Numa praça europeia no final do século XIX começou a juntar uma multidão
de gatos e daquele meio saiam gritos que morreram cinco gatos de fome, notando
que aquele evento juntava a comunidade felina, quase todos para observarem o horrendo
espetáculo, em parte porque era estranho, bem no centro da comunidade, cinco
gatos morrerem de fome, por doença ou atropelados sim, mas de fome não, era
inusitado, um gato magricela aproveitou a oportunidade, para no clamor dos
acontecimentos expor suas ideias, as quais acreditava serem a solução lógica
para que um evento daqueles não se repetisse, afinal, era consenso que ninguém
dos ali presentes gostaria de terminar daquele jeito ou de ver seus entes
queridos em análoga situação e então o gato se pôs a bradar que aquela era a
consequência do desajuste de todos, pois estavam vindo gatos de todas as partes
e decidindo viver ali naquele mesmo lugar, trazendo suas tralhas felinas e ali
se estabelecendo, mas que ali estavam pela promessa de melhora de vida, mas que
não eram capazes de se organizarem para progredir, que os gatos que ali
fundaram aquele modo de vida sofriam muito mais que eles e que eles apenas
acharam que viver ali seria fácil e que as coisas cairiam do céu, não havia
ratos para todos, e aqueles que possuíam muitos ratos também precisavam dos
gatos recém chegados, mas que antes de mais nada era preciso entender seu
lugar, que aquilo que fosse imposto pelos donos dos ratos deveria ser fielmente
cumprido e que a ordem é que traria para eles o equilíbrio, e quem melhor
poderia haver para determinar a ordem e preserva-la que os gatos donos da
maioria dos ratos, quem mais conhecedor do que seria melhor para todos, quem
mais bem intencionado que eles, afinal, para si eles já tinham muitos ratos mas
por serem bons queriam que todos colaborassem e obedecessem para que todos
tivessem ratos também, ressaltou que os gatos mortos desde que ali chegaram não
queriam saber de cooperar para ganhar seus ratos, queriam a divisão dos ratos
pelos quais não contribuíram, essa era a verdadeira causa de suas mortes, não a
fome, a desobediência, a vontade de querer para si o que era de outrem sem
trabalhar e que ele, o gato magricela, poderia conversar com os gatos ricos de
ratos, para que esses determinassem funções aos que ali estavam e em troca
todos teriam seus ratos, porém todos deveriam se ajustar, todos deveriam
obedecer e ocupar o lugar que lhes fosse determinado sem questionamentos, pois ao
contrario estariam fadados a terminar como os cinco gatos mortos.
Do meio da multidão sai um gato peludo, que a principio até concordou com
o gato magricela, mas viu que no decorrer de seu discurso o gato magricela
misturou as ideias e estava ali promovendo não a organização da gataiada mas
sua submissão, deu um pulo sobre o gato magricela espantando-o pois viu que os
gatos ricos de ratos precisavam muito mais dos gatos que estavam ali do que o
contrário, disse sim que que todos ali precisariam trabalhar mas que o trabalho
deveria ser justo, pois os gatos que já trabalhavam para os gatos ricos de
ratos estavam mais magrelos que os gatos mortos, os ratos pagos pelo trabalho
eram insuficientes para matar a fome dos gatos que trabalhavam, que os gatos
ricos não eram bonzinhos, tão pouco gostavam dos demais gatos e que quanto mais
faziam os gatos pobres trabalharem mais ratos tinham, sem fazer nada para
obte-los, diziam que era possível obter ratos infinitos através do trabalho árduo,
poderiam até ter mais ratos do que eles próprios e faziam-nos sonhar a noite
com a possibilidade de um dia ter uma infinidade de ratos, porém a realidade é
que o que os gatos ricos tinham sobrando a sua disposição não eram ratos e sim
gatos e utilizavam os gatos até sua ruína e que depois os descartava, ressaltou
que os gatos mortos eram gatos velhos e que não tinham serventia para trabalho
mais e disse que todos ali poderiam ficar velhos e não conseguir sequer pegar
seus próprios ratos e que os gatos jovens deveriam se preocupar em cuidar dos
gatos velhos, que deveriam antes de pensar em adquirir ratos, trabalhando para
gatos, pensar de maneira solidaria, serem leais uns aos outros e que essa sim
seria a verdadeira organização, pois os donos dos ratos eram poucos e que esses
ratos eram de todos, inclusive dos gatos que já não poderiam caça-los, bradou
que aqueles gatos ricos de ratos só eram parecidos com eles na forma física que
não se tratavam de iguais, que eles poderiam sim trabalhar, mas que a
quantidade de ratos deveria ser justa e suficiente, não só para encher a
barriga do gato que trabalha, mas também a barriga de seus filhotes e idosos,
que unidos os gatos ricos não teriam o que fazer e teriam que dividir
justamente os ratos adquiridos conjuntamente, pois logo seriam como os cinco
gatos velhos que curiosamente ainda jaziam ali no sol da praça, salientou que
era preciso miar, que era necessário cuspir bolas de pelo ao final do dia, mas
que os gatos ricos os faziam esquecer de como era se lamber e que quando fosse possível
já nem saberiam como faze-lo, pois quanto mais eles acreditassem que era possível
ter tantos ratos quantos eles, através desse tipo de trabalho, menos seria possível
de fato obte-los ou mesmo ter qualquer coisa.
Muitos gatos gostaram das ideias dos dois gatos, gostaram tanto que o
grupo se dividiu e resolveu segui-los para ouvir mais sobre suas ideias, pois
ambos prometiam de formas diferentes os tão amados ratos, seja por submissão ou
pela luta, fato é que o assunto eram os deliciosos ratos, e afinal todos ali
adoravam um bom rato, tanto que acabaram por esquecer os cinco gatos mortos ali
mesmo na praça, pois afinal de contas o assunto da praça era sobre como
conseguir ratos e não como enterrar gatos, o que acabou sendo muito conveniente
para um grupo de urubus que estavam por ali.
TRABALHO SOBRE UMA INTERPRETAÇÃO MATERIALISTA DE UMA REALIDADE ETÉREA
NOME: ANTONIO JAIR DE SOUSA JUNIOR
1º ANO DIREITO
TURMA: MANHÃ