O Positivismo criado e defendido pelo filósofo Auguste Comte traduz o trabalho como um fator dignificante que promove a felicidade ao indivíduo, uma vez que o faz reconhecer seu papel social na sociedade. Para ele, o método positivo transforma a ciência moderna em uma fonte de conhecimento que promove utilidade aos objetos e cidadãos que compõe os corpos sociais. Um cidadão útil é, portanto, um cidadão trabalhador que aceita o seu lugar na sociedade, permitindo que essa seja harmoniosa e equilibrada através da ação de instituições que garantem a ordem e, por conseguinte, o progresso por meio da dominação, seja ela indireta ou diretamente empregada.
É possível traçar um paralelo desse pensamento positivista aos Centros de Referência Especializado para População em situação de rua. Esses Centros POP são mantidos pela Prefeitura e oferecem alimentação, acompanhamento social, psicológico e profissional aos andarilhos. Segundo o núcleo de cidadania ativa, os frequentadores do Centro POP de Franca são geralmente jovens (de 20 a 35 anos) usuários de drogas e itinerantes, já tendo passado, metade deles, pelo sistema prisional alguma vez.
Para o positivismo, o Centro POP é visto como uma patologia à sociedade, pois oferece privilégios e uma possibilidade de ascensão social à indivíduos que não trabalham, ou seja, que não são úteis à sociedade. Assim, a única saída para esse "problema" é o fechamento do Centro POP a fim de reestabelecer a ordem da sociedade. Essa solução positiva é defendida hoje pelos vereadores da Câmara Municipal de Franca que reconhecem o local como sendo um "ponto de referência para usuários de drogas e álcool, pedintes e até criminosos". Ocorre também a ação da moral positiva, a qual busca a salvação coletiva, promovendo intensas críticas feitas pela comunidade vizinha. Além disso, segundo G1, os comerciantes da Avenida Hélio Palermo, em Franca (SP), organizaram um abaixo-assinado para reivindicar a retirada de um abrigo para moradores de rua situados no local, alegando que a presença dos moradores de rua causa transtornos e afasta clientes dos estabelecimentos comerciais da região.
Essas críticas feitas tanto pela Câmara Municipal de Franca quanto pela comunidade, comprovam que o pensamento positivo ainda é um pensamento atual, pois julga como necessário uma desigualdade, ou seja, diferentes papéis sociais devem ser aceitos e cumpridos, para que haja uma ordem estrutural na sociedade e que tudo que confronte esse pensamento deve ser visto como patológico.
Júlia Sêco Pereira Gonçalves- Direito Matutino