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domingo, 4 de julho de 2021

AS BASES EPISTEMOLÓGICAS E O RACIOCÍNIO SISTÊMICO NA ERA PÓS-MODERNA

 O discurso epistemológico cartesiano decorre de uma decepção e descrença em relação à filosofia baseada na tradição clássica. Em relação a isso, Descartes afirma em sua obra Discurso do Método que não havia quase nenhum empreendimento ou ação humana que não lhe parecesse inútil e fútil. Essa conclusão torna-se muito plausível na obra cinematográfica “O ponto de mutação” de Bernt Capra, visto que o filme traz à tona, por meio de discussões estabelecidas entre uma pesquisadora, um político e um dramaturgo, ideias sobre as consequências dos avanços científicos da humanidade bem como sobre o caráter predatório das ações dos indivíduos em relação ao ecossistema, conduta a qual representa o descaso em relação às gerações futuras que habitarão o mesmo meio ambiente. Essa representação fica ainda mais clara quando, em determinada cena do filme, Sonia – a pesquisadora – cita o exemplo de tribos indígenas americanas, as quais tinham a tradição de tomar todas as decisões pensando sobre a situação que seria vivenciada no futuro pela sétima geração seguinte. Isso torna evidente o quão egoísta é o ser humano pós-moderno, o qual, além de não pensar a existência como a busca do bem coletivo também não se preocupa em melhorar o mundo para as gerações futuras. Nesse sentido, ainda que Descartes afirme que o conhecimento é uma atividade que deve ser pública e cumulativa, seu pensamento se torna contraditório em sua ideia sobre a ciência ser voltada para o bem do humano. Isso porque, por mais que essa ideia pareça correta em uma primeira reflexão, o filme de Capra citado desconstrói e refuta essa aparente legitimidade ao citar, por exemplo, a destruição provocada pela explosão de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Dessa forma, fica explícito que a ciência não se volta exclusivamente para o bem do homem, visto que este, como cita o filme, interpreta a realidade de maneira fragmentada, ou seja, não faz uma análise sistêmica a fim de compreender o bem humano como algo coletivo e não individual e egoísta.

Em outra perspectiva, torna-se muito curiosa a abordagem do pensamento de Francis Bacon no enredo de O ponto de mutação, visto que o pensamento do filósofo contrasta com a ideia defendida por uma das personagens principais, Sônia, a pesquisadora. Isso porque, enquanto Bacon busca a compreensão da ciência como um fator útil na luta contra a natureza, Sonia, por outro lado, motiva-se a aplicar a ciência como uma ferramenta de aprimoramento social em conjunto com a conservação ambiental, ou seja, não dominar a natureza, mas sim entendê-la como um espaço no qual o humano está inserido, devendo, portanto, conviver harmonicamente.

Com isso, o filme fica compreendido como uma obra que pondera os pensamentos de Descartes e Bacon, fundamentais para as bases da epistemologia, em um contexto atual, permeado por uma realidade que vaga entre o caos e o anseio por estabilidade. Guerras, bombas nucleares, poluição, assuntos abordados na obra, exibem o panorama atual que, analisando-se por esse viés, comprovam o quão desorientado encontra-se o humano, uma vez que, ao tentar dominar a natureza deixa de buscar o domínio próprio, o autocontrole, o autoconhecimento e, por fim, cai em confusão mental, desiludido ao deparar-se com a futilidade de suas construções, com a frivolidade de suas obras, com o egoísmo de seus pensamentos. A crítica, portanto, volta-se ao humano, que ao tentar dominar a natureza acaba dominado por esta, fato que fica evidente por meio da observação de fenômenos ambientais devastadores, dos quais muitos são consequências da pressão antrópica sobre a natureza, como os efeitos de chuvas que causam enchentes em metrópoles. Analisado isso, fica nítido que se ação humana é cruel, a reação da natureza ocorrerá em mesmo grau, ou talvez de forma mais severa.

Torna-se evidente, portanto, que a compreensão sintética de O ponto de mutação, sob a reflexão sugerida pelas bases epistemológicas de Descartes e Bacon, permite inferir a necessidade de se pensar o mundo de forma sistêmica e não fragmentada. Logo, tudo e todos são partes de um sistema mais complexo, sobre o qual cada parte tem influência, sendo, por isso, muito importante e de grande responsabilidade a conduta humana. Assim, não seria má ideia repensarmos o presente nos preocupando com o futuro e, se possível, até mesmo com as próximas sete gerações, como o faziam os índios americanos conforme a sabedoria e tradição de seu povo, segundo relata Sônia –  a pesquisadora – no filme.

 

 

LUCAS GABRIEL DINIZ DE P. BARCELOS

DIREITO – NOTURNO – 1° PERÍODO - TURMA XXXVIII

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