Em 1945, Eric Arthur Blair, sob seu eternizado pseudônimo de George
Orwell, publica aquela que mais tarde viria a ser uma das principais obras da
publicidade anticomunista durante a Guerra Fria: “A Revolução dos Bichos”.
Entretanto, esta que parece ser apenas uma moderna fábula satírica sobre a
Revolução Russa de 1917, apresenta, na verdade, uma interessante visão crítica
do autor sobre o Manifesto Comunista de Marx e Engels.
A imagem do sábio comunista idealizador, de Marx, encontra-se refletida
no porco Major: a voz da consciência sonhadora fiel aos princípios revolucionários
“animalistas”. Na fábula, o sábio suíno, ao final de sua vida, compartilha seu
sonho de empoderamento animal deixando as sete diretrizes fundamentais para a estruturação
revolucionária contra os humanos, sendo a principal delas: “Todos os animais
são iguais”. Assim, estabelece-se a analogia com o “Manifesto Comunista” e seu
principio igualitário.
É a partir de tal premissa que
Orwell delimita suas concordâncias e desacordos com Marx e Engels. Para o
escritor socialdemocrata, a crítica comunista aos meios de produção capitalista
e sua consequente opressão ao proletariado parece ser válida e necessária.
Entretanto, o estabelecimento previsto na obra de 1848, de um estamento
intra-burguês classificado como “proletários conscientes” parece ser
contraditório do ponto de vista orwellista, uma vez que fere o princípio da
isonomia social tão defendido pelos pensadores alemães. Dessa maneira, a obra
de George passa a adotar a linha classificada por Marx como “socialismo utópico”,
baseado na descrença com o atingimento da sociedade plenamente comunista e a desvinculação
entre o poder político e a opressão daqueles que o exercem.
Em “Revolução dos Bichos”, os porcos, antes tidos como os guias da
revolução (proletários conscientes) na fazenda tornam-se figuras de alta repressão
para com os que antes eram seus iguais, levando seus seguidores novamente ao
posto de servos da alta exploração. Assim, a obra expurga o socialismo
reacionário de suas páginas e faz da Rússia opressora de Stálin a situação
convergente para toda e qualquer experiência comunista que seguisse à regra os
escritos de Engels e Marx.
George Orwell, ao usufruir do socialismo utópico em seu texto,
desacredita da plena isonomia social e da aproximação entre burguesia e
proletariado. Desse modo, seu pensamento pode ser expressado através da alteração,
realizada pelos porcos, daquele que antes era o mandamento fundamental do
pensamento “animalista”: “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros “.
Lucas Correa Faim - Direito Noturno