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domingo, 4 de julho de 2021

Descartes, Francis Bacon e Ponto de Mutação

O livro “Ponto de mutação”, do físico Frtijof Capra, adaptado ao
cinema em 1990, revela um instigante debate entre um ex-candidato
à presidência dos Estados Unidos, uma física renomada que entrou
em conflito com uma multinacional e um poeta, na condição de
turista, no Monte Saint-Michel, fortaleza medieval francesa do século
XIII.
No enredo, torna-se claro o conflito entre o modo de pensar ocidental
cartesiano e o modo de pensar oriental. O espaço do filme é uma
referência ao pensamento teológico da Idade Média mas também a
importância do bom uso da ciência – a fortaleza de Saint Michel
resistiu a conflitos na guerra dos cem anos e sobrevive a marés.
Dentre as discussões apresentadas no filme, critica-se o método
ocidental, que propõe a divisão do mundo em partes, e que os
avanços científicos, em mãos erradas, desembocam em reflexos
ambientais terríveis, seja pela constante demanda de água para
cultivo de alimentos em larga escala (o que pressupõe desmatamento
de florestas, como a úmida Amazônia), pela necessidade de extração
de combustíveis fósseis (petróleo) para satisfazer consumo e prazer e
uso de energia nuclear. A não compreensão sistêmica do uso da
ciência é reflexo de tal destruição ambiental, além de uma absurda
desigualdade econômica, o que torna pouco adequada a divisão do
mundo em partes.
Porém, uma análise histórica mostra, especialmente a partir dos anos
1970, preocupação em diminuir emissões de gases de efeito estufa
com o intuito de diminuir o aquecimento global. No filme, o
utilitarismo cartesiano é questionado pelo norte-americano, que tenta
adaptar seu discurso às ideias da professora de física: economia
sustentável, globalismo, sociedade de consumo são questionados no
filme.
Diante dos temas supracitados e dos métodos discutidos no filme,
Descartes, em seu “Discurso do Método”, já questionava a

possibilidade do uso da filosofia e das benesses que ela poderia
proporcionar: “a respeito das outras ciências, por tomarem seus
princípios da filosofia, acreditava que nada de sólido se podia
construir sobre alicerces tão pouco firmes. E nem a honra, nem o
lucro que elas prometem, eram suficientes para me exortar a
aprendê-las; pois graças a Deus não me sentia de maneira alguma
numa condição que me obrigasse a converter a ciência num ofício,
para o alívio de minha fortuna”. Ou seja, seria proveitoso, com o
passar dos anos, desenvolver métodos científicos com base na ética
do lucro? Pode-se dizer que a história ocidental, exploratória e
destruidora de ameríndios e que usou darwinismo social para
justificar necessidade “civilizatória” no século XIX é a adequada para
uso das descobertas científicas?
Estaria certo Francis Bacon, que em seus Aforismos detectou que a
Natureza é que comanda a ordem das coisas e que cabe ao homem
apenas unir e apartar corpos, e que alguns axiomas decorrem de rasa
compreensão sobre a natureza? Os engenhos não lograriam grande
progresso nas ciências? Talvez o problema maior seja a utilização de
tais progressos e para quais propósitos tais progressos tenham sido e
estão sendo utilizados.


Ricardo Camacho Bologna Garcia  

Número UNESP: 211221511

Curso: Direito Noturno 

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