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domingo, 4 de julho de 2021

A Sociedade dos Ídolos


O filósofo Francis Bacon, em sua obra Novum Organum, concebe a existência da teoria dos ídolos, isto é, a ideia de que há falhas na compreensão e no raciocínio humano. Segundo esse conceito, os ídolos abrangem preconceitos, falsas noções que dificultam o entendimento da realidade e que compõem tendências ao erro, além de serem verdadeiros entraves para o desenvolvimento do saber.  Como consequência dessa teoria, a sociedade estaria fadada a sucumbir à ignorância, assim sendo, os homens deveriam recorrer à ciência como uma forma de superação dos grilhões sociais. No entanto, apesar de essa concepção ter sido desenvolvida durante o século XVII, a conjectura hodierna ainda é atemorizada pela presença de ídolos e de preconceitos descabidos. 


Nessa perspectiva, é importante ressaltar que a discriminação, em geral, é resultado da irracionalidade humana, somada à permanência de ideologias perpetradas no âmbito social. Sob esse aspecto, pode-se dizer que esses princípios são consequências da naturalização de ideias que não foram submetidas ao benefício da dúvida, que, para o filósofo moderno René Descartes, é crucial para a elaboração do pensamento crítico e para a produção de ciência.


À vista disso, na atualidade, o que não faltam são alegações preconceituosas por parte do Presidente da República. Em 2018, ao longo de sua ‘campanha’ presidencial, Bolsonaro disparou nas intenções de votos após ‘viralizar’ com suas declarações sexistas, racistas, homofóbicas, que não só contrariaram a Constituição, como também feriram direitos da minoria – minoria em um conceito de relação de poder. Além disso, os membros do governo de extrema-direita, a partir desses ataques preconceituosos, não ocultam mais suas tentativas falhas de hegemonizar a opinião da população e de produzir, cada vez mais, o senso comum guiado por ídolos. 

Posto isso, a superação dessa ‘paixão’ é um impasse no cenário contemporâneo, tendo em vista que vive-se em uma era de polarização ideológica. À medida que certas visões são ‘extremizadas’, maiores são as chances de haver influências dos ídolos de Bacon, uma vez que essas ideias carecem, para desenvolver, a eliminação do pensamento crítico e da racionalidade humana. Por sua vez, com o predomínio desses ídolos, o senso comum será, gradativamente, perpetuado na sociedade, cedendo espaço para a expansão de ideias delirantes, reacionárias e irracionais, como as do Presidente da República.

Clara Crotti Cravo - 1° Diurno


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