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domingo, 4 de julho de 2021

 

É perceptível, na última década, o crescimento do negacionismo científico, fenômeno caracterizado pela negação e contestação de todo o conhecimento desenvolvido pelas ciências ao longo de séculos. Tal fenômeno desenvolve-se de forma nociva ao descreditar fatos comprovados pela pesquisa científica, a qual foi responsável pela melhora de vida de muitos humanos, além de elucidar o homem a respeito dos males causados à natureza pelas suas ações. Porém, mesmo com esses avanços notáveis proporcionados pela ciência, com o aumento do negacionismo científico, muitas dessas conquistas  são desmerecidas e tidas como mentirosas.

 A popularização dos movimentos antivacina e terraplanista, a descrença no aquecimento global, assim como a ascensão de governos anticientificistas, como as presidências de Trump e Bolsonaro, evidenciam o quão grave esse fenômeno é para a sociedade como um todo.

 No contexto pandêmico, ao se analisar os governos em questão, sobretudo o de Bolsonaro, vê-se uma absurda descrença nas verdades obtidas pela ciência, tanto por parte do presidente como por parte de seus apoiadores. O incentivo ao tratamento precoce(não aconselhável pela medicina), assim como o incentivo ao uso de remédios não indicados pelos órgãos especializados para o tratamento da covid-19, somados a desvalorização da vacina e negligência dos efeitos devastadores da doença são apenas alguns exemplos do negacionismo perpetuado pelo presidente durante a pandemia no Brasil. Governo este que evidencia, da forma mais clara possível, a gravidade que o descaso à ciência pode gerar.

  Na obra “O discurso do método”, René Descartes, um importante filósofo e cientista do século XVII, postula sobre a necessidade da ciência como forma de construção de conhecimentos “sólidos”, alicerçados unicamente na verdade. Tal verdade deveria, portanto, ser alcançada por meio de um método sistemático, que abriria mão da verossimilhança e dos preconceitos, em prol de se obter resultados o mais verídicos possíveis. Descartes afirmava que, para que seu método fosse posto em prática devidamente, seria necessário que os seres não aceitassem como verdadeiro aquilo que não fosse antes comprovado como tal, sendo essa comprovação, por sua vez, apenas aceitável mediante uma análise metódica e sistemática. Para Descartes, o uso de preconceitos e “achismos” nunca seriam formas apropriadas de se alcançar a verdade das coisas, obtida de forma correta apenas por meios científicos e empíricos.

 Francis Bacon, outro importante pensador do século XVII, defende, em sua obra “Novum Organum”, que o senso comum, chamado por ele como “antecipações da mente”, desviavam o ser humano do caminho da verdade, ao passo que estabelecia neles ideais distorcidos e falsos. A tese de Bacon a respeito dos ídolos é revolucionária ao apontar as “distorções” que impedem o indivíduo de enxergar a verdade, sejam elas decorrentes das paixões desse indivíduo, de suas vivências, ou da manipulação desses por filosofias, as quais, de natureza meramente contemplativa, não pautavam-se no empirismo e na experiência como formas de se obter resultados factuais. Essas distorções, independente de sua origem, tornar-se-iam em crenças aceitas por muitos indivíduos, independente de sua veracidade. Bacon, portanto, defendia que a ciência deveria atuar eliminando as superstições advindas dos ídolos, além de iluminar a todos com o conhecimento ideal, aquele decorrente do saber científico, adquirido metodicamente.

 Tendo em vista as ideias defendidas por esses dois pensadores, cabe afirmar que o negacionismo científico é crescente graças a acriticidade presente na população atual, que por aceitarem apenas as informações convenientes, mesmo quando não verídicas, afastam-se cada vez mais da verdade. Vê-se que os “ídolos” e as distorções estão operantes na sociedade hodierna, impedindo as pessoas  de observarem os fatos, levando-as a assumirem como falsas as constatações já comprovadas pela ciência, como o aquecimento global, e a assumirem como verdades aquelas que, mesmo falsas, são aceitas sem contestação ou dúvida, como o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19.

André Macedo Daleck-1° ano diurno

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