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domingo, 4 de julho de 2021

Elétrons, eleitores leitores e familiares 


   Na obra cinematográfica "O ponto de mutação", embasada no livro homônimo de Fritjof Capra, um político, um poeta e uma especialista em Física Nuclear encontram-se em uma ilha, que é morada da moça foi destino de viagem dos rapazes. Uma das questões abordadas por ela durante um diálogo com eles foi o fato de que não é possível encontrar, com exatidão, a localidade de um elétron, por um conjunto de razões como a alta velocidade e o tamanho ínfimo desse. Tal e qual o elétron, são os eleitores do político, a audiência do poeta e cada um de nós.                                                Isso porque cada indivíduo está inserido, por exemplo, no contexto social em que vive e no emaranhado de ideias das pessoas que ele escolheu admirar. Assim, sequer é possível que um candidato a vereador, deputado ou senador prepare a campanha um ano antes da eleição, pois tão volúveis são os acontecimentos nacionais e internacionais que uma ideia por unanimidade agradável em um mês pode ser a mais repudiada do planeta no mês seguinte, em razão do resultado de alguma investigação ou do comportamento de alguma personalidade emblemática. Desse modo, nem o cientista prevê a localidade física do elétron nem o político antevê a localidade ideológica dos eleitores.                                                  Essa dificuldade acomete também o poeta, e, para concluir isso, basta analisar a série de escolas literárias, como Classicismo, Quinhentismo, Parnasianismo e Modernismo, que vigoraram, cada qual em sua época e cada uma por um período mais curto que a anterior. Para tornar seu trabalho digno de ser comerciado nos dias atuais, aquele dedicado à escrita precisa deduzir quais temáticas e quais estilos de escrita mais cativariam o público-alvo. Dessa maneira, ele iguala-se aos que buscam elétrons e aos que procuram eleitores, pois precisa adivinhar para qual direção pende os corações de quem lê.                                                        As análises acima, apesar e pertinentes, não estão explícitas no filme. O quê lá está é uma cena que, para mim. vale mais que todo o restante do trabalho. Nela, o político, depois de convidar a estudiosa dos fenômenos nucleares para unir-se a ele em uma campanha eleitoral e receber a recusa, pergunta qual papel a filha dela ocuparia dentro dos inúmeros movimentos fisico-filosóficos que ela descrevera. Em suma, ele quer saber se, em meio a tanto conhecimento, a cientista é capaz de localizar as escolhas ideológicas e sentimentais daquela que ao lado dela vive.                            A garota em questão aparece poucas vezes dentro das quase duas horas de filme, sempre como menos digna do interesse da mãe que os dois recém-chegados. E o questionamento, ao mesmo tempo espontâneo e sagaz, me convidou, como espectadora, a analisar a utilidade prática do meu discurso e dos estudos de que, agora, na graduação, participarei, dentro das vidas familiar e comunitária nas quais eu estou inserida desde que nasci.  Ao final do filme, estavam mãe e filha abraçadas, tanto dentro da tela quanto dentro da minha casa. 


Maria Paula Aleixo Golrks - Direito matutino, primeiro semestre 

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