A inserção do meio informacional de comunicações nos conjuntos de produção, junto a integração política, econômica e cultural mundial, referente ao fenômeno da globalização, permitiram a formação de um contexto social nunca antes testemunhado. Este quadro diz respeito a uma nova época em que as relações são frágeis e maleáveis, tal como os líquidos. O sociólogo Bauman aponta que as instituições e as conexões sociais passaram a ser cada vez menos sólidas, isto é, se constroem ou desconstroem com facilidade.
Diante disso, a Teoria da Modernidade Líquida, desenvolvida por Bauman, busca descrever as atuais relações entre indivíduos e instituições consequentes da composição conjuntural proporcionada pela globalização em uma sociedade que se mostra encoberta por mudanças constantes. O indivíduo nunca presenciou tanta incerteza em meio a inconstância e as rápidas transformações que se modelam continuamente. Nesse cenário, a angústia passa a ser comum e presente nos sujeitos que não compreendem o atual funcionamento das relações sociais e estruturais.
Nesse contexto, a imaginação sociológica expressa por C. Wright Mills, permite compreender essas relações entre a sociedade e os sujeitos, identificando que, muitas vezes, problemas pessoais não são apenas questões individuais, mas resquícios de adversidades sociais e estruturais. O desemprego, como prova, pode aparentar geralmente ser uma questão pessoal de engajamento profissional, no entanto, se esse estiver se tornado estruturado, o desemprego não se posiciona mais em âmbito individual, mas influenciando todo o coletivo. Com a imaginação sociológica, os sujeitos passam a ter maior capacidade de compreensão para tomar decisões e agir nos limites e possibilidades impostos pela estrutura precedente de agentes sociais e históricos vastos.
A discriminação racial, por exemplo, é um agente estrutural social que afeta a vida de minorias étnicas. A compreensão individual e coletiva deste, porém, pode ser usada para combatê-las e buscar mudanças sociais relevantes. É nesse sentido que a introdução ao letramento racial reproduz um processo de conscientização sociológica do indivíduo sobre a estrutura e do funcionamento do racismo na sociedade. Discurso este, defendido por Grada Kilomba, ao referir que o letramento viabiliza a formação de indivíduos críticos sobre a realidade que os cerca.
Em suma, discute-se a introdução de um olhar sociológico crítico no estudo das ciências sociais humanas e na formação dos sujeitos contemporâneos analíticos e autoconscientes do período histórico em que eles se encontram. A perspectiva social aguçada pela imaginação sociológica permite a compreensão de um mundo cheio de mudanças e transformações, e agir sobre elas de maneira mais ativa pelo entendimento do seu funcionamento.