Humanos: os senhores torturadores do
meio ambiente
No dia 5
de junho foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, no entanto, é fato que, há
muito, nossa prioridade deixou de ser cuidar da saúde de nosso planeta, como
pode-se observar pela recente pesquisa do Inpe (instituto de pesquisas espaciais),
na qual foi apontado que, no último ano, houve uma alta de 40% no índice de desmatamento
em relação a 2019. Isso, infelizmente, não é um dado inesperado, visto o
crescente descaso em relação à natureza propagado desde a revolução industrial,
ainda intensificado exponencialmente nos últimos anos pela postura do atual
governo e seus ministros. Tal ideal de que o meio ambiente deve curvar-se a
vontade humana e que devemos explorá-lo ao máximo advém, principalmente, do período
iluminista, guiado por filósofos como René Descartes, o qual afirmava: “conhecendo
a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os
outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos
misteres de nossos artifícios, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos
os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e
possuidores da natureza”, ou Francis Bacon que acreditava que a natureza
deveria ser “torturada” para que obtivéssemos seus segredos.
Apesar do fato de que essas
ideias foram, incontestavelmente importante para o desenvolvimento ao retirar o
homem de papel de mero espetador e fazê-lo mais ativo em relação ao meio, porém,
há muitos anos já observamos as consequências dessas teorias, que estão
entranhadas no nosso ideário ocidental, pelas queimadas anormais ocorrendo
mundo afora, as variações climáticas abruptas e “acidentes” premeditados como as
tragédias de Brumadinho ou Mariana. Mas, ainda assim, existem aqueles que
insistem em negar o impacto humano no planeta e ignoram as consequências que
batem na porta, mesmo que essas sejam inevitáveis, pois, como já diria o escritor
brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “A natureza não faz milagres, faz
revelações”.
Tais ocorrências anteriormente
citadas corroboram com o que nos é apontado no filme “Ponto de Mutação”,
inspirado no livro homônimo de Fritjof Capra, no qual é apresentada a teoria dos
sistemas vivos, ou o pensamento ecológico, em contraposição ao modelo mecanicista
cartesiano, afirmando que deveríamos pensar nos recursos do mundo como exauríveis
e trabalhar com eles de maneira harmoniosa, sempre pensando no planeta como um conjunto
de sistemas vivos e interligados, os quais a mudança em um mínimo ponto pode
afetar vários outros. Este método guia não apenas uma maneira de remediar as áreas
já afetadas, porém de prevenir novos erros ao que aprendemos a compreender as dimensões
do mundo, aplicando-se não só aos problemas naturais já mencionados, mas também
aos sociais.
Portanto, antes agir como os “torturadores”
ou “senhores” da natureza, deveríamos dar um passo para trás e tentar compreender
as consequências de nossas ações, para que no futuro não venhamos dizer que não
esperávamos por elas e fingir cegueira diante das consequências de nossa inconsequência,
uma vez que, até mesmo o próprio “torturador da natureza”, Francis Bacon afirmou:
“ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada,
frustra-se o efeito, pois a natureza não se vence, senão quando se lhe obedecer”.
- Isabela Batista Pinto- Direito Matutino.
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