Há algumas semanas realizei a leitura solicitada pelo professor de um texto de Francis Bacon, intitulado como “Aforismos sobre a interpretação da natureza e o reino do homem” (aforismo I ao LXII), a fim de possibilitar uma discussão sobre os métodos científicos.
Ao longo da leitura, percebi que Bacon, diferentemente de Descartes (outra leitura solicitada pelo professor), que se mostra totalmente racionalista ao tomar como “regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras”, aquele propõe que a mera reflexão pode conter erros devido à presença de ídolos na mente humana, os quais atuam como obstáculos no caminho em direção à verdade.
Frente a isso, Bacon critica a filosofia, em especial a grega (visto que se tornou uma das bases da ciência moderna), pois se apoia em princípios não sólidos, ou seja, desenvolve-se pela mera reflexão. Segundo Bacon, os resultados do pensamento humano são influenciados por vivências, preconceitos e experiências pessoas, os quais distorcem a realidade e afastam o indivíduo da verdade.
Portanto, ele também critica a forma de produzir ciência na modernidade, pois, como se apoiam na filosofia, e esta produz um conhecimento duvidoso, a primeira também produz. Nesse sentido, pode-se considerar, na visão baconiana, que tudo produzido até aqui não passa de uma “aberração” (nas palavras dele).
Essas ideias desenvolvidas ao longo do texto me chamaram atenção, visto que a produção filosófica, para Bacon, se aproxima da produção do senso comum, em virtude de ambos surgirem como produto da razão humana e não possuírem fundamentos sólidos. Porém, noto uma diferença, enquanto a primeira forma se encarrega da contemplação do mundo para uma satisfação própria (como no caso dos filósofos gregos, os quais consideravam tal prática como virtuosa), a segunda forma possui um objetivo utilitarista, pois ela se desenvolve à medida que o ser humano se depara com problemas.
No texto, Bacon propõe uma neutralidade na produção do conhecimento ao citar que “O intelecto humano, quando assente em uma convicção, tudo arrasta para seu apoio e acordo”. Assim, ele reforça que a mera reflexão tende a concordar com as convicções pessoais do autor. Destaco a importância disto, não pela neutralidade cientifica (a qual não existe, visto que quando o autor decide sobre o que irá pesquisar o faz por influências pessoais), mas sim o da necessidade de buscar o conhecimento refutando, questionando e pondo-o a prova a todo momento. O contrário disso leva a um ambiente que se pauta em noções já superadas ou que propõe teorias que de tão abstratas deixam de ser úteis à humanidade.
Um primeiro exemplo é a onda negacionista instaurada no mundo, em especial no ambiente brasileiro, a qual nega teorias já comprovadas e concorda com teorias já refutadas, como é o caso do terraplanismo e da ineficiência das vacinas. A reflexão sobre esses temais é inútil visto que ambos são facilmente refutados pelas ciências. Outro exemplo é a própria filosofia grega, a qual nos primórdios de seu surgimento buscava princípios universais, conhecimentos os quais, tomados como verdadeiros pelos filósofos, não atestavam utilidade à sociedade e sequer podiam ser testados.
Concluo que a ciência deve-se pautar sim no exercício da razão, mas deve ter como apoio a experiencia, a qual promove a comprovação e refutação das teorias, o que resulta na formulação de uma ciência mais próxima da verdade e não permite uma total abstração da realidade de forma a impedir a produção de conhecimento demasiadamente vagos.
Turma XXXVIII – Diurno – Gabriela Caetano da Silva
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