Com a inserção da máquina no processo de produção, o homem foi
de certa forma, libertado, pois aquela estabeleceu um novo referencial
produtivo; todo o saber do homem havia sido transferido para a máquina
equalizando as competências humanas. Para Marx, essa emancipação trouxe consigo
malefícios visto que a libertação da força de trabalho do homem adulto colocou,
frente aos olhos dos donos dos meios de produção, uma possibilidade de lucro
maior ainda, usar a criança como força de trabalho.
Se a máquina havia emancipado a força física antes
necessária, o capitalista não precisava mais pagar por uma força ociosa, a
potência do homem era algo inútil. Como as máquinas, no século XIX, não possuíam
a tecnologia encontrada hoje de auto programação, era preciso apenas alguém
para operá-la, sem que fosse necessária a força física. A lógica de mercado é
pagar por aquilo que se usa, portanto a criança era um “trabalhador” mais
barato e que estaria operando um objeto com capacidade de produção maior que a
dos homens.
Infelizmente, passados mais de duzentos anos dos relatos de
Marx, o sistema capitalista ainda engloba a criança como força de trabalho. As
condições do século XIX a que eram submetidas pode ainda ser encontrada nas
carvoarias do Centro-Oeste brasileiro, pois o regime de semiescravidão das
indústrias inglesas não difere muito do que encontramos hoje em nosso país.
Entretanto, não precisamos sair de nossas cidades para encontrar uma criança
trabalhando. Muitas vezes, as famílias sem condições para manter os filhos na
escola, acaba usando-os como auxílio à renda familiar.
Encontradas nos semáforos, carvoarias, fábricas
clandestinas, as crianças são retiradas da escola, a qual poderia ser uma forma
de perspectiva de futuro para aquele que tem tanto pela frente. Isso acaba
colocando-as mais próximas da violência e da marginalização; e contribuindo
para a continuidade do processo. A criança que começa a trabalhar tem grandes
chances de transmitir essa condição para os filhos, trazendo um problema
social.
Em contrapartida aos trabalhos infantis ilícitos, comumente
encontramos crianças trabalhando na televisão. Mesmo que não estejam sendo
exploradas fisicamente, a carga de responsabilidade e a necessidade do
amadurecimento precoce trazida na infância podem refletir psicologicamente no
adolescente e no adulto que se formarão a partir dali. O que nos assombra é que
a sociedade, os pais e mesmo a escola, aceitam de muito bom grado o fato da
criança trabalhar.
Marx nos mostra uma condição no século XIX que encontramos
até hoje veiculadas pelos meios de comunicação. A criança não deixou de ser uma
força de trabalho e o sistema capitalista, aparentemente, não a livrará tão
cedo dessa herança.
TEMA: A criança como força de trabalho