É perceptível, na última década, o crescimento do negacionismo
científico, fenômeno caracterizado pela negação e contestação de todo o
conhecimento desenvolvido pelas ciências ao longo de séculos. Tal fenômeno
desenvolve-se de forma nociva ao descreditar fatos comprovados pela pesquisa
científica, a qual foi responsável pela melhora de vida de muitos
humanos, além de elucidar o homem a respeito dos males causados à natureza pelas suas ações. Porém, mesmo com esses
avanços notáveis proporcionados pela ciência, com o aumento do negacionismo
científico, muitas dessas conquistas são desmerecidas e tidas como
mentirosas.
A popularização dos movimentos antivacina e terraplanista, a
descrença no aquecimento global, assim como a ascensão de governos
anticientificistas, como as presidências de Trump e Bolsonaro, evidenciam o
quão grave esse fenômeno é para a sociedade como um todo.
No contexto pandêmico, ao se analisar os governos em questão,
sobretudo o de Bolsonaro, vê-se uma absurda descrença nas verdades obtidas pela
ciência, tanto por parte do presidente como por parte de seus apoiadores. O
incentivo ao tratamento precoce(não aconselhável pela medicina), assim como o
incentivo ao uso de remédios não indicados pelos órgãos especializados para o
tratamento da covid-19, somados a desvalorização da vacina e negligência dos
efeitos devastadores da doença são apenas alguns exemplos do negacionismo
perpetuado pelo presidente durante a pandemia no Brasil. Governo este que evidencia,
da forma mais clara possível, a gravidade que o descaso à ciência pode gerar.
Na obra “O discurso do método”, René Descartes, um
importante filósofo e cientista do século XVII, postula sobre a necessidade da
ciência como forma de construção de conhecimentos “sólidos”, alicerçados unicamente na verdade. Tal verdade deveria, portanto, ser alcançada por meio de
um método sistemático, que abriria mão da verossimilhança e dos preconceitos,
em prol de se obter resultados o mais verídicos possíveis. Descartes afirmava
que, para que seu método fosse posto em prática devidamente, seria necessário
que os seres não aceitassem como verdadeiro aquilo que não fosse antes
comprovado como tal, sendo essa comprovação, por sua vez, apenas aceitável
mediante uma análise metódica e sistemática. Para Descartes, o uso de
preconceitos e “achismos” nunca seriam formas apropriadas de se alcançar a
verdade das coisas, obtida de forma correta apenas por meios científicos e
empíricos.
Francis Bacon, outro importante pensador do século XVII, defende,
em sua obra “Novum Organum”, que o senso comum, chamado por ele como
“antecipações da mente”, desviavam o ser humano do caminho da verdade, ao passo
que estabelecia neles ideais distorcidos e falsos. A tese de Bacon a respeito
dos ídolos é revolucionária ao apontar as “distorções” que impedem o indivíduo
de enxergar a verdade, sejam elas decorrentes das paixões desse indivíduo, de
suas vivências, ou da manipulação desses por filosofias, as quais, de natureza
meramente contemplativa, não pautavam-se no empirismo e na experiência como
formas de se obter resultados factuais. Essas distorções, independente de sua
origem, tornar-se-iam em crenças aceitas por muitos indivíduos, independente de
sua veracidade. Bacon, portanto, defendia que a ciência deveria atuar
eliminando as superstições advindas dos ídolos, além de iluminar a todos com o
conhecimento ideal, aquele decorrente do saber científico, adquirido
metodicamente.
Tendo em vista as ideias defendidas por esses dois pensadores, cabe afirmar que o negacionismo científico é crescente graças a acriticidade presente na população atual, que por aceitarem apenas as informações convenientes, mesmo quando não verídicas, afastam-se cada vez mais da verdade. Vê-se que os “ídolos” e as distorções estão operantes na sociedade hodierna, impedindo as pessoas de observarem os fatos, levando-as a assumirem como falsas as constatações já comprovadas pela ciência, como o aquecimento global, e a assumirem como verdades aquelas que, mesmo falsas, são aceitas sem contestação ou dúvida, como o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19.
André Macedo Daleck-1° ano diurno
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