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domingo, 4 de julho de 2021

UM RÁPIDO ENSAIO SOBRE O SENSO COMUM

Eu tenho um questionamento constante que pulsa em minha mente desde meu primeiro contato com a filosofia: o que é a verdade?

É certo que não existe resposta para esse questionamento, mas respostas, entre elas a ciência. Esse fato é discutido ao longo do filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro homônimo, que traz uma grande alteração no fazer cinematográfico: tira o foco do ambiente e dos personagens, mas centraliza-o nas discussões e nos questionamentos.

Com um roteiro que orgulharia Descartes, cheio de questionamentos para chegar a uma resposta e uma constante desconstrução de conceitos. Da mesma forma, Descartes, em seu livro “Discurso do Método”, traz os conceitos basilares do racionalismo (corrente filosófica representada por René e sintetizável pela máxima: “penso, logo existo”) e do fazer científico, além de falar da maneira como abraçamos determinadas ideias sem questioná-las, caindo no senso comum.

Há alguns anos, eu assisti uma reportagem do “Fantástico” sobre um homem que vivia no interior do sertão nordestino, um homem que não foi alfabetizado, mas permitiu-se aprender a leitura e apaixonou-se pelo Descartes. Virou um grande questionador. Um homem simples que se libertou das amarras comuns e partiu em busca do conhecimento em meio a literatura. Ele me faz lembrar do Mito da Caverna, do Platão, me faz perceber como a filosofia não deve ser um assunto somente universitário e limitado aos acadêmicos, mas deve ser do povo também, pois a eles cabe o pensamento de grandes massas.

Às vezes eu me questiono, como seria o mundo se todos lêssemos e nos baseássemos em Descartes para vivermos? Será que o mundo seria melhor? Será que padrões de beleza, de moda, de comportamento, de sexualidade...estariam em constante revisão e por isso deixariam de ter valor? Acho que essas são utopias que se limitam à nossa imaginação.

Muito diferente de Descartes, um homem que se apoiava nos sentidos para a construção da ciência, era Francis Bacon, o escritor de “Novum Organum”, que em tradução livre significa Nova Ferramenta. O livro faz jus ao nome, discutindo um método empirista, diferente das ideias discutidas na filosofia que o antecede, apoiando-se na dependência dos sentidos.

Bacon e Descartes se opõem em grande parte das suas composições, mas tem um ponto de encontro: a rejeição pela ideia comum. O que Francis chamaria de ídolos (da tribo, da caverna, do foro e da crença) que precisavam ser combatidos por enturvecer a visão humana e que Descartes via como uma forma de contentar-se, não precisando pensar mais do que o “necessário”, não sendo critério de verdade.

A verdade é que não dá para se dizer com certeza o que é verdade, nem como se chegar nela, grandes pensadores como Bacon e Descartes (acrescento também David Hume, Kant, Locke, além de muitos outros) nos deixaram algumas ideias de como conduzir nossa razão para usufruirmos do máximo dela, mas somos seres individuais e nossa razão e a condução desta cabe somente a nós. O fato é que devemos ter senso para não cairmos no senso comum, fazendo valer do nosso poder de pensar.

Uma última mensagem que deixo acerca do filme, para Sônia, uma mulher culta e representante da ciência, do pensar “fora da caixinha” e para Jack, um político muito preso a modernização e ao senso comum: obrigado, a discussão de vocês marcaram uma geração e continuarão marcando, afinal, o método do fazer científico e de malear a razão serão temas que antecedem o homem e o sucederá, dissertado profundamente por vocês.

Gabriel Rigonato - 1º semestre de direito noturno

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