Atualmente, pode-se dizer que a principal característica da sociedade é o individualismo. Tal afirmação é fundamentada pelas consequências do sistema capitalista, que mesmo após conquistar sua hegemonia com o fim da guerra fria na década de 90, mantem um esforço incessante em enfraquecer as relações interpessoais. O interesse desse sistema em propiciar o individualismo é baseado no pressuposto de que, sem conexões profundas e sentimentais, o indivíduo não possui outro objetivo além da realização de seus próprios desejos superficiais, que são supridos com as mercadorias.
Entre os mecanismos utilizados para atingir esse objetivo, observa-se a desvalorização dos sentimentos familiares de fraternidade e ajuda, transformando festas e comemorações que inicialmente possuíam o intuito de confraternização, como o natal e o dia das mães, em oportunidades de lucro a partir do estabelecimento de valores novos, baseados na determinação do afeto a partir da qualidade dos presentes.
As consequências dessa nova concepção a respeito de valores essenciais para uma vida saudável são trágicas, pois na solidariedade orgânica, regida não pela conformidade de valores e ideais, mas sim pela conformidade jurídica e de ordem, prevalecem os conceitos de produtividade e utilidade em detrimento da amizade e sociabilidade. Por conta disso, o suicídio é um problema cada vez mais preocupante nas sociedades, destacando-se o suicídio egoísta, de acordo com a classificação do sociólogo Emile Durkheim.
Utilizando o Japão como um exemplo, pode-se observar que na medida em que o país possui altos padrões de produtividade, ordem e eficiência nos mais diversos ramos, também possui um dos mais altos índices de suicídios. Devido a esse fato, é possível desenvolver uma análise que relaciona esses fatores pois, apesar de quase toda a população japonesa possuir um padrão de vida e de consumo elevado e de quase não presenciar experiências de anomia social graças à rígida ordem estabelecida, o suicídio é presente e recorrente. A relação, então, é que para estabelecer esses padrões, a preocupação com a saúde mental dos indivíduos é, muitas vezes, ignorada, seja pelo sentimento de realização material não suprir as realizações emocionais, seja pelas desgastantes cargas horarias de diversos trabalhos que impedem a convivência e relações entre as pessoas ou até mesmo pela cobrança, presente desde a infância, de eficiência e sucesso que pode propiciar o desenvolvimento de depressões e ansiedades caso a criança ou o adulto não atinja o objetivo estabelecido.
Por fim, é evidente que o próprio meio de organização da sociedade vigente é responsável pelo crescimento acentuado de suicídios egoístas baseados, principalmente, na falta de fraternidade e identidade causados pelo individualismo e o consumismo.
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