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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O Manifesto Animalista

Em 1945, Eric Arthur Blair, sob seu eternizado pseudônimo de George Orwell, publica aquela que mais tarde viria a ser uma das principais obras da publicidade anticomunista durante a Guerra Fria: “A Revolução dos Bichos”. Entretanto, esta que parece ser apenas uma moderna fábula satírica sobre a Revolução Russa de 1917, apresenta, na verdade, uma interessante visão crítica do autor sobre o Manifesto Comunista de Marx e Engels.
A imagem do sábio comunista idealizador, de Marx, encontra-se refletida no porco Major: a voz da consciência sonhadora fiel aos princípios revolucionários “animalistas”. Na fábula, o sábio suíno, ao final de sua vida, compartilha seu sonho de empoderamento animal deixando as sete diretrizes fundamentais para a estruturação revolucionária contra os humanos, sendo a principal delas: “Todos os animais são iguais”. Assim, estabelece-se a analogia com o “Manifesto Comunista” e seu principio igualitário.
 É a partir de tal premissa que Orwell delimita suas concordâncias e desacordos com Marx e Engels. Para o escritor socialdemocrata, a crítica comunista aos meios de produção capitalista e sua consequente opressão ao proletariado parece ser válida e necessária. Entretanto, o estabelecimento previsto na obra de 1848, de um estamento intra-burguês classificado como “proletários conscientes” parece ser contraditório do ponto de vista orwellista, uma vez que fere o princípio da isonomia social tão defendido pelos pensadores alemães. Dessa maneira, a obra de George passa a adotar a linha classificada por Marx como “socialismo utópico”, baseado na descrença com o atingimento da sociedade plenamente  comunista e a desvinculação entre o poder político e a opressão daqueles que o exercem.
Em “Revolução dos Bichos”, os porcos, antes tidos como os guias da revolução (proletários conscientes) na fazenda tornam-se figuras de alta repressão para com os que antes eram seus iguais, levando seus seguidores novamente ao posto de servos da alta exploração. Assim, a obra expurga o socialismo reacionário de suas páginas e faz da Rússia opressora de Stálin a situação convergente para toda e qualquer experiência comunista que seguisse à regra os escritos de Engels e Marx.
George Orwell, ao usufruir do socialismo utópico em seu texto, desacredita da plena isonomia social e da aproximação entre burguesia e proletariado. Desse modo, seu pensamento  pode ser expressado através da alteração, realizada pelos porcos, daquele que antes era o mandamento fundamental do pensamento “animalista”: “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros “.

Lucas Correa Faim - Direito Noturno