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quinta-feira, 28 de março de 2024

Fumar, fato social ?

  O grande Sociólogo, e considerado por muitos um dos três fundadores da sociologia, Émile Durkheim, considera como fato social toda maneira de agir, pensar e sentir que exercem determinada força sobre os indivíduos, obrigando-os a se adaptarem às regras da sociedade onde vivem. Um bom exemplo de fato social, citado por Durkheim, foi de uma sociedade que, coersitivamente, não permitia alimentação dum tipo de carne específica, e para o sociólogo, a superação desse dogma aparentemente simples e sem sentido, resultaria na quebra social daquela sociedade. 

Essa mesma lógica pode ser aplicada na Unesp Franca. Onde existe um fato social, o uso de cigarros tradicionais ou eletrônicos por parte do corpo docente e discente, em toda extensão do campus. Uma ato normalizado dentro da universidade que não é reprimido, muito pelo contrário, sendo ele um fato social, atua como impositivo dentro do convívio social, não podendo escapar dos meios e lugares. 

É possível ver esse fenômeno na fila do restaurante universitário, onde é obrigatório que os graduandos estejam para saciar suas necessidades básicas de alimentação. E nesse ambiente indivíduos fumam, impondo aos outros que façam parte, ou sejam vítimas de suas ações, aparentemente individuais, mas para eles fazem parte da estrutura social e costumeira da Unesp. Sistema não somente de coerção, mas de sanção, podendo ser excluído de grupos ou tachado de "anormal" por não compartilhar dos mesmo princípios sociais.

Não é novidade para as pessoas que fumar faz mal, mas caso haja alguma discordância. "A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo".Dados tirados do site oficial do governo brasileiro, e só reafirmam que fumar é um ato de degradação corporal, e não somente isso, como é citado na pesquisa "1,2 milhões de mortes ao ano são resultados diretos, por parte de não fumantes na inalação dessas substâncias". 

Mas para o fato social, pouco importa se o costume faz bem, se é científico ou não, não precisa haver coerência para que seja fundamentado, só precisa "fazer sentido" para os indivíduos e para as bolhas sociais que eles pertencem. Igual a sociedade que não come um tipo de carne específica, ou um grupo político que canta o hino nacional para um pneu, que também acha normal chamar através das luzes do celular uma intervenção extraterrestre. Similarmente, existem pessoas que mesmo sabendo que cigarro faz mal, fumam, porque para elas, e para o meio, "faz sentido" fumar.

---Vinicius de Olieveira David-Unesp Franca- Direito Matutino---

Educação e o forjamento do ser social

 Nas discussões do sociólogo Durkheim sobre o fato social e funcionalismo, é possível fazer uma analise da função da educação no cenário social. Tendo em vista que as instituições educacionais são elementos essenciais para a socialização do indíviduo, o ponto de vista do funcionalismo está relacionado uma vez que entende-se como papel da educação submeter o homem ao social de forma "artificial" através de regras interiorizadas, para que, deste modo seja efetiva a imposição de visões e comportamentos de forma "naturalizada" para o individuo.

Sob essa ótica, pode-se considerar de significante importância dar atenção as tentativas de diminuição das matérias de ciências humanas - história, sociologia, filosofia, etc. - no currículo escolar dos ensinos fundamental e médio que vêm acontecendo, uma vez que tais diciplinas são essenciais para o desenvolvimento de senso crítico, conhecimento sobre a evolução e funcionamento do próprio ser e desconstrução de tabus e preconceitos. Além disso, com um sistema educacional que forma mentes de senso comum e limitadas, torna-se facilitada a inserção de autoritarismo, facismo e falsos conhecimentos na vida social, deste modo ameaçando a manutenção de uma democracia.


Ana Luiza Reimberg - Direito noturno

Realmente livres ?

 

  A liberdade pessoal foi e é fonte de discussão, em razão de que as pessoas sempre prezaram e lutaram por sua liberdade, hoje em dia, através de leis, todos os indivíduos são livres, apenas limitados pela própria lei. Análogo à  questão, é possível inserir o pensamento do sociólogo Émile Durkheim, o pensador tem como objeto de estudo o Fato Social, no qual o explica como crenças, tendências e práticas tomadas coletivamente e que existem além do indivíduo, uma característica do fato social e a coerção que ele exerce sobre as pessoas que não agem conforme determinada tendência ou costume, assim, ela é punida ou excluída e sofre grande pressão social. A partir disso, torna-se necessário relacionar a coerção que o fato social exerce com a liberdade individual. 

    Nesse sentido, surge a discussão em que medida somos livres dentro das sociedades, pois se uma pessoa não agir conforme os fatos sociais existentes, sofrerá sanções sociais. Desse modo, muitas pessoas podem usar como argumento, se esses fatos sociais existem é devido à razão de que são bons para a população e alguns realmente são, porém nem todos. Diante disso, um exemplo é o costume de beber bebidas alcoólicas e fumar, muito popular antigamente e até os dias atuais, são atitudes que são extremamente prejudiciais à saúde, entretanto permanecem e as pessoas que não aderem a esse modo de agir são excluídas socialmente, assim, em muitos casos, as pessoas cedem à pressão social mesmo existindo a liberdade de negar. 

   Conclui-se, que apesar de existir o direito de escolha, somos sujeitos a escolher a vontade do coletivo, ou então, há uma grande luta para quem escolhe diferente da maioria, portanto, existe a liberdade, mas se ela for contra o fato social é necessária muita luta e resistência às sanções estabelecidas pela sociedade. 


Funcionalismo e a Era da Tecnologia

    A Era da Tecnologia representa para muitos pensadores a aceleração de verbos e substantivos do cotidiano: a moda, as noticias, a ciência, a infância, a comunicação, tudo é influenciado, acelerado e intensificado pelas redes socias, e o Fato Social não é exceção dessa conjuntura. 
    Segundo Durkheim, o Fato Social é toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Nessa perspectiva, pode-se abordar o conceito do "cancelamento" o qual desde a última década tornou-se uma maneira de coagir o homem a atuar de acordo com as regras socias, funcionando da mesma maneira que o material de estudo de Durkheim. Ao ameaçar um indivíduo de uma sanção, como a perda de seguidores e de atenção nas redes socias, os influenciadores, desde atores até "tiktokers", necessitam se expor de uma maneira especifica e controlada, para evitar essa reação punitiva. Essa reação também é intensificada, já que vários indivíduos se sentem no poder de castigar o próximo e, realmente, possuem esse poder pelo uso das redes socias. 
    Um exemplo dessa afirmativa é o ocorrido com a cantora americana Taylor Swift em 2014, em que através das redes sociais, milhões de pessoas postaram comentários maldosos sobre a artista, criando uma onda de ódio mundial que a persegue até os dias de hoje. Isso só é possível por causa das novas tecnologias, que aumentam o alcance de qualquer fato, criam um espaço para expor opinião ilimitadamente e impedem o esquecimento natural. 
    Dessarte, a Era da Tecnologia facilita a exposição dos indivíduos para a sociedade, maximizando todos os aspectos do Fato Social. 
    

A pena como expiação: a ideia da anomia durkheimiana na sociedade brasileira

    Para Émile Durkheim, cuja teoria sociológica é o funcionalismo, a sociedade é unida harmoniosamente por meio de uma solidariedade orgânica, de forma que há uma "consciência coletiva", formada pelo conjunto de crenças e sentimentos comuns a seus membros, a qual independe do indivíduo, mas o influencia. Assim, na lógica durkheimiana, crimes apenas o são por irem contra essa "consciência comum", e, ao romperem com a solidariedade, criam uma anomia, situação que deve ser punida com um caráter expiatório, a fim de reafirmar a unidade da "consciência coletiva". Analisando essa perspectiva, é possível afirmar que, no Brasil, a população possui um pensamento muito parecido ao durkheimiano, gerando, por exemplo, justiçamento e a não ressocialização dos presos.

    A princípio, vale ressaltar como o justiçamento é presente na sociedade brasileira. Conhecido também como "fazer justiça com as próprias mãos", o comportamento é comum por partir de uma ideia de punir aqueles que considera criadores de desordem em alguma intensidade, ocorrendo, principalmente, em grupos. Segundo o psicólogo francês Gustave Le Bon, em seu livro "Psicologia das Multidões", ao estar no meio de um grupo, pessoas normalmente inofensivas podem ter comportamentos violentos, estimuladas pela sensação de anonimato e pertencimento. Nesse viés, em janeiro de 2022, o congolês Moïse Kabagambe foi morto no Rio de Janeiro, vítima de uma agressão por um grupo de cinco pessoas, por confundirem seu pedido por um pagamento atrasado por seu trabalho em um quiosque com uma briga, mostrando como a ideia de justiçamento é falha, principalmente por não considerar a possibilidade da pessoa, na verdade, ser inocente, e basear-se apenas em um conhecimento raso sobre o caso, ainda mais com o racismo e outros preconceitos como motivadores.

    Ademais, a ideia de uma punição a ser realizada também pelos cidadãos faz com que ex-presidiários não consigam se reintegrar à sociedade. Dentro de presídios e mesmo após cumprirem suas penas, estes são tratados de uma maneira negativa por seus compatriotas, os quais, devido à sua ficha criminal, não deixam com que eles sejam aceitos em diversos locais, tais quais em vagas de emprego ou simplesmente na vida pública, tornando a punição por seus crimes ainda maior e impedindo a superação total deles. Por conseguinte, a ressocialização no Brasil é um conceito falho, uma vez que, de acordo com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e a Secretaria Nacional de Políticas Penais, apenas 6 a cada 25 presos trabalham e, devido à alta taxa de desemprego nesse demográfico, a reincidência no crime é de 46%.

    Desse modo, é perceptível como a ideia de que os criadores de uma possível anomia devem ser punidos, às vezes de uma maneira até mesmo desproporcional, está enraizada na cultura brasileira. Logo, deve-se clarificar que, apesar de haver injustiças em alguns julgamentos, não cabe à população a punição de pessoas inocentes ou daquelas que já cumpriram a sentença dada.


Beatriz Perussi Marcuzzo, 1º ano - noturno, RA: 241220459