Durante a história da humanidade, o homem sempre buscou desenvolver o conhecimento, sendo ele útil ou não para a sua sobrevivência. Assim, da Idade Antiga até a Modernidade, o método de se produzir conhecimento solidificado foi greco-romano. Este, por séculos, foi considerado a grande rocha para todo o pensamento no ocidente. Contudo, a partir da Revolução Científica essas ideias passaram a ser questionadas, uma vez que os novos pensadores acreditam que o saber produzido até então, operava apenas como uma contemplação da realidade, e não parecia ter qualquer utilidade.
Ademais, é nesse período que o capitalismo começa a ganhar espaço, e o ser humano passa a necessitar conhecer a natureza para ser capaz de modificá-la. Isso só seria possível se o homem deixasse de ser um mero espectador no processo de produção do conhecimento e estabelecesse reais utilidades para este, além de um método seguro ao desenvolvê-lo. É neste cenário que Francis Bacon e René Descartes produzem suas novas formas de pensamento, que revolucionaram a ciência e a vida no ocidente, mas que foram acompanhados por certas problemáticas.
Descartes, por uma lado, utilizou a priori, a dúvida metódica na estruturação de seu pensamento, sendo capaz até mesmo de duvidar de sua existência. Em seguida, estabeleceu a necessidade de dividir as dúvidas em quantas parcelas fossem necessárias, para que assim ser capaz de melhor solucioná-las. Entretanto, essa prática cartesiana de especialização das dificuldades, colaborou de forma negativa para que as ciências - e a sociedade em geral - se tornassem cada vez mais individualizadas e específicas. Este aspecto mecanicista e individualista de Descartes é abordado no filme “ O Ponto de Mutação” (1990), no qual a personagem Sônia acredita que o pensamento cartesiano permitiu o entendimento de que a natureza e o ser humano funcionam como uma máquina ou relógio. Uma perspectiva que olha as coisas em uma forma individual, ao invés de conjunta e sistêmica.
Por outro lado, Bacon se baseia no empirismo e na importância dos sentidos e das experiências na construção do saber. Para isso ele propõe que haja uma “cura da mente”, ou seja, uma regulação da mente por meio dos mecanismos de investigação e de tudo aquilo que é experienciado de forma concreta. É nesse sentido que surge a ideia de que “Conhecimento é poder”, posto que aqueles que conseguem estruturar o conhecimento com sua forma empírica, são capazes de desenvolver invenções antes impossíveis. Deste modo, com o avançar da humanidade e do capitalismo de forma geral, aqueles que antes dominavam apenas o âmbito econômico passaram a se utilizar dessas melhorias científicas, para subjugar as demais classes sociais. É em consonância a isso que o autor George Orwell em seu livro “A revolução dos bichos”, faz uso da analogia ao fato de que os “porcos” foram capazes de manipular e dominar os outros animais através do conhecimento.
Diante disso, essa nova forma de ciência contribuiu para que a humanidade avançasse em trezentos anos o que não havia desenvolvido em três milênios. A exemplo disso, pode-se citar o brilhante trabalho de cientistas para desenvolver vacinas contra a Covid -19, que foram desenvolvidas em tempo recorde, sendo capazes de salvar muitas vidas.
Todavia, por vezes esse conhecimento não foi usado de forma positiva, nem em favor da humanidade, mas em prol de um governo ou uma ideologia - como visto recentemente com a disseminação de notícias falsas, principalmente quanto a pandemia e as vacinas. Este ponto de vista também foi abordado no filme, dado que a mesma personagem Sônia, era uma cientista que havia abandonado seu trabalho após usarem como arma algo que foi desenvolvido por ela. São vários os exemplos como este, dentre eles um dos que mais se destaca são as bombas atômicas - desenvolvidas por cientistas - que foram lançadas pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Este episódio, que afetou o meio ambiente e também dizimou a população da região, foi humanizado e eternizado pelo poeta Vinícius de Moraes no poema “Rosa de Hiroxima”, que possui versos marcantes, tais quais:
(...)“A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada”
Por fim, é perceptível que o conhecimento é o que move a nossa realidade e nossa vida. Portanto, se faz essencial que as novas gerações responsáveis pela produção do saber, o façam de forma responsável, removendo os aspectos negativos que surgiram como consequência da utilização dos métodos de Descartes e Bacon. Para que assim, eventos como o retratado no poema de Moraes, não ocorram mais. Isto dará espaço para que ações como as praticadas pelos cientistas focados no desenvolvimentos de vacinas, ganhem mais destaque e ocupem o lugar de reverência que merecem.
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