüente maquinização das industrias, menos ‘’força’’ era necessária para a execução do ato de produção. Dessa forma, uma máquina que necessitava de uma força de por exemplo 40kg para ser operada agora precisava apenas de uma força de 10kg, isso abriu portas para o trabalho infantil, devido aos salários mais altos cobrados pelos homens que exerciam a maior força. A problemática desse fato, segundo Marx, era que o salário abaixa para a criança que executa o trabalho e dessa maneira, abaixa também para a família.

Nos dias atuais o trabalho infantil ainda existe, a uma maneira semelhante a idealizada por Marx, as crianças entram no mercado de trabalho para ajudar financeiramente a família necessitada. O problema é que dessa maneira a evolução economica de tal família não acontecerá, pois os salários baixos e sem chance de melhora serão sempre os mesmos, e assim gera-se um ciclo vicioso de pobreza, onde os proximos descendentes ainda terão de trabalhar por sustento e assim por diante.

O ponto discutido é que se a educação pública fosse realmente estimulada e de qualidade, isso quebraria as barreiras da necessidade do trabalho infantil, uma vez que a longo prazo jovens se formariam e teriam salários muito melhores e maiores que aqueles que conseguirima com o mesmo tempo de trabalho sem especialização faculdade e etc.

Pode-se então observar que, para Marx a grande problemática se dava na renda familiar ficar cada vez mais baixa devido ao trabalho infantil, porem, na atualidade o real problema gerado pelo trabalho infantil é mais trabalho infantil no futuro, voltando ao assunto já citado no texto, o trabalho infantil só leva a mais pobreza, e mesmo com os problemas existentes na fiscalização do mesmo, a solução ideal seria a educação, para um futuro mais prospero e desenvolvimento da sociedade e do cidadão.

Maquiagem social

   A substituição da manufatura para a maquinofatura, na Revolução Industrial, acarretou grandes modificações em toda a sociedade, novas formas de trabalho e pensamentos surgiram. A ascensão de uma classe, a burguesia, estremeceu os antigos pilares da Europa, em detrimento à exploração da classe operária, que passou a ser, segundo Taylor, um “gorila domesticado". Neste contexto está em cheque o principal e originário meio de organização do ser humano, a família, que adquire um novo papel e que o exerce de modo semelhante até os dias atuais.
   Como o homem tornou-se periférico no processo de produção de bens nas grandes indústrias, não era mais necessário um sujeito pensador e criativo, apenas um ser que execute as ordens. Sendo assim, a força utilizada passou a ser menor para realizar uma tarefa específica, abrindo as portas para as crianças e mulheres entrarem neste mercado, afetando a antiga imagem familiar do período, onde o homem era responsável pelo trabalho e a mulher dos afazeres domésticos e cuidados com os filhos.
   A ausência da figura materna no lar foi um fator determinante para a marginalização dos filhos, que passaram da educação familiar para a das ruas, sendo influenciados pelo local e momento. Casos em que as crianças eram dopadas para as mães poderem trabalhar ou iam junto aos pais para a jornada eram frequentes. O determinismo exercia sua influência, um jovem criado nestas condições nada podia exigir ou esperar melhorias em sua vida, torna-se um ciclo, isso se o adolescente ou criança não entrar no mundo do crime.
   Apesar de esta situação ter seu início no século XVIII, apenas os instrumentos utilizados para este fim mudaram, seu objetivo continua o mesmo. Creches e empregadas domésticas tentam suprir a ausência dos pais no ambiente familiar, o trabalho por mais que tenha adquirido inúmeros direitos, em grande parte exerce apenas uma função mecânica, o indivíduo sofre com novos problemas, como o trânsito e a violência, deixando o trabalhador mais tempo longe de casa. Filhos sendo criados pelos becos e ruas, assemelhando-se ao ambiente familiar da Revolução Industrial, comprovando que a maquiagem passada ao longo dos anos não conseguiu esconder as cicatrizes dos abusos.


João Pedro Leite - Primeiro ano - Direito Noturno