À herança de Descartes e Bacon, que não se manche ainda mais pelo negacionismo científico...
A
produção do conhecimento já se deu de muitas formas distintas ao longo do
processo de evolução pelo qual passou a humanidade. Em cada período produzimos
de forma diferente, sempre da forma que mais nos beneficiou. A princípio, o
utilitarismo do conhecimento do senso comum garantiu nossa existência, o uso de
ervas medicinais nos manteve vivos, a produção de ferramentas facilitou nosso
trabalho, o uso de animais, da força das águas e dos ventos automatizou algumas
tarefas e nos deu tempo para pensar em mais que apenas sobreviver, para
produzir trabalhos intelectuais.
Os
gregos foram os primeiros a se destacar por sua produção intelectual, fomentaram
a ciência, a filosofia e contribuíram imensamente para o direito e a política. Sua
produção se baseava na observação da natureza, atividade que exerciam a fim de conhecê-la
e tirar proveito dela. Sua forma de produção de conhecimento foi extremamente relevante
e contribuiu muito para o avanço da humanidade, tanto que foi tomada como base
por diversos outros povos de lugares e em tempos diferentes.
No
entanto, na moderna idade, alguns pensadores começaram a se questionar sobre a
real utilidade da produção de conhecimento meramente observativa. Caso de Francis
Bacon, por exemplo, que fez pesadas críticas a respeito da ciência dos gregos. Para
Bacon, o conhecimento produzido apenas com base na observação, e que não buscava
objetivamente melhorias para a humanidade, não passava de um conhecimento fútil
e insignificante, que entende por entender, mas sem um fim prático. Este acreditava
que devíamos dobrar a natureza à nossa vontade, realizando experimentos e tendo
como base um método que guiaria a ciência moderna e a nova forma de produção do
conhecimento com base na experimentação científica. Esse assunto foi tratado
por ele em seu livro “Novum Organum”, o novo instrumento usado na busca do
conhecimento, publicado no ano de 1620, e que trouxe uma revolução à ciência.
Outro
dos grandes pensadores que revolucionaram a ciência foi René Descartes, que
refletiu sobre a mesma coisa. Este também via a produção grega como algo inútil
e classificava-a como uma forma de produção de conhecimento estéril, que não progrediria
a humanidade. Foi também o responsável por propor a dúvida como instrumento de
produção de conhecimento, afirmando que primeiro devemos duvidar, levantar
questões acerca de um objeto, e então tentar, através da razão, respondê-las. Assim,
duvidando, poderíamos distinguir aquilo que é científico e verdadeiro por sua
clareza, pois apenas seria claro aquilo que se provasse real, daí a máxima
“penso, logo existo” tão icônica de sua obra “Discurso sobre o método”, de
1637.
Ambos,
juntamente de outros muitos nomes importantes da história, pavimentaram os métodos
da produção do conhecimento científico, e vissem hoje a situação em que se encontra
o mundo, sentiriam não mais que desgosto. Pessoas que nasceram anos depois de
Descartes e Bacon e se beneficiaram dos conhecimentos que estes tanto contribuíram
para construir, hoje os rejeitam, preterindo por viver às sombras da ignorância,
e tendo somente o senso comum, o que se um dia nos garantiu, hoje ameaça nossa
existência.
Em plena pandemia, em meio a todas as mortes
causadas pelo vírus do Covid-19, os negacionistas da ciência jogam no lixo os
esforços dos pensadores e cientistas que fazem um trabalho sério para livrar o
mundo do caos que se instaurou com a doença. Negar-se a vacinação, a usar máscara ou ainda
pregar falsas curas por remédios que não tem comprovação alguma de eficácia contra
o vírus é um desserviço para o mundo e uma ofensa a aqueles que se dedicaram à ciência
e ao combate a pandemia.
Rodrigo Beloti de Morais
1º ano - Noturno
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