O dicionário traz que revolução é: o ato ou efeito de revolver(-se), revolucionar(-se); rebelião armada, revolta, sublevação; transformação radical de estrutura política, econômica e social, dos conceitos artísticos ou científicos. Se voltarmos à França de 1789 nos depararemos com a derrubada da nobreza e do clero pelo Terceiro Estado, formado por industriais, ricos comerciantes, banqueiros, operários, camponeses, lojistas, aprendizes, artesãos, mendigos, pequenos proprietários e servos. A miséria da grande massa que compunha o Terceiro Estado contrastava com os setores que compunham a burguesia, entretanto havia um forte elo que os uniam: constituíam o enorme contingente que, por estar privado de qualquer privilégio ou direito político, representava uma forte oposição ao Antigo Regime. Eis a Revolução Francesa.
Foram os sans-culottes que invadiram o Arsenal dos Inválidos, o depósito de armas do exército, e depois a fortaleza da Bastilha, um presídio político que simbolizava a natureza violenta do regime contra seus opositores. De Paris, a insurreição popular alastrou-se para todo o país, ecoando na Constituinte. O clero e a nobreza acovardaram-se diante do Terceiro Estado e na noite de 4 para 5 de agosto de 1789 (noite do Grande Medo), todas as propostas encaminhadas pelo Terceiro Estado foram aprovadas, sem qualquer veto. Nesta noite, foi aprovada a abolição de todos os privilégios feudais, dentre eles os privilégios com base no nascimento. Era o fim da estrutura social do Antigo Regime. Diante disso, será mesmo que foi apenas a burguesia quem fez a revolução?
O que é verdade, porém, é que apenas os interesses dessa classe social foram atendidos. Em 26 de agosto a Assembleia proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, garantindo o direito à liberdade (sobretudo a liberdade à propriedade privada, inviolável de acordo com os ideais burgueses), à igualdade jurídica de todos (de todos que pudessem pagar por ela, uma vez que a burguesia estabeleceu um critério censitário de participação popular) e o direito de resistir à opressão (opressão esta exercida pelo clero e pela nobreza que colocava obstáculos aos interesses burgueses). Assim fica claro que a vitória representada pela ampla participação popular foi canalizada para a burguesia, que buscou realizar seu projeto de revolução da forma menos “revolucionária” possível.
Fruto direto do surgimento de um novo mundo capitalista e burguês, de novos anceios de superação da ordem vigente, e das perspectivas de progresso material e social, o Iluminismo foi quem estabeleceu a relação entre sociedade e produção cultural que marcaram a Idade Moderna, caracterizando o predomínio de uma tendência crescente à visão racionalista do mundo, que traduzia a afirmação da burguesia como classse social hegemônica. Paralelamente a isso, a própria consolidação do capitalismo, trouxe, como contrapartida, a consolidação do proletariado urbano enquanto classe. Assim, ao mesmo tempo em que se verifica a supremacia burguesa, temos também a ação política do proletariado ganhando um peso cada vez maior.
Segundo Fredrich Engels e Karl Marx a luta de classes seria a força motriz por trás das grandes revoluções na história. É com base nesse pensamento, que eles fundamentam o materialismo histórico, segundo o qual a resposta para os males de qualquer época não estão nas idéias, mas na própria história. Sendo assim, o pensamento marxista se estrutura, principalmente, por meio da inversão do pensamento Hegeliano. O propósito de uma história pautada no materialismo aparece como uma oposição ao idealismo. Assim Engels afirma que o socialismo moderno é fruto dos antagonismos de classe que imperam na sociedade entre possidores e despossuídos, capitalistas e operários assalariados.
Engels afirma que para converter o socialismo em ciência era necessário, antes de tudo, situá-lo no terreno da realidade. Na obra “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, Engels parte de uma análise científica do capitalismo e de uma visão metodológica da histórica para se chegar a uma conclusão acerca dos rumores e dos mecanismos da luta operária. Assim, atribui aos elementos econômicos, à produção da riqueza material e à sua apropriação o papel determinate na estrutura da sociedade.
É importante percebermos que Engels não considera o modelo feudal superior ao modelo capitalista, mas faz uma análise histórica sobre a organização social, política e econômica da época para entendermos como se deu a mudança dos meios de produção e sua apropriação, que geraram o divórcio entre e produtor e os meios de produção, e condenou o operariado a ser assalariado por toda a vida.
A análise detalhada e minuciosa sobre o capitalismo levou Marx à conclusão de que a essência do lucro capitalista localizava-se no que chamou de mais-valia. Consiste ela na diferença, em valor, entre a mercadoria que o trabalho do operário cria e sua remuneração, diferença essa básica para a extração de exedente econômico do capitalismo, e para a reprodução do sistema. Assim, conclui-se que a sobrevivência do Capitalismo está diretamente condicionada ao grau de exploração da massa trabalhadora, o que gera o inevitável conflito entre a burguesia e o operariado. Para que o operariado triunfasse, portanto, era preciso a superação do capitalismo e a instalação de uma sociedade sem classes. Esses objetivos seriam alcançados através de uma revolução socialista. Em um primeiro momento, haveria a socialização dos meios de produção e o controle do Estado pela ditadura do proletariado. Assim, à medida que desaparecesse a anarquia da produção social, diluiria-se também a autoridade política do Estado. Os homens, donos por fim de sua própria existência social, tornariam-se senhores de si mesmos, homens livres. Bom, para muitos, uma grande utopia.
“Utopia” é uma palavra de origem grega, antítese de topoi (“lugar comum”), indentificando-se, portanto, como “lugar incomum”. Sendo assim, procuro acreditar na ”busca desse “lugar não comum”, ou seja, desse lugar “que ainda não é”, mas que poderá vira a ser: a sociedade justa e igualitária, tal qual como proposta pelos mais autênticos ideais socialistas.”Antônio Alberto Machado. Para mim, um mundo enganoso e irrealizável é aquele que justifica desigualdades e explorações, não aquele que busca melhorias e tranformações.
Se podemos afirmar que o socialismo, da forma como foi implantado, na antiga URSS, na China, em Cuba, na Coréia do Norte, não funcionou, também podemos afirmar que em nenhum desse países os ideais socialistas de Engels e Marx foram usados de maneira fiel. Começando pelo fato de que em nenhum deles o capitalismo se encontrava desenvolvido se forma plena, e ao invés de uma socialização do lucro, ocorreu uma socialização da pobreza. O progresso advindo das revoluções industriais e do avanço da ciência e da tecnologia é indiscutível. Seria praticamente impossível, hoje, imaginar um mundo sem esses avanços. No entanto, não devemos maximar o capitalismo, ignorando seus efeitos negativos e muitas vezes desumanos.