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domingo, 4 de julho de 2021

Da política à barbárie: A volta do extremismo e a Antecipação da Realidade.


 "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa". É por meio de tal sentença que Marx acionava em "O 18 Brumário de Luis Bonaparte" o gatilho temporal trágico da humanidade, trazendo ao leitor a reflexão que muitas vezes pode passar despercebida, mas fundamenta a base do que somos e um dia possivelmente voltaremos a ser.  


Aqueles um pouco mais instruídos que decidem destrinchar a profecia do teórico alemão são rapidamente fisgados em direção aos milhões de eventos que hoje comprovam a veracidade de sua epígrafe, mas neste texto gostaria de chamar a atenção para um acontecimento em específico: A reascensão dos movimentos de extrema direita.

Como é que fomos capazes de, em plena primeira metade do século XXI, deixarmos que aqueles que já escancararam ao mundo sua capacidade destrutiva retornassem ao poder?
A resposta para essa pergunta é complexa, mas perpassa dois pilares principais: a educação e o polêmico senso comum.

O primeiro pilar pode ser explicado de forma simples, pois é algo que todos sabemos em menor ou maior escala: a educação plena e obrigatória ainda é algo recente em nosso país, e aqueles que não possuíram tal privilégio décadas atrás ainda compõem uma massa grande de eleitores que estão, infelizmente, expostos a retóricas falaciosas de grupos de poder que dominam a nação.

Quanto ao senso comum é que deve ser feita uma análise mais detalhada, sendo possível, inclusive, resgatar o conceito de "Antecipação da Realidade", proposto por Francis Bacon séculos atrás mas que ainda possui valia inestimável para entendermos fenômenos contemporâneos.

Para Bacon, o senso comum (ou Antecipação da Realidade) é uma característica que, apesar de inerente aos indivíduos, obstrui a busca pela verdadeira clareza de ideias e o conhecimento real. O fato é que, para o filósofo, todos possuímos pré-conceitos sobre a vida e suas partes, mas é apenas através da análise experimental e fazendo uso de conceitos já existentes ao nosso alcance (trazidos por outros pensadores e intelectuais) que podemos interpretar a realidade de maneira sã e como ela realmente é. A grande problemática, porém, se descortina diante de nossos olhos: E se, visando somente o poder e o domínio, os grupos radicais começassem a usufruir do senso comum geral e até mesmo incentiva-lo? Pois bem, é isso que está acontecendo. Usando as chamadas "fake news", tais grupos reacionários reduzem a massa de eleitores a veículos de transmissão de meias-verdades e inverdades; conteúdos sem profundidade teórica e analítica, que inserem a população em uma bolha de inimigos imaginários a serem constantemente combatidos e exterminados.

Nossa situação é preocupante... Quiçá deprimente. Contudo, é importante manter de forma esperançosa a busca pelo esclarecimento daqueles que ainda se deixam cair em falsos testemunhos. Não de uma maneira colonial - que fundamenta-se no ato de educar de forma vertical, partindo de um princípio de superioridade - mas seguindo o caráter horizontal na transmissão de conhecimento, compreendendo os desafios de nossos ouvintes e sua vivência. O que os levou a acatar informações sem questiona-las? Como é que podemos, aos poucos, mudar o modo como vêem o mundo ao seu redor? É necessário entender, sobretudo, que estamos todos sujeitos ao erro, e apesar de preservarmos nossas crenças e certezas, mostra-se importante o cultivo de respeito entre aqueles que também possuem as suas. Afinal, como certa vez disse Francis Bacon: "A verdade é filha do tempo, não da autoridade". 

Pedro Basaglia - 1° semestre Noturno

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