Dói a cabeça de tanto pensar, machuca a garganta de tanto
não falar
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Mesmo calada a boca, resta o peito
[...]
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
(CHICO
BUARQUE – “CÁLICE”)
Vivo
como uma peça de uma máquina, uma engrenagem que se sacrifica um pouco mais em
cada movimento tortuoso que realiza. E se atrevem a chamar este movimento de
ordenamento. Neste conceito ideologico de analisar as coisas para as ideias, me
tornei uma coisa sem nenhuma ideia. Assim, sou uma “obra” da coerção social, uma
pintura sem cor com desenhos rigidamente traçados. Não penso por mim, sou um
coletivo que não me representa, mas que me pune para doutrinar os outros.
Uma
célula presa dentro de uma cela, que serve a uma função social estrita que não
permite movimento, pois a coesão se dá pelo prurido dos machucados e o sangue coagulado
que secou nas feridas. Portanto, o papel da punição é dar liga nesta ideia malformada
de coletividade, ou seja, juntar uns aos outros pelo sentimento compartilhado
de dor. A partir disto, negar a si próprio - para realizar suas funções sociais
- se torna mais fácil se já não se sabe mais o que é ser indivíduo. Então nos
transformam em coisas, de modo que toda a ação se torna mecânica.
O
funcionamento ordenado da sociedade justifica a perda da alma?
Érika Nery Duarte
Direito Matutino
Primeiro ano
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