Tanto Bacon quanto Descartes foram pedras sólidas nas quais se fundamentou a ciência moderna. Com evidente repulsa pelos métodos usuais de seu tempo de buscar conhecimento, em especial sendo os primeiros a questionar os antigos gregos, ambos acreditavam que esta crítica aos métodos antigos era necessária. Porém ambos tiveram sérias discordâncias sobre o que deveria substitui-los.
Descartes inicia sua obra com um severo ceticismo de tudo o que há, não tomando como real tudo o que havia conhecido até então mais do que as cenas de um sonho qualquer. Trazendo à tona seu antigo apreço pelas matemáticas, tentou trazer a outros campos do saber tal racionalidade por meio de exigências similares ao que sempre foi necessário com as primeiras, pela sua inata precisão, facilidade de falsificação e solução de uma hipótese ou problema. Esta se torna a sua famosa máxima: “Cogito ergo sum” ou “ Penso, logo existo”, uma análise mais detalhada nos leva a mais visível característica de seu novo meio de estabelecimento da verdade: O protagonismo da razão e da lógica na busca das verdades científicas.
Bacon por outro lado, apesar de buscar o mesmo fim, toma outro caminho: Ao invés de tentar inferir princípios gerais em sua mente e então buscar os princípios menores, como faz Descartes, ele propõe a busca empírica de axiomas menores, e então médios até chegar aos maiores, numa ascenção gradual e ininterrupta. Este modelo, apesar d'ele não saber quando escreveu, era o rascunho da sistematização do conhecimento científico em hipótese, tese e teoria.
Ambas contribuições, apesar de consideradas valiosas para seu tempo, tem hoje sobre sí críticas a aspectos de suas teorias considerados problemáticos em seus postulados. Algo comum para ambas é a pulverização do conhecimento para sua análise parcelada. Uma das críticas modernas a esta é o exagerado impulso de tomar a parte pelo todo ao qual ela induz o pesquisador.
A personagem Sônia, do filme “Ponto de Mutação”, exemplifica majestosamente este problema com sua crítica a priorização da pesquisa médica no problema visível, no caso do filme o entupimento de artérias e necessidade de um novo coração artificial, em detrimento de sua causa, cuja solução seria infinitamente mais barata, menos dolorosa e traumática, feita por meio de programas alimentares saudáveis e exercício regular, que se aplicados preventivamente, tornariam obsoleta em sua maior parte a necessidade do uso de um “coração de plástico” pela maioria das pessoas que hoje dele necessitam.
Portanto a hiperespecialização da ciência moderna deve ser vista com novos olhos pelos efeitos deletérios desta, que já se tornam evidentes a muitos e tendem a piorar com o tempo, visto que o conhecimento científico se aprimora a cada dia e mais “microcampos” de estudo surgem com este avanço, piorando ainda mais esta infeliz tendência do pensamento moderno.
Rafael Carlos Monteiro Martinelli, Direito Noturno, 1º Semestre.
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