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quinta-feira, 4 de abril de 2019

                                                 
                                                   Sobre a fuga da lógica sociológica 

    A civilização que se desenvolveu em torno da obtenção de poder econômico e pseudopolítico, a partir do século XVl com a colonização, revoluções industriais e o recente fenômeno neoliberal, no qual tudo e todos se resumem a mercadoria ou um meio para esta, demonstra o quanto as paixões e vícios humanos se tornaram intrínsecos ao poder aquisitivo individual. Isto leva o humano à uma infinda distorção de valores pois modifica a sua relação com o trabalho, que passa a ser o caminho para o dinheiro e a alegria de consumir, por conseguinte, o trabalho perde seu valor de transformação do mundo pelo individuo e torna-se um instrumento que molda o ser à lógica capitalista e individualista. 
   Esta reação em cadeia desfigura o cunho coletivo da sociedade humana, levando-a rumo à fragmentação, incoerente com o princípio de que o humano é um ser social. A fuga de um princípio tão básico - e precioso - impossibilita a compreensão de conceitos formados a partir dele, criando cenários falaciosos que induzem nossa especie a grandes mentiras convencionadas como verdades - que, ordinariamente passam despercebidas e incontestadas. 
   Mentiras são, por excelência, distantes da realidade, e por isso podem tomar quaisquer formas, quando cultivadas, enraizam na sociedade noções incoerentes sobre como atuar em conjunto para solucionar os problemas mais primitivos ainda presentes no cotidiano, como a falta de alimento para uma grande fração da sociedade, enquanto outra descarta toneladas de comida para o lixo. 
   A lógica que Descartes e Bacon propõem - centenas de anos atrás - distanciam o ser da concepção de mundo baseada em seus interesses e experiencias pessoais pois utilizam a sensibilidade e a capacidade de assimilação para manter a mente permeável ao novo, ao pensamento e entendimento de mundo dos seres em sua volta, afiando a sensatez, o autoconhecimento e a capacidade de comunicação. Fatores que fogem ao comportamento fascistoide, que abomina a pluralidade de ideias e a conceptofagia para a evolução das relações sociais, pessoais, politicas e econômicas da antroposfera. 

Descartes, fascismo e segregação social


A busca pela verdade é um dos propulsores da racionalidade inerente ao ser humano. A história da humanidade é marcada pela busca do “conhecer”. Em sua trajetória pela Terra, o ser humano, aliado ao tempo e espaço nos quais está inserido tende a buscar a resultados cabíveis ao que entende por verdade, e, por conseguinte, a verdade como fim em si mesma.
Rene Descartes, dentre outros títulos, foi um filósofo do século XVII que em sua passagem pelo mundo buscou organizar um método de busca da verdade, para ele plena e absoluta. De acordo com seu entendimento, Descartes idealizou um método de sistematização do conhecimento configurado pela compartimentalização dos variados temas e objetos que nos rodeiam, como a física, a matemática, a filosofia e assim por diante.
Este método é, porém, contestado no filme “O ponto de mutação” sob à ótica da intensa separação de matérias dentro da analogia da análise das peças de um relógio e não este como um todo. No filme, esta visão de sociedade é criticada por uma cientista, uma vez que não abrange uma visão holística da sociedade, de forma global, contextualizada, mas sim compartimentalizada.
A análise segregada da sociedade, de temas de estudo, de busca por uma verdade absoluta leva, em determinados casos, à expansão de doutrinas totalitárias como se observa com o crescimento de pensamentos neofascistas no mundo atual. Com base em lemas totalitários do passado, como a eugenia, esses grupos se apoiam justamente na busca intolerante pela verdade absoluta, sem um aprofundamento de temas complexos e de forma segregacionista no âmbito social.
Por fim, cabe ressaltar a necessidade de coibir a intolerância, de não tolerar o intolerante, pois a convivência salutar preconiza diversidade de ideias, de culturas, de formas de ser, não restando espaço apenas àquele que refuta tais princípios inerentes ao Estado Democrático de Direito.

Marina Christensen